segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Recordar Jørn Utzon nos 40 anos da Ópera de Sydney


"Nos anos que se seguiram, muitas vezes faziam-me perguntas sobre a Casa da Ópera, perguntas que mantiveram o edifício muito vivo para mim e para a minha família. Nenhum outro trabalho em que tenha estado envolvido desde o trabalho com a Opera House mudou tanto a minha vida.

O contacto renovado com Sydney e o trabalho com a renovação da Casa da Ópera — fomentados pela Fundação da Ópera de Sydney e pelo Governo da Nova Gales do Sul sob a administração do então primeiro-ministro Bob Carr — foi sentido como uma maravilhosa acção de boas-vindas à Austrália, uma mão estendida no espírito de reconciliação, uma mão que aperto com carinho e gratidão.
"

O arquitecto dinamarquês Jørn Utzon ganhou o concurso internacional de arquitectura para a Ópera de Sydney em 1957, aos 38 anos, graças ao apoio do notável arquitecto finlandês Eero Saarinen que se apercebeu da genialidade do projecto.
Previa-se que a obra custaria 7 milhões de dólares e estaria terminada em 26 de Janeiro de 1963, dia nacional da Austrália.

O pódio começou a ser construído em 1959 por uma empresa australiana supervisionada pelo engenheiro anglo-dinamarquês Ove Arup.

Entretanto Utzon procurava solucionar os problemas postos pela complexa geometria dos tectos tentando encontrar com Arup uma forma economicamente aceitável. O desenho dos tectos exigiu uma das primeiras análises estruturais apoiadas por computador, para avaliar as forças complexas a que a estrutura seria submetida. Depois de experimentar conjuntos de parábolas, arcos circulares e elipsóides, foi encontrada uma solução para o problema em 1961: secções de uma esfera.
Reforçadas as colunas do pódio para poderem suportar o peso da estrutura, agora por uma empresa alemã, em 1963 passou-se à construção dos tectos. Utzon muda o escritório para Sydney para supervisionar a fidelidade ao projecto.

Por pouco tempo. Começou a ser humilhado por políticos porcos — um primeiro-ministro que recebeu subornos das máfias locais e um ministro das Obras Públicas que aldrabara uma licenciatura — que necessitavam de se exibir quando chegaram ao poder no Estado da Nova Gales do Sul, em 1965. Criticavam o aumento do custo e da duração da obra. No ano seguinte, quando já nem recebia o suficiente para pagar os salários dos colaboradores, Utzon pediu a demissão. Fora gasto 23 milhões de dólares.
















O estado da construção da Ópera de Sydney em 1966: felizmente os tectos estavam quase terminados










Os azulejos de cerâmica vitrificada foram desenvolvidos para os tectos do edifício. Feitos em duas cores e de forma a refractar e a reflectir a luz, permitem a transformação das grandes "velas" ao longo do dia, num momento quase translúcidas e etéreas, noutro parecendo rocha esculpida.






Por esta altura a maior parte dos problemas estruturais e de construção haviam sido resolvidos. A grande vítima dos arquitectos estatais que passaram a orientar a obra foi o design interior.
Os projectos de grandes folhas de madeira dobrada por uma técnica inovadora criada por um empresário de Sydney foram postos de parte. Era uma solução que resolvia os problemas acústicos inerentes à forma dos espaços e criava um contraponto orgânico à estrutura em betão.
Também os projectos de lugares para ambos os recintos principais foram arrasados por completo. O hall maior, que originalmente era para ser uma sala polivalente para concertos/ópera, tornou-se apenas uma sala de concertos. O hall menor, destinado a produções teatrais, incorporou as funções de ópera e bailado, sendo inadequado para encenar grandes produções de ópera ou bailado.
O custo final ascendeu a 102 milhões de dólares.

A Ópera de Sydney foi inaugurada em 20 de Outubro de 1973. Utzon não foi convidado e nunca chegou a visitar o edifício.

Em 1999, a Fundação da Ópera de Sydney contactou Utzon para obter uma reconciliação e garantir a sua participação em futuras alterações ao edifício. Em 2004, o primeiro espaço interior reconstruído por um seu projecto foi aberto e chamado "Salão Utzon" em sua honra. Depois do seu falecimento, em Novembro de 2008, outro projecto seu e do filho Jan permitiu remodelar e melhorar o átrio ocidental.

Utzon recebeu o prémio Pritzker, o equivalente na arquitectura ao prémio Nobel, em 2003, podendo ler-se na citação do júri:
Não há dúvida de que a Ópera de Sydney é a sua obra-prima. É um dos grandes edifícios emblemáticos do século XX, uma imagem de grande beleza que se tornou conhecida em todo o mundo — um símbolo não só da cidade, mas do país e do continente.

E o arquitecto Frank Gehry, que fazia parte do júri, recordou que Utzon "fez um edifício bem à frente do seu tempo, bem à frente da tecnologia disponível, e conseguiu ter perseverança, apesar de toda a publicidade malévola e das críticas negativas, para construir um edifício que mudou a imagem de um país".

A Ópera de Sydney foi classificada como Património Mundial da Humanidade em 2007.






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