sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Os gestores recebem remunerações excessivas - II


António Horta Osório, presidente executivo do Lloyds Banking Group, informou o Conselho de Administração do Grupo que não deseja receber um bónus anual relativo a 2011.

Eis o que disse António Horta Osório, CEO do Grupo: "Entrei no Lloyds Banking Group para reconstruir o orgulho no banco. Como grupo, temos um impacto significativo em mais de 30 milhões de empresas e famílias e, portanto, acredito que podemos dar uma contribuição positiva para o desenvolvimento económico e bem-estar social do Reino Unido.

O meu objectivo continua a ser restaurar a rendibilidade do banco, levando-nos a apoiar a recuperação económica do país, de forma sustentável, e dando aos contribuintes a oportunidade de reaver o seu dinheiro.

Como director, considero que o meu direito ao bónus deveria reflectir a evolução do banco mas também as dificuldades financeiras que muita gente está a atravessar. Reconheço também que a minha ausência teve um impacto dentro e fora do banco, incluindo os accionistas. Por isso, decidi pedir ao conselho de administração que não me entregue o bónus pelo trabalho de 2011.
"




Este gráfico mostra o declínio das acções do Lloyds que precedeu a doença do gestor em Novembro.



Na edição electrónica, o britânico Daily Mail, estima que Horta Osório poderia aspirar a um prémio máximo de 225% do seu salário anual, ou seja, 2,4 milhões de libras (2,9 milhões de euros).
Ao declarar que o prémio de gestão não deve reflectir apenas o desempenho da empresa — o critério convencional na City — mas também o contexto económico do País, o gestor português denota consciência e sentido de responsabilidade social.

Em geral, os gestores dissertam sobre a complexidade das medidas que levaram à criação dos lucros que permitem esses prémios de gestão, menosprezando o impacto negativo que essas medidas tiveram sobre os funcionários, os clientes e os contribuintes.
Eric Daniels, o anterior presidente executivo do Lloyds, foi responsável por uma má venda de seguros a muitos clientes, obrigando a eliminar 3,2 mil milhões nas contas. Naturalmente o banco accionou um processo judicial para reaver parte dos 1,45 milhões de bónus de 2010 concedidos a Daniels, mas o ex-CEO poderia resolver rapidamente o diferendo, poupando ao contribuinte uma fortuna em taxas de justiça e honorários de advogados, se restituísse espontaneamente uma parte dos prémios de gestão.
John Hourican, chefe da divisão de investimento do Royal Bank of Scotland (RBS), também suportado por apoios do Estado, viu o valor do seu prémio em acções subir quase 0,25 milhões de libras graças ao anúncio do despedimento de 4500 funcionários do banco, que fez subir, na quinta-feira, o valor das acções.

Sendo extraordinariamente difícil impor limites legais aos bónus, só um completo ingénuo pode acreditar, como David Cameron, que os accionistas poderão fazê-lo. Muitos são investidores de curta duração, ou estrangeiros, que pouco se importam com os salários dos gestores e ainda menos com os efeitos da gestão na vida dos empregados bancários, dos clientes ou na economia do País.
Mesmo as antigas instituições do Reino Unido não estão interessadas em lutar e a UKFI, que tem a missão de vigiar as participações dos contribuintes no Lloyds e no RBS, acobardou-se.
Pouco mais resta aos governos que aumentar a taxa de imposto sobre os rendimentos elevados dos gestores.
O que faz falta é uma mudança de mentalidade na sala de reuniões dos conselhos de administração. O gesto de António Horta Osório é um bom começo.


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Recolhemos alguns comentários elucidativos:


Anónimo, Snakepit. 13.01.2012 13:31
Ah, 'tá' bem
"Acho que o meu bónus deve reflectir o desempenho do grupo, mas também a difícil situação financeira que muitas pessoas enfrentam."
Ah, ah, ah! Então se é assim, porque é que não recebeu o prémio e, por exemplo, o doou imediata e integralmente a instituições de apoio social do seu país, que estão a fechar um pouco por todo o lado por falta de meios? Mas depois do que estes tipos nos andaram a fazer nas últimas décadas ainda querem que a gente acredite em contos de fadas? O que ele quer fazer com esta jogada sei eu bem!

Anónimo, Lisboa. 13.01.2012
RE: Ah, 'tá' bem
LOL o homem faz mal, 'tá' mal, o homem faz bem, 'tá' mal. Que inveja impressionante! Cure-se. Este senhor chegou aonde nunca ninguém tinha chegado, pare de dizer mal e tente ser como ele.


Rui Bento 13.01.2012 13:44 Via Facebook
A renúncia do bónus
Um gesto raro, nobre e denotando consciência social e lealdade aos accionistas. Dirão os invejosos do costume, "com os milhões que ele já ganhou, não foi grande gesto de abnegação".
Foi. Primou pelo exemplo. É isso que se espera de um líder.


SERRANO 13 Janeiro 2012 - 12:15
Pois é...
... afinal há portugueses honestos, mas... estes não ficam cá. É pena!


JDMT2010 13 Janeiro 2012 - 12:22
Liberdade e decência
Isto só faz uma pessoa que é livre. Isto só faz uma pessoa que é decente.
Aprendam Portugueses, não interessa o que a gente faz, o lugar que ocupa, ou quanto ganhamos, interessa sim a atitude de cada um de nós perante a vida.


Dias Silva 14 Janeiro 2012 - 02:03
Saber estar na Vida
Isto é o que se chama "Saber estar na vida''. Este Senhor, se recebesse este dinheiro, ninguém daria por nada, mas tomou a atitude que qualquer funcionário deve tomar, quando não corresponde ao que é espectável. Deu um sinal e é de sinais destes que as empresas, organizações e Estados necessitam. É de facto um Líder. Esta sua atitude terá um retorno muito superior a 2 milhões de euros. Viver não custa, o que custa é saber viver.


Anonimo 14 Janeiro 2012 - 10:05
Humanidade
Como sempre se soube, existe a categoria e a honra e existe o pintelho, aqueles que até a reformazinha, de 9000 e tal, não deixam de sugar.
Sim, porque o pintelho ainda tem uma vida inteira pela frente, como se nota pela sua idade, e a vida 'tá' difícil.


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