domingo, 25 de dezembro de 2016

In Memoriam Alexandrov Ensemble


Um avião, que partiu de Moscovo com 92 pessoas, caiu no Mar Negro dois minutos depois de descolar do aeroporto de Sochi, na Rússia, onde aterrara para reabastecer de combustível.

A bordo seguiam 64 elementos — cantores, músicos da orquestra e bailarinos — do famoso Alexandrov Ensemble que iam actuar na festa de Ano Novo de uma base aérea de Latakia, província do litoral da Síria.

Os destroços do avião foram encontrados a 1,5km de Sochi, a uma profundidade entre 50 e 70m. Não há sobreviventes.

REUTERS/Stringer
AFP PHOTO / Jacques Demarthon

Fundado em 1928 pelo compositor Alexander Vasilyevich Alexandrov, o Alexandrov Ensemble chamou-se inicialmente Coro do Exército Vermelho, tendo começado com 12 soldados artistas — um octeto vocal, um acordeonista, dois bailarinos e um recitador.
Cinco anos depois já contava com 300 elementos, reunindo um coro exclusivamente masculino, uma orquestra e um conjunto de bailarinos. Posteriormente foi reduzido para cerca de 80 artistas. A partir dos anos noventa passou a incorporar elementos femininos.

Alexander Alexandrov dirigiu o coro durante 18 anos. Sucedeu~lhe o filho, Boris Alexandrov, que conduziu o coro entre 1946 e 1987. O actual director, Valery Khalilov, seguia a bordo do avião que caiu no Mar Negro. Apenas três dos cantores do coro não seguiam a bordo.

O repertório actual continha mais de duas mil obras entre canções folclóricas, música sacra e trechos de óperas, sendo as interpretações musicais acompanhadas por danças e acrobacias. Em algumas das peças que executavam, o coro era dividido em contratenores, primeiros tenores, segundos tenores, barítonos, primeiros baixos, segundos baixos e baixos profundos.



Concurso Eurovisão da Canção 2009, Moscovo


Kalinka (Калинка), canção do folclore russo escrita em 1860 por Ivan Larionov.
Maestro: Igor Raevskiy
Solista: Vadim Ananyev (não embarcou no avião)


O último concerto no Teatro Bolshoi, em Moscovo


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Pessoas colocam velas num cais de Sochi, Rússia, para homenagear os passageiros e tripulantes do avião Tu-154 militar russo que caiu no Mar Negro.
REUTERS/Maxim Shemetov


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

António Guterres prestou juramento como secretário-geral da ONU


Em 13 de Outubro de 2016, o antigo primeiro-ministro português António Guterres foi nomeado pela Assembleia Geral como o nono Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para um mandato que vai iniciar-se em 1 de Janeiro de 2017 e termina em 31 de Dezembro de 2021.

Hoje, António Guterres prestou juramento e, em seguida, discursou perante a Assembleia.




"Eu, António Guterres, juro solenemente exercer com toda a lealdade, discernimento e confiança as funções que me são confiadas como Secretário-Geral das Nações Unidas, desempenhar as minhas funções e regrar o meu comportamento tendo em vista o interesse exclusivo das Nações Unidas, e não procurar nem aceitar instruções, em relação ao desempenho das minhas funções, de qualquer governo ou outra autoridade externa à organização."

Arquivamos também a versão integral do seu discurso onde prometeu reformar as Nações Unidas e apostar na prevenção de conflitos:



No discurso fez várias observações e críticas:

O estado actual do mundo

“O fim da Guerra Fria não foi o fim da história (...). Os conflitos tornaram-se mais complexos e interligados do que antes. Produziram horríveis violações da lei humanitária internacional e abusos dos direitos humanos. As pessoas foram forçadas a deixar as suas casas numa escala que não era vista há décadas. E uma nova ameaça emergiu, o terrorismo global.”

Modo de funcionamento interno da ONU

“Temos de nos focar mais em resultados e menos no processo, mais nas pessoas e menos na burocracia”

“Tenho a sensação de que as regras orçamentais da ONU servem mais para impedir do que para permitir as nossas funções (...) Não é possível demorar nove meses para deslocar um funcionário para o terreno.”

A globalização deixou para trás cidadãos que se sentem excluídos

“[A globalização trouxe progresso, mas também fez aumentar as desigualdades.] Muita gente ficou para trás, incluindo nos países desenvolvidos",
“Um pouco por todo o lado, eleitores tendem a rejeitar status quo e tudo o que os governos propõem”, disse, lembrando, sem enumerar, os referendos no Reino Unido e em Itália. “Perderam confiança não só nos governos mas também em instituições globais como as Nações Unidas. É tempo de reconstruir a relação entre as pessoas e os líderes”.

“Está na altura de os líderes globais e da ONU ouvirem as necessidades das pessoas.”

Os conflitos

“Os desafios estão a ultrapassar a nossa capacidade para responder.”
“[A maior falha da comunidade internacional é] a incapacidade de prevenir crises”. Assim, o passo “[Ajudar a resolver os conflitos existentes] na Síria, no Iémen, no Sudão do Sul, o conflito israelo-palestiniano (...) [com] mediação, arbitragem e diplomacia criativa”.
“Estou pronto para me envolver pessoalmente na resolução de conflitos onde isso possa trazer valor acrescentado.”

Paridade de género

“Temos de ter paridade [entre homens e mulheres] o mais cedo possível na ONU”

Os escândalos na ONU

“A ONU não fez o suficiente para prevenir e responder aos crimes horríveis de violência sexual e exploração cometidos sob a bandeira da ONU contra aqueles que é suposto protegermos”

A religião

“(...) paz, segurança, respeito, direitos humanos, tolerância, solidariedade. Todas as grandes religiões defendem estes princípios (...). Mas as ameaças a estes valores são muitas vezes baseadas no medo”.

“Temos de deixar de ter medo uns dos outros e ter confiança.”

“A minha confiança nas Nações Unidas será dirigida para inspirar essas confianças, enquanto faço o meu melhor para servir a nossa humanidade comum", concluiu.


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António Guterres ganhou as eleições legislativas de 1995 depois de uma campanha que teve como lema “A paixão pela Educação”. Na tutela dessa pasta foi empossado o independente Marçal Grilo que assinou de cruz todos os diplomas que a sua secretária de Estado Ana Benavente lhe pôs na frente.

O objectivo político desta socialista era desvalorizar a competência dos professores — propunha-se entregar a formação dos professores do 7º ao 9º ano nas mãos do ensino superior politécnico.
Em contrapartida, gerou dezenas de milhar de vagas para novos docentes ao criar uma profusão de áreas curriculares não disciplinares — Área Projecto, Estudo Acompanhado e Educação Cívica —, portanto sem conteúdos programáticos, que não tiveram impacto significativo na melhoria da disciplina e dos resultados dos alunos, mas contribuíram para o posterior descontrolo dos défices públicos.

Depois de uma década a gerir o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), esperamos que António Guterres tenha aprendido a escolher melhor os colaboradores, sendo menos subserviente para com as poderosas influências que se movem nos bastidores da ONU.

Se souber gerir o processo de paz na Síria conservando Bashar al-Assad, após a guerra civil financiada pela Arábia Saudita, pelo Qatar e pela Turquia com o apoio político e logístico dos Estados Unidos, Reino Unido e França, pode travar a imigração muçulmana para os países europeus.

Não é tão difícil como parece, começa a construir-se uma via. O Reino Unido está a braços com o problema do Brexit. A França deverá virar à direita nas eleições legislativas de 2017. E é a China, não a Rússia, que tem surripiado o emprego aos Estados Unidos, portanto o presidente eleito Donald Trump, cujo objectivo é aumentar o emprego e promover o crescimento económico americano, não pretende hostilizar Putin. Basta transformar num aliado, pelo menos neste domínio, o novo presidente americano.

Se tiver coragem em singrar esta via, António Guterres pode resolver o problema dos refugiados sírios e tornar mais seguros os países da União Europeia. Sairá dignificado e dignificará Portugal.