quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Sobre a primeira greve laboral na Autoeuropa


Depois de 26 anos de paz laboral, a Autoeuropa teve a sua primeira greve por razões laborais, sete meses após a reforma do carismático coordenador da comissão de trabalhadores da fábrica da Volkswagen em Palmela.

De acordo com o novo modelo de horários que deveria ser implementado a partir de Novembro, cada trabalhador iria rodar nos turnos da manhã e da tarde durante seis semanas e faria o turno da madrugada durante três semanas consecutivas, com uma folga fixa ao domingo e uma folga rotativa nos outros dias da semana.

A greve foi marcada após a rejeição de um pré-acordo entre a administração e a nova Comissão de Trabalhadores — que apresentou a demissão e convocou eleições para 3 de Outubro —, devido aos novos horários de laboração contínua retirarem a folga fixa ao sábado.

O conflito laboral na Autoeuropa é uma questão de dinheiro ou de tempo para a família?

A Autoeuropa existe há 26 anos mas o trabalho ao sábado numa base permanente é desconhecido para os trabalhadores da empresa. Até agora, quando a produção assim o exigia, a fábrica trabalhava aos sábados de manhã, o que era remunerado como horas extraordinárias.

Agora, os trabalhadores apontam que os 175 euros mensais extra oferecidos pela administração ficam muito abaixo dos 400 euros mensais a que teriam direito se trabalhassem o sábado em regime de horas extraordinárias. Por outro lado, dizem que trabalhar todos os sábados, e turnos nocturnos, vai ter consequências negativas para a sua vida familiar e também em termos de saúde.

Já a administração da Autoeuropa precisa que a fábrica trabalhe sem parar durante seis dias por semana, em três turnos diários, num total de 18 turnos semanais, para produzir 240 mil automóveis em 2018.

Em entrevista ao Negócios, António Chora, o coordenador da comissão de trabalhadores durante 20 anos, descreve o contexto em que eclodiu o conflito. Primeiro, vejamos, resumidamente, o seu percurso de vida:
António Chora nasceu em Montemor-o-Novo, em 1954. Começou a trabalhar com 12 anos, primeiro na construção civil, de seguida numa empresa de tecidos, em Lisboa.

A partir dos 14 anos começou a estudar à noite no ensino técnico, tendo feito o curso industrial e o comercial. Mais tarde completou o ensino secundário, fazendo o complementar de Mecanotecnia.

Entrou na Siderurgia em 1977 e, como era militante do PCP, foi chamado para a actividade sindical embora não tenha sido delegado sindical a tempo inteiro. Passou para a Autoeuropa, em 1992, e aí trabalhou até à sua reforma, em Janeiro de 2017. Foi o coordenador da comissão de trabalhadores (CT) desta empresa entre 1996 e 2016, um período que é recordado pelo aumento do número de postos de trabalho e por relações laborais estáveis.

Desde o 25 de Abril, tem sido deputado municipal do concelho da Moita, onde reside. Em 1999, nove anos depois da implosão dos regimes socialistas nos países europeus do Leste, pediu a demissão do PCP e, no final desse ano, ligou-se ao Bloco de Esquerda. Entre 2006 e 2007, foi deputado do parlamento, em substituição de Fernando Rosas, durante seis meses.

O coordenador demissionário da CT, Fernando Sequeira, disse que o sindicato SITE Sul, afecto à CGTP, estava a realizar um assalto ao castelo na Autoeuropa. Concorda?
Sim, é claramente o assalto ao castelo e a tentativa do PCP pressionar o Governo para algumas cedências noutros lados. Mas isso tem sido a prática ao longo dos anos.

Este sindicato aproveitou a sua saída para entrar na CT?
Vamos ver se entram. Ainda tem que haver eleições. O sindicato montou-se em cima de quatro ou cinco populistas. É lamentável porque é um sindicato com história.

Está admirado com este conflito laboral?
Estou espantado. Nunca pensei ver tanta verborreia como tenho visto ultimamente, mas o populismo é assim.

Vai haver muita adesão à greve de dia 30 de Agosto?
Penso que sim, é capaz de haver uma adesão significativa porque as pessoas estão demasiado instrumentalizadas e demasiado confiantes nas palavras de pessoas que nunca viram na vida delas.

Mas a administração diz que não negoceia com sindicatos...
Sim, é o que se passa em todas as fábricas da Volkswagen, tirando o caso de Bratislava [Eslováquia] onde há dois sindicatos, mas em que cada dia de greve é pago pelos sindicatos a 50 euros, aqui não se passa nada disso.

Pode haver um acordo até ao final do ano?
Penso que sim, se houver uma nova comissão de trabalhadores com carisma. Gostaria que uma lista independente ganhasse as eleições. Normalmente aparecem quatro ou cinco listas, vai depender da divisão de votos por essas listas.

Tem-se falado em deslocalizar parte da produção do novo modelo T-Roc...
Eu já vi isto acontecer, em 2005 e 2006, na Volkswagen, em Pamplona, e na Seat, em Barcelona. Num caso não foram admitidos trabalhadores, noutro caso foram para a rua. Mas depois desta euforia vamos acompanhar esta situação com muita calma, com muita atenção.

Os 2000 novos postos de trabalho [criados por causa do T-Roc] ficariam em risco com a deslocalização?
Uma parte significativa sim, se calhar 700 ou 800 estão.

Tem-se comparado a Autoeuropa com a Opel na Azambuja [que fechou em 2006]...
Penso que a Volkswagen não trabalhará assim. Quando decidem é a longo prazo. Mas se a Volkswagen não conseguir produzir os automóveis aqui, há-de produzi-los noutro lado. Quanto mais próxima está a produção de um automóvel da produção dos seus motores ou da sua caixa de velocidade, mais barato se torna. Todos sabemos o preço que a logística tem hoje.

A Autoeuropa já esteve em risco de fechar?
As únicas vezes que a fábrica teve esse risco foi em 1999, quando a Ford desistiu do projecto, e depois em 2005 quando a Volkswagen falou em encerrar uma fábrica na Europa. Na altura falou-se na Autoeuropa por causa das questões logísticas e a outra era a fábrica de Bruxelas por questões salariais, custos de produção. Na altura estive quase três semanas na Alemanha com muitas reuniões com administrações e com comissões de trabalhadores e optou-se "por vender" a fábrica de Bruxelas à Audi. Em Dezembro de 2005 tinha havido também a recusa de um acordo, mas em Janeiro de 2006 foi aprovado por uma esmagadora maioria e tudo isso contribuiu para a manutenção da fábrica até hoje.

Quando se reformou já previa este conflito laboral?
Eu atrasei a minha saída um ano exactamente por causa disto. Eu era para ter saído em Dezembro de 2015, mas tinha assinado um acordo a dizer que até Fevereiro de 2016 tinha que ter os horários prontos por causa do T-Roc, mas a empresa não encetou negociações, e acabei por sair em Janeiro de 2017. Mas poderia ter-se arranjado algum tempo no meio disto tudo para negociar. Não podia estar a prolongar eternamente a minha saída. Não se negociou durante esta altura porque penso que havia a necessidade de defender os postos de trabalho que estavam em risco. A Autoeuropa teve que negociar com a Volkswagen para distribuir pessoas pela Alemanha até à vinda do T-Roc.

Saiu com o sentimento de dever cumprido?
Fui o trabalhador número 144 a entrar na Autoeuropa. Estive na liderança da comissão de trabalhadores de 1996 até 2016. E orgulho-me de ter sido membro de uma CT que começou numa fábrica com 144 pessoas. Saí de lá com 4 mil, contrariamente a muitos sindicatos que entraram com 11 mil trabalhadores e saíram com ninguém, como na Lisnave, CUF ou Quimigal. Tenho muito orgulho no meu trabalho.



T-Roc, o veículo que substituirá o modelo Sharan, cuja produção será descontinuada. Será produzido em Palmela pela Autoeuropa?


A greve teve uma adesão de 41%, mas bastava a ausência de apenas uma equipa da linha de montagem para o sindicato SITE Sul conseguir paralisar a produção de automóveis.

No parque industrial de Palmela existe um total de 13 empresas fornecedoras da Autoeuropa, actualmente com 1600 trabalhadores, metade das quais também foi afectada pela greve.

"Estão fábricas paradas devido à greve da Autoeuropa. Umas seis a sete fábricas foram atingidas pela greve, umas parcialmente, outras totalmente", afirmou Daniel Bernardino, coordenador da comissão de trabalhadores deste parque.

A maioria destas fábricas utilizam um processo de produção industrial conhecido por "just in time", isto é, os componentes não são armazenados, são enviados diariamente para a Autoeuropa.

"Esta paragem afecta-nos, porque como trabalhamos "just in time" é tudo escoado em poucas horas. Não temos espaço para armazenar a produção de um dia inteiro nas nossas empresas. O processo "just in time" obriga a que tenhamos stocks muito reduzidos", explica Daniel Bernardino.

Com o início da produção do T-Roc estas empresas tencionavam recrutar, pelo menos, mais 400 trabalhadores.


*


O pré-acordo previa que o horário de trabalho na Autoeuropa manteria as 40 horas semanais e a redução de folgas em dias consecutivos para 2/6 — teriam dias de folga consecutivos de três em três semanas, quando, a juntar ao dia de folga fixa, domingo, a folga rotativa fosse ao sábado ou à segunda-feira — teria a compensação financeira de 175 euros mensais.

No entanto, Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, explicou claramente o motivo da greve: "A Autoeuropa pura e simplesmente não pode deixar de se reunir com os sindicatos, tem que falar com os sindicatos porque são estes que representam os trabalhadores. Da mesma forma que pode e deve falar com a comissão de trabalhadores".

E fez exigências à administração da Autoeuropa: "Agora o que importa é dar o passo seguinte. Retomar o diálogo, expurgar tudo aquilo que possa gerar problemas na proposta que a empresa apresentou e apresentar alternativas. Depois deste passo, se se concretizar ou não, veremos se temos de dar o terceiro passo [nova greve], ou se porventura não é necessário".

Portanto, mais do que um conflito laboral, é uma guerra de poder político entre o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português. Sem quaisquer preocupações com o destino dos trabalhadores, quer da Autoeuropa, quer do parque industrial de Palmela. E, ainda menos, com a economia do país.

Alguns comentários lidos no Negócios:

abelavida
Há 16 horas
Se as condições não interessam aos trabalhadores da Auto Europa, estes só têm de não aceitar. Da mesma forma a VW também está no seu direito de mudar a produção para outro lado.
A questão é que se calhar há muita gente que gostava de trabalhar na fábrica dentro das condições que a mesma oferece.
Se falhar o bom senso de parte a parte quem acaba por perder é o país, ou seja, todos os portugueses.

Anónimo
Há 16 horas
Não vi aqui ninguém a defender 48h de trabalho para os seus colegas: tanto quanto sei, a proposta em causa visa que o pessoal trabalhe aos sábados e faça uma folga semanal rotativa, que também pode ser aos sábados. E por isso recebem 175,00€ extraordinários!

Tentando Perceber
Há 15 horas
As Guerras Políticas são assim, não querem saber do mal que fazem à Economia, a Portugal, daí que, por alguma simpatia que se possa ter pelo BE e pelo PCP, mete receio votar neles, por causa da irresponsabilidade que demonstram numa pequena luta de poder entre BE-Comissão de Trabalhadores e PCP-Sindicatos.

Anónimo
Há 15 horas
Este é o dilema global da globalização.
Aceitar imposições ou ir para o desemprego.
Tudo começou quando comprámos a primeira pechincha numa loja do chinês.
Agora estamos a competir com o chinês que trabalha em regime de cama quente.
Solução difícil, mas nunca com a demagogia sindical.

Anónimo
Há 10 horas
A CGTP só quer protagonismo. Em 26 anos de existência e em situações de redução da produção não houve greves, agora que esta vai aumentar é que fazem greve, realmente dá que pensar.

Ó palermas dos trabalhadores da AE
Há 13 horas
Os sindicatos são sempre contra o patrão mas tal não significa que estejam do vosso lado.
Vocês estão a ser manipulados e usados pelos terroristas económicos.
Abram a pestana e aprendam a negociar sozinhos, sem interferências exteriores, caso contrário os parasitas sociais ganham e vocês perdem.

Leão_da_estrela
Há 11 horas
Não estejam preocupados porque se a VW se chatear e levar a fábrica daqui para fora, o sindicato sustenta os 3500 trabalhadores até arranjarem emprego similar em ordenado e condições. Se não querem trabalhar dêem o lugar a outros. Esquecem-se que querem o fim-de-semana para ir aos centros comerciais e aos supermercados onde estão pessoas a trabalhar porque precisam de ganhar a vida.

Anónimo
Há 1 dia
Coitadinhos (dos empregados da AE, claro) onde eles se estão a meter...
A grande maioria deles são jovens e não conhecem a maneira destes sindicalistas negociarem! Já os da minha idade, ainda se lembram (ontem nos noticiários das televisões às 8 h deu para relembrar) das imagens às portas da LISNAVE, SETENAVE, SIDERURGIA NACIONAL, QUIMIGAL, SOREFAME, e por aí fora, e todos sabemos como acabaram. Resta a LISNAVE (chegou a ser das maiores construtoras/reparadoras navais mundiais) em Setúbal a fazer umas coisitas de nada, com meia dúzia de gatos pingados.
Não sei se já será tarde demais, mas abram a pestana, senão estão fecundados com um F muito grande...

Anónimo
Há 1 dia
A AE deve negociar com os trabalhadores (comissão) e não com sindicatos. A CGTP não deve atirar achas para a fogueira numa altura em que a empresa precisa de se concentrar no arranque da produção do novo modelo, pois é isto que vai dar continuidade e pagar o salário aos trabalhadores.


terça-feira, 22 de agosto de 2017

Depois do acto terrorista em Barcelona, qual será a próxima cidade?


Em 17 e 18 de Agosto de 2017, ocorreram atentados terroristas em La Rambla de Barcelona e no passeio marítimo de Cambrils, cidades situadas na região autónoma da Catalunha, em Espanha, que provocaram 15 mortos e mais do que uma centena de feridos.

Eis um resumo dos atentados (com erros) publicado pelo jornal La Vanguardia:


  1. Explosão de uma moradia com 106 garrafas de gás, em Alcanar, mata 2 terroristas (um deles é o imã Abdelbaki Es Satti) e fere 1, há 6 vizinhos feridos (quarta-feira, 16 de Agosto, 23:30)
  2. Uma carrinha Fiat branca percorre mais de 500 m em La Rambla de Barcelona, atropelando pessoas, 13 mortos e 132 feridos (quinta-feira, 17 de Agosto, 17:00)
  3. Outra carrinha, alugada para a fuga, é localizada em Vic, 18:30
  4. Um Ford Focus fura um controlo policial na av. Diagonal na cidade universitária de Barcelona, 18:30
  5. O automóvel é encontrado em Sant Just Desvern, condutor está morto no banco traseiro, 19:00
  6. São detidos 3 suspeitos em Ripoll, 20:00
  7. Um Audi A3 com 5 terroristas fura um controlo policial, em Cambrils. A polícia abate-os, 1 mulher morta por esfaqueamento e 4 feridos (sexta-feira, 18 de Agosto, 1:00)


Polícia abate Younes Abouyaaqoub, o condutor da carrinha do atentado de La Rambla, em Subirats, a 50 km de Barcelona (segunda-feira, 21 de Agosto)


Os vídeos seguintes mostram o horror sofrido pelas vítimas e vivenciado pelas testemunhas:








Uma descrição pormenorizada dos atentados terroristas na Catalunha e as relações familiares entre os 12 membros da célula terrorista de Ripoll foram publicadas pelo jornal El País:




A explosão em Alcanar, Tarragona (quarta-feira, 16 de Agosto, 23:30)
Uma forte detonação destrói uma moradia numa urbanização de Alcanar. A polícia catalã pensa inicialmente que é um caso de tráfico de drogas.


O atentado em La Rambla, Barcelona (quinta-feira, 17 de Agosto, 16:30)



O atentado em Cambrils, Tarragona (sexta-feira, 18 de Agosto, 1.00)
Um Audi A3 com cinco terroristas fura um controlo da polícia catalã no passeio marítimo de Cambrils, ferindo vários peões e um polícia. Há um tiroteio no qual quatro terroristas morrem. O quinto é morto depois de esfaquear mortalmente uma mulher.


Finalmente um artigo de opinião de um investigador português onde é feita uma análise lúcida destes atentados e suas causas:


Jogando com o fogo: a Catalunha e os jihadistas marroquinos

José Pedro Teixeira Fernandes
22 de Agosto de 2017, 12:14

A Catalunha apostou, para arregimentar votos favoráveis à independência, no grupo de populações árabes-islâmicas. Vejamos melhor esta estratégia e os seus efeitos colaterais.

1. Agora que os contornos do trágico atentado terrorista de 17 de Agosto de 2017 começam a ser mais claros, várias questões delicadas emergem. A resposta policial após a ocorrência foi rápida, corajosa e eficaz. Mas o mesmo não pode ser dito da actuação prévia dos serviços de informações e segurança, seja a responsabilidade política e operacional do governo espanhol, do governo autonómico da Catalunha (Generalitat), ou até de ambos. Importa começar por notar que estamos a falar de um atentado que envolveu uma dúzia de pessoas — e que levou vários meses a preparar — e de uma actuação isolada de um ou dois indivíduos, que seria muito mais difícil de antecipar, ou mesmo impossível. A primeira interrogação é, por isso, a de saber como foi possível que um atentado envolvendo tanta gente não tivesse sido detectado em comunicações entre os participantes, ou por movimentos suspeitos feitos por estes. Isto quando era previamente bem conhecido que a Catalunha, e Barcelona em particular, é uma zona de alto risco pela presença de islamistas-jihadistas.

2. A segunda interrogação é sobre a explosão na casa de Alcanar, em Tarragona, ocorrida na noite antes dos atentados e que derrubou totalmente a casa. É verdade que o tempo para actuar foi bastante escasso — o ataque no centro de Barcelona ocorreu a meio da tarde do dia seguinte —, mas, ainda assim, não poderia ter sido uma pista decisiva para ter evitado o atentado? A casa continha mais de uma centena de garrafas de gás butano, o que se soube logo na altura, e estava apenas ocupada irregularmente nos últimos meses pelos indivíduos de origem magrebina. Tudo apontava para um caso que não era o de uma normal explosão de botijas de gás num edifício de habitação. Sabemos agora que um dos mortos foi o imã da mesquita de Ripoll, em Girona, Abdelbaki Es Satty — o principal mentor do atentado. Note-se ainda que, há alguns meses atrás, a polícia espanhola tinha feito circular internamente informação indicando haver sinais de interesse por esse tipo de material para uso como explosivos.

3. O imã Abdelbaki Es Satty tinha antecedentes criminais. Registava já uma condenação por tráfico de haxixe entre Ceuta e Algeciras. Mais grave ainda, na prisão criou proximidade com um dos perpetradores do atentado terrorista de 11 de Março de 2004 em Madrid, Rachid Aglif. Anteriormente ao atentado de Barcelona, viajou também para a Bélgica. Passou alguns meses em Vilvoorde. Tal como Molenbeek, Vilvoorde ficou bem conhecida pelas piores razões durante o ano passado, quando ocorreram atentados no aeroporto e metro de Bruxelas. Vilvoorde e Molenbeek foram as bases — e onde estiveram as redes de solidariedade e cobertura — dos islamistas-jihadistas com ligações ao atentado de Bruxelas. Há aí presença ex-combatentes do Daesh e outros grupos islamistas radicais na guerra da Síria. Mais: existe uma conexão a Marrocos e em particular a populações oriundas do Rif, onde têm origem muitos dos islamistas-jihadistas — Abdelbaki Es Satty era também marroquino. Tinha, por isso, um perfil óbvio para que as suas actividades fossem seguidas de perto, e com muito cuidado, pelos serviços de informações e segurança. Aparentemente não foram, porquê?

4. Uma outra interrogação é a de saber a razão pela qual o governo da Catalunha, ou a gestão municipal de Barcelona, não colocaram barreiras impeditivas de veículos entrarem em locais com grande concentração de pessoas, como são as Ramblas. Parece uma medida de segurança bastante óbvia e necessária, sobretudo desde os precedentes graves dos atentados do ano passado em Nice, no passeio dos ingleses, e em Berlim, num mercado de Natal. Em ambos os casos — e de forma particularmente trágica no primeiro —, foram usados veículos automóveis para atropelar indiscriminadamente pessoas em locais de grande concentração na via pública. Não se percebe, por isso, o motivo pelo qual não foram colocadas tais barreiras, tanto mais que já existia uma recomendação do governo espanhol nesse sentido. Será por avaliação inadequada da ameaça, achando que bastava ter uma presença policial forte no local, meras razões estéticas, ou para ser diferente do resto de Espanha, numa estranha afirmação de autonomia?

5. Tal como aconteceu nos já referidos atentados de Bruxelas em 2016, fica a sensação de que as autonomias e rivalidades internas criaram alguma descoordenação nas forças de segurança e nos serviços de informações. Independentemente de a responsabilidade ser do governo de Madrid, ou do governo autonómico da Catalunha, ou de ambos, o resultado final foi dificultar uma actuação preventiva. Sob uma unidade de fachada face à tragédia, simbolizada pela presença, no dia seguinte ao atentado, do rei Filipe VI na cerimónia de homenagem às vítimas, nota-se o mal-estar político. O ministro do Interior espanhol, Juan Ignacio Zoido, anunciou o desmantelamento da célula responsável pelos ataques. A declaração foi logo criticada e considerada prematura por Joaquim Forn, Conselheiro do Interior do Governo da Catalunha. Quanto à polícia catalã — os Mossos d’Esquadra —, formalmente enquadrada pelo governo central, teve uma actuação muito corajosa e meritória após o atentado, na perseguição aos culpados. Mas também parece (demasiado) zelosa de uma actuação autónoma.

6. Para além das autonomias e rivalidades internas e do seu efeito negativo sobre a coordenação das forças de segurança e serviços de informações, há um aspecto relevante e que tem passado despercebido. Como já notado, os autores do atentado terrorista eram de origem marroquina (ou de Melilla). É o caso de Younes Abouyaaqoub, o principal executor. É também o caso de Abdelbaki Es Satty, o imã de Ripoll. Será um acaso ser essa a origem dos islamistas-jihadistas? Não é. A questão remete-nos, de alguma forma, para as políticas do governo autonómico da Catalunha e para a sua ambição independentista. Está empenhado em organizar um referendo para a independência, mesmo contra a vontade do governo de Madrid, e em arregimentar, o mais possível, votos favoráveis. Aqui entra o papel dos estrangeiros residentes na Catalunha que não têm origem na União Europeia. A ideia é que possam participar nesse referendo. Numa votação muito próxima, o seu voto poderá ser decisivo. Os dois grupos substanciais de estrangeiros/migrantes são os que têm origem na América Latina e os que provêm do Norte de África. A Catalunha apostou no segundo grupo de populações árabes-islâmicas (as populações latino-americanas já falam espanhol/castelhano e muitos não vêem, por isso, interesse na aprendizagem da língua catalã). Vejamos melhor a estratégia e os seus efeitos colaterais.

7. Na Catalunha vive um grupo bastante substancial de população de origem marroquina, na ordem das trezentas mil pessoas. Nos últimos anos, o governo autonómico adoptou uma série de medidas favoráveis à emigração para o seu território e acolhimento dessa população. Entre outras, foi previsto o ensino escolar do árabe e do tamazig (berber) — usado sobretudo nas zonas das montanhas Rif e do Atlas de Marrocos. A questão tem a sua ironia se pensarmos que o governo de Madrid acusa frequentemente a Catalunha de dificultar, ou até impedir, a aprendizagem e uso do espanhol/castelhano. Mais: foi dada às autoridades religiosas de Marrocos um papel fundamental na elaboração de conteúdos sobre o Islão para a maioria dos muçulmanos na Catalunha, bem como para a sua disseminação nas escolas e mesquitas. É arriscado ter colocado esse ensino nas mãos de autoridades religiosas estrangeiras. Claro que tudo isto foi a pensar mais na independência: os emigrantes marroquinos iam assim ter um estímulo para se identificar com a Catalunha e isso dará mais votos num referendo. Foi assim ignorado, ou, pelo menos, subestimado, que o aumento dessa população incrementava a possibilidade, até por probabilidade estatística, de uma presença acrescida de adeptos do islamismo-jihadista no seu território. O atentado terrorista de 17/8 mostrou que essa probabilidade é bem real e da pior maneira.


*


Entre os mortos e os feridos há turistas de 35 países, pelo menos, entre os quais está Portugal. Mais uma vez a opinião pública foi apaziguada com um memorial:

E o que se passa em Lisboa?

Primeiro ouvimos um imigrante do Bangladesh dizer, à saída da mesquita da zona do Martim Moniz, em Lisboa, que gostava de lutar pelo Estado Islâmico.

Depois vem o presidente do município lisboeta anunciar que vai gastar 3 milhões de euros na construção de uma praça na Mouraria com uma mesquita para a comunidade do Bangladesh, projecto que recebe a concordância dos vereadores de todos os partidos políticos.

Paulatina e silenciosamente estamos a ser invadidos por imigrantes muçulmanos que não têm a mínima intenção de abandonar as suas tradições político-religiosas e sociais e aderir a ideais democráticos, à separação entre o Estado e a Religião e a respeitar as mulheres como seres humanos de direitos idênticos aos homens.

Paulatina e silenciosamente esses imigrantes criam comunidades fechadas nos países ocidentais da União Europeia onde os islamistas-jihadistas, que perpetram carnificinas de homens, mulheres e crianças educadas segundo os valores morais europeus, encontram refúgio e protecção.

Paulatinamente essas comunidades islamistas são apoiadas pelos partidos políticos portugueses, em especial pelos partidos da extrema-esquerda que vêem neles o braço armado da revolução que permitirá a sua ascensão ao poder para implantarem o regime socialista que trará bem-estar e felicidade — unicamente aos seus membros, assim a experiência o demonstrou na União Soviética, nos países da Europa de Leste, em Cuba, na Coreia do Norte e agora na Venezuela.

Paulatina e silenciosamente o Islão sunita avança, financiado pela Arábia Saudita e pelos contribuintes portugueses, perante a passividade dos cidadãos anónimos — apenas 7142 assinaram esta petição — anestesiados pela verborreia da propaganda politicamente correcta. Esquecendo que, em Portugal, a diminuição do desemprego e o crescimento do PIB é uma consequência da expansão do turismo fugido dos países flagelados pelo terrorismo.

Outras opiniões:

OldVic - eu sou Barcelona 13:02
Claro que tudo isto foi a pensar mais na independência: os emigrantes marroquinos iam assim ter um estímulo para se identificar com a Catalunha e isso dará mais votos num referendo”: os independentistas catalães devem escrever 100 vezes num quadro “O tribalismo estupidifica”. Os extremistas dos atentados também deviam escrever isso, mas a esses não vale a pena recomendar nada.

Helder Antunes 14:00
As autoridades e o poder político da Catalunha têm uma boa parte do "problema" identificado, assinalado, sob-vigilância, etc. O mesmo se aplica às nossas autoridades e políticos. Idem por essa Europa fora. Em comum, todos, com honrosas excepções a leste, escolheram nada fazer. Não intervir preventivamente.
Optaram, porque em boa parte é uma escolha que fizeram, por deixar as populações que governam, que uns e outros deveriam proteger, sofrer na pele e pagar em vítimas o preço da sua vontade expressa de não intervir preventivamente. São vítimas, um sacrifício, em nome de um bem maior, dirão. São em boa parte escolhas que se fazem. Eu não me sinto representado, por uns, nem protegido, pelos outros, nessas opções.

Juvenal Barbosa 15:37
É sempre assim quando se aposta em imigração descontrolada e não se exige nada aos imigrantes (como eles podem identificar-se com o país de acolhimento quando recebem tanto de mão beijada?). Foi assim na Bélgica durante anos e criou-se Molenbeek, na Catalunha até não foi preciso tanto tempo, agora os turistas vão-se embora e vamos ver como é a vida com uma grande comunidade imigrante não integrada, que tem elementos hostis à infiel sociedade de acolhimento. Talvez devêssemos aprender com isso e modificar as nossas leis.