terça-feira, 30 de junho de 2015

Humor grego - I


Um britânico de 29 anos propõe pagar a dívida grega de 1,6 mil milhões de euros ao FMI, que venceu hoje, com recurso ao crowfunding. Em dois dias recolheu cerca de 466 mil euros.

Os presentes em troca de cada contribuição:
Por três euros recebe-se um postal de Alex Tsipras. Com seis euros obtém-se uma salada de queijo feta e azeite. Dez euros serão recompensados com uma garrafa de Ouzo e 25 euros com uma garrafa de vinho grego. Quem doar 160 euros, recebe um cesto com todos estes produtos gregos. Cinco mil euros dão direito a uma semana de férias para dois em Atenas. E os corações generosos que oferecerem 1 milhão de euros ganham a gratidão do povo grego.

A iniciativa termina dentro de seis dias e já serviu para uma alfinetada lusa:

nemo
30 Junho 2015 - 22:27
Agradeço que me informem com quanto é que já contribuíram estes generosos portugueses:

- António Luís Santos da Costa
- Catarina Soares Martins
- Jerónimo Carvalho de Sousa

Obrigado.


A Grécia à beira da bancarrota - III i. O default no empréstimo do FMI


A Grécia não pagou a dívida de 1,6 mil milhões de euros ao Fundo Monetário internacional (FMI) que vencia esta terça-feira, 30 de Junho. O FMI comunicou que o Governo de Atenas solicitou o adiamento da amortização do empréstimo e que a instituição declarou o pagamento em atraso.

O ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, já tinha confirmado esta manhã que a Grécia não ia pagar as quatro parcelas que deveriam ser reembolsadas hoje ao FMI.

À noite, em entrevista à estação de televisão pública ERT, Yannis Dragasakis, vice-primeiro-ministro grego, avançou que a Grécia tinha apresentado um pedido ao FMI para que o pagamento das quatro parcelas de Junho, que deveriam ter sido reembolsadas hoje, fosse adiado para o fim de Novembro.

O comunicado de Gerry Rice, director de comunicação do FMI, é lacónico e fala apenas em atraso:
Confirmo que o reembolso de DES [Direitos Especiais de Saque, a unidade de conta do FMI] 1,2 mil milhões (cerca de EUR 1,5 mil milhões) devidos hoje pela Grécia ao FMI não foram recebidos. Informámos o nosso Conselho de Administração que a Grécia está agora em atraso e só poderá receber financiamento do FMI quando cumprir o pagamento em atraso.

Também posso confirmar que o FMI recebeu hoje um pedido das autoridades gregas de prorrogação da obrigação de reembolso da Grécia que vencia hoje, que irá para o Conselho de Administração do FMI em devido tempo.

Dentro de 15 meses, o FMI emite uma “declaração de não-cooperação” (até Setembro de 2016), podendo ser suspensa a assistência técnica à Grécia. As restrições prosseguem, com a suspensão dos poderes de voto do país no FMI ao fim de 18 meses. Se, ao fim de dois anos, a Grécia continuar sem pagar o empréstimo, pode ser expulsa da instituição.


*

As reacções à notícia vão desde comentários circunspectos a outros bem-humorados. Dois exemplos nos antípodas:

Anónimo:
30 Junho 2015 - 22:41
Está lá, é do FMI? Olhe, a gente não conseguiu SACAR o dinheiro aos UE, por isso tenham paciência, aguentem mais um tempinho que a gente vai continuar a bater nos bolsos deles a ver se saltam alguns Euros.

00SEVEN
30 Junho 2015 - 23:25
Uma garotada a espatifar o país!
Mas quem escolheu foram os gregos.
O default consumou-se há 25 minutos!
Só se alterarem os Bye-Laws do FMI, mas para isso precisam que os 188 países-membros deliberem sobre esta façanha grega!


A Grécia à beira da bancarrota - III h. O fim do resgate europeu


O governo grego solicitou ao Eurogrupo a extensão do actual programa de resgate. Ao fim da tarde, o fundo de resgate do euro declarou que o programa de assistência à Grécia termina hoje, terça-feira, 30 de Junho.

O fundo de resgate do euro — Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) — emitiu esta tarde um comunicado oficial a alertar que o programa de assistência financeira à Grécia expira à meia-noite de hoje, terça-feira, 30 de Junho.

A instituição presidida por Klaus Regling alerta que, com o fim do programa do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), que antecedeu o MEE, a Grécia perde o acesso à última tranche de 1,8 mil milhões de euros do empréstimo concedido. A Grécia vê também cancelado o acesso aos 10,9 mil milhões de euros destinados à recapitalização da banca que estavam previstos no programa.

Regling afirma ser "de lamentar que o programa do FEEF termine hoje sem que haja qualquer acordo e que os resultados positivos do programa sejam colocados em risco", acrescentando que "devido às políticas económicas adoptadas no âmbito do programa do FEEF, o país estava num bom caminho para um forte crescimento até ao segundo semestre de 2014". Realça que "os grandes sacrifícios exigidos ao povo grego estavam a dar resultado" e havia "perspectivas encorajadoras de crescimento".

O programa do FEEF começou em 21 de Fevereiro de 2012. Previsto para terminar a 31 de Dezembro de 2014, foi estendido por dois meses a pedido do governo de Antonis Samaras e, em Fevereiro deste ano, já com o governo de Alexis Tsipras, foi prolongado por mais quatro meses.
O montante do empréstimo em dívida ascende a 130,9 mil milhões de euros, o que torna o FEEF, de longe, o maior credor da Grécia.

O comunicado sublinha a singularidade do programa que hoje termina:
O programa de assistência financeira da Grécia foi único em muitos aspectos. Devido à gravidade das deficiências estruturais do país e das necessidades de ajustamento, foi o maior programa do FEEF ou do MEE de sempre. Também tinha, de longe, as condições de crédito mais favoráveis jamais concedidas a um programa do FEEF ou do MEE de um país. Incluiu o envolvimento do sector privado, com perdas consideráveis para os investidores privados. A Grécia beneficia de um empréstimo com a maturidade média de mais de 30 anos. O país não paga, nem taxas de juros, nem de resgate, sobre parte esmagadora dos empréstimos do FEEF até 2023.

O governo grego também solicitou um terceiro programa de resgate e reestruturação da dívida ao fundo de resgate do euro.
Os ministros das Finanças da Zona Euro já fizeram uma primeira avaliação negativa da proposta da Grécia, em reunião por teleconferência nesta terça-feira, mas pediram a Atenas para aprofundar e pormenorizar a sua proposta.


*


A Grécia gastava 17,5% do PIB com os pagamentos de pensões, mais do que qualquer outro país da União Europeia, de acordo com os dados de 2012, os últimos disponíveis no Eurostat. Os cortes efectuados pelo Governo de Samaras baixaram este valor para 16%, mas Tsipras recusa fazer mais cortes de pensões porque a taxa de desemprego é elevadíssima, mais de 25% da população activa, e os pensionistas estão a sustentar as famílias dos filhos desempregados.

De 2010 a 2014, as pensões foram cortados 27%, em média, e 50% para os mais ricos. A idade média de reforma subiu dois anos em 2013. Mesmo assim, agora os homens gregos aposentam-se, em média, aos 63 e as mulheres aos 59 anos.

Actualmente as pensões gregas rondam 833 euros por mês, em média. Mas baixaram de 1350 euros, que era a média em 2009, segundo o instituto do maior sindicato do país, o INE-GSEE. Além disso, o governo de Tsipras fixou a linha de pobreza em 665 euros mensais e 45% dos pensionistas recebem pagamentos mensais abaixo desse valor.

A título de comparação, recorde-se que, em 2015, o Complemento Solidário para Idosos (CSI) dos pensionistas portugueses, com mais de 66 anos de idade, é 4909 euros por ano, ou seja, 409 euros mensais.

Se aos gastos com as pensões juntarmos os salários, obtém-se 80% dos gastos primários do Estado, ou seja, antes dos custos do serviço da dívida. "Os 20% restantes já foram cortados até o osso, de facto foi longe demais", disse uma fonte ligada às negociações. "Os funcionários públicos não têm lápis para escrever, os edifícios que necessitam de manutenção estão a desmoronar-se. Não é possível tornar sustentáveis as finanças públicas sem trabalhar sobre os salários e pensões."

Agora a Grécia perde tranches que totalizam 12,7 mil milhões de euros, a taxas de juro quase nulas, por recusar fazer as reformas profundas que a economia grega precisa e insistir numa nova reestruturação da dívida pública grega que iria penalizar os restantes 18 países da Zona Euro.


segunda-feira, 29 de junho de 2015

A Grécia à beira da bancarrota - III g. Os pensionistas esquecidos


Os gregos encontraram hoje os bancos com as grades descidas e as máquinas automáticas fechadas durante a manhã para se proceder ao controlo dos levantamentos de dinheiro.
Os pensionistas que não têm cartões bancários para levantamento de dinheiro não conseguiram receber as suas pensões.


No seguimento do colapso nas negociações entre o governo de Alexis Tsipras e os credores, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu não reforçar os valores da linha de financiamento de emergência (ELA) para a banca grega, mantendo o anterior limite de 89 mil milhões de euros.

Alertado pelo governador do banco central grego de que a banca não conseguiria suportar o ritmo crescente dos levantamentos de depósitos das últimas semanas, o primeiro-ministro grego anunciou ontem o encerramento dos bancos gregos e a imposição de controlo de capitais. Tsipras fez questão de dizer aos gregos para permanecerem "calmos", assegurando que os "depósitos estão salvaguardados" e que o pagamento de salários e pensões não estava em perigo.
A seguir o Ministério das Finanças informou que os bancos vão permanecer fechados até 7 de Julho e que o controlo de capitais ia limitar a 60 euros o montante máximo diário de levantamentos de dinheiro nas caixas automáticas.

Os pensionistas que não têm cartões bancários dirigiram-se hoje aos bancos na esperança de levantarem dinheiro das suas pensões, mas não conseguiram porque não se confirmou os rumores de que os bancos poderiam abrir para os pensionistas.


Pensionistas fazem fila fora de uma sucursal do Banco Nacional da Grécia na esperança de obterem as suas pensões, em Atenas, Grécia, em 29 de Junho de 2015.
REUTERS/Yannis Behrakis


Os pensionistas que esperam fora de uma sucursal fechada do Banco Nacional da Grécia na esperança de obterem as suas pensões, discutem com um funcionário do banco (E) em Heraklion, na ilha de Creta, Grécia, em 29 de Junho de 2015.
REUTERS/Stefanos Rapanis

REUTERS/Stefanos Rapanis


Um gerente bancário explica a situação aos pensionistas que esperam fora de uma sucursal do Banco Nacional da Grécia na esperança de obterem as suas pensões, em Tessalónica, Grécia, em 29 de Junho de 2015.
REUTERS/Alexandros Avramidis


Pessoas sentadas fora de uma agência fechada do Banco Nacional da Grécia, em Atenas, em 29 de Junho de 2015.
REUTERS/Marko Djurica


Pessoas, na sua maioria pensionistas, discutem com um membro do pessoal (C) de uma agência fechada do Banco Nacional da Grécia, na sede do banco em Atenas, em 29 de Junho de 2015.
REUTERS/Marko Djurica

REUTERS/Marko Djurica


As pessoas, na sua maioria pensionistas, discutem entre si fora de uma agência fechada do Banco Nacional da Grécia, na sede do banco em Atenas, em 29 de Junho de 2015.
REUTERS/Marko Djurica

Perante o drama destas pessoas, um funcionário do governo grego veio dizer que é expectável que abram 850 sucursais bancárias para o pagamento de pensões: "As sucursais dos bancos vão abrir antes de segunda-feira. Há um esforço para que abram na quinta-feira."


*


Os bancos recebem o dinheiro depositado pelos clientes e fazem empréstimos às empresas e aos particulares. Para satisfazerem os levantamentos de dinheiro por parte dos seus clientes, os bancos socorrem-se de financiamento do BCE. Se houver algum motivo que leve este banco central a recusar, vão à falência.
Por exemplo, o Banco Espírito Santo sofreu uma medida de resolução no ano passado quando, depois de apresentar prejuízos elevadíssimos nas contas do primeiro semestre, o BCE recusou manter o financiamento ao banco.

Depois dos levantamentos de dinheiro da última semana, concomitantes com o arrastar das negociações do ministro das Finanças grego com os seus parceiros dos restantes 18 países da Zona Euro, a banca grega pediu mais um reforço do financiamento de emergência ELA.

Com a manutenção do ELA em 89 mil milhões de euros, o colapso das negociações no sábado e a corrida às caixas multibanco do fim-de-semana, a banca grega estava na iminência de falir. Nada mais restava ao primeiro-ministro grego e ao seu ministro das Finanças senão imporem o encerramento dos bancos e o controlo de capitais.

A questão é que nem Tsipras, nem Varoufakis, nem ninguém no governo grego se lembrou das dezenas de milhar de pensionistas que não dispõem de cartão de débito bancário e que iam ficar mais de uma semana, em desespero, sem dinheiro para comer.

Este infeliz incidente revela a inexperiência dos actuais governantes gregos e a irresponsabilidade com que tomam decisões, sem acautelar as consequências sobre os gregos mais desprotegidos que, ideologicamente, dizem defender. Mas pode abrir os olhos aos eleitores gregos que confiaram o seu voto a Tsipras e que, depois deste episódio dramático, irão reflectir e eventualmente votar "Ναί" ("Sim", em grego) no referendo de 5 de Julho.



Actualização em 1 de Julho

Cerca de um terço das sucursais dos bancos gregos abriram hoje mas apenas para o pagamento de pensões. Os pensionistas sem cartões multibanco podem levantar até 120 euros por semana.

Cerca de um terço das sucursais dos bancos gregos, ou seja, aproximadamente mil balcões abriram esta quarta-feira, 1 de Julho, para permitir que os pensionistas sem cartão multibanco fizessem levantamentos de dinheiro. Mas só podem descontar até 120 euros, por semana, dos cheques das pensões, muito menos do que os outros clientes dos bancos.

Contudo, estarem a ver, desde sábado, as pessoas a formarem longas filas diante das caixas multibanco para levantarem dinheiro e ficarem impedidos de aceder às pensões, durante dois dias, deixou marcas nos pensionistas e houve tensão à porta dos bancos gregos:






domingo, 28 de junho de 2015

A Grécia à beira da bancarrota - III f. O encerramento dos bancos


Após a decisão do Banco Central Europeu de não reforçar os valores da linha de financiamento de emergência (ELA) para a banca grega, o governo de Alexis Tsipras decretou o encerramentos dos bancos e o controlo de capitais.

Em declaração televisiva feita ao povo grego este domingo, por volta das 19:00 em Lisboa, o primeiro-ministro da Grécia anunciou o encerramento dos bancos gregos e impôs o controlo de capitais.
Tsipras disse ter aceite uma recomendação do banco central grego ao seu Governo depois do bloqueio das negociações no sábado.
E fez questão de avisar os gregos para permanecerem "calmos", assegurando que os "depósitos estão salvaguardados" e o pagamento de salários e pensões não está em perigo.

Entretanto a comunicação social revelou que o Ministério das Finanças anunciou que os bancos vão permanecer fechados até 7 de Julho e o controlo de capitais imposto limita a 60 euros o montante máximo de levantamentos por dia.

Recordemos que, durante a crise do sistema financeiro cipriota em 2013, foram impostas medidas de controlo de capitais que apenas impediam o levantamento de quantias superiores a 300 euros diários e proibiam as transferências de dinheiro, ou a posse em saída para o estrangeiro, de quantias superiores a 3 mil euros.


*


A resposta dos gregos foi uma corrida aos levantamentos de dinheiro, formando-se longas filas defronte das caixas multibanco, com muito mais gente do que no sábado, quando foi divulgado o bloqueio das negociações dentro do Eurogrupo.








Os comentários dos outros:

Grexit
28 Junho 2015 - 21:24
O Tsipras é o maior, limita o levantamento a 60 euros diários. Ora toma e embrulha povo Grego! Começou a austeridade à Syriza!

xxxx
28 Junho 2015 - 22:06
A Catarina e o Louçã emudeceram? Não falam da reestruturação da dívida?
E o Costa já não aplaude o Syriza? Esse oportunista e traidor vai ficar mais 4 anos na oposição. Quem se está a mijar de tanto rir é o Seguro!

Paulo Paiva Santos @ Facebook
28 Junho 2015 - 22:45
Tsipras toma uma das primeiras medidas de austeridade, levantamento de Eur. 60,00 diários e Banca encerrada até próximo dia 7 Julho.
Faz-me lembrar de experiências vividas pós-25 de Abril, em que o Governo Socialista de Mário Soares impôs, como forma de controle de capitais (evasão de capitais) que os portugueses que se deslocassem ao estrangeiro não podiam gastar mais que Escudos 12.500 por ano, com registo e averbamento no passaporte.
Inédito não é, original, verdade! Pois é, assim foi na altura. É o mesmo que dizer que durante esse período os portugueses tinham um passaporte, mas poucas ou nenhumas condições para viajar.
Quanto a Mário Soares... "Oh Sr. Polícia deixe-nos em paz", óbvio, as medidas que tomava, eram destinadas aos outros, a Ele nunca lhe tocaram à porta. Os Traidores gozam de certas regalias...

PF
28 Junho 2015 - 22:49
Parabéns Tsipras. Acabou de condenar toda a esquerda radical da Europa.

Miguel Bél @ Facebook
28 Junho 2015 - 23:40
Não era melhor fazerem um referendo para ver se o povo aceita que se encerrem os bancos, tal como querem fazer para não pagar os calotes?


A Grécia à beira da bancarrota - III e. O esclarecimento de Lagarde


A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, afirmou que o referendo na Grécia deixa de fazer sentido com o fim do resgate na terça-feira.

"Não posso falar pelo programa do FMI, porque o programa do FMI continua válido, mas o resgate financeiro europeu expira a 30 de Junho. Portanto, pelo menos do ponto de vista legal, o referendo terá a ver com propostas e acordos que já não são válidos. É uma questão legal", afirmou Lagarde hoje, em entrevista à BBC.

Christine Lagarde acrescentou que a Grécia deixará de ter acesso a qualquer financiamento dos países que constituem o FMI, se não reembolsar os 1,6 mil milhões de euros com vencimento em 30 de Junho até às 18:00 em Washington (23:00 em Lisboa), tendo explicado o motivo:
"É dinheiro que é devido à comunidade internacional, incluindo povos que têm um nível de vida inferior ao dos gregos, e espero que esse pagamento seja feito na terça-feira até às 18:00 (tempo de Washington). Se não for pago, isso significa que a Grécia continua a ser um membro do FMI, a ser representada na administração, a beneficiar de assistência técnica mas não posso continuar a emprestar mais dinheiro em benefício da Grécia."


*

Alexis Tsipras chegou ao poder num País com uma enorme dívida mas com superavit primário, ou seja, as receitas já cobriam as despesas do Estado sem contabilizar os juros. Portanto se os credores perdessem o dinheiro emprestado, os gregos podiam criar nova dívida e regressar ao nível de vida que usufruíam antes do resgate e o Syriza eternizar-se-ia no poder.

Era uma táctica inteligente mas prejudicava gravemente as populações dos países pertencentes ao FMI que contribuíram com verbas para emprestar aos países europeus então sob resgate — Grécia, Irlanda e Portugal. O FMI, como lhe competia, defendeu os interesses dos credores, de modo que a artimanha grega não vai funcionar.

Em Fevereiro, o Governo liderado por Tsipras recebeu um prolongamento por quatro meses do programa de resgate, a terminar no último dia de Junho. Dia em que, recentemente, pediu para juntar os pagamentos ao FMI devidos em diferentes dias desse mês. Teve tempo de sobra para preparar o referendo onde seria perguntado aos gregos se aceitavam a última proposta do Eurogrupo. Esse referendo deveria estar a decorrer hoje. Mas não está.

Na verdade, Tsipras pretende conduzir a Grécia para fora do Euro mas, como a economia grega vive, em larga medida, dos turistas oriundos dos países da Zona Euro, precisava de tempo para conseguir que os gregos aceitem a ideia.
Um referendo sobre uma proposta dos credores que expira em 30 de Junho e, por isso, sem valor legal em 5 de Julho, permitir-lhe-ia esticar o prazo, além de lavar as mãos como Pôncio Pilatos. A maior parte dos eleitores gregos nem vai perceber que se está a pronunciar sobre uma proposta de acordo que já não existe.

É a grande vantagem da democracia: o povo fica com a responsabilidade, embora muitas vezes nem tenha a noção das consequências da escolha que faz com o seu voto, e os políticos livres como passarinhos.
Lembremos as palavras do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, no Contrato Social, sobre esta forma de governo: "Se houvesse um povo de deuses, esse povo se governaria democraticamente. Um governo tão aperfeiçoado não convém aos humanos."
Temos de procurar informação em fontes fidedignas antes de tomarmos decisões para não nos deixarmos manipular por políticos interessados unicamente em usufruir as regalias inerentes ao exercício do poder.

Se, no referendo, os gregos aceitassem o acordo, Tsipras diria que era preciso continuar as negociações porque o acordo já não era válido. Os gregos habituavam-se a não cumprir os prazos de pagamento dos empréstimos e os outros países adaptavam-se aos calotes gregos. Era uma ideia fantástica: com o decorrer do tempo adquiriam o direito de não pagar. Jogaram e perderam. É a vida.

Outras reacções à notícia no Negócios:

a
10:24
A união europeia com isto mostra que lhe falta muito para ser democrata. Só lhes ficava bem dar mais 5 dias pois assim estão a mostrar que isto não é uma negociação mas sim um ultimato encoberto.

Anónimo
11:02
Um referendo de boa fé, devia ter programado para hoje e não dia 5 de Julho. É mais uma manobra!

Anónimo
11:18
O Programa da UE terminava em Fevereiro, foi prolongado até 30 de Junho, exactamente para "dar tempo" aos Gregos e agora este "salto-mortal"? A esquerdalhada funciona assim, viram o texto-ao-contrário e andam permanentemnete em "manobras de esquivar-se" e no fim atacam pelas costas!

litos335
13:34
Com a recusa em aceitar condições, com o fim do actual resgate em 30 deste mês, com a falta de pagamento em Julho ao BCE e entrada em default, resta à Grécia começar desde já a imprimir novos Dracmas para poder pagar vencimentos e pensões.
Ninguém corre com a Grécia. A Grécia sai pelo seu pé, porque não tem condições de permanência e os 18 não estão dispostos a continuar a engordar a Dívida Grega sem esperança de voltar a ver os euros emprestados.


sexta-feira, 26 de junho de 2015

O massacre na França, no Kuwait e na Tunísia - III


França, 8h00. Kuwait, 12h30. Tunísia, 13h30.

Um ataque islamista a uma estância turística na Tunísia matou 39 turistas e feriu mais 36.

Sousse, Tunísia, 26 de Junho de 2015.
REUTERS/Amine Ben Aziza


Um homem que se fez passar por turista abriu fogo com uma metralhadora Kalashnikov na praia junto a um hotel, por volta do meio-dia de hoje. Foi abatido pela polícia que procura possíveis cúmplices.

O hotel é o Riu Imperial Marhaba, em Sousse, sensivelmente a 150 quilómetros da capital do país, Tunes.
Segundo contou à Reuters um trabalhador deste hotel, que assistiu ao ataque, havia só um atirador, que abriu fogo junto à piscina do hotel: "Era só um atacante. Era um jovem vestido com calções como se fosse também um turista."

As vítimas mortais são turistas, sobretudo britânicos, alemães e belgas, segundo o Ministério do Interior tunisino, que tem estado a actualizar a estimativa do número de mortos. O assassino foi um estudante de Kairouan, uma cidade no centro do país que é uma das cidades santas do Islão.









Considerada o melhor exemplo de evolução democrática da Primavera Árabe, a Tunísia já tinha assistido a um ataque terrorista perpetrado por extremistas muçulmanos em Março que teve como alvo o museu Bardo, em Tunes. Morreram 22 pessoas, todos turistas.


*


Sousse é uma das principais cidades turísticas na Tunísia muito procurada pelas estâncias turísticas junto à praia. O país é visitado anualmente por seis milhões de turistas, a maior parte dos quais europeus, que procuram as praias e os locais históricos. Estes ataques dirigidos contra os turistas são uma catástrofe para a economia tunisina que tem no turismo uma importante fonte de receita.

Afastando os turistas, a economia tunisina entra em recessão, a população empobrece e, com o decorrer do tempo, acaba por aderir a ideologias extremistas como as professadas pelos radicais islamistas.

Cabe aos líderes europeus serem capazes de fazer fracassar o terrorismo do Estado Islâmico que, a par e concomitantemente com a imigração islâmica, são o maior perigo que a Europa enfrenta.

Merecem uma leitura estes comentários à notícia no Observador:

Luis Fonseca
26 Jun 2015
Vamos à guerra contra essa gente. Eles não querem saber de ninguém, estão em guerra connosco, que estamos à espera para lhes dar troco? Que invadam ainda mais a Europa?

Pedro de Almeida
26 Jun 2015
Luis Fonseca,
Calma, há que compreender a revolta dos pobres muçulmanos, humilhados e ofendidos pelo despudor dos ocidentais.
E, claro, há as desigualdades económicas gritantes, que contribuem para a sua revolta.
Como é que se sentiria se vivesse num país com um PIB per capita ainda inferior ao Grego (esses desgraçados esmagados pela austeridade neoliberal)?
Certamente também se sentiria revoltado, e com vontade de atacar resorts turísticos, não?
Por isso, nada de julgamentos apressados.
(Até porque, como todos sabemos, o Islão é uma religião de paz, e não são um ou dois jovens mais excitados que alteram esse facto. Temos de respeitar a cultura deles!)
  • David Pinheiro
    26 Jun 2015
    ;)

Daniel Teixeira
26 Jun 2015
Caro Pedro de Almeida,
Não deixa de ser curioso que noutras culturas com a mesma desigualdade social não se passe o mesmo – Não me lembro de ver nenhum Hindu ou Budista a matar e decapitar pessoas. Mais curioso ainda é a proclamação diária da religião da paz...

A Indocrinação é fácil de acontecer numa sociedade pouco educada – no entanto, olhando para todos estas sociedades e diferentes religiões o padrão é sempre o mesmo – Apenas no médio/próximo oriente isto acontece – qual o ponto em comum?
  • Nuno Gonçalves
    26 Jun 2015
    Daniel, eu sei que o sarcasmo é difícil de detectar através da escrita, mas está mais que presente no comentário do Sr. Pedro de Almeida.

Pedro de Almeida
26 Jun 2015
Daniel Teixeira,
Isso é um pensamento maldoso, que resulta de pensar demais e perder tempo a analisar realidades.
Não seja assim.
Escreva 100 vezes (à mão, num papel qualquer, fazer copy/paste num computador não serve) “O islão é uma religião pacífica”, e vai ver que se sente melhor.


O massacre na França, no Kuwait e na Tunísia - II


França, 8h00. Kuwait, 12h30. Tunísia, 13h30.

Um bombista suicida fez um ataque terrorista numa mesquita xiita do Kuwait que causou 27 vítimas mortais e feriu 227 pessoas.





Era a hora das orações na cidade do Kuwait, capital do pequeno Estado do golfo Pérsico com o mesmo nome.
A mesquita Imam Sadiq continha cerca cerca de 2000 pessoas, quando houve uma forte explosão. Logo a seguir, dezenas de homens com vestimentas brancas salpicadas de sangue fugiram para fora da mesquita xiita no meio da fumaça.

O atentado foi reivindicado por um grupo jihadista ligado ao sunita Estado Islâmico.


*


A facção sunita do Islão deteve o poder no Iraque até ao derrube de Saddam Hussein pela invasão americana e britânica em 2003.

Desde essa época não mais parou a insurreição sunita no Iraque, que tanto lutou contra as forças da coligação liderada pelos Estados Unidos como contra as milícias da facção xiita do Islão, entretanto constituídas para combater o governo interino formado em 2004. Um grupo jihadista sunita tornou-se na Al-Qaeda do Iraque em Outubro desse ano.

A insurreição sunita intensificou-se em 2005, não obstante as eleições, primeiro para redigir a constituição e depois para criar um parlamento. E continuou contra o governo xiita depois das forças armadas americanas terem abandonado o Iraque em 2011.

A guerra civil síria, que teve início nesse ano, levou os grupos sunitas a atravessar a fronteira para combater o regime de Bashar al-Assad. Em 2014, um grupo ultra-conservador, de inspiração salafista, consegue controlar algumas das maiores cidades iraquianas, como Tikrit, Fallujah e Mosul, e autoproclama o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla inglesa) onde impõe um clima de terror.

Agora o ódio do Estado Islâmico alastrou para a Europa mas não esquece o ramo xiita do Islão.


O massacre na França, no Kuwait e na Tunísia - I


França, 8h00. Kuwait, 12h30. Tunísia, 13h30.

Um ataque terrorista em Lyon, na França, provocou uma explosão numa fábrica de gás e fez vários feridos. Há também um homem decapitado.

AFP/Getty Images

Um homem fez colidir uma viatura contra o portão da fábrica da Air Products em Saint-Quentin-Fallavier, a 25 quilómetros de Lyon, cerca das 8:00 desta sexta-feira. Depois de entrar, provocou a explosão de garrafas de gás.

Os bombeiros chegaram rapidamente e depararam com o suspeito deste atentado, Yassin Salhi, a gritar "Allah Akbar", que conseguiram manietar até à chegada dos polícias. Posteriormente, a mulher e uma irmã do suspeito foram detidas na sua residência.

No exterior do edifício encontrava-se um corpo decapitado que, mais tarde, foi identificado como o gerente de uma empresa de transportes e patrão de Yassin Salhi. A sua cabeça fora colocada pelo terrorista num gradeamento e junto do corpo decapitado estava uma bandeira do autoproclamado Estado Islâmico.

Segundo o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, o suspeito nasceu em 1980 e residia na região de Lyon. Em 2006 fora identificado pela polícia como um radical islâmico, mas a sua "ficha S" (de Segurança do Estado) não foi renovada quando foi feita uma actualização dos dados policiais, em 2008.


Le Monde.fr | 26.06.2015 à 14h31

Tanto o Presidente François Hollande como o primeiro-ministro Manuel Valls classificaram este ataque como um atentado terrorista.


*


Depois dos ataques de 11 de Janeiro, contra a redacção do semanário satírico Charlie Hebdo e contra um supermercado judeu, a França volta a ser o alvo de um novo atentado islamista. E desta vez não há a desculpa de que os autores do atentado ficaram ofendidos com as caricaturas de Maomé.

A opinião dos outros:

Luis Marques
Javali profissional, Manchester 26/06/2015 11:49
Os franceses são fracos, são um povo submisso ao politicamente correcto que recua recua, recua, até não mandar mais no seu país. Mas isto já é dito há bastantes anos e nada fizeram para alterar a situação.
O medo de serem chamados fascistas, ou coisa parecida, pela turba politicamente correcta tem-nos paralisado e diminuído a França. Pode ser que acordem antes que seja tarde demais ou então irão continuar até não reconhecerem o país que habitam.
  • Vanity_Kingdom
    26/06/2015 12:04
    O Cameron já legislou em 2012, que cônjuge extra-comunitário só pode viver em Inglaterra se o cônjuge inglês auferir £18.600. Os franceses são patéticos.

Krys
26/06/2015 12:35
Sou italiano e brasileiro, mas digo, sou completamente contra a turba de imigrantes que invadem a Europa e querem cá impor o seu estilo de vida.
Se querem vir para cá, que venham, mas primeiro entrem pela porta da frente, imigrantes ilegais têm que ser deportados. Que tenham a obrigação de aprender e comunicar no idioma do país no qual residem, que sigam as tradições locais e respeitem os usos e costumes.
Querem vir para os países da Europa ou América, mas querem trazer a mesma desgraça da qual fogem. A França, Bélgica e outros já foram colonizados, quem lá esteve por algum tempo sabe ao que me refiro. A onda do politicamente correcto enfraquece e põe a Europa de joelhos.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Humor cimeiro


Na cimeira dos líderes da União Europeia, em que a crise na Grécia esteve na agenda, Alexis Tsipras e Angela Merkel são apanhados a rir, com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi no meio.




Cimeira dos líderes da União Europeia, Bruxelas, Bélgica, 25 de Junho de 2015
REUTERS/Yves Herman


A Grécia à beira da bancarrota - III b. As propostas finais


Com 30 de Junho a aproximar-se — dia em que termina o programa de resgate e, além disso, expira o prazo para a Grécia reembolsar quase 1,5 mil milhões de euros ao FMI —, adensa-se a tensão nas negociações entre os representantes do Governo grego e as instituições da troika FMI/BCE/CE.
Além de reuniões do conselho dos ministros das Finanças da Zona Euro — o Eurogrupo — há reuniões mais restritas para tentar desbloquear as negociações e chegar a um acordo que satisfaça o Governo grego e os credores.
Um interessante diário minuto-a-minuto desta quinta-feira aqui.

Ao início da tarde, as instituições apresentaram uma nova proposta e os ministros das Finanças da Zona Euro interromperam as negociações até que o lado grego refaça a sua proposta. Logo a seguir, começou a Cimeira dos líderes europeus.
O Eurogrupo tem uma reunião decisiva no sábado.


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Actualização em 26 de Junho

Na quinta-feira à tarde as instituições apresentaram ao Eurogrupo uma proposta que continha algumas cedências em relação à proposta grega, mas continuava a exigir mais cortes nas pensões e menos aumento de impostos. Está resumida nesta infografia do Negócios:






A concessão do oceanário de Lisboa - I


A Sociedade Francisco Manuel dos Santos propôs comprar a Oceanário de Lisboa SA, a concessionária pública que gere o oceanário, por 34 milhões de euros. Fica ainda a pagar uma renda pela concessão do oceanário durante 30 anos, atingindo a proposta global 124 milhões de euros.




"O Oceanário não passa para privados. O Oceanário era propriedade da Parque Expo e, por decisão do Governo, passou para património do Estado. Continuará a ser. O processo de privatização é da entidade concessionária, da empresa que gere," esclarece Luís Marques Guedes, ministro da Presidência.

A infra-estrutura continuará a ser património do Estado. O que vai ser privatizado é a sociedade que a gere, a Oceanário de Lisboa SA., cujo capital será vendido por 34 milhões de euros à Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS), a holding que controla o grupo Jerónimo Martins.
Pela concessão do oceanário, que terá 30 anos de vida, a SFMS ficará a pagar uma renda anual de 3 milhões de euros, elevando a proposta global pelo oceanário de Lisboa aos 124 milhões de euros.

Situado no Parque das Nações, o oceanário é um dos activos que o Governo escolheu concessionar para reduzir a dívida da Parque Expo, a sociedade criada para a Expo'98 e actualmente em liquidação, depois de ter anunciado a sua extinção em 2011.
A Parque Expo transferiu o Oceanário para o Estado pelo valor de 54,2 milhões de euros, o que permitiu à empresa liquidar esse montante em dívida ao Estado.

O Orçamento do Estado para 2015 previa receitas de 40 milhões de euros com a concessão do oceanário, que em 2014 gerou lucros de 1,49 milhões e recebeu quase 987 mil visitantes (+7% que no ano anterior).

Além da Sociedade Francisco Manuel dos Santos do grupo que controla o Pingo Doce, concorreram o grupo espanhol Aspro Parks — proprietário do parque de diversões aquáticas Aqualand, em Alcantarilha, no Algarve, entre outros parques europeus —, a empresa portuguesa Mundo Aquático, gestora do parque Zoomarine, no Algarve, o grupo francês Compagnie des Alps — gestor de mais de uma dezena de parques de lazer, museus e áreas de esqui — e a espanhola Parques Reunidos, que gere 56 parques na Europa, nos Estados Unidos e na Argentina.

A Sociedade Francisco Manuel dos Santos é liderada por José Soares dos Santos, que é licenciado em Biologia Marítima. Estava já a desenvolver a criação de uma Fundação para os oceanos e o oceanário de Lisboa vai ser uma peça essencial desse projecto.




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É impressionante a quantidade de dívida que se deixou acumular em tudo o que são empresas públicas, nas grandes e nas pequenas, até na Parque Expo, a demonstrar que os políticos em quem temos votado nas últimas décadas foram uma nulidade como gestores.

A venda do capital da concessionária do oceanário vai proporcionar ao Estado um encaixe que fica aquém das expectativas do Governo registadas no OE 2015.
No entanto, se atendermos a que a renda que o concessionário privado fica a pagar anualmente é o dobro dos lucros da empresa no ano passado, acaba por parecer um bom negócio para o Estado.

Os comentadores, que analisaram os dados já divulgados, têm a mesma opinião:

Edgar Rodrigues @ Facebook
07:57
Em 2014 o oceanário obteve 1,5 milhões de euros de lucro (foi o maior lucro de sempre). 1,5 × 30 = 45 milhões de euros.
Se pelos 30 anos de concessão pagarem 3 milhões de euros ao ano, resulta em 90 + 34 = 124 milhões de euros. Se assim for, parece-me um bom negócio para o Estado.


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Conhecidos os processos das 152 licenciaturas anuladas na Lusófona


Nuno Crato mandou anular 152 graus académicos na universidade Lusófona criados à sombra de legislação que abriu a porta para que esta universidade privada pudesse estender os seus negócios à venda de licenciaturas. Os processos foram consultados na segunda-feira pelos jornalistas, em Lisboa.

Assinado com a melhor das intenções pelo antigo ministro Mariano Gago, o Decreto-Lei 74/2006 permitia a atribuição de créditos à experiência profissional e à formação pós-secundária para a obtenção de grau académico nos estabelecimentos de ensino superior.

Foi o que aconteceu na universidade Lusófona com o processo da licenciatura em Ciência Política do ex-ministro Miguel Relvas em que 32 das 36 cadeiras do seu plano de estudos foram obtidas através de créditos atribuídos à sua experiência profissional.

No entanto, a Ciência Política não é a única licenciatura com diplomas anulados. O fadista e regente agrícola Nuno da Câmara Pereira, tal como muitos outros regentes agrícolas — um curso do ensino politécnico a que foi dado o grau de bacharelato —, decidiu matricular-se em Fevereiro de 2012 na Lusófona. Fez algumas cadeiras e, em Novembro do mesmo ano, obtinha a licenciatura em Engenharia do Ambiente. O antigo deputado do PSD critica:
O absurdo é que o Ministério da Educação que tutela as universidades devia fiscalizar no tempo próprio, não é três anos depois. Só há uns 2 meses fomos chamados à universidade que nos disse que havia um problema e que o ministério os obrigava a anular o curso.

Outro ex-aluno da Lusófona que viu a sua licenciatura em Engenharia do Ambiente anulada foi João Salgueiro, o socialista que é presidente da Câmara de Porto de Mós. Este autarca diz que fez apenas uma especialização em Ciências do Ambiente, não tendo chegado a concluir a licenciatura. No total, 14 destas licenciaturas foram anuladas.

André Gomes, que foi durante dez anos comandante da Polícia Municipal em Lisboa, também recebeu uma carta da universidade a pedir-lhe para entregar o diploma de licenciatura em Estudos de Segurança. Há 47 ex-alunos desta licenciatura a quem foi igualmente pedido que entregassem os certificados.

O presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior defende que os responsáveis desta universidade sejam afastados da vida académica:

24 Jun, 2015, 19:27

A universidade Lusófona diz que está indignada pelo facto dos jornalistas terem acesso à informação.


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Aconteceu o escândalo das praxes no Meco. Agora são anuladas 152 licenciaturas devido a ilegalidades. Quando é que as famílias portuguesas deixam de permitir que os seus filhos percam o futuro e até a vida neste simulacro de universidade?

Quanto aos adultos que ficaram impedidos de prosseguir o desempenho da profissão por terem perdido o grau académico, não se lamentem pois sabiam perfeitamente que estavam a fazer uma formação de aldrabice.


A privatização da TAP - IV


A assinatura do contrato de venda de 61% da TAP realizou-se hoje no Ministério das Finanças. Maria Luís Albuquerque e António Pires de Lima assinaram o documento pelo Governo, Humberto Pedrosa e David Neeleman pelos compradores.

Um Neeleman radiante pediu aos portugueses para confiarem nos novos donos da TAP que reconhecem a importância da empresa para Portugal, confirmou a vontade de reforçar as ligações ao continente americano, voando para mais destinos nos Estados Unidos e no Brasil, e prometeu fortalecer o hub português:

24 Jun, 2015, 09:43

Humberto Pedroso, dono da Barraqueiro, garantiu que ele e David Neeleman têm um projecto ambicioso para a empresa, mas sólido e realista, deixando uma promessa: "Somos empreendedores. Não somos investidores financeiros. Ambos somos fiéis às empresas que criamos e fazemos crescer."
Também garantiu que o centro de decisões e o hub continuam em Lisboa e afirmou ter orgulho em que a TAP seja portuguesa:

24 Jun, 2015, 10:07

O ministro da Economia, António Pires de Lima, lembrou que a TAP precisa urgentemente de ser capitalizada e que as regras europeias impediam o Governo de o fazer sem uma profunda reestruturação da empresa. Deixou bem claro: "As companhias de bandeira mais bem sucedidas na Europa são todas, repito, são todas empresas privadas."
No final, ficou um elogio à administração e trabalhadores da TAP: "O sucesso desta privatização é também, ou se calhar sobretudo, o reconhecimento por parte dos novos investidores das competências e capacidades de gestão e de trabalho desta empresa. Para aqueles que quiserem, e sobretudo merecerem, esta privatização significa também a capacidade de, profissionalmente, poderem voar mais alto."

24 Jun, 2015, 10:18

Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças, encerrou o período reservado aos discursos classificando a privatização da TAP como um marco: "Muito mais que um novo sucesso no programa de privatizações, ao assegurar a viabilidade da companhia aérea e a continuidade do seu contributo para a economia nacional, marca um verdadeiro momento de viragem."

24 Jun, 2015, 10:37

O momento da assinatura e as declarações de Fernando Pinto, o ainda presidente executivo da TAP que vai assegurar a transição e, eventualmente, poderá permanecer na empresa:



24 Jun, 2015, 19:22

Depois da assinatura do contrato que os tornou donos da TAP, David Neeleman e Humberto Pedrosa realizaram uma conferência de imprensa para revelar o plano estratégico da empresa:



24 Jun, 2015, 19:25

O consórcio Gateway quer criar 10 novas rotas para os Estados Unidos, passando a voar para Boston, Washington e Chicago. Para Africa e Europa o objectivo é aumentar a frequência de voos. No Brasil vai aproveitar a ligação à companhia aérea Azul.
A frota será renovada com 53 novos aviões que deverão começar a chegar em 2017. Com a renovação da frota e a capitalização da TAP, David Neeleman e Humberto Pedrosa pretendem investir entre 600 e 800 milhões de euros.


*


Alea jacta est. O fim das greves no Verão e nas épocas festivas, será proveitoso para o turismo e para as exportações portuguesas. Que todos beneficiemos, em vez de uma minoria privilegiada, sem demérito da qualidade do seu trabalho.

A reduzidíssima adesão ao protesto contra a privatização da empresa, convocado pela Comissão de Trabalhadores da TAP junto ao ministério da Economia, parece mostrar que os trabalhadores reconhecem que exorbitaram nas exigências de outrora e estão dispostos a colaborar lealmente com os novos donos da empresa e em proveito do nosso País.

O contrato de venda da TAP é claro: o encaixe para o Estado vai variar entre 16 e 150 milhões de euros, dependendo do EBITDA (resultado antes de juros, impostos, apreciações e amortizações), em 2015, e da entrada em bolsa que também está condicionada pelo desempenho da empresa.
O EBITDA, que em 2014 foi 90 milhões de euros, terá de atingir 280 milhões no corrente ano, uma meta que só será alcançada, se os trabalhadores colaborarem. No final, os portugueses farão a sua avaliação e lavram o veredicto: o peso da opinião pública é tremendo.




Jornal de Negócios


terça-feira, 23 de junho de 2015

A Grécia à beira da bancarrota - III a. Inicia-se a semana final


Na segunda-feira, o Governo grego apresentou uma nova proposta de reformas assente quase exclusivamente em aumentos de impostos e subida das contribuições para a Segurança Social.
As medidas estão discriminadas aqui e o impacto que terão no orçamento grego foi resumido neste quadro:



O aumento das receitas ascendia a cerca de 8 mil milhões de euros e a proposta provocou alvoroço na Zona Euro, tendo recebido rasgados elogios dos seus líderes.
Christine Lagarde foi o único líder mundial que não se deixou impressionar, não tendo embarcado nos encómios.

Sabendo que os gregos com condições para pagar impostos recorrem a todas as artimanhas para não o fazerem e que a máquina fiscal grega é ineficiente e corrupta, esta proposta grega só devia ter merecido um sorriso amarelo. Além de que o aumento da taxa de IRC para 29%, num país exangue pela fuga de capitais — segundo o banco central, desde Outubro foram retirados cerca de 30 mil milhões de euros dos bancos gregos — só vai afastar para bem longe o investimento privado.

Denota lucidez o jornalista que escreveu este artigo de opinião premonitório que transcrevemos com a devida vénia:


"A farsa da Grécia"
23 Junho 2015, 19:50 por João Carlos Barradas

"Actuam como farsantes no meio de uma tragédia os líderes europeus que fingem acreditar nas promessas de última hora chegadas de Atenas para adiar a bancarrota da Grécia.

Para começar, as propostas de Alexis Tsipras só serão aprovadas pelo parlamento de Atenas, nos termos divulgados terça-feira, com apoio da oposição conservadora e socialista à custa de cisões no Syriza e, eventualmente, do fim da coligação com os xenófobos de extrema-direita Gregos Independentes.

Admitindo que o pacote austeritárito de Tsipras sobreviva a uma crise governamental, o calendário do processo legislativo grego impossibilita que Atenas aprove legislação atempadamente para honrar os seus compromissos a 30 de Junho.

Christine Lagarde terá, então, de admitir um período de graça de 30 dias após a Grécia falhar o pagamento de 1,6 mil milhões de euros ao FMI ou os credores estão condenados a adiantar 7,2 mil milhões de euros sem garantias legais.

Recessão e fantasia

As receitas estimadas do aumento de impostos — em especial do IVA, eliminando ainda regimes de excepção em ilhas do Egeu, e do IRC — implicam um acto de fé na administração fiscal grega que se caracteriza pela ineficácia e altos níveis de corrupção.

O acréscimo de contribuições para a segurança social — que com o agravamento da carga fiscal geraria presumivelmente receitas e poupanças (sendo vaga a diferença entre o poupar e o ganho) de 2,7 mil milhões de euros este ano e 5,2 mil milhões de euros em 2016 — redundaria, de facto, em maior incentivo à expansão da economia paralela.

O consequente penar e agravar das condições de subsistência, sobretudo entre mais de um milhão de reformados com pensões inferiores a 665€/mês, alastraria a mancha de pobreza que flagela mais de 30% da população.

A opção pela supressão gradual de reformas antecipadas antes dos 67 anos até 2025 é sinal de óbvia incapacidade política de reforma de um sistema insustentável, por quebra demográfica e redução de rendimentos, em que o pagamento de pensões equivale a 16% do PIB.

Um excedente orçamental primário de 1% em 2015 ou de 2% em 2016 só será possível agravando níveis económica e socialmente incomportáveis de congelamento e redução do investimento e despesa públicas.

Pagam os outros

As excepcionalmente favoráveis taxas de juros e prazos de maturidade (só a partir de 2022 Atenas começará a pagar o grosso da dívida aos parceiros europeus) tornam difícil um perdão que, de uma forma ou doutra, será concretizado à custa dos demais países do euro.

Nos países de rendimentos "per capita" inferiores à Grécia, caso, por exemplo da Eslováquia ou Letónia, é insuportável levar eleitores/contribuintes a sustentar um Estado grego viciado no financiamento externo a fundo perdido de taras clientelistas.

Para Portugal uma exposição de 4,6 mil milhões de euros, segundo estimativa do Barclays Bank, é de ter em conta para efeitos de eventual bancarrota helénica ou reestruturação de dívida.

O pagamento da dívida de 317 mil milhões de euros, equivalente a 180% do PIB, é inviável sem crescimento económico e por baixa competitividade na venda ao exterior de bens e serviços, a Grécia (apesar de reduções nominais e reais de salários) revela não ter condições para subsistir na Zona Euro.

A banca helénica, exangue pelos temores de depositantes, está em vias de esgotar as garantias devidas ao BCE e tão cedo não terá condições de injectar crédito a empresas, autarquias e particulares.

A promessa de financiamentos de 35 mil milhões de euros da Comissão Europeia para investimentos em infra-estruturas e projectos a longo prazo é irrelevante para obviar à contracção da economia grega agravada pela deflação.

Desmanchar a tenda

A farsa começou em 2001 quando a Grécia adoptou o euro graças a uma contabilidade nacional fraudulenta com conhecimento e conivência da Alemanha e França e aquiscência dos demais parceiros.

Agora, expostas as taras políticas e económicas da moeda única numa conjuntura em que voltam à discussão propostas para federalização política de forma a sustentar o euro, tornou-se incontornável o choque entre soberanias nacionais.

A Grécia — arruinada por conservadores, socialistas e extremistas de esquerda e direita — chegou ao fim da linha.

Tentar manter Atenas na moeda única pesa ainda mais do que arrostar com os tremendos custos que vai acarretar a sua queda borda fora da Zona Euro."


domingo, 21 de junho de 2015

Entrevista de Henrique Neto ao Jornal i


Numa longa entrevista concedida ao Jornal i na sua casa em Lisboa, sem a presença de assessores ou conselheiros, o candidato presidencial Henrique Neto alerta que os partidos estão a fazer promessas que podem não conseguir cumprir.


Henrique Neto por uma nova república.


Se for eleito, será o primeiro Presidente da República que não é doutor nem professor e que foi operário...
E que não é de nenhum partido...

Vai utilizar essas características como trunfos na campanha?
Vou, claro. O facto de ter sido operário ou não ser doutor, não creio que seja uma questão muito relevante do ponto de vista político. Mas não ter o apoio de partidos tem um significado. Um dos grandes problemas da democracia portuguesa, nos últimos 20 anos, foi os partidos terem cerceado a liberdade dos cidadãos e essa menor participação das pessoas tem como consequência a degradação da vida pública, nomeadamente do ponto de vista ético, do ponto de vista do crescimento da corrupção, dos interesses, da relação promíscua entre os negócios e a política.

É de prever que, se for eleito, tenha uma relação difícil com os partidos.
Espero que não. Se os partidos políticos compreenderem que têm em Belém um Presidente que não vai fazer cedências e que não vai assistir impávido e sereno a políticas que são prejudiciais para o interesse nacional, como tem acontecido, tentarão acertar o passo com aquilo que o Presidente considerar necessário. Não se trata de dirigir a política portuguesa, mas de evitar erros que sejam prejudiciais para a economia ou para o prestígio de Portugal no mundo.

Cavaco Silva não tentou evitar esses erros?
Não. A última intervenção que fez no 10 de Junho é a prova disso. Eu tenho uma grande preocupação com a questão dos comportamentos. Há comportamentos desviantes, há comportamentos pouco correctos na sociedade portuguesa — e na política em particular — que têm de ser mudados. Nesta última intervenção, o Presidente da República fez aquilo que já tinha sido iniciado pelo primeiro-ministro quando elogiou Dias Loureiro. O Presidente reincidiu de duas formas: por um lado, chamando “pessimistas profissionais” àquelas pessoas que, no fundo, avisaram a Presidência da República e o governo, durante os últimos anos, dos erros que estavam a ser cometidos nas finanças públicas, no endividamento, nas PPP...

Criticou os profissionais da descrença e os profetas do miserabilismo.
Sim. Aqueles que se bateram por um país mais decente são acusados de pessimismo. Ao mesmo tempo, pessoas que tiveram um papel relevante no empobrecimento, com uma política financeira trágica para o país, como foi o caso do ministro Teixeira dos Santos, são condecoradas. E, por exemplo, o prof. Campos e Cunha, que teve um acto de coragem logo no início da governação, porque teve a hombridade e a coragem de sair quando se apercebeu de que o governo estava a caminhar no sentido contrário ao interesse nacional, foi esquecido.

Mas o Presidente não fez nenhuma referência a Dias Loureiro.
Mas em relação ao Dias Loureiro, quem é que não sabia o passado dele quando o Presidente da República o fez membro do Conselho de Estado? E depois manteve-o lá, mesmo depois de estar a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República. Este Presidente presidiu durante estes anos a uma das mais trágicas situações que o nosso país viveu em cem anos. Uma crise com proporções trágicas. Com cortes de pensões, cortes de ordenados, desemprego elevado. Isso tudo foi consequência de uma governação aventureira e o Presidente da República assistiu a tudo isto calado. E muitas vezes até enganou os portugueses, como aconteceu no caso do BES, sobre a PT... Tudo coisas que aconteceram e a que um Presidente não pode assistir como se não fossem com ele.

Acha que o Presidente da República devia ter mais poderes? Cavaco Silva tentou, por exemplo, que os partidos fizessem compromissos e nunca o conseguiu.
Isso só serviu para desvalorizar a palavra do Presidente. O Presidente poderia, em vez de dizer “entendam-se”, apresentar uma base estratégica de acordo, semelhante àquela que eu apresentei, a dizer para onde é que o país vai nos próximos 10 ou 15 anos. É provável que os partidos tivessem mais dificuldades em não se entender.

O Presidente não está a ultrapassar os seus poderes se apresentar uma estratégia que condiciona as políticas dos governos?
O governo só a segue se quiser. Os portugueses lêem essa estratégia e julgam se quem tem razão é o Presidente ou os partidos. E isso era importante, porque todo o poder, desde o 25 de Abril, tem estado entregue aos partidos. Tudo passa pelos partidos. Se esse caminho tivesse resultado e estivéssemos numa situação próspera como, por exemplo, a Irlanda, era sinal de que os partidos estariam a fazer um bom trabalho, mas não é isso que acontece. O país está a viver uma crise que não vai passar de um dia para o outro.

Os programas da coligação e do PS têm boas soluções para ultrapassar a crise?
Os programas são até relativamente parecidos.

Preferia que ganhasse o PS?
Naturalmente.

Algumas pessoas do PS reagiram à sua candidatura com alguma agressividade e até com algum desprezo. O ex-ministro Santos Silva escreveu que “os bobos estão a ocupar a cena”.
O PS, infelizmente, mantém em cena pessoas que se desacreditaram na governação. As pessoas podem ter muito boa vontade em relação ao partido, e eu tenho, mas contra a realidade é muito difícil esgrimir argumentos. São factos — e contra factos não há argumentos.

Nunca deu sequer o benefício da dúvida a Sócrates. Desde que ele chegou à liderança do partido que o critica.
Não. Não dei. Eu sabia o que se estava a passar, conhecia suficientemente a personagem para saber que ele tinha características que não eram próprias de um primeiro-ministro. Se as políticas fossem diferentes, eu teria apoiado. Se em vez de tanta auto-estrada se tivesse apostado na via férrea, eu teria apoiado.

Tem alguma convicção sobre se José Sócrates é culpado ou inocente?
Não faço ideia se vai ser condenado na justiça, mas sei que é culpado pela forma como conduziu o país e o prejuízo que o país teve por meros actos de governação. Foi a maior destruição de riqueza do Portugal moderno. Não há sobre isso nenhuma dúvida. É evidente que um primeiro-ministro corrupto é uma coisa impensável.

Concorda com o discurso do PSD de que Sócrates é o culpado pela crise que o país atravessa?
Concordo porque é uma evidência. Claro que o PSD tem objectivos ideológicos em reduzir o valor do trabalho, em favorecer os sectores da sociedade mais privilegiados. Eu sei disso. Mas isso foi muito facilitado pela situação em que o país foi deixado pelos governos anteriores.

E também concorda que o país está melhor do que em 2011?
O país está melhor do ponto de vista da credibilidade das finanças públicas, da credibilidade internacional, mas isso deve-se essencialmente a acções do Banco Central Europeu, e não tanto deste governo. E essa maior credibilidade pode ser alterada de um momento para o outro, seja por causa da situação da Grécia, seja pela subida de juros.

Os partidos estão a fazer promessas que não sabem se têm condições para cumprir?
Não tenho a certeza que, quer a coligação, quer o PS, as possam cumprir, principalmente porque eles baseiam tudo na gestão da situação como existe e não numa alteração da situação, nomeadamente a situação económica. Para mim é impensável que o país possa continuar a crescer 0,5 ou 1% mais 12 anos, em cima de 12 anos em que não cresceu praticamente nada.

Teria consequências complicadas?
Se isso acontecer, os portugueses vão ter enormes dificuldades. Não sei o que pode acontecer e fico preocupado porque nem a coligação nem o PS apresentam ideias claras para o crescimento da economia. O PS espera que a economia cresça através de alguma animação do mercado interno. Eu tenho muitas dúvidas dessa animação. Não acredito que Portugal possa resolver os seus problemas antes de ter 60% do PIB em exportações.

É possível acabar com a austeridade nos próximos anos?
Se houver crescimento económico digno desse nome, à volta dos 3% ou 4%, como acontece na Irlanda, é fácil fazer toda essa reposição. Se não crescer, não vai ser fácil. E, portanto, as promessas são baseadas numa certa manipulação dos dados existentes.

Os partidos são geralmente optimistas nas campanhas. Sempre foi assim.
Há muitos anos que são optimistas. E se o optimismo tivesse demonstrado a sua validade, todos quereríamos dar razão ao Presidente da República ou aos partidos. Optimistas devem estar os irlandeses, a crescer a 4% ao ano. Tiveram políticas que, no fundo, eram aquelas que eu sempre defendi. Fiz duas moções aos congressos do PS, há 15 anos, em que dei a Irlanda como exemplo a seguir. Quinze anos depois, basta olhar para a economia irlandesa.

No PS diz-se que foi crítico de António Guterres porque ele não o convidou para o governo. Jorge Coelho diz que “ao não o ter convidado, o Guterres arranjou um inimigo para a vida inteira”.
Esses ditos do Jorge Coelho e de outros provam a mediocridade de quem os diz. Eu não podia ser ministro, mesmo que quisesse. E disse isso ao Guterres. Mas não é isso que conta. O que conta é o que eu disse e escrevi. Eles têm de julgar se o que eu disse, ao longo de 15 anos, estava certo ou errado. Fiz propostas, estão escritas.

Nunca pensou em sair do PS quando estava isolado? Sócrates tinha o apoio de 90% dos militantes...
Não, não. Continuei porque tenho razão. Se eu tivesse estado calado, como outros que agora são candidatos, não me candidatava agora à Presidência da República. Se eu tivesse ficado a assistir ao descalabro do país sem dizer nada, ia candidatar-me para quê? A minha candidatura baseia-se na convicção de que tive razão e gostaria, nesta campanha, que as pessoas me dissessem onde é que eu errei.

O facto de ter sido deputado e dirigente do PS e de ter conhecido a política por dentro foi determinante para a opinião que tem hoje sobre os partidos?
Foi. Dois anos depois de estar no parlamento, eu já dizia que não queria continuar. As cartas estão viciadas no parlamento. Disse isso, mas agora dizem que eu queria continuar. O que é espantoso é que as pessoas julgam-me a mim com os critérios que eles próprios têm. Como a única coisa que querem é ocupar lugares, acham que toda a gente tem a mesma motivação. Eu não tenho.

Não vale a pena ser deputado? Não se consegue mudar nada?
Vale a pena, se verdadeiramente se representar os portugueses. Se houver uma relação directa entre o eleitor e o eleito. Se o eleitor puder escolher o seu deputado e o deputado souber que, se não defender os interesses dos seus eleitores, não vai ser reeleito.

O Presidente da República deve impor aos partidos uma reforma no sistema político?
Impor, não posso. Vou defendê-la com convicção. Vou bater-me por isso.

Os partidos nunca a conseguiram fazer e provavelmente não a vão fazer tão cedo?
Não, mas o Presidente da República tem de ter sempre como seu aliado o povo português, e o povo português já percebeu isso muito bem, daí que surjam por todo o lado grupos de cidadãos. Os partidos políticos, em Portugal, não representam os cidadãos. Por isso é que os cidadãos andam a encontrar outras formas de representação.

Será uma espécie de candidato do povo?
Sim, quando digo que os poderes do Presidente são suficientes é porque acho que a aliança com o povo permitirá ao Presidente, sem populismo e sem demagogia, convencer os governos a enveredar por políticas mais de acordo com o interesse nacional.

Qual é o seu eleitorado natural?
Não sei. Na minha candidatura tenho pessoas do PS, do CDS e do PSD.

Mas é uma pessoa de esquerda.
Sou. Continuo a considerar-me uma pessoa de esquerda, mas também considero que a maioria dos problemas que o país tem não são de esquerda nem de direita. Os erros que foram cometidos não são de esquerda nem de direita. O desemprego não é de esquerda nem de direita. Eu tenho apoio de gente do CDS.

Não tem é os chamados notáveis consigo. Não conseguiu convencer mais pessoas?
Tenho alguns. O Mira Amaral, o Medina Carreira. Tenho muitos que me apoiam na sombra. Reconheço que a minha candidatura pode causar alguma estranheza, porque as pessoas estão tão habituadas a que quem manda são os partidos que não concebem que fora dos partidos se possa fazer seja o que for.

Sampaio da Nóvoa tem o apoio dos três ex-Presidentes. Isto é uma vantagem?
Sim. É legítimo que os portugueses sejam influenciados por isso. Claro que convido os mesmos portugueses a pensarem que foram os três Presidentes do sistema que nos conduziu até aqui. Se quiserem continuar nesse sistema, se quiserem continuar com esta desgraçada promiscuidade entre os negócios e política, é continuarem...

O discurso de Sampaio da Nóvoa também é claramente contra essas relações de promiscuidade...
Era melhor que ele viesse dizer que defendia isso. Mas eu gostaria de o ter visto a distanciar-se, falando alto e grosso, durante os últimos 12 anos. Ele não nasceu agora. Como, aliás, as elites portuguesas em geral. Os últimos 15 anos foram uma destruição permanente de riqueza, atraso, endividamento, empobrecimento. Só não viu quem não quis.

Sampaio da Nóvoa tem essa fragilidade?
Acho que sim.

Surpreende-o o apoio do PS a Sampaio da Nóvoa?
O PS não quer enfrentar a realidade. O PS teve seis anos desgraçados. O normal teria sido que viesse outra equipa, que limpasse a casa dos erros do passado e se apresentasse de cara limpa. Isso não aconteceu e temos as mesmas pessoas. A dificuldade que o PS está a ter em subir nas sondagens tem a ver com isso. Foram fracos, não se distanciaram.

E não tem que ver com o facto de Sócrates estar preso preventivamente?
Se for condenado ou se for acusado, isso causa um rombo no PS, mas causa porque foram fracos e não se distanciaram. Não souberam distinguir o bem do mal. Não há nada mais básico na sociedade e no ser humano do que a distinção entre o bem e o mal. O PS não reconhece o mal ou não distingue o mal do bem. Mas eu prefiro que a campanha se faça à base dos problemas do país. Se dependesse de mim, esse tema não entraria na campanha, porque os problemas do país são muito sérios. Eu já apresentei uma estratégia para o país...

Esse não é o papel dos partidos?
O que pretendo é dizer aos portugueses que o país tem soluções e que não é verdade que não haja soluções ou que só haja uma solução. Há muitas. Devem ser os governos a assumir essas soluções.

Mas tendo uma posição crítica em relação a quase todos os governos, não é previsível que tenha uma relação conflituosa com o próximo?
Creio que não. Ao longo da minha vida, nunca deixei de dizer aquilo que pensava, mas procuro sempre o consenso e pontes de compreensão. O grande problema dos partidos é que eles cortaram as pontes com a sociedade. Um dos grandes objectivos que eu tenho é trazer os empresários para a definição de políticas. É impensável que os empresários estejam tão afastados da vida política. São eles que criam a riqueza. Os partidos chamam economistas para fazerem os programas, mas não chamam empresários. Como se explica isto?

Há um preconceito em relação aos empresários?
Há. É que os empresários sabem mais, têm mais experiência, podem provar o que fizeram, e os políticos não podem. Ou melhor, os políticos só podem provar que nos conduziram até esta desgraça.


*


Henrique Neto sabe que a reanimação da economia do País não se pode fazer à custa do consumo interno porque as pessoas, se tiverem maior disponibilidade financeira, vão desatar a adquirir produtos importados — roupas de marcas estrangeiras, televisores de plasma, consolas de jogos, smartphones americanos, sul-coreanos ou japoneses, automóveis alemães, ...

Além de ser um bom avaliador de políticas económicas, Neto também sabe apreciar caracteres e no de José Sócrates destacava-se a prepotência, a aldrabice, a ostentação e a ausência de escrúpulos, pelo que nada de bom se podia augurar da sua governação.

Sendo um operário que estudava à noite e acabou por se tornar um empresário, conhece as tentações mas também as dificuldades por que passam as pequenas e médias empresas que, será bom não esquecer, constituem a maior parte do tecido empresarial português e, por isso, podem ser grandes criadoras de emprego em Portugal.
E, ao contrário dos outros deputados socialistas, nunca idolatrou José Sócrates, nem alienou a sua liberdade de opinião para conservar o lugar na assembleia da República ou ganhar prebendas, optando por defender o desenvolvimento económico do distrito que o elegeu para o parlamento.

Henrique Neto nunca aceitará que os partidos políticos façam promessas falsas ao eleitorado. Até agora é, sem dúvida, o melhor candidato presidencial.

Um comentário à entrevista resume os últimos 40 anos da política portuguesa:


SIULUX • há 3 horas
Não sou e nunca serei socialista, mas votaria em Henrique Neto! Porque ele também quer eliminar a gangrena de Portugal como escrevi há anos:

QUARTA-FEIRA, 31 DE MARÇO DE 2010
A nossa luta: erradicar a gangrena de Portugal!
Como já escrevi há mais de 30 anos, Portugal nunca foi capaz de se libertar dos "bufos e dos chulos" que haviam servido Salazar e a ditadura, mas pior que esses foram os parasitas e sanguessugas "perfilhados", adoptados e "paridos" pela democracia, desde 25 de Abril de 1974.

Primeiro foi a democracia "proletária" da foice e do martelo que meia dúzia de gatos pingados conseguiram, graças às conivências e complacências dos mentores do PREC, COPCON e dos larápios da propriedade privada que, para compensar a descolonização cobarde, se apropriaram de milhares de hectares de terrenos de cultivo, a pretexto de uma reforma agrária igualitária. Era a única forma de contentar os "operários" que se armavam em revolucionários e erguiam o punho ameaçador, quando o PC e os partidos esquerdistas precisavam de capangas para intimidar os "reaccionários".

Depois tivemos uma década de "mama" comunitária com a adesão à, então, CEE e os governos do PSD liderados por Cavaco Silva, em que alguns "laranjinhas" puderam entrar para a função pública, saneando e vingando-se dos "comunas" e dos otários que o compadrio reinante havia premiado.

Finalmente, e depois da travessia do deserto, surgiram os "boys" cor-de-rosa a reclamar "jobs" ao engenheiro Guterres e, aí sim, foi o descalabro total, como o próprio reconheceu ao fugir como um rato no meio de um pântano de promiscuidade e opacidade.

Se alguém pensou que os "meninos e as meninas" do partido da rosa estavam fartos, enganou-se porque, com o golpe de Estado constitucional do Presidente Sampaio e a consequente eleição de um "boy" genuíno e com pedegree "apparatchick", foi fartar vilanagem, como provam as escutas "casuais" deste caudilho "sui generis" engendrado pelo socialismo da chupeta e da esmola, com que o "general" foi matando a fome aos inúteis e aos "boys" que, por falta de bestunto e de "canudo", nunca conseguiram arranjar assento à mesa dos "eleitos" da grande confraria PS.

É esta promiscuidade e a consequente opacidade que há mais de 35 anos vem gangrenando o Estado e saqueando impunemente a república portuguesa, para mal do nosso futuro.

Agora, face a esta ameaça fatal, ou exercemos corajosamente a nossa responsabilidade e erradicamos de vez este problema cultural e social ou nos acovardamos e nos tornamos cúmplices da morte lenta da pátria-mãe, que nunca foi merecedora de filhos tão degenerados.

Hoje, sob pena de não conhecermos os arcos-íris de amanhã, é nosso dever lutar para erradicar a gangrena de Portugal.