sábado, 30 de abril de 2011

Fazem falta os "Alfredos da Silva"


Belmiro Azevedo inaugurou ontem um centro de eventos no Tróia Resort e, ainda que se recusasse a comentar o pedido de resgate ou as negociações com a troika, disse aos jornalistas:

"Eu não estou desiludido com a política, porque vivo num mundo diferente, num mundo de criar emprego, de ser competitivo… Nós precisamos de pessoas competentes, políticos ou não, pessoas sérias e há falta de pessoas assim, sobretudo na política.
(...) gostaria de ter pessoas competentes. Para mim, pessoas competentes não há muitas em Portugal, pode-se importar. Não vêm aí 500 cientistas para a Fundação Champalimaud? Podem vir 500 administradores…
"

E foi acrescentando: "Política já temos em excesso. Agora precisamos é de pessoas competentes. E para mim, pessoas competentes podem ser chineses, angolanos, americanos. Os políticos portugueses competentes estão escondidos.
(...)
Quem é que está na política? Temos o espectáculo da rádio, da televisão e dos jornais, só falam para os jornais. Mas pessoas de fora é que vieram pôr ordem nas contas portuguesas e isso é mau
".


PR1967 30 Abril 2011 - 16:10
E por que não criar riqueza?

Caro Belmiro,

Estou plenamente de acordo consigo. Portugal está impregnado de políticos incompetentes, corruptos e sem visão.
Só assim se explica a forma como o país está a ser (des)governado e a falta de esperança que é manifesta entre toda a gente. Sem valores, sem visão e sem rumo, o resultado é normalmente desastroso.

Agora para si, Sr. Engenheiro Belmiro, e para o grupo SONAE e outros da grande distribuição, nunca a situação esteve tão boa.
De facto, anda mais de meio país a trabalhar para a vossa opulência, não necessitando Vossas Ex.cias sequer de muitas vezes mexerem uma palha!

A forma como o país foi entregue à grande distribuição é de facto vergonhosa e revela total desprezo pelos restantes portugueses. E o resultado é este:
  • todos os dias a grande distribuição abre novas superfícies graças a lucros astronómicos que obtém à custa do sangue, suor e lágrimas dos produtores
  • por cada superfície aberta fecham dezenas de lojas e morrem ou definham pequenas iniciativas comerciais (até parece que o sol quando nasce já não é para todos!)
  • fecham todos os dias fábricas pela ganância da grande distribuição, que por vezes faz pior que extorquir dinheiro (qual mafia!)
  • as pessoas que emprega são na grande maioria pagas por cascas de alho e na sua grande maioria são contratadas a termo (a tendência é ainda piorar a situação)
  • os centros das cidades e vilas são autênticos ninhos de ratos com casa fechadas, ruas vazias, relações distantes e muita miséria
  • os produtores que vendem à grande distribuição são pagos, pelo menos, a 90 dias mas o consumidor paga a Pronto Pagamento. Além disso, têm que pagar um valor à entrada para ter esperança de vos venderem os produtos (onde já se viu isto!)
  • as margens de lucro que cobram são vergonhosas e só contribuem para o vosso fausto (comprar fruta a € 0,30 e vendê-la a € 2,00 é só um exemplo da Vossa falta de ética)
  • os planos directores municipais foram sistematicamente alterados para vosso gáudio
  • etc
Agora o que eu gostava era de vê-lo apostar na indústria, na agricultura, nas pescas. Quero dizer, criar riqueza para o país em vez de ser um merceeiro gigante e secar tudo em redor que nem um eucalipto!

Depois ainda se queixa porque não lhe "deram" a PT. Deixe lá, o país já é quase seu!
Só não percebo é como, com tanto investimento seu, estamos com tanto desemprego. Já reparou nisso BA?


Algell 30 Abril 2011 - 20:47
Há "comentadores" muito ignorantes
1. Como as indústrias não vendem directamente ao público, são necessários comerciantes.
2. Como os agricultores não têm centros de frio, meios de transporte e locais para vender os seus produtos, são necessários comerciantes.
3. Como as fábricas de automóveis não vendem directamente ao público, são necessários comerciantes (concessionários).
4. Como as fábricas de papel não vendem directamente ao público, no final, há sempre qualquer tipo de comércio que nos faz chegar todos os produtos em papel ou cartão.
5. Os exemplos nunca mais acabariam, tal como os exemplos das manifestações absolutamente ignorantes.
6. Poderemos acrescentar, para aliviar um pouco a ignorância de alguns "comentadores", que a Sonae constrói centros comercias, tem o único hotel topo de gama fora de Lisboa (não é apenas um cinco estrelas), cria complexos turísticos como em Tróia e é o maior fabricante europeu de conglomerados, tendo em tempos adquirido duas fábricas na Alemanha.

Não sou um conhecedor do grupo pois, com certeza, há outras actividades desenvolvidas pela Sonae. Sou apenas alguém um pouco atento e não leio jornais desportivos nem revistas "cor de rosa". É que o tempo não dá para tudo.


PR1967 30 Abril 2011 - 22:21
Ignorância ou visão além do imediato

Caro(a) Algell,

É evidente que o mundo necessita do comércio, não pode sequer imaginar-se uma sociedade desenvolvida sem trocas comerciais, por isso é que existe moeda. Mas o(a) senhora(a) acha que alguém não conhece isso?

O que é evidente é que existem alternativas a este modelo de desenvolvimento terceiro mundista que passa pela criação de grandes superfícies de dimensões megalómanas nas cidades destruindo todo o restante comércio e, como se isso não bastasse, destruindo também a indústria e a agricultura, que são completamente esmagados pela força dos grandes distribuidores.

O que o(a) senhor(a) deve ignorar é:
  • o que significa vender para a SONAE (sugiro-lhe que experimente, pois há-de pagar direitos de entrada de dezenas de milhares de euros para colocar o primeiro produto numa prateleira e depois contribuir para festas, aniversários, promoções, ... e não de forma voluntária)
  • o que custa o aluguer de uma loja num centro comercial (informe-se e verá as condições leoninas...)
  • quantos trabalhadores fazem parte dos quadros do grupo SONAE (e já agora informe-se dos horários apelativos...)
  • que a maior parte do dinheiro ganho pelos trabalhadores das grandes superfícies é lá gasto
  • por cada nova loja criada fecham dezenas ou centenas de comércios
  • que a actividade da SONAE Indústria não tem crescido, antes pelo contrário, o Sr. Belmiro tem desinvestido (os lucros da indústria, como qualquer político diria, por vezes são negativos)
  • a aposta no imobiliário foi também o reflexo do regabofe que foram estes últimos anos em que surgiram construtores civis como a chuva cai no Inverno (tem dúvida que foi uma das actividades onde houve mais especulação?)
  • os agricultores têm centro de frio onde, por exemplo, armazenam a fruta
Dir-lhe-ei até mais: antes desta absurda sementeira de shopings já havia trocas comerciais e as cidades e vilas tinham lojas onde as pessoas podiam comprar os produtos que necessitavam. E digo-lhe ainda que nos próximos tempos vão fechar cada vez mais empresas comerciais e industriais, graças ao poder imenso das grandes superfícies (e daí vai resultar mais desemprego).

Agora, se para si o melhor do mundo é passear ao domingo à tarde num hipermercado, então tem razão faz mesmo muita falta!


sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mantém-se em vigor o modelo de avaliação docente do governo


Foi hoje conhecido o acórdão do Tribunal Constitucional sobre o pedido de fiscalização do Decreto nº 84/XI da Assembleia da República, o qual revogava a legislação que regulamenta o actual modelo de avaliação do desempenho docente e criava uma norma transitória.

"O Tribunal conclui que as normas do artigos 1.º e 3.º do Decreto submetido a apreciação violam o princípio de separação e interdependência dos órgãos de soberania, consagrado no n.º 1 do artigo 111.º da Constituição da República Portuguesa, e que as restantes, não podendo sobreviver por si face à inconstitucionalidade daquelas, são consequencialmente inconstitucionais", diz o acórdão.

"(...) o Decreto da Assembleia da República, ao revogar a regulamentação do referido processo de avaliação produzida pelo Governo, sem modificar os parâmetros legais para cumprimento dos quais essa regulamentação tinha sido estabelecida e sem revogar a respectiva norma habilitante, e ao determinar, com carácter impositivo, que o Governo inicie negociações com as associações sindicais com vista à elaboração de um novo modelo de avaliação de desempenho dos docentes, invadiu o estatuto constitucional deste órgão de soberania, enquanto órgão superior da administração pública, dotado de legitimidade constitucional própria com poderes para fazer os regulamentos necessários à boa execução das leis e dirigir os serviços e a actividade da administração directa do Estado em que as escolas públicas se integram."

Na verdade, a revogação ocorreu sem a modificação dos "parâmetros legais para cumprimento dos quais essa regulamentação tinha sido estabelecida e sem revogar a respectiva norma habilitante", i.e. não foram alterados os artigos do Estatuto da Carreira Docente relativos ao modelo de avaliação do desempenho.

"A decisão foi tomada por unanimidade quanto à norma do artigo 1.º e por maioria quanto às restantes."


Portanto mantém-se em vigor o modelo de avaliação do desempenho docente definido no Decreto Regulamentar 2/2010 e que foi acordado, em Janeiro de 2010, entre a tutela e os sindicatos de professores em troca da portaria que permite aos sindicalistas acederem, sem darem aulas, às classificações de Muito Bom e Excelente.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Temos um Governador no Banco de Portugal


Carlos Costa, governador do Banco de Portugal





Na intervenção que ontem fez no Tribunal Constitucional, Carlos Costa definiu os três princípios fundamentais — estabilidade, responsabilização e transparência — que garantiram, noutros países, uma consolidação orçamental duradoura, os quais "têm vindo a ser explicitamente consagrados em várias ordem jurídicas (…) no caso português, foram consagrados na revisão da Lei de Enquadramento Orçamental recentemente aprovada pela Assembleia da República e a aguardar promulgação".

E o regulador do sistema bancário nacional acrescenta: "Para quem eventualmente perfilhe alternativas que se afastem de estratégias de consolidação orçamental imediata [lembro] que Portugal violou reiteradamente as normas orçamentais da União Europeia desde a adesão ao Euro: em 12 anos de participação na área do Euro o défice orçamental foi, em média, 4,5% do PIB."

*

É confortante ler os comentários de apoio no Negócios, a mostrarem que as pessoas não estão anestesiadas, o que permite acreditar que o País tem futuro. Por exemplo:

teixo 28 Abril 2011 - 21:06
Responsabilização dos actos político-administrativos é vital para a Democracia
Obviamente, o Governador do BP não se referiu às decisões que implicaram aumento de encargos com apoios sociais a situações de emergência, mas a decisões em matéria de PPP, por exemplo, que consubstanciam verdadeiros actos de gestão danosa.
Personagens como Paulo Campos, secretário de Estado Adjunto, das Obras Públicas e das Comunicações, que actuou como um verdadeiro inimputável! O Governador do BP tem toda a razão, todos os actos praticados por este sujeito no âmbito do MOPTC deverão ser auditados e investigados pela IGF e PGR, pelas inúmeras suspeitas de corrupção e gestão danosa de dinheiros públicos, desde o modelo ruinoso da cascata de concessões e subconcessões rodoviárias, com a inversão do paradigma do risco das próprias PPP, ao negócio "magalhães", na fundação das Comunicações, entre outros, e em consequência deve ser acusado, julgado e responsabilizado, civil, financeira e criminalmente pelos danos que perpetrou ao erário público. Era a estes casos que o Governador do BP se referia...

jdiogenes 28 Abril 2011
Do lote que apresenta, falta!
Sim, falta o governador do BdP, à época, que tem nome e agora está, como prémio pela sua incompetência e não só, especialmente o não só, no BCE. É bom não esquecer que grande parte da nossa dívida está na banca, embora seja justo diferenciar a falida, BPP, BNP, da semi-falida, a restante. Sr. Costa, ter-lhe-ia ficado bem começar pela sua casa.
Estamos de acordo que deveriam sentar-se, todos, no mocho e aí ser decidido para que Aljube iria esta gentinha que vive às custas de quem trabalha com o apoio dos partidos, todos os que tem assento na AR, mas devemos destacar PS, PSD, CDS e o PCP pelo assalto que têm feito no poder autárquico, que também se tornou especialista em criar empresas municipais, pese embora que se tenha limitado a imitar as más práticas.

Rucky 28 Abril 2011
Carlos Costa: Políticos e gestores públicos são os culpados pela crise
Considero um acto de patriotismo, até de herói.
Desde que entrou para o BP, não tem tido papas na língua e não o vejo a "ajoelhar".
Tenho a certeza que a maior parte dos portugueses honestos e conscientes, já há muito têm na sua mente o que Carlos Costa agora disse.
Só tenho pena que ninguém leve por diante a criminalização dos responsáveis, incluindo o antecessor. Onde está o Ministério Público, que não está em gestão?
Espero que Carlos Costa não seja demitido ou enviado para Bruxelas. Portugal precisa dele e no BP ainda há quem se aproveite.
Parabéns pela sua coragem e patriotismo, pois bem se podia calar e gerir o seu silêncio.

tysan_14 28 Abril 2011
Finalmente!
É preciso e é urgente que a gentalha que tem decidido as políticas públicas pague a asneirada que trouxe o País até aqui. Agora quer que os portugueses paguem a incompetência, a falta de formação e de conhecimentos e também a corrupção e a fraude?
O País é o resultado de pôr um carroceiro a conduzir um Ferrari — é um desastre.
Mas a maior falta de vergonha é agora querer-se combater a corrupção que tem sido alimentada.
A pequenez desta gentalha é espelhada pela forma inconveniente e mal educada como se referem aos outros e até pela forma "estercada" como justificam as suas atitudes agressivas, sem respeito pelos símbolos do País e da Nação. São os políticos dos "Blackberry's", que não os tinham se não fossem os portugueses a suportar os custos de todas essas mordomias para gentalha arruaceira sem nível.

espaco1999 28 Abril 2011
A conversa da responsabilidade política é muito limitativa, é necessário ir mais além
A forma como Portugal tem sido conduzido é criminosa. Muitos vinham a alertar, há muito tempo, para o caminho que se estava a traçar e foram pura e simplesmente ignorados.
Governantes que duplicam a dívida pública em 6 anos elevando-a aos níveis que hoje conhecemos, apenas para servir clientelas e para iludir o povo com obras vistosas e sumptuárias, mas sem nenhum efeito real no desenvolvimento do país, são criminosos. Aqui englobo também autarcas de vários quadrantes políticos e Vítor Constâncio. Todos deviam ser julgados.

Joao Altamira 28 Abril 2011
Finalmente
Finalmente aparece alguém neste País que chama "os bois pelo nome". Toda esta cambada de políticos e gestores não podem passar imunes a esta bancarrota. Terão que ser julgados publicamente, responsabilizados e, para além de indemnizarem o Estado, deverão ser proibidos de exercerem no futuro quaisquer cargos públicos, sendo despedidos com justa causa e sem direito a qualquer indemnização.
Se isto acontece nas empresas privadas por quê não deverá acontecer nos cargos públicos? Deveria ser esta a primeira recomendação do FMI.
Se estes gestores públicos incompetentes tivessem vergonha, deveriam sair do País. Aconselho-os a irem vender banha da cobra para as Arábias.

abotelhos 29 Abril 2011 - 02:59
Recomeço a ter esperança
Será com Concidadãos desta grandeza, coragem e sensatez que vamos conseguir mudar e recuperar, não com os artistas mentirosos e criminosos no activo. O contraste, pela positiva, com o anterior e emigrado governador do BP que, como sabemos, era vesgo, surdo e mudo, é notório. Somemos ao actual Governador do BP, o trabalho exemplar do Presidente do Tribunal de Contas, do Concidadão que, cedido pela banca, passou pelas Contribuições e Impostos, deixando bom trabalho feito e exemplo a continuar e outros mais de igual craveira moral, profissional e patriótica, e vamos lá! Basta pensar um pouco mais, querer mudar e mudar mesmo, sem medos, sem poeira nos olhos e dizendo aos que nos tem enganado e roubado impunemente (por enquanto): Basta, desapareçam!
É notório o crescendo de indignação pelo mal que nos fizeram e o desejo de responsabilização e julgamento (Vide leis aplicáveis a circular) dos políticos e gestores públicos eleitos e empossados que mal se comportaram.

(actualizado)


quarta-feira, 27 de abril de 2011

O programa eleitoral 2011 do PS


O programa eleitoral do PS, hoje apresentado por José Sócrates, ocupa metade das suas 70 páginas a responsabilizar os partidos da oposição pela necessidade de pedir ajuda externa e a explicar que a crise das dívidas soberanas é apenas uma nova fase da crise internacional, que o PS se propõe resolver tão bem como diz ter resolvido a anterior.

Finalmente, na página 35 entra-se no programa propriamente dito, definindo três objectivos — o crescimento económico, a sustentabilidade financeira e o Estado social — e enunciando sete desafios estratégicos:
  • o aumento da taxa de escolarização dos jovens e o reforço das qualificações dos Portugueses
    "Reside nas qualificações o principal défice estrutural que bloqueia a competitividade da economia portuguesa; e, portanto, é na universalização da educação básica e secundária, com o pleno cumprimento da nova escolaridade obrigatória de 12 anos, e na generalização do ensino superior, assim como na promoção da formação profissional e na oferta de Novas Oportunidades de formação ao longo da vida, que reside a resposta".

    Bem identificada uma das causas da falta de competitividade da nossa economia, porém, não conseguem entender que o alargamento da escolaridade obrigatória não vai resolver nada, pelo contrário vai alastrar ao ensino secundário o cancro que mina o ensino português — o défice crónico de rigor e exigência.

  • a consolidação da aposta nas energias renováveis (...) "reforçando o importante “cluster” industrial constituído nos últimos anos, numa área de elevada incorporação tecnológica e potencial exportador."

    Vamos exportar turbinas eólicas?

  • a afirmação do sector exportador
  • a continuação do investimento na Ciência
  • o avanço na agenda digital, "assegurando que todo o território nacional fica coberto pelas redes de nova geração, para o acesso à Internet de alta velocidade".
  • a manutenção da dinâmica de simplificação e modernização administrativas, "porque o combate à burocracia, não só na administração central mas também na administração regional e local, não obstante os resultados alcançados, é um combate sem fim".
  • a consolidação e qualificação das redes de cuidados de saúde e das redes de equipamentos sociais, "para o reforço da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde e das instituições de apoio social, incluindo no que diz respeito à rede de creches".

Segue-se quatro questões-chave:
  • Na justiça propõem-se prosseguir a informatização e simplificação dos procedimentos e a promoção de vias alternativas de resolução dos litígios.
  • Na inserção dos jovens na vida activa, dizem ser um problema europeu mas refutam que não valha a pena estudar: "Segundo os dados do quarto trimestre de 2010, publicados pelo INE, em Portugal os empregados com o ensino superior aumentaram em 34,9 mil pessoas, contra a redução, em 170,2 mil, daqueles que tem apenas o 3º ciclo ou menos. Por outro lado, se é verdade que o desemprego dos licenciados aumentou 4,2%, no mesmo período, o certo é que aumentou 28,9% entre os que têm apenas o 3º ciclo ou menos."
    Apresentam, entre outras soluções, "desenvolver um programa específico de formação dos jovens para os sectores económicos emergentes, assente em novas competências, nomeadamente das energias alternativas e dos empregos verdes (...) e fomentar o espírito empreendedor e a criação de auto emprego e de novas empresas fundadas para pessoas, nomeadamente no domínio da energia e das novas tecnologias."
  • Na reabilitação urbana propõem o seu financiamento através de linhas de crédito bonificado, desburocratizar os procedimentos por um SIMPLEX e dinamizar o mercado de arrendamento.
  • Na reorganização do poder local preconizam um debate sobre as freguesias e avançar com a desconcentração em torno de cinco regiões administrativas; a reforma do sistema político limita-se à alteração da lei eleitoral para a Assembleia da República de modo a diminuir a distância entre eleitores e eleitos.

O programa termina referindo as Orientações Sectoriais de que destacamos as seguintes:
3. A modernização da administração pública "Em 2007, o PRACE concretizou uma importantíssima reestruturação da administração central do Estado. Em resultado dessa reforma, um em cada quatro serviços e um em cada quatro cargos dirigentes foram extintos. Pois bem: o próximo Governo do PS eliminará, já em 2011, mais cerca de um milhar de cargos dirigentes e equiparados; e procederá à fusão ou extinção de mais de 60 organismos e serviços da administração central do Estado (correspondendo a uma redução de aproximadamente 20% do universo global)".

Se em 2007 extinguiram 25% dos serviços e dos cargos dirigentes e ninguém se apercebeu de nada, já se prevê qual vai ser o efeito desta redução de 20% dos serviços. Mas propõem também a introdução de novos SIMPLEX nas autarquias, escolas, hospitais, ambiente, ...

4. A consolidação das contas públicas "A redução do défice orçamental é um imperativo nacional e a forma da sua concretização também não oferece dúvidas: faz-se mais pelo lado da redução da despesa do que pelo lado do aumento da receita. A redução da despesa obtém-se por via da redução da despesa no sector empresarial do Estado e nos fundos e serviços autónomos, bem como no consumo intermédio da administração pública; por via da racionalização e dos ganhos de eficiência em sectores como a saúde e a educação, (...); por via da moderação salarial; por via da verificação da condição de recursos no acesso a prestações sociais não contributivas." Vão prosseguir a reestruturação do sistema fiscal nacional, com as seguintes linhas de acção (incluem as medidas do OE 2011 que foram inviabilizadas pelo PSD):
  • "Reforçar os instrumentos de luta contra a fraude e evasão fiscal, utilizando os instrumentos legais disponíveis, incluindo as possibilidades e condições de derrogação do sigilo fiscal e do sigilo bancário;
  • Concluir o processo de convergência, no IRS, entre pensões e rendimentos de trabalho; e rever estruturalmente o sistema de deduções e benefícios fiscais;
  • Racionalizar a estrutura de taxas do IVA e actualizar os impostos específicos sobre o consumo."
5. O crescimento da economia e do emprego Defendem medidas que valorizem o sector exportador e apostem
  • na agricultura e floresta
  • na aquicultura e nas pescas
  • nas infra-estruturas portuárias, aeroportuárias, rodoviárias e ferroviárias (aqui há um TGV encapotado).
6. Promover o ambiente
  • Além de manterem a aposta na energia eólica e na concretização do Plano Nacional de Barragens, decidiram reforçar a opção pela energia fotovoltaica e relançar o incentivo às experiências e projectos-piloto sobre a energia das ondas, bem como as iniciativas que viabilizem e promovam a opção por veículos eléctricos.
  • Investir nos parques naturais para atrair visitantes através da criação de novas infra-estruturas, meios de circulação e meios de observação que permitam uma apreensão da sua flora e fauna.
  • Lançar um programa para a requalificação dos rios portugueses.
9. Promover a qualificação das pessoas
  • concretização da extensão da escolaridade obrigatória até ao fim do ensino secundário
    Propõem prosseguir o reforço "na língua materna, nas matemáticas e nas ciências experimentais; na promoção de uma cultura escolar de rigor e exigência, o que inclui o desenvolvimento de sistemas equilibrados e eficientes de avaliação, não só dos alunos, como também das escolas e dos professores; e no desenvolvimento da autonomia e da direcção das escolas e agrupamentos, favorecendo a sua inserção no meio social que servem."
  • generalização do acesso ao ensino superior
  • oferta de novas oportunidades de formação
    Afirmam que o programa Novas Oportunidades é "a demonstração prática cabal de que era necessário e era possível criar um verdadeiro movimento social de formação: mais de milhão e meio de inscritos, mais de meio milhão de certificados, entre 2006 e 2010".

O alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos vai diminuir o desemprego: os adolescentes vão procurar trabalho três anos mais tarde, pelo menos, e aumenta o número de professores. Os departamentos de Ciências da Educação das universidades privadas e de algumas públicas vão receber mais alunos para as célebres licenciaturas em Ensino e consolidar o lobby do “eduquês” a que pertence a ministra da Educação e seus secretários de Estado.

É óbvio que promover uma cultura de rigor e exigência nos agrupamentos/escolas não agrupadas do ensino básico e secundário depende, sobretudo, do director da escola porque é ele que nomeia os detentores de todos os cargos e distribui o serviço docente e não docente. Mas é preciso denunciar a ineficiência dos mecanismos de controlo, aliás criados com o único objectivo de enganar os ingénuos e, pior que isso, o incentivo à geração de sucesso fictício promovido por quem devia fiscalizar a qualidade do ensino — as próprias estruturas do ministério da Educação.

No que respeita a burocracia, houve um crescimento exponencial, o que era de esperar porque o parâmetro “Resultados dos alunos” é apenas um entre muitos na avaliação das escolas pelo ministério da Educação e as escolas esforçam-se por apresentar o máximo de papelada. De assinalar que uma visita de estudo, ou qualquer outra actividade, exige a elaboração de um relatório por cada professor participante.

Quanto ao "movimento social de formação", o que o programa está a dizer é que as escolas distribuíram mais de meio milhão de certificados que permitem aumentar a auto-estima das pessoas, mas não correspondem a uma aquisição de conhecimentos e competências, até porque não há qualquer espécie de avaliação externa ou interna. Aliás o curso Novas Oportunidades é a maior fraude que alguma vez ocorreu no sistema de ensino português: estão a ser dados certificados do 9º ano a formandos que mal sabem ler e escrever, não distinguem um rectângulo de um paralelepípedo, são incapazes de resolver um problema que envolva uma equação do 1º grau e não têm quaisquer conhecimentos de Física, Química, Biologia, Mecânica, Electricidade, Electrónica, … porque estas disciplinas nem sequer fazem parte do currículo.

*

Enfim, quase nada de novo, mas o PS foi o primeiro partido a apresentar o programa eleitoral. E não temos dúvidas que o leitor incauto e que desconheça o país vai pensar que, dentro de certas opções ideológicas, é um bom programa.
O problema é a distância entre as palavras e as acções. No domínio do ensino, então, mede-se em ano-luz.


"Obrigado, senhor ministro"


"Obrigado, senhor ministro
27 Abril 2011, 11:53 por João Cândido da Silva | joaosilva@negocios.pt

O desempenho de Fernando Teixeira dos Santos está muito longe de ter sido o que qualquer português desejaria.
Iniciou o mandato como ministro das Finanças com a tarefa de endireitar as contas públicas e ajudar a estimular o crescimento da economia. Falhou nas duas frentes.


O impulso reformador inicial do Governo socialista e o objectivo de colocar em ordem as finanças públicas começaram a ceder terreno no momento em que os interesses eleitorais começaram a falar mais alto. E o ministro das Finanças foi cúmplice na festa.

"Em 2008, quando o calendário começava a corrida em direcção às legislativas do ano seguinte, Fernando Teixeira dos Santos escolheu a pior conjuntura para descer a taxa normal de IVA. (…)

Em 2009, quando a meta política prioritária do primeiro Executivo de José Sócrates deixou de ser, definitivamente, a boa governação e foi substituída pelo objectivo de ganhar as eleições, o ministro das Finanças deu o aval a que se aplicasse a poção mágica que já tinha dado frutos em ocasiões anteriores e com outros protagonistas.

O aumento dos funcionários públicos vinha mesmo a calhar, porque o seu peso eleitoral impõe respeito quando chega a hora de praticar a caça ao voto. E o mesmo sucedeu quando o pretexto da crise internacional assentou como uma luva para justificar a generosidade dos cofres do Estado. Keynes teria ficado de cabelos em pé se soubesse que uma pequena economia com um endividamento externo em alta imparável e uma baixa taxa de poupança interna se serviu do seu nome para fundamentar mais despesa, mais dívidas e, no fim de tudo isto, mais recessão.

Os números são pouco simpáticos para Teixeira dos Santos e a pressão actual para que haja maior transparência na contabilização dos compromissos que os contribuintes têm que carregar sobre os ombros não os tem melhorado. Pelo contrário. De cada vez que o Eurostat abre a boca, o défice dá um salto e a dívida pública faz de macaco de imitação. Como currículo de um ministro das Finanças, não é brilhante.

Qualquer pessoa tem direito ao seu momento de redenção. Fernando Teixeira dos Santos soube aproveitá-lo. Se o primeiro-ministro se viu forçado a abandonar o seu patriotismo delirante e impedido de continuar a assistir, impávido, ao naufrágio nacional, de PEC em PEC, foi porque o ministro das Finanças decidiu, por uma vez, impor a sua vontade e obrigar José Sócrates a fazer o inevitável pedido de ajuda externa. Apesar de tudo o resto, que não é bom, obrigado senhor ministro.
"


terça-feira, 26 de abril de 2011

Uma lição de hipocrisia ao som do trinado dos pavões


Confortavelmente instalado no poder graças aos CSI e RSI, que lhe dão 1 milhão de votos de avanço sobre os outros partidos concorrentes às eleições legislativas de 5 de Junho, José Sócrates dá-nos esta lição de hipocrisia ao som do trinado dos pavões do Palácio de São Bento:





Ao asseverar que estão disponibilizadas na Internet todas as informações pedidas hoje por Eduardo Catroga, em nome do PSD, sobre o impacto das parcerias público-privadas (PPP) e das concessões nas contas públicas portuguesas no período 2011-2014, em nova carta enviada ao ministro da Presidência, José Sócrates persiste também no recurso à mais descarada mentira.

Razão tem Jorge Miranda ao afirmar que o parlamento devia ter aprovado o PEC IV e depois correr com José Sócrates através de uma moção de censura.
Agora o indivíduo vai responsabilizar, até à exaustão, os partidos que rejeitaram o PEC IV pelo pedido de ajuda externa e consequentes medidas de austeridade. Uma raposa...

Somente de aplaudir a afirmação final de que não envolverá a família na disputa eleitoral, uma seta envenenada, mas merecida, à lamechice a que PPC desceu.


segunda-feira, 25 de abril de 2011

O voto nulo contra o PS


Numa recente sondagem, em que o PSD recebia 36,3% das intenções de voto e o PS 32,7%, os comentadores interrogavam-se como é possível que o PS, mesmo depois de levar o país à bancarrota, ainda tenha quase um terço das intenções de voto.
Ouvindo a opinião de uma centena de pessoas e fazendo uma pesquisa de dados, concluímos que a resposta é simples: o PS arranjou um pedestal composto por duas faixas de eleitorado, os CSI e os RSI. Verifique, caro leitor:


Em Dezembro de 2005, o primeiro governo Sócrates criou o Complemento Solidário para Idosos (CSI) pelo DL 232/2005 que garantia a qualquer pensionista com mais de 65 anos o rendimento mínimo de € 4200/ano (art.º 9), embora a idade para o reconhecimento do direito a este complemento tivesse uma aplicação progressiva (art.º 24) e esta idade só fosse atingida no ano das eleições legislativas:
a) Igual ou superior a 80 anos, no ano de 2006;
b) Igual ou superior a 75 anos, no ano de 2007;
c) Igual ou superior a 70 anos, no ano de 2008;
d) Igual ou superior a 65 anos, no ano de 2009.
Um ano depois, o DL 236/2006 antecipou para 2008 a idade de 65 anos e surgiram outros diplomas a simplificar a prova de recursos e a actualizar o CSI a partir de 1 de Janeiro de 2008 de modo que, à data das eleições legislativas de 2009, todos os pensionistas com, pelo menos, 65 anos recebiam um montante igual ou superior a € 4800 graças ao CSI.

A Portaria 1457/2009 fixa, a partir de 1 de Janeiro de 2010, o valor do CSI em € 5022, o que significa que qualquer pensionista tem um rendimento mínimo mensal de € 359 com quatorze prestações anuais.

Consultando a Pordata Portugal podemos estimar o número de pensionistas abrangidos pelo CSI.
No tema Protecção Social, basta procurar, dentro do subtema Seg. Social – Pensionistas, por Velhice por escalões de pensão para sabermos que 472 mil pensionistas tinham, em 2010, uma pensão inferior a € 250.
Claro que alguns dos quase oitocentos mil pensionistas do escalão 251-500 também têm direito ao CSI. No entanto, não podemos esquecer que, dentro de cada escalão, deveríamos eliminar os que têm menos de 65 anos e não sabemos quantos são.


Passemos agora aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), que substituiu o rendimento mínimo garantido criado por um governo Guterres. No Subtema Seg. Social – Beneficiários procuremos RSI por sexo e encontramos um total de 526 mil em 2010, dos quais — ver RSI por grupo etário — mais de trezentos e cinquenta mil têm menos de 40 anos de idade e não retribuem com qualquer espécie de trabalho comunitário.


Em conclusão: cerca de 1 milhão de eleitores beneficiam do CSI ou RSI, devem esse beneficio ao PS e a maioria tem consciência disso.
Agora junte-se-lhes os boys que infestam os sectores administrativo ou empresarial do Estado, mais as empresas privadas que vivem à sombra do governo.
É esta a almofada que suporta o PS e amortece o efeito dos erros cometidos pelo governo.

Se observarmos os resultados das eleições legislativas de 2009, vemos que o PS recebeu 36,6% com cerca de 2 milhões de votos. Donde concluímos que o governo PS pode levar o país à bancarrota sem que daí advenha, como consequência, a perda das eleições legislativas.
Só um voto nulo maciço do restante eleitorado, um voto anulado com uma frase de protesto contra o PS, numa época em que o nosso País está sob os holofotes da comunicação social internacional, pode desalojar os socialistas do governo.


Chopin, Piano Sonata No.2 - Pogorelich


Frédéric Chopin, Piano Sonata No.2 in B flat minor, Op.35.
Interpretada genialmente por Ivo Pogorelich na 3ª fase do Fryderyk Chopin International Piano Competition de 1980.


1. Grave - Doppio movimento


2. Scherzo


3. Marche funèbre (Lento)
4. Finale (Presto)



sexta-feira, 22 de abril de 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Teixeira dos Santos, bode expiatório dos erros de Sócrates

Nota do gabinete do ministro de Estado e das Finanças




O ministro das Finanças que, em 9 de Outubro de 2010, traçou o limite de 7% para as yields da dívida soberana, defendendo o recurso ao FMI quando este limite fosse aproximado, não foi convidado para participar nas listas de candidatos a deputados do PS.
Pretende-se limpar a imagem de José Sócrates tentando responsabilizar o ministro das Finanças pelo odioso das medidas de austeridade que aí vêm.

Vieira da Silva, o incompetente ministro da Economia que não sabia o custo da energia eléctrica para as empresas, homem do aparelho socialista, cabeça de lista por Setúbal e responsável com José Sócrates pela elaboração das listas, ao invocar a necessidade de renovação para justificar o afastamento de Teixeira dos Santos dessas listas, revela agora uma absoluta hipocrisia.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Primeiro-ministro de Portugal posto em leilão



O site leilões.net colocou hoje em leilão José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal, com uma base de licitação de 75 mil milhões de euros.

O anúncio descrevia um primeiro-ministro com guarda-fatos e teleponto incluído, "desenrascado, persistente, com boa imagem do lado esquerdo e direito. Licenciado com distinção num domingo e boa capacidade para idiomas como o castelhano e inglês (apenas compreensão e leitura)".

O motivo da venda era a "liquidação do país (alternativa a empréstimo do FMI)" e o comprador tinha direito a despesas de envio gratuitas.


O défice sumiu


Peço alvíssaras, caro leitor, por esta notícia: a síntese da execução orçamental hoje publicada afirma que no primeiro trimestre de 2011 o défice dos subsectores Estado e SFA (Assembleia da República, CMVM, Serviço Nacional de Saúde e todos os institutos, fundações, agências e fundos públicos) reduziu-se a 148 M€ o que, comparado com os 1814 M€ do período homólogo de 2010, foi como se um encargo de 1800 euros se convertesse nuns míseros 150 euros!

O défice evaporou-se na atmosfera, dissolveu-se no oceano, fundiu como a neve na nossa serra da Estrela aos primeiros raios de Sol da Primavera. Enfim desapareceu, sumiu das nossas vidas.
O mesmo José Sócrates que ordenou o recomeço do programa de distribuição dos Magalhães às criancinhas nas escolas, pois navegar na internet é tudo o que o seu filho precisa de saber para um dia vir a ser doutor e ter uma vida de nababo, agora aguçou o seu engenho e, por artes mágicas, fez desaparecer o défice.

Em face desta boa nova, o leitor reconsiderou, já não se abstém e vai votar nele em 5 de Junho? Não se entusiasme tanto que isto de défices são como as marés, descem antes das eleições e sobem a seguir. É que há sempre umas facturas esquecidas nas gavetas das secretárias da Direcção-Geral do Orçamento...
Lembra-se do défice de 2009 que era 5,9% do PIB antes de 27 de Setembro e se transformou em 9,4% em Dezembro (agora corrigido para 10% pelo Eurostat)? Pois.

Só há uma nuvem negra no céu azul de José Sócrates: em 15 de Maio os ministros das Finanças da Zona Euro reúnem-se para aprovar as condições da ajuda financeira a Portugal que ele teve de pedir porque não havia dinheiro para pagar vencimentos ou para amortizar a dívida pública que vence em Junho.
Qual será a roca que ele vai usar para transformar o país no reino da Bela Adormecida nos 21 dias seguintes? Uma execução orçamental de Maio de encher o olho, com um superavit...


domingo, 17 de abril de 2011

"O tesourinho"


"Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt


O salário? Corta. A pensão? Reduz. O contrato? Rasga. O emprego? Despede. A dívida? Adia. O certificado? Já não certifica.

Todas as certezas se estão a relativizar. Afinal, até o ferro se liquidifica, é apenas uma questão de temperatura. E o calor está de estoirar termómetros.

A Europa não perdeu a cabeça porque não se pode perder o que já não se tem. E os portugueses já perceberam que, se querem cumprimentar os seus chefes, têm de começar a aprender nomes alemães. É preciso aprender mais este: Wolfgang Schaeuble. É o ministro das Finanças de Angela Merkel e, ontem, quebrou um tabu: admitiu a necessidade de reestruturar a dívida pública da Grécia. E assim incendiou os mercados.

Reestruturar a dívida é uma maneira educada de dizer que não se consegue pagá-la. Primeiro aumenta-se o prazo de pagamento (tal como muitos portugueses fizeram com o seu crédito à habitação). Depois... bom, depois há várias formas de fazer perdões de dívidas. Eis o tabu para a Grécia, para a Irlanda... e para Portugal: conseguiremos algum dia pagar o que devemos?

O que Schaeuble disse ontem não era impensável, era apenas indizível. As opiniões públicas europeias (como a alemã ou a finlandesa) não estão disponíveis para "hair cuts" (que na prática significam perdões de dívida) ou de empréstimos que subsidiam, pela baixa taxa de juro ou pelo elevado prazo, os países falhados. Mas esse é um cenário que temos pela frente.

Mesmo vendendo "tudo" o que temos, através de privatizações, e reduzindo drasticamente o consumo e o crédito da banca, precisamos de tempo para reduzir o volume de endividamento. Mesmo o empréstimo da missão externa é, ainda assim, um empréstimo. É preciso pagá-lo.

A necessidade eventual de rever as condições de resgate de certificados de Aforro e de Tesouro é, apenas, mais uma das medidas de excepção. O dramatismo actual leva a que tudo o que dávamos por adquirido seja posto em causa. Começou pelos salários no Estado, já se agendaram as pensões mas não se vai ficar apenas pelos que não têm poder de contestar.

Aprendemos no último ano que a austeridade também tem uma cadeia alimentar: primeiro mastigam-se os mais fracos e apenas se rosna aos mais fortes. Os funcionários públicos, os trabalhadores por conta de outrem e os consumidores foram já a carne para canhão. Mas é preciso ir ao osso também dos lobbies e dos grupos de interesse.

Anulou-se meio TGV? A Mota-Engil processa. Anula-se o outro meio? Processa a Soares da Costa. Estão cobertas de razão. Mas os advogados mandam menos que os políticos. E os políticos têm de rever estes contratos com a mesma crueldade com que reviram os dos funcionários do Estado para lhes cortar salários.

O Estado deixa de ser paternalista mas continuará a agir como pai: um pai tirano. Com a mesma necessidade com que pedem ajuda para pagar as dívidas. Ou com a mesma urgência com que vão ter de rever as parcerias público-privadas. Rendibilidades de 12%?! Baixa para metade. Se não gostam, processem.

Os funcionários públicos, os pensionistas e os contribuintes não podem ser os únicos a pagar as facturas. É preciso entrar nos lobbies, económicos e políticos. Nas PPP. Nas empresas do Estado, nos institutos, nas fundações, nas empresas com monopólios protegidos. Sim, vamos chegar aos poisos de "boys" e aos financiadores dos partidos. Afinal, o FMI não é um saco de dinheiro nem um saco de pancada. Também está cá para isto."






Eis um artigo de opinião do Negócios que deu origem a um fórum espontâneo merecedor de registo, para o qual juntámos mais uma excelente infografia deste jornal sobre as vantagens e desvantagens da saída do país da Zona Euro:


PR1967 16 Abril 2011 - 12:58
A verdade que custa
Nos últimos anos os EUA e a UE, de um modo geral, e Portugal, em particular, têm vivido de forma absolutamente irreal:
  • não produzindo: as fábricas fecham, a agricultura é abandonada, as pescas idem,...
  • consumindo de forma crescente e absolutamente desnecessária
  • criando empregos em áreas sociais
  • construindo imóveis para ficarem desabitados
  • mudando de casa como quem muda de camisa
  • reduzindo horários de trabalho e "inovando nas reivindicações"
  • colocando nos governos pessoas absolutamente incompetentes
    enfim, fugindo à realidade.
E o resultado é a falência total deste modelo de "desenvolvimento". Em 15 anos, Portugal
  • desbaratou vários pacotes de incentivos comunitários
  • destruiu o aparelho produtivo (com o apoio da grande distribuição, i.e., SONAE, J. Martins, ...)
  • tem um sistema de justiça em que ninguém acredita
  • tem um sistema de ensino que atribui graus por simples presença (Como é possível que alguém, que não sabe ler e escrever, conclua o 9º ano?)
  • tem um sistema de saúde que serve essencialmente os profissionais de saúde.
Numa palavra, estamos falidos e hipotecados aos mais diferentes níveis.

Mas para este estado de (des)graça muito contribuíram:
  • os políticos do governo central, em primeiro lugar, porque deveriam dar o exemplo e, na maioria das vezes, o exemplo foi despesismo, corrupção, fraude e incompetência
  • os políticos das autarquias que, por absoluta falta de bom senso, acharam que uma cidade, vila ou região se desenvolve com grandes superfícies e amontoados de betão
  • o sector da justiça que tem feito figuras absolutamente miseráveis
  • a banca que tresloucadamente incentivou ao endividamento
  • os cidadãos que trabalham e pagam os seus impostos que continuam a aceitar este estado de coisas.

E agora:
  • diz-se mal do FMI e da Europa por estarem dispostos a nos emprestar dinheiro, mas também se diz mal se eventualmente não estiverem
  • esgotam-se os mais apetecidos destinos de férias (vamos aproveitar enquanto é tempo...)
  • temos os políticos, de manhã à noite, na TV, a dizerem-nos que as mentiras que nos disseram ontem foi para o nosso bem
  • temos uma rede de centros comerciais lindíssima (se não fosse o Belmiro a criar emprego "rasca" e a fechar mais umas lojas e fábricas, ninguém sobrevivia...)
  • temos passeios aos domingos nos hipermercados, com toda a família
  • temos muitas casas
  • não temos maternidades, mas temos "abortonidades"
  • temos a associação na hora (Tínhamos poucas, “né”?)
  • temos um aeroporto em Beja. (Viva!)
  • vamos ter um bocadinho de TGV (e muitos, muitos estudos)
  • temos o centro das cidades livre para os ratos nidificarem
  • consumimos quase tudo de fora (Somos mais "in"!)
  • temos licenciados em Matemática que mal sabem a tabuada e em Português que não sabem o presente do indicativo do verbo ser
  • já não temos temas fracturantes para iludir o "Zé Povinho"
  • temos uma economia social fortíssima (mas idosos a morrer como moscas e a serem encontrados 9 anos depois!)
  • temos cada vez mais telemóveis
Que bom!


Olisipone 16 Abril 2011 - 13:09
Oportunidade única
A verdadeira crise não é económica nem financeira: é contabilística e política. Reparem:
A UE, ou pelo menos a Zona Euro, não está insolvente. O Euro flutua nos mercados, devido a factores psicológicos, não económicos. A UE no seu todo continua a ser o maior Exportador mundial, acima da China. É também o maior Importador e tem o maior PIB do Mundo (dados do FMI).
O que se passa é que há diferenças muito grandes no seio da UE. Penso, e não sou o único, que o erro foi pensar que o Mercado Único ia trazer um desenvolvimento mais ou menos uniforme através da dissolução das fronteiras internas da UE. Na realidade, pondo em concorrência directa países fortes e fracos, 20 anos de experiência demonstraram que os mais fortes, ficaram mais fortes, e os mais fracos, mais fracos!

Mas, a questão de fundo é a seguinte: se todos devem uns aos outros, ou mesmo uns mais que outros, dentro do mesmo universo económico, na realidade a riqueza dos 16, ou mesmo dos 27, mantém-se a mesma. O problema é a forma como está distribuída e os direitos que foram sendo adquiridos sobre os excedentes e as dívidas.

Comunismo? Não! A UE estava disposta a partilhar os lucros, mas não as perdas! Isto é absurdo.

A solução está na UE assumir em conjunto as dívidas, emitindo, se necessário, títulos de dívida conjunta. Em funcionar, na realidade, como um só País com regiões mais rentáveis do que outras. Para isso seria necessário, obviamente, ter uma fiscalidade e uma economia únicas e acabar com as soberanias.

Porém, se verificarmos que ninguém está disposto a abdicar dos juros, ou a emprestar mais dinheiro, ou mesmo a anular as dívidas internas no seio da UE através de uma solução contabilística, nesse caso, o que temos é uma crise política no seio da UE que põe em causa a sua própria sobrevivência.

E nesse caso, qual é o nosso papel? Não vejo vantagem absolutamente nenhuma em continuarmos reféns de uma moeda que não controlamos, metidos num universo sem fronteiras onde não temos competitividade e a pagar dívidas em que incorremos, largamente, pelas condições que nos foram impostas.

Devíamos, pois, aproveitar a oportunidade única que temos até Maio e declarar-nos insolventes. Sair do euro e negociar apenas com o FMI! Aliás, decorre neste momento uma luta entre a UE, que nos quer penalizar, e o FMI, que nos quer dar uma taxa de juro mais baixa.

Esta é a última oportunidade que temos de nos vermos livres de uma UE que nos estrangula e nos arrasta para o abismo!


PR1967 16 Abril 2011 - 15:25
Comentário a olisipone "Oportunidade única"

Caro amigo(a) "Olisipone" do fórum,

Peço desculpa por discordar do seu comentário, pois no meu entender a realidade é diferente daquela que apresenta.

A Europa não é o bloco mais importante do mundo e está a perder competitividade para as novas potências (China, Índia, Brasil, ...) sendo, politicamente, um saco de gatos...
A Europa tem, aliás, meia dúzia de países, com a Alemanha à cabeça, que ainda têm um aparelho produtivo dinâmico e competitivo, mas aos quais estão ancorados países — entre os quais Portugal — sem uma estratégia, sem rumo e, pior que tudo, sem valores. Mas todos os europeus acham que devem ter os mesmos direitos embora o menor número de deveres possível.
A realidade é que, na Europa, os povos que menos produzem e mais gastam devem aos países que mais produzem (ex: Portugal deve à Alemanha) e no mundo acontece a mesma coisa (ex: os EUA devem à China).
Por isso aquilo que irá acontecer, quer nós queiramos quer não, é que, não por vontade própria e inteligência mas por não ser possível contornar a realidade eternamente (embora isso parecesse possível nos últimos anos), vamos ser obrigados a mudar de vida, gastando, não mais (como até agora), mas menos do que aquilo que ganhamos (pois teremos que pagar dívidas).
O que eu quero dizer é que, por mais conversa "mole" que tenhamos para ludibriar a realidade e culpas que possamos atribuir aos outros — mercados, FMI, UE, Globalização —, ninguém vai trabalhar e criar riqueza por nós e isso é o que todos devíamos assumir.
O único grande problema é que aqueles que nos transportaram para o abismo (políticos principalmente) e os que usufruíram deste regabofe (sector empresarial do estado, alguns funcionários públicos, responsáveis por fundações e institutos que para nada servem, grande distribuição, alguma banca, corruptos de quaisquer sectores, boys dos partidos, filhos e enteados de gestores de sei lá o quê e, também, pessoas que se endividaram para passar férias, ter iates, mudar de carro anualmente, ...) não sejam os únicos a pagar, pois se assim fosse a única coisa que existia era justiça.
P.S.: Em todas as classes existem pessoas competentes e incompetentes, contudo há sectores onde o desperdício é clamoroso.


Olisipone 17 Abril 2011 - 08:51
Resposta A PR1967
Uma coisa que nunca deixará de me espantar, é a capacidade dos portugueses para transformarem os seus desejos em realidades.

Uma coisa é uma hipótese como a que eu apresento e que me parece correcta. Pode, evidentemente, ser debatida. Foi para isso que a publiquei.
Outra coisa é negar as bases de um raciocínio em vez de debater o conteúdo.

"No seu entender" a realidade é diferente. Pois olhe, "no entender" do FMI, nas últimas projecções até 2016, o PIB nominal estimado da UE este ano será de 17,452.406 biliões de dólares, o da China 6,515.861 e o do Brasil 2,421.637. Em 2016, de acordo com o mesmo documento, estes números serão 20,791.880, 11,220.173 e 3,302.858, respectivamente.


JMGPI 18 Abril 2011 - 09:47
Olisipone - Portugal sair do Euro?
Portugal sair do Euro?
Certamente terá vantagens e desvantagens, como tudo na vida...

Eu não sou economista, mas interesso-me por estes assuntos e tento, na medida do possível, manter-me informado.
Se Portugal saísse da zona Euro, não iríamos ficar com uma moeda fraquíssima, desvalorizada e, mais preocupante que isso, extremamente volátil, desprotegida e que levaria muito, muito tempo até voltarmos a ter (se é que alguma vez tivemos) poder de compra no estrangeiro?


PR1967 18 Abril 2011 - 10:26
Sobre a última oportunidade (novamente)
Caro(a) Olisipone,

A sua visão para a discussão é, de facto, válida embora me pareça em alguns aspectos (saída da UE) algo radical.
As estatísticas que refere evidenciam a tendência que eu refiro, i.e., a perda da Europa e dos EUA, face aos países emergentes.
Agora o que seria importante em reflectir, também, era sobre o endividamento dos países e, se quiser verificar essas estatísticas, constatará que são assustadoras.
Mas há mais índices sobre os quais a nossa sociedade está em perda:
  • envelhecimento da população
  • qualificação da sociedade (Imagina quantos engenheiros são formados anualmente na China ou na Índia? Em contrapartida, Portugal forma advogados, sociólogos, psicólogos, comunicólogos, especialistas em acção social, ...)
  • qualidade do ensino (preocupante, excepto nas línguas e informática em que evoluímos imenso)
  • justiça (a falta de um sistema credível é, de facto, penoso)
  • valores (vivemos numa sociedade em que, para uma grande parte das pessoas, os valores são os do consumo)
E é por isso que, no meu entender, nós temos que encarar a realidade! Sendo certo que ainda temos uma qualidade de vida muitíssimo superior aos chineses, indianos, ... Mas os gregos na antiguidade também tiveram um grande império!

P.S.: Não se deduza do que escrevo que as profissões da área social não são úteis, simplesmente não são o motor da criação de riqueza, mas sim da distribuição da riqueza já gerada.


Olisipone 18 Abril 2011 - 11:56
Mais uma achega...
Na minha opinião, que sou historiador e não economista, parece-me que:
a) era melhor assumir o default agora, e não depois de assinado o pacto com a Tróica e
b) anteciparmo-nos, trar-nos-ia muito maior credibilidade

Claro que estamos em recessão. Mas seja de que modo for, Portugal encontrou-se com o seu destino e tem mesmo de reinventar a sua economia.

Não podemos continuar a ter um desequilíbrio de -35,7% na Balança Comercial (ou seja, a importar mais 20 mil milhões do que exportamos), importando 6950 milhões de bebidas e refrigerantes, quando importámos 8027 milhões de lubrificantes e combustíveis em 2010, por exemplo!

É preciso um controlo das fronteiras e produzir essencialmente para o mercado nacional e para exportação, em vez de importarmos 80% do que comemos, e de termos à venda por todo o lado produtos importados que só cá deixam as margens de lucro dos comerciantes e eventualmente o IVA, se for declarado...

Em política, (quase) tudo é possível. E a melhor estratégia é sempre surpreender o adversário.

Se Portugal optasse por tomar a dianteira neste processo, com uma moeda desvalorizada, o investimento estrangeiro iria vir de todo o lado. Sobretudo se soubéssemos gerir as nossas parcerias, não de acordo com os interesses da UE, mas com os nossos! Vocês dão-se conta de que o comércio com a UE nos é extremamente deficitário? Dos 56 mil milhões importados em 2010, 43 mil vieram da UE! E só exportámos para a UE 27 mil milhões, dos 36 mil que exportámos.

Claro que não podemos deixar de exportar para a UE. Mas devemos fazê-lo como todos os outros países de fora da UE e não numa situação de dependência como aquela em que nos encontramos.

E quanto à "honorabilidade" do nosso default, pergunto-vos: Qual é a moral de uma UE que se serve de nós para escoar os seus produtos há 25 anos, que compra os nossos ainda assim bastante baratos e nos vai emprestar dinheiro a um juro mais alto, e a um prazo mais curto, do que o FMI?


(actualizado)


Marinho Pinto defende greve à democracia nas eleições


Embalado pelo discurso aos jornalistas deste fim-de-semana, o bastonário da Ordem dos Advogados lançou a ideia peregrina de uma greve à democracia nas eleições legislativas de 5 de Junho.

Não se duvida que conheça bem a advocacia portuguesa.
Agora sobre o Portugal político nada sabe. Ou... talvez esteja a pregar uma rasteira de advogado ao eleitorado do PSD.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

O pântano


O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, está no Porto para participar num seminário internacional de advogados e fez declarações deveras espantosas aos jornalistas:

"Os advogados que auxiliem os seus clientes a cometer crimes devem ser punidos mais severamente do que qualquer outro criminoso", porque têm uma responsabilidade acrescida. "Incentivo a justiça e os tribunais a aguarem com severidade sobre os advogados que não cumpram os seus deveres e desvirtuem o sentido da sua profissão, mas também incentivo para outras profissões o mesmo, designadamente os magistrados".
Referindo-se às "maçãs podres" que existem na advocacia, Marinho Pinto defendeu que um causídico "não pode auxiliar, por muita vantagem económica que daí tire, os seus constituintes a cometer crimes" e foi acrescentando que, actualmente, "algum triunfalismo económico tem levado à postergação desses valores irredutíveis [do Estado de Direito].
(...)

"Alguns sectores da advocacia privilegiaram algum valor económico e tendem a mercantilizar a profissão e em transformá-la em mais uma mera actividade económica. É preciso que os próprios advogados combatam essa degenerescência".
(...)
"O contrato de mandato que o advogado estabelece com os seus clientes tem uma dimensão que ultrapassa o mero valor económico, é uma relação de confiança" e esse valor deve ser "reforçado e protegido, porque na sociedade portuguesa o que falta hoje é confiança.
 [Em Portugal] não há confiança em quem governa, em quem faz as leis e em quem as aplica", por isso o advogado seguidor "fiel da matriz fundacional da sua profissão, pode ser um ponto de partida para relançar um clima de confiança" no país.




Isto é o tipo de discurso que um docente faz a uma turma de vândalos, perto da porta de saída da sala de aula para ter hipótese de escapatória se os energúmenos se ofenderem.

No dia em que ouvimos o constitucionalista Jorge Miranda referir que "o sistema de partidos está em estado comatoso", o bastonário da Ordem dos Advogados traça sobre a advocacia um panorama de país do terceiro mundo.
Já só falta ouvir o bastonário da Ordem dos Médicos pedir aos doutores que não matem os doentes...

Guterres bem avisou sobre o pântano.


O voto nulo deve dar lugares vagos no parlamento


Jorge Miranda fez hoje 70 anos. Nesta admirável entrevista à Antena 1, iniciada com a sétima sinfonia de Beethoven, o Professor Catedrático da Universidade de Lisboa e da Católica faz uma crítica vigorosa ao sistema político português.

Considera Jorge Miranda que o actual "sistema de partidos está em estado comatoso" (4:00), sem qualquer capacidade de renovação, onde os chefes partidários dominam por completo e dá dois exemplos: o caso Fernando Nobre que "mostra o desprestígio da instituição parlamentar" por desrespeitar a votação, por voto secreto, para a eleição para a presidência da Assembleia da República; o Congresso do PS, do unanimismo, tal como na velha Albânia (5:43).

Os responsáveis por esta situação foram Sá Carneiro e Mário Soares que em 79 e início dos anos 80 formataram o PSD e o PS como partidos que obedecem ao chefe. Uma das causas é "a eleição directa dos chefes dos partidos antes dos congressos, que depois são congressos de aclamação". Acredita, porém, que se fossem hoje líderes dos respectivos partidos, pela qualidade intelectual e humana de ambos, a situação seria diferente.
As causas vêm de longe e são "a entronização do chefe e o culto da personalidade do chefe. (...) Um supremo dirigente partidário é eleito por cerca de 40 ou 30 mil militantes, menos do que os sócios do Sporting que agora elegeram o presidente da direcção, e depois vai determinar o sentido de voto dos deputados que são eleitos por milhões de eleitores.

Constata a "incomunicabilidade entre os agentes políticos" (12:11) Presidente da República, Primeiro-ministro e Passos Coelho, o que "mostra uma perda de qualidade da democracia porque em democracia não há inimigos, pode haver adversários que se devem respeitar. Outro problema é a "pouca capacidade de exigência democrática dos portugueses."

Afirma que "Cavaco Silva devia ter demitido o governo porque ele fez uma moção de censura ao governo, ou Sócrates devia ter-se demitido depois do discurso de posse" (15:20) e, como tal não aconteceu, é o "sistema que não está a funcionar (...) em qualquer país normal uma destas coisas teria acontecido."
Considera que, na crise que se seguiu ao "episódio lamentável do PEC IV em que as oposições, em vez de apresentarem uma moção de censura, fizeram a rejeição do PEC (...) O PR podia ter insistindo num acordo como fez agora para evitar a dissolução. (...) Não faltaram poderes constitucionais ao PR que tem poder de intervenção para o regular funcionamento das instituições democráticas. Era o que eu esperava dele. (...) Mas tem uma concepção de presidente parlamentar".

Entende que das eleições legislativas do próximo dia 5 de Junho deve sair um governo de Bloco Central porque o que está para vir não se resolve com uma maioria de um só partido e muito menos uma maioria de Direita. Se for caso disso o "PR pode nomear um governo com os partidos mas liderado por outros protagonistas" (23:09) porque a situação assim o exige.

Jorge Miranda define-se como um social-democrata de inspiração cristã que não se revê nos actuais partidos políticos. Como não é abstencionista, "tem votado em branco" (26:10) e concorda com a proposta de Campos e Cunha de "deixar no parlamento lugares vagos provenientes dos votos em branco (...) porque daria um sentido positivo ao voto em branco. Seria uma forma positiva de manifestação de desagrado em relação aos partidos existentes".





Nesta entrevista para assinalar a sua jubilação, o Professor Jorge Miranda presta aos elementos dos movimentos cívicos os esclarecimentos jurídicos que careciam para fortalecerem as suas convicções.
Discorda-se, porém, sobre a eficácia do voto em branco, aliás em linha com alguns comentadores do Público cujas opiniões se regista no final. Mas temos de agradecer ao constitucionalista que esta questão comece a ser debatida na comunicação social.

O voto branco em Portugal presta-se a fraudes: num país onde se cometem assassínios em assembleias de voto, também se poderá pôr uma cruz num boletim de voto em branco. Quem duvidar das profundezas tenebrosas a que desceu a política em Portugal, pode ler este artigo que descreve, fielmente e com experiência pessoal, os comportamentos de edis e munícipes no interior do país.

Melhor será o eleitor, que não se revê em nenhum dos partidos políticos concorrentes, anular o seu boletim de voto escrevendo uma frase elucidativa e exigir que o voto nulo corresponda a lugares vagos na Assembleia da República.


Arrependido, Algures. 15.04.2011 10:51
Voto em branco
Pois eu já estive numa mesa em que se votava nos votos em branco depois das 19 horas.
  • Francisco, algarve. 15.04.2011
    RE: Voto em branco
    Não sei se está a dizer a verdade, mas eu sempre temi que alguém pudesse fazer isso, aproveitarem o voto em branco e porem lá uma cruz. Nos votos devia haver a opção: nenhum dos outros. De outro modo é preferível fazer voto nulo, penso que as pessoas que votam nulo ou branco têm a mesma opinião. Não sei por que fazer separação entre brancos e nulos...
    Também sou de opinião que votos brancos e nulos deviam ter cadeiras vazias no parlamento. Votos brancos e nulos são de pessoas que se dão ao trabalho de ir votar... é bem diferente da abstenção.


quinta-feira, 14 de abril de 2011

As opções energéticas dependem da mentalidade dos povos


Resolver a questão da opção energética é fundamental para retomar o crescimento da Economia, mas é assunto que levar-nos-á longe.

Confrontado com as necessidades energéticas do país, Salazar confiou a resolução do problema a um grupo de engenheiros que optaram por uma fonte de energia renovável — a hídrica —, tendo sido construído um conjunto de barragens que garantiram a nossa auto-suficiência durante vários anos.
Com o advento da indústria química, cimenteira e siderúrgica cresceu exponencialmente o consumo de energia que foi colmatado através da construção de centrais térmicas.

Na segunda metade do séc. XX, surgiram centrais que usavam uma nova fonte de energia — o urânio — e, não obstante a desvantagem de produzirem resíduos radioactivos altamente poluentes, o reduzido custo da energia levou a maioria dos países em desenvolvimento a optar pela energia nuclear.
Vimos as economias dos países do norte e centro da Europa prosperarem com a energia eléctrica barata produzida em centrais de cisão nuclear. EUA, Canadá, Coreia do Sul, Japão, até Espanha. Ficámos para trás.
A Europa setentrional e central é, porém, uma região sem actividade sísmica, ao contrário de Portugal que tem a fronteira entre duas placas tectónicas, a Eurasiática e a Africana, a passar a sul do país. Embora não seja uma zona de subducção, como sucede no Japão, o país já sofreu um violento terramoto em 1755.
Devemos lamentar esta opção?




Lembro-me do controlo rigoroso naquele laboratório de Física Atómica e Molecular da velha Faculdade de Ciências da rua da Escola Politécnica, apesar de só lá entrar gente de enorme responsabilidade.
Lembro-me daquela fonte radioactiva com a espessura de um cabelo, tão minúscula que não a conseguíamos ver, fixada no centro de um disco para não se perder. Do ruído ensurdecedor no contador Geiger quando ela era retirada do gigantesco bloco de betão onde estava sempre guardada.

Não, não lamento esta opção energética, o nuclear exige um profundo conhecimento e sentido de responsabilidade. O que lamento é que o povo português tenha depositado o destino do País nas mãos de políticos que, segundo Alexandre Soares dos Santos, se comportam assim:
"O transporte de rede em média tensão aumentou 40% para as nossas empresas em Portugal. O senhor ministro da Economia não sabia, não acreditou quando lho disse e tive de mandar a factura. Não respondeu."

A solução a longo prazo será uma central de fusão nuclear porque as reacções de fusão nuclear não produzem núcleos radioactivos. O protótipo europeu está a ser testado em Cadarache, no sul de França, e prevê-se que possa começar a ser explorado comercialmente dentro de três décadas:





No entanto, a alternativa às centrais nucleares actuais não é a energia eólica escolhida pelos governos de José Sócrates porque bom vento só temos no offshore e não sabemos fabricar turbinas eólicas, fomos comprá-las à Dinamarca. Além de que há uma correlação entre vento e chuva e, quando podemos transformar a energia eólica em energia eléctrica, estão cheias as albufeiras das barragens sendo necessário fazer descargas. Um desperdício obsceno!

Sobre a energia das ondas, nem vale a pena falar: aquela monstruosa e cara serpente marinha, arrastada com pompa e circunstância por uma lancha da Marinha fretada pelo ex-ministro Manuel Pinho, rapidamente virou sucata...

Convém lembrar também que a energia eléctrica não resolve tudo: os comboios não vão substituir todos os outros meios de transporte. Os automóveis podem passar dos combustíveis fósseis para a energia eléctrica, logo que haja um significativo avanço tecnológico na fabrico das baterias de iões de lítio, mas os aviões, não.





Os EUA estão a apostar nos biocombustíveis como substitutos dos destilados do petróleo consumidos pelas lanchas e navios da Marinha de Guerra.
Se os centros de investigação nacionais fossem incentivados a desenvolver este tipo de biotecnologia que usa variadas espécies de microalgas para provocar a fermentação da celulose, poderíamos converter em compostos similares aos do petróleo a biomassa da nossa floresta, em vez de andarmos a vê-la ser pasto das chamas no Verão.
Note-se que a combustão dos biocombustíveis vai produzir a mesma quantidade de dióxido de carbono que as plantas extraíram da atmosfera durante o crescimento, logo não causa acréscimo do dióxido de carbono no ambiente.





terça-feira, 12 de abril de 2011

Chegou o FMI


Há muito se sabia que só a vinda dos técnicos do FMI conseguiria impor limites aos desvarios das clientelas socialistas e exigir rigor nas contas públicas.

A aldrabice era tal que o défice de 2009, anunciado antes das eleições como sendo de 5,9% do PIB, acabou por sofrer uma revisão que o catapultou para 9,4%.

O défice de 2010 também fez história: começou por ser euforicamente anunciado por José Sócrates à senhora Merkel, à Europa e ao contribuinte luso como ficando abaixo de 7% do PIB. Não era propriamente um resultado espectacular porque houvera a habilidade contabilística de enfiar uma receita extraordinária — o Fundo de Pensões da PT — mas sempre ficava abaixo do valor previsto de 7,3%.

As coisas pioraram quando o Banco Central Europeu que andava a comprar dívida soberana portuguesa no mercado secundário há um ror de meses, com o objectivo de suster a escalada das taxas de juro, decidiu mandar alguns técnicos fazer-nos uma visita de "cortesia", em Fevereiro, acompanhados por colegas de Bruxelas.
Além de exigirem o registo, em 2010, das imparidades derivadas do BPN ainda foi necessário enfiar nas contas os empréstimos concedidos a empresas de transportes.





As consequências foram graves: todos os défices subiram a partir de 2007 verificando-se que, mesmo antes da crise internacional, nunca os governos de José Sócrates tinham cumprido a meta dos 3% impostos por Bruxelas, como se vê na infografia. Muito à pressa concebeu-se um inevitável PEC IV.
O problema era que precisava de ser apadrinhado pelo PSD que, avisado na véspera da Cimeira Europeia, não esteve pelos ajustes e o resto da história é sobejamente conhecido: a torneira do BCE fechou e, sem dinheiro, José Sócrates não teve outro remédio senão ir a Belém pedir a demissão e a Bruxelas pedir ajuda financeira.

A resposta foi rápida: os técnicos do FMI, a Comissão Europeia e o BCE desembarcaram hoje na Portela e instalaram-se no ministério das Finanças. As habilidades contabilísticas acabaram.

No entanto, um grupo de contribuintes alemães agastados com as aldrabices de José Sócrates exigiu ao governo alemão que não empreste um cêntimo ao porquinho do Sul e fez entrar uma acção no tribunal constitucional do país.

Isto está a ser demasiado humilhante.


“Desta vez foi o coelho que tirou um ilusionista da cartola”


Encontrei este comentário anónimo numa das muitas notícias que a empresa publicou sobre a primeira candidatura à presidência da Assembleia da República.
Curto, incisivo, profundo.


Aquando das recentes eleições presidenciais, os candidatos políticos não convenciam: Cavaco Silva estava tolhido por demasiadas ligações perigosas e a Manuel Alegre só reconheço méritos poéticos.
Muita gente disse que a AMI vive de subsídios do Estado, mas esta organização humanitária soube captar outros fundos prestando cuidados médicos à população portuguesa. Parecia que Fernando Nobre era desenvolto, genuinamente independente e capaz de meter José Sócrates na ordem e defendi o voto nele, perdoando-lhe alguns descomedimentos de linguagem.

Tal como os outros partidos, o PSD está ainda a redigir o programa e a constituir as listas de candidatos a deputados com que se irá apresentar nas eleições legislativas de Junho. É, portanto, incontornável que Fernando Nobre aceitou ser candidato sem conhecer esse programa e essas listas, transmitindo a ideia que abandonou o dinâmico movimento cívico gerado à sua volta para obter um cargo político decorativo mas com largas mordomias.

Quando Freitas do Amaral apareceu como ministro dos Negócios Estrangeiros de Sócrates, acreditei que tivesse alguma influência positiva no PS e achei excessiva a atitude de Portas ao enviar o retrato do antigo dirigente do CDS para o Largo do Rato.
Acontece que Freitas do Amaral não só não teve qualquer valia no governo, como abandonou o barco pouco tempo depois, supõe-se por não ter alcançado o objectivo de ser escolhido como candidato presidencial em 2005.
Penso que vai suceder o mesmo com Fernando Nobre. Ninguém imagina quanto gostaria de me enganar mas, vão desculpar-me, perdi a confiança nele.

Se Nobre não fosse caso único e as listas de candidatos a deputados do PSD estivessem repletas de pessoas que, realmente, fizeram o seu percurso profissional sem a sombra protectora do orçamento do Estado, coisa em que, neste momento, não consigo crer, obviamente teria de me retratar.

Para já, não passarei mais cheques em nome de independentes, e muito menos em branco, votarei nulo e defendo que o voto nulo corresponda a lugares vagos no parlamento: é a única forma de obrigar partidos políticos acomodados à alternância a reformarem-se genuinamente.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

PPC tirou um coelho da cartola


Fernando Nobre morreu.
Foi um homem generoso e candidato independente nas eleições presidenciais 2011.
Que descanse em paz.


sábado, 9 de abril de 2011

Queremos governantes competentes


O que nos diz Alexandre Soares dos Santos, presidente do grupo empresarial Jerónimo Martins, sobre o pedido de ajuda financeira de José Sócrates? Que "vem muito tarde, muito tarde".
"Sabia-se há muito tempo que a situação económico-financeira de Portugal era muito má. E, quando se tem pela frente uma situação económica muito má, a única coisa que há a fazer é olhar para ela com seriedade e desenvolver um plano de ataque a essa mesma situação. E aquilo que se demonstrou ao longo deste tempo todo, foi que lançaram um PEC I, um PEC II, um PEC III e um PEC IV. Quando se lança PEC atrás de PEC significa que não há plano, significa que tudo é feito sobre o joelho, face às necessidades de tesouraria num determinado momento.
Evidentemente que isto só agrava o problema porque não atacamos, primeiro, o mal. Quando se nota a evolução da dívida portuguesa desde 2004 até hoje — em 2004 era 56% do PIB e hoje nem sabemos quanto é, há quem diga que é 92, mas há quem diga que é 140% — isto significa que nada foi feito e pretendeu-se fazer como a avestruz: meter a cabeça debaixo da areia e esperar pelo tempo melhor (...).
Criou-se à volta do FMI uma imagem de que a entrada dele é o fim deste país, quando a entrada do FMI é uma necessidade total. E porquê? Porque destruiu-se nestes anos todos a Administração Pública. Infiltrou-se, por todo o aparelho de Estado, incompetência, incúria e desleixo. E introduziu-se uma coisa horrível que foi a mentira. Lembra-se, em 2009, que nos disseram, em Agosto, que o défice era x e acabou por ser x, mais y e mais z? Não me venham dizer que, em Agosto, não se sabia qual era o défice, qualquer companhia sabe, em Agosto, quais são os resultados que vai ter no fim do ano.

Penso que vamos ter de negociar com o FMI e com a Comissão Europeia um plano de longo prazo de recuperação das Finanças portuguesas, porque há aspectos sociais terríveis no nosso país, neste momento, e não se podem ignorar. Um exemplo: tenho 1% da massa salarial do Pingo Doce penhorada pelos tribunais, de pessoal que não pôde pagar os seus compromissos e agora sou obrigado a entregar 30% desses salários aos tribunais. (...) Facilitou-se o crédito a esta gente para tudo: foram obrigados a comprar casa porque não havia arrendamento e agora, de um dia para o outro, vai-se-lhes buscar o dinheiro. (...)
Tem de haver um plano em que se recupere as Finanças porque sem Finanças sãs não há desenvolvimento mas, ao mesmo tempo, tem de se olhar com cuidado para os problemas sociais que este país está enfrentando e que nos podem levar a graves perturbações. (...)
Qualquer pessoa aceita qualquer plano desde que se lhe indique aonde esse plano nos vai levar e nós nunca fomos informados. Qual é o verdadeiro buraco das Finanças portuguesas? Há quem diga que não se podem fazer auditorias às contas. Qualquer pessoa na Comissão Europeia sabe exactamente qual é o buraco. Quem é que não tem direito a saber? O cidadão português. Paga os seus impostos e não tem o direito de saber como o seu dinheiro está a ser administrado e como é que o gastaram: isto é crime. (...)
Os juros altos vêm de não haver um plano que mostre aos credores para onde o país vai. Vai haver crescimento económico, ou não? Vai haver criação de emprego, ou não? Como se cria o emprego? Através do investimento. E como se cria o investimento? Através da confiança. E nada disto existe. A única coisa que existe é uma caça ao dinheiro para suprir as necessidades diárias do Estado.
(...)
[Embora a austeridade inicialmente se agrave] temos uma certeza, o dinheiro vão-nos emprestar. Agora depende da capacidade que Portugal tiver em fazer uma boa discussão: demonstrar que somos credíveis, verdadeiros e temos um plano que vamos implementar. E isto impõe aos partidos que pensem em Portugal e não pensem uns em tramar os outros. (...)
Não podemos continuar neste adiar permanente de resolver uma situação grave. Tem que haver um acordo entre Presidente da República, partidos políticos e governo em relação às medidas que têm de ser tomadas e um compromisso solene de as implementar. Uma sociedade só compreende o que tem de fazer desde que a chamem a participar. Há uma medida urgente, têm de iniciar as negociações com o FMI, acertar no plano e ir implementá-lo. A seguir, começar a discutir aquilo em que o governo que saia das eleições deve ter o apoio dos outros, de preferência por uma coligação.
Tem de haver, antes das eleições, a mesma coisa que o senhor Dr. Mário Soares fez com o professor Mota Pinto: acordaram, antes das eleições, quem iria ser o primeiro-ministro e quais as medidas a tomar e respeitaram; o senhor Dr. Mário Soares foi o mais votado, foi o primeiro-ministro. (...) Penso que, em nenhuma solução o senhor Eng. Sócrates pode entrar, porque o senhor Eng. Sócrates, até hoje, tem mentido e um primeiro-ministro não pode mentir ao país. (...)
Porquê existe uma grave crise económico-financeira em Portugal? Porque há uma crise política há muitos anos, que gerou uma crise social. Desapareceram os líderes (...) que tinham sentido de Estado, que punham o País à frente dos próprios partidos. Então começaram as jogadas partidárias, começaram a aparecer partidos com quadros que, de experiência de vida, não tinham nada e se instalaram como ministros, secretários de Estado, assessores e engordaram. (...)
Estes anos já provaram que governos minoritários não funcionam. Zapatero teve a dignidade de dizer: "Não me vou candidatar mais". O Eng. Sócrates devia ter a humildade de dizer, neste momento: "Peço desculpa, vou-me embora". E o partido socialista devia ter a coragem de indicar um bom candidato a primeiro-ministro. (...)

Neste País, actualmente, gostamos muito de pôr as culpas nos outros. Nós não temos culpa nenhuma. (...) O que é que estamos a fazer de errado, cada um de nós? Um país é aquilo que a sua sociedade quer. Se cada um de nós, nas nossas funções, as desempenharmos bem, o país será bom. Temos de olhar para nós e perguntar: O que é que posso fazer pelo meu país? A sociedade civil portuguesa tem pecado pela inércia — os empresários, as associações empresariais, a banca, os sindicatos. (...)
Quando se vota, não sei em quem estou a votar. Voto num tipo que penso vai ser o candidato a primeiro-ministro, mas eu devia saber quem eram os candidatos a deputado. Devia ser obrigatório cada candidato a deputado publicar o seu currículo: o que é que ele fez na vida? Para saber se vale a pena votar nesse senhor. (...)

A CIP tem de deixar de defender interesses pequenos para passar a defender a iniciativa privada em Portugal, no seu todo, apresentando projectos. Passamos a vida a queixarmo-nos: os agricultores queixam-se, os industriais queixam-se, todo o mundo se queixa. Criou-se a ideia que o Estado tem de pagar tudo e nós não temos de fazer nada. (...) Se falar ao povo português, dizendo que o Serviço Nacional de Saúde tem que ser pago por alguns, não pelos pobres, as pessoas compreendem. O que não se pode é andar permanentemente a oferecer saúde grátis, escolas grátis, é tudo grátis, você só tem direitos, não tem responsabilidades. Temos de alterar profundamente a nossa forma de pensar e devemos manifestar o nosso desacordo, dentro da lei. (...)

Que tipo de país queremos, um país assente na iniciativa privada ou no Estado? Se é assente na iniciativa privada, vamos começar por alterar a Constituição, dizendo que a iniciativa privada é bem recebida. Quando fui para a Polónia, reuni-me com os advogados e pedi-lhes a Constituição polaca, a política fiscal e a Justiça. (...)
Se o País quer a iniciativa privada, então vamos adaptar as nossas regras e controlar essa iniciativa privada por reguladores, mas não nomeados por partidos políticos. Temos de encontrar um sistema em que seja gente competente, imparcial e conhecedora que vai desempenhar essas funções. Depois vamos vender o nosso País aos investidores estrangeiros. Adaptação das leis laborais: você tem direito ao trabalho, não tem direito ao emprego.
(...)
[No que respeita aos projectos de investimento], a lei tem de ser muito clara: quer construir um hotel, sabe quais são as condições. Se não construir de acordo com a lei vai ser preso e o hotel vai abaixo. Responsabilizar as pessoas. Por que é que, em Portugal, há corrupção? A máquina burocrática é tal, que você tem de passar a vida a untar as pessoas ao longo do caminho. (...)
É uma pena que, para trabalhar, tenha de deixar o meu País, quando o meu País tem condições para ser um país a sério. Andamos simplesmente a brincar. A maior parte destes senhores que têm estado no governo deviam pedir desculpa, para não dizer mais, foi um crime o que eles fizeram.
[As pessoas que decidiram contratos lesivos, nomeadamente nas grandes obras públicas prejudiciais] deviam responder em tribunal. Uns não falam porque não podem, outros não falam porque têm interesses, vivemos numa sociedade de medo. (...)
Quem tem que mostrar o caminho é o senhor Presidente da República que, neste momento, tem uma obrigação muito especial: forçar ao entendimento entre os partidos políticos para que apresentem à Nação um programa de recuperação e não dizermos que é uma fatalidade vir o FMI. Tem que chamar os três ou os quatro partidos a Belém, todos juntos, e dizer-lhes: meus caros amigos, têm que se entender e têm x dias para me apresentarem o vosso plano, antes das eleições. E se não apresentarem, deve informar o País e fazer um governo de iniciativa presidencial. (...) Deve forçar os partidos a garantirem que, qualquer que seja o resultado das eleições, há um plano acordado e devem cumpri-lo. E quando os resultados das eleições vierem, o mais votado será o primeiro-ministro.
"



07-04-2011


É o discurso de um Homem que criou uma carreira internacional sem protecção política, uma carreira internacional baseada no mérito.
É um Homem que se sentiu obrigado a regressar ao país para assumir a responsabilidade de gerir uma empresa familiar que ficou sem timoneiro.
É um Homem que construiu o segundo maior grupo nacional de distribuição alimentar e lhe deu uma dimensão internacional.
É um Homem que soube criar postos de trabalho para muitas famílias portuguesas.
Saibamos ouvir e reflectir sobre as ideias que transmite nesta entrevista ao Negócios da Semana, um programa da SIC. Ou preferimos continuar a ser o país mais pobre da Europa ocidental e a calcorrear o mundo a mendigar empréstimos?

O maior problema do país é o tipo de pessoas que consegue fazer carreira política em Portugal: incompetentes, irresponsáveis, demagogos e aldrabões.
Precisamos de varrer estas gentes, que atulham os partidos políticos e vivem à sombra do Orçamento do Estado, na administração central ou local e nas empresas públicas nacionais ou municipais, porque conduziram o país à insolvência.
Se os 3,5 milhões de abstencionistas das últimas eleições legislativas anularem o boletim de voto escrevendo "Queremos governantes competentes", o Presidente da República não terá outra alternativa, senão empossar um governo de iniciativa presidencial formado por estadistas.