sexta-feira, 15 de abril de 2011

O pântano


O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, está no Porto para participar num seminário internacional de advogados e fez declarações deveras espantosas aos jornalistas:

"Os advogados que auxiliem os seus clientes a cometer crimes devem ser punidos mais severamente do que qualquer outro criminoso", porque têm uma responsabilidade acrescida. "Incentivo a justiça e os tribunais a aguarem com severidade sobre os advogados que não cumpram os seus deveres e desvirtuem o sentido da sua profissão, mas também incentivo para outras profissões o mesmo, designadamente os magistrados".
Referindo-se às "maçãs podres" que existem na advocacia, Marinho Pinto defendeu que um causídico "não pode auxiliar, por muita vantagem económica que daí tire, os seus constituintes a cometer crimes" e foi acrescentando que, actualmente, "algum triunfalismo económico tem levado à postergação desses valores irredutíveis [do Estado de Direito].
(...)

"Alguns sectores da advocacia privilegiaram algum valor económico e tendem a mercantilizar a profissão e em transformá-la em mais uma mera actividade económica. É preciso que os próprios advogados combatam essa degenerescência".
(...)
"O contrato de mandato que o advogado estabelece com os seus clientes tem uma dimensão que ultrapassa o mero valor económico, é uma relação de confiança" e esse valor deve ser "reforçado e protegido, porque na sociedade portuguesa o que falta hoje é confiança.
 [Em Portugal] não há confiança em quem governa, em quem faz as leis e em quem as aplica", por isso o advogado seguidor "fiel da matriz fundacional da sua profissão, pode ser um ponto de partida para relançar um clima de confiança" no país.




Isto é o tipo de discurso que um docente faz a uma turma de vândalos, perto da porta de saída da sala de aula para ter hipótese de escapatória se os energúmenos se ofenderem.

No dia em que ouvimos o constitucionalista Jorge Miranda referir que "o sistema de partidos está em estado comatoso", o bastonário da Ordem dos Advogados traça sobre a advocacia um panorama de país do terceiro mundo.
Já só falta ouvir o bastonário da Ordem dos Médicos pedir aos doutores que não matem os doentes...

Guterres bem avisou sobre o pântano.


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