quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Relações íntimas entre políticos e maçonaria - I







A porta do templo abre-se e o mestre-de-cerimónias faz ajoelhar o maçom que entrou de costas na sala. Tudo está preparado para o fazer subir mais um degrau na ordem secreta. O mestre experto aproxima-se e cruza a espada com o bastão do mestre-de-cerimónias acima da cabeça do candidato, formando um esquadro. Ouvem-se, em sequência, as pancadas de três malhetes. “De pé e à Ordem, meus irmãos”, diz o venerável da loja. De uma mesa próxima, em forma de triângulo, exige-se o juramento que o maçom faz de imediato:

"Eu, Jorge Jacob Silva Carvalho, de minha livre vontade, na presença do Grande Arquitecto do Universo e desta Respeitável Assembleia de Mestres Maçons, juro e prometo solene e sinceramente nunca revelar a qualquer profano, ou mesmo a qualquer Aprendiz ou Companheiro, os segredos do Grau de Mestre."

Há muito que o [actual] director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), a secreta que actua fora de Portugal, disse estas palavras num templo da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP). E reiterou, como se faz sempre nos 33 graus maçónicos, os pactos secretos de silêncio e auxílio:

"Renovo a promessa de amar os meus irmãos, de os socorrer e ir em seu auxílio. Se alguma vez me tornar perjuro que, segundo o castigo tradicional, o meu corpo seja cortado em dois e que eu seja desonrado para sempre e que não fique de mim memória junto dos maçons."

Após o compromisso, o venerável mestre colocou-lhe a espada sobre a cabeça e informou-o em voz alta que a partir de então passava a ter poderes para “comandar” os companheiros e os aprendizes, os dois degraus inferiores da maçonaria. Seguiram-se mais golpes de malhete cruzados com a sequência de palavras de um rito escocês com séculos que lhe passou a contar novos segredos: os cinco pontos perfeitos da mestria, um toque, duas palavras e quatro sinais. O Sinal de Socorro foi um deles. "Se alguma vez te encontrares em grave perigo, chama os irmãos em teu socorro, com o seguinte sinal: atira o pé direito para trás, com o busto inclinado, ergue ambas as mãos acima da cabeça, tendo os dedos entrelaçados, as palmas viradas para cima, e exclama: A. M. O. F. D. V!"
Hoje, aos 42 anos, Jorge Silva Carvalho, espião requisitado ao Serviço de Informações e Segurança (SIS) e ex-chefe de gabinete de Júlio Pereira, secretário-geral do Sistema das Informações da República Portuguesa (SIRP), já está a meio dos altos graus da maçonaria (que vão do 4.º ao 33.º) e é apenas um dos responsáveis de topo dos serviços secretos portugueses que fazem parte da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP) e do Grande Oriente Lusitano (GOL), as duas principais correntes maçónicas portuguesas.

In SÁBADO, Investigação especial, Espiões na Maçonaria, 24-02-2009





No passado mês de Setembro, o ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), Jorge Silva Carvalho, foi ouvido, à porta fechada, na Comissão de Assuntos Constitucionais, na Assembleia da República.
Em Julho, fora noticiado na imprensa que havia fornecido informações "classificadas" à Ongoing (empresa na qual trabalha desde o início de 2011), antes e depois de abandonar as "secretas”, apesar de sujeito ao dever de sigilo imposto aos seus agentes e funcionários pelo artigo 28.º da Lei-Quadro do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). O espião contrapunha que recebera autorização do então primeiro-ministro, José Sócrates, para prestar essas informações.

Na primeira versão do relatório sobre estas audições relativas aos serviços secretos, assinada a 28 de Outubro de 2011 pela deputada Teresa Leal Coelho, vice-presidente da bancada do PSD, podia ler-se que os "incidentes verificados nos últimos meses [as notícias sobre as fugas de informações para a empresa Ongoing e o acesso ilícito aos registos telefónicos do jornalista Nuno Simas] sugerem indícios e lançam suspeitas de ligações do ex-director do SIED [Jorge Silva Carvalho, que dirigiu o SIED até finais de 2010] a conluios de poder pretensamente com a ambição de ocupar cargos dirigentes, incluindo nos Serviços de Informações". 

No capítulo das conclusões, a social-democrata alertava:
"Os indícios e suspeitas do envolvimento de titulares de lugares de chefia e direcção dos Serviços de Informações com grupos de pressão pretensamente instalados na sociedade portuguesa ou a sociedades secretas, nomeadamente ramos da Maçonaria, potenciam afectar a credibilidade e o prestígio dos Serviços de Informações."

Todas estas citações foram eliminadas do relatório que o PSD enviou para a 1.ª comissão, com menos páginas e no qual apenas se refere: "Impõe-se garantir que os Serviços de Informações, através de titulares de cargos de Direcção ou de operacionais, não sejam passíveis de instrumentalização por entidades públicas ou privadas”.



Estranhamente os deputados do PS opõem-se a que o conteúdo das audições — que decorreram à porta fechada — seja vertido num relatório, mas trataram de apontar o dedo ao presumível censor, nem mais nem menos o líder da bancada parlamentar do PSD, Luís Montenegro, que pertence à Maçonaria, a uma loja do Grande Oriente Lusitano (GOL).




O problema é que o PS é o partido que mais maçons tem por metro quadrado, entre os quais António Reis, Almeida Santos, António Vitorino, João Soares, João Cravinho, Rui Pereira, Jorge Coelho, Rui Cunha, Armando Vara e… Carlos Zorrinho.
Pois é. O líder da bancada parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, o ex-coordenador do Plano Tecnológico que mandou comprar o célebre Audi no valor de 86 mil euros, também pertence à Maçonaria, justamente à Grande Loja Legal de Portugal (GLLP).
Carro que não gozou, coitado, pois foi afastado do 'pote' pelas legislativas de 5 de Junho.


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