A comunicação social divulgou recentemente problemas ocorridos no Colégio Militar relativos a abuso de poder dos alunos mais velhos, sobre crianças ou adolescentes que frequentavam esta escola em regime de internato, que assumiu a forma de violência psicológica e física. Violência essa que foi consentida por omissão pela direcção militar do colégio porque terá confundido sensibilidade com fraqueza de espírito inaceitável num militar.
No entanto, o Colégio Militar nunca teve a missão exclusiva de preparar jovens para uma carreira militar.
Muitos pais e mães recorreram ao colégio para protegerem os seus filhos do abuso do álcool e outras toxicodependências que actualmente se tornaram banais entre os adolescentes.
Muitas famílias lograram encontrar dentro daquelas paredes bicentenárias a morigeração dos costumes que desejavam incutir na geração seguinte, precavendo-a da frouxidão de espírito e da degradação moral que contamina grande parte da juventude e devasta a sociedade portuguesa.
Enquanto a escola pública se massificava e os seus professores e a tutela deixavam a disciplina relaxar-se e o ensino perder qualidade, valiosos quadros da administração pública e de empresas do sector privado foram sendo formados na disciplina rigorosa e no ensino exigentíssimo do Colégio Militar.
Torna-se imperioso, por isso, reflectir sobre a manifestação dos antigos alunos do Colégio Militar, nesta sexta-feira, durante a cerimónia de abertura solene do ano lectivo da instituição, contra aquilo a que chamam “a morte do Colégio Militar”.
Primeiro que tudo, uma palavra sobre a elevação do protesto, que as imagens demonstram. Cerca de 500 antigos alunos, com vestuário de cores escuras, juntaram-se na sede da sua associação e depois dirigiram-se ao Colégio Militar onde entraram através de um portão lateral pelas 15:00. Fizeram um protesto silencioso, interrompendo a cerimónia da abertura solene do ano lectivo e saindo cerca de 20 minutos depois, novamente em silêncio.
É absolutamente indispensável realçar esta atitude num País que está a habituar-se a ouvir falsidades, impropérios e insultos vociferados por manifestantes incultos e a ver apedrejamento da polícia em manifestações recentes. Incultos, diga-se de passagem, porque o querem ser: actualmente ninguém tem a desculpa de não ter uma escola perto de casa, ou de não desfrutar de transporte exclusivo para os seus filhos quando a escola fica arredada da residência.
A razão do protesto está no modelo de admissão no Colégio Militar consignado no Despacho 4785/2013 do ministro Aguiar-Branco:
1. A estrutura de funcionamento do próximo ano letivo (2013/2014), em cada um dos estabelecimentos de ensino, assentará nos seguintes pressupostos:
1.1. Colégio Militar:
a) Deverá assegurar a abertura de novas matrículas nos seguintes anos:
i) 1.º ciclo: duas turmas de 1.º ano e duas turmas de 2.º ano, em regime misto e exclusivamente em externato;
ii) 2.º ciclo: três turmas de 5.º ano e três turmas de 6.º ano, com opção entre regime de internato e de externato para alunos do sexo masculino e em regime de externato para alunas do sexo feminino;
iii) 3.º ciclo: três turmas de 7.º ano nos moldes previstos para o 2.º ciclo, referidos no ponto ii) da presente alínea;
iv) Secundário: quatro turmas de 10.º ano, nas condições referidas no ponto ii) da
presente alínea;
b) Relativamente aos anos em que não há novas admissões, funcionarão as turmas que forem necessárias ao público existente, bem como às alunas que queiram transitar do Instituto de Odivelas, devendo ainda ser possibilitada aos alunos do sexo masculino a opção entre o regime de internato e de externato;(...)
2. Em simultâneo, o Exército deverá diligenciar o seguinte:
(…)
c) Desencadear, de imediato, o processo conducente à construção da infraestrutura de internato feminino no Colégio Militar apresentando um plano calendarizado e quantificado do processo, tendo em vista o pleno funcionamento desta infraestrutura previamente ao início do ano letivo 2014/2015;
Se a associação dos antigos alunos concorda com a extensão da escolaridade ao 1º ciclo, já a entrada de novos alunos nos 5º, 6º 7º e 10º anos, com a criação de turmas mistas, merece-lhe profunda discordância.
A associação também contesta a construção da infra-estrutura — um edifício no valor de 6,5 milhões de euros — para, no ano lectivo 2014/2015, proporcionar internato às alunas do Instituto de Odivelas que vai ser encerrado.
Não são infundadas as preocupações dos antigos alunos do Colégio Militar: estavam previstas 13 turmas mistas com novos alunos!
Se neste ano lectivo a integração das raparigas foi fácil, deve-se ao facto de terem entrado apenas 50 alunas do Instituto de Odivelas, que já estão habituadas a uma disciplina saudável e a um ensino exigente. Quando a população estudantil for metade masculina e metade feminina é que os problemas vão surgir.
Estudámos e trabalhámos mais de meio século em escolas públicas portuguesas e assistimos, com pesar, ao aparecimento de distracções durante as aulas provocadas pelos namoricos de alunos, ainda que o par de namorados esteja em turmas diferentes da escola. E se estiverem na mesma turma, então geram-se interrupções da aula e todos os alunos são prejudicados.
Margarida Pereia Muller, presidente da associação das antigas alunas do Instituto de Odivelas, lembra que estamos a falar de crianças e adolescentes, e não de adultos, e que um ensino misto poder criar muitas “distracções”. Lembra bem.
Que saibam ouvir as suas preocupações. Que saibam ouvir as preocupações dos antigos alunos do Colégio Militar.
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