terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

In Memoriam Laura Ferreira




27 de Setembro de 1965 - 25 de Fevereiro de 2020


Laura Maria Garcês Ferreira nasceu em Bissau numa família profundamente ligada a Cabo Verde e à Guiné-Bissau. Na verdade, embora ambos os progenitores fossem filhos de portugueses, o pai, Tomás Ferreira, era filho de uma cabo-verdiana, e a mãe, Domitília Garcês, era filha de uma guineense.

Como o pai era funcionário da administração pública portuguesa na Guiné-Bissau, Laura Ferreira também viveu em Teixeira Pinto (actual Canchungo).
Depois do 25 de Abril a família foi viver para o Mindelo, em Cabo Verde, e em 1978 para Coimbra, onde Laura estudou no Liceu José Falcão. Mais tarde, a família fixou-se no Cacém, perto de Lisboa. Laura matriculou-se em Medicina na Universidade de Lisboa, mas no segundo ano passou para o curso de Fisioterapia cuja licenciatura concluiu.

No início da década de 2000 começou a trabalhar como fisioterapeuta no Centro de Educação para o Cidadão Deficiente (CECD) em Mira Sintra. Vários anos depois passou a desempenhar as funções de coordenadora no Centro de Medicina e de Reabilitação.

Teve duas filhas, Teresa, de 24 anos, nascida num primeiro casamento, e Júlia, de 12, nascida no casamento de 2004 com Pedro Passos Coelho.

Em Janeiro de 2015, o então primeiro ministro confirmou publicamente que Laura sofria de uma doença oncológica, depois de esta ter surgido sem cabelo numa viagem oficial a Cabo Verde.

Posteriormente, em Maio desse ano, foi publicada uma biografia autorizada de Pedro Passos Coelho onde é narrado o contexto em que a doença apareceu: "No Verão de 2014, Laura sofreu uma lesão de trabalho, que não passou como devia. Os meses foram passando e a mobilidade foi ficando limitada, cimentando-se a suspeita de que podia ser algo mais sério. Confirmou-se o pior cenário. Foi-lhe diagnosticado um osteossarcoma, um tumor ósseo agressivo que a forçou, e força ainda, a várias sessões de quimioterapia pré e pós-operatória".
A seguir acrescenta-se que, em Fevereiro de 2015, Laura foi submetida a uma cirurgia para extracção do tumor na tíbia e no fémur, tendo recebido uma prótese no joelho.

Nesta biografia há um parágrafo onde a própria Laura revela as suas preocupações: "Ter a consciência da morte é duro. Mas é uma coisa real. Há momentos em que tive paz de espírito e em que pensei: 'É assim mesmo'. Olho ao espelho e penso que este corpo vai deixar de existir. Tenho muito medo de morrer, mas depois há um lado que se levanta e diz: 'Não, tens o teu marido, tens as tuas filhas e a tua família'. Eu tenho que viver! Tenho tanta coisa para fazer".

A sua luta contra o osteossarcoma no joelho, diagnosticado em Novembro de 2014, durou mais de um ano, tendo terminado os tratamentos de quimioterapia no Outono de 2015.

No entanto, em Março de 2017, quando a família pensava que Laura já estava livre da doença, exames de rotina mostraram que tinham surgido metástases do cancro ósseo nos pulmões, obrigando-a a regressar aos tratamentos no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa.

Em Dezembro de 2019, o seu estado de saúde agravou-se e teve de ser internada no IPO de Lisboa, sempre contando com o apoio incondicional de Pedro Passos Coelho que passava os dias e até pernoitava no hospital de forma a acompanhar a esposa em permanência.

Ontem à noite, Laura entrou novamente na urgência do IPO, onde morreu esta madrugada. Viveu e morreu com dignidade.



Laura com os pais


Laura com o marido, as filhas Júlia e Teresa e outra criança, em 2011


O sorriso lindo de Laura


Laura com o marido em 2016


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Tolerância à morte provocada - III


Neste P24 do jornal Público, dois médicos debatem a eutanásia:

  • Bruno Maia, médico especialista em Neurologia e Medicina Intensiva e coordenador hospitalar de Doação no Centro Hospitalar de Lisboa Central, e
  • José Diogo Martins, vice-presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, assistente hospitalar graduado de Cardiologia Pediátrica, mestre em Educação Médica pela Universidade Católica Portuguesa e doutor em Medicina pela NOVA Medical School.




Quem é Miguel Ricou, o autor do estudo em que o médico Bruno Maia se apoia para afirmar que a maioria dos médicos portugueses apoiam a legalização da eutanásia? Eis o seu currículo:
Miguel Ricou nasceu no Porto no dia 03 de outubro de 1972. É Doutorado pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra na área de Psicologia Clínica. É Mestre em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Licenciado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde-Norte. Desde que se licenciou em 1997 que tem desenvolvido investigação na área da ética e da bioética, com especial ênfase na ética profissional, tendo dedicado grande parte do seu tempo ao estudo dos Princípios Éticos dos Psicólogos Portugueses. É membro da Associação Portuguesa de Bioética, da qual é vogal da Assembleia Geral desde 2002. Foi o primeiro Presidente do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Fez parte da Comissão responsável pela elaboração do Código Deontológico dos Psicólogos Portugueses. É o representante Português no Board of Ethics da EFPA (European Federation of Psychologists’ Associations).

Para além da sua atividade clínica, é Professor Auxiliar na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, integrando o Departamento de Ciências Sociais e da Saúde. É ainda docente no Doutorado em Bioética FMUP/CFM e no Mestrado em Bioética e no Mestrado em Cuidados Paliativos da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. É também responsável pela Unidade Curricular de “Psicopatologia” da Licenciatura em Psicologia da Universidade Portucalense Infante D. Henrique.

Vamos interpretá-lo:

Nome: Miguel Ricou
Data de nascimento: dia 03 de outubro de 1972

Licenciatura: Psicologia Clínica
Instituição de ensino: Instituto Superior de Ciências da Saúde-Norte
O Instituto Universitário de Ciências da Saúde (IUCS) é uma instituição de Ensino Superior Privado Português que ministra cursos superiores na área da Saúde e teve reconhecimento de interesse público no D.R. nº 76, 1ª Série de 20 de abril de 2015.

O Instituto Universitário de Ciências da Saúde resulta da alteração de interesse público do Instituto Superior de Ciências da Saúde-Norte homologado por despacho do Ministério da Educação publicado no D.R. nº 181, I Série (Decreto-Lei nº 250/89 de 8 de Agosto de 1989), tendo-lhe sido atribuída esta designação pela Portaria 906/93 de 20 de Setembro de 1993 (D.R. nº 221, I Série B).

O IUCS é tutelado pela CESPU - Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, crl.
Mestrado: Bioética
Instituição de ensino: Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Doutoramento: Psicologia Clínica
Instituição de ensino: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

Actividades profissionais:
  1. Psicólogo clínico
  2. Docência: professor auxiliar do Departamento de Ciências Sociais e da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) nos
    • Mestrado em Bioética da FMUP
    • Mestrado em Cuidados Paliativos da FMUP
    • Doutorado em Bioética da FMUP/CFM (Conselho Federal de Medicina), Brasília, Brasil
  3. Docência: professor da Universidade Portucalense na
    • Unidade Curricular de “Psicopatologia” da Licenciatura em Psicologia

Repare-se na diferença abissal entre as condições exigidas na candidatura ao IUCS e as exigidas na FMUP:

Psicologia
Instituto Universitário de Ciências da Saúde

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Provas de Ingresso
Uma das seguintes provas:
02 Biologia e Geologia
06 Filosofia
07 Física e Química
18 Português

Classificações Mínimas
Nota de candidatura: 95 pontos
Provas de ingresso: 95 pontos

Fórmula de Cálculo
Média do secundário: 65%
Provas de ingresso: 35%
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Medicina
Universidade do Porto

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Provas de Ingresso

02 Biologia e Geologia

07 Física e Química
16 Matemática

Classificações Mínimas
Nota de candidatura: 140 pontos
Provas de ingresso: 140 pontos

Fórmula de Cálculo
Média do secundário: 50%
Provas de ingresso: 50%
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Pergunto:
Miguel Ricou é um psicólogo? Sim.
É um médico? Não.

Portanto um psicólogo com 47 anos, fundador e coordenador da plataforma "Wish to Die", sem qualquer possibilidade de se candidatar ao curso de Medicina e sem qualquer formação em Medicina, graças a uma incursão na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para tirar um mestrado em Bioética, converte-se no professor, não só de Bioética, mas também de Cuidados Paliativos, dos futuros médicos que estão em formação nessa mesma Faculdade de Medicina.




Ora é num inquérito realizado sob coordenação deste sorridente psicólogo que Bruno Maia, 37 anos, candidato em 5º lugar nas listas do Bloco de Esquerda pelo Porto nas eleições legislativas de Outubro de 2019 (não eleito: escolher Distrito do Porto) e médico apoiante da legalização da cannabis e da eutanásia, se baseia para afirmar que a maioria dos médicos portugueses apoiam a legalização da eutanásia.

Corre-se o Facebook da plataforma "Europeia" (por que não, "Internacional"?) "Wish to Die" e vemos um grupo de jovens sorridentes psicólogos que, sob a coordenação de um candidato a médico frustrado, se preparam para estudar e debater a eutanásia, permitindo uma legislação em conformidade com o melhor interesse dos doentes, sublinha o jornal Observador, um interesse que eles vão saber definir, obviamente.


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Proclamam estes adeptos encapotados da legalização da eutanásia que há dois modos de analisar a questão: o arcaico, tradicional, fora de moda que se apoia em convicções religiosas e defende a inviolabilidade da vida e o outro, o moderno, o futuro, que centra a decisão no doente, tem compaixão, respeita a liberdade de escolha do doente e orienta essa escolha no sentido da defesa dos interesses do doente.

Profunda hipocrisia! O doente sabe que tem uma doença incurável, por isso é um ser humano em sofrimento psicológico e, muitas vezes, também em sofrimento físico a quem políticos incompetentes ou corruptos bloquearam todas as vias de sobrevivência — não só lhe impedem o acesso a uma rede de cuidados paliativos na fase terminal, mas também lhe adiam o mais elementar direito a consultas, cirurgias e tratamentos na fase inicial quando os vai pedir a um delapidado e caótico sistema nacional de saúde — deixando apenas livre uma única saída, a mais económica, a mais egoísta, a desumana, aquela que trata o doente como um assassino e o empurra subtilmente para a injecção letal.

Um comentário à notícia do Observador a merecer reflexão:

Amora Bruegas
17/12/2017
Ingenuidade ou cinismo?

O autor da iniciativa, embora aparente ter boas intenções (e deles está o inferno cheio!), avança com uma ideia do tipo "Solução Final" que visa eliminar um problema social e económico, na semelhança do que fizeram outros socialistas há algumas décadas. A ideia não sendo nova (e tão do agrado de socialistas), é sinistra e pretende beneficiar alguns pela matança de outros Seres humanos indefesos.
É bom que tenhamos os olhos e a mente bem abertos para não pactuar com a criação de mais campos de extermínio.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Tolerância à morte provocada - II


Já sabemos que o parlamento vai aprovar uma lei sobre a "despenalização da morte medicamente assistida", o eufemismo criado pela esquerda para ludibriar, em primeiro lugar os doentes e os idosos, mas também globalmente a sociedade portuguesa sobre a legalização da eutanásia.

Na verdade, em Portugal, a morte assistida não está tipificada como crime com esse nome, mas a sua prática é punida por três artigos do Código Penal:
  • homicídio privilegiado (artigo 133.º),
  • homicídio a pedido da vítima (artigo 134.º) e
  • incitamento ou ajuda ao suicídio (artigo 135.º).
Portanto basta eliminar meia dúzia de palavras do Código Penal para que os executores da eutanásia bem como os incitadores ou ajudantes do suicídio não precisem de prestar contas à Justiça portuguesa.


No entanto, essa lei será promulgada pelo presidente da República? Sabe-se que Marcelo Rebelo de Sousa não só não é apologista da eutanásia, como também já traçou a solução humana que preconiza, prestando cuidados em regime de voluntariado a doentes oncológicos na fase terminal.

Que fará então o presidente da República?
  • Pode querer convocar um referendo. Mas só o poderia fazer se chegasse a Belém uma proposta da assembleia da República ou do Conselho de Ministros. Algo que só democratas fariam, o que o criptocomunista Costa não é, nem a maioria socialista que domina o parlamento.
  • Pode exercer o direito de veto à lei (artigo 136.º da CRP). Mas a lei volta ao parlamento e será imediatamente confirmada.
  • Pode requerer a apreciação preventiva da constitucionalidade da lei ao Tribunal Constitucional (artigo 278.º da CRP). Este tribunal, porém, está há muitos anos nas mãos dos socialistas. Ah! Mas Marcelo é insigne especialista em Direito Administrativo.

Recordam-se de António Domingues, o gestor que tinha sido convidado por Mário Centeno para a presidência executiva da Caixa Geral de Depósitos, mas foi obrigado a pedir a demissão, concretizada em 31 de Dezembro de 2016, por não querer apresentar a declaração de rendimentos?
António Costa admitira que Centeno libertasse Domingues dessa obrigação mas Marcelo interveio com um argumento administrativista e o medíocre jurista Costa teve de recuar.

Ora a Constituição da República Portuguesa (CRP) contém um artigo sobre o Direito à vida (artigo 24.º) — A vida humana é inviolável.
Se Marcelo for capaz de esgrimir argumentos constitucionalistas a que os juízes do Tribunal Constitucional não consigam dar a volta, a lei da legalização da eutanásia cozinhada pelos deputados poderá ser declarada inconstitucional.


Resta pensarmos no que acontecerá ao parlamento após as eleições legislativas de 2023.

Rui Rio votou a favor de todos os projectos de "despenalização da morte medicamente assistida".
André Ventura votou contra todos os projectos.

Parece que Rui Rio não conhece a mentalidade actual da sociedade portuguesa muito imbuída de ganância. Se Marcelo falhar, vai haver inúmeros casos de doentes e idosos que não pediram a eutanásia mas que vão ser mortos graças a consultas médicas que nunca existiram e ao consentimento que nunca deram.
Continua a ser o mesmo ingénuo que o habilidoso Costa driblou na questão dos professores e, recentemente, na questão do IVA da electricidade. Acredito que só votou contra o orçamento do Estado porque estava em jogo a sua eleição para a presidência do PSD.
É um economista inteligente e culto que presidiu a Câmara Municipal do Porto durante 12 anos sem nunca bajular o poderoso presidente do Futebol Clube do Porto e sem que fosse possível detectar qualquer laivo de nepotismo ou corrupção, mas tem estes deslizes imperdoáveis. Se conseguir manter-se como presidente do PSD depois das eleições autárquicas de 2021, poderá captar o eleitorado de centro esquerda e tornar-se no líder socialista do parlamento.

André Ventura tem uma costela futebolística profundamente irritante mas que lhe pode trazer o voto do eleitorado que tem sobre os ombros uma bola de futebol. Se a esses votos juntarmos os dos eleitores genuinamente humanistas, por não haver mais nenhum político em quem possam confiar, André Ventura poderá converter-se no líder conservador desse mesmo parlamento.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Tolerância à morte provocada - I


Num país onde morrem doentes, com pulseira amarela, em salas de espera dos hospitais depois de meia dúzia de horas à espera de uma consulta de urgência;

Que não tem uma rede mínima de cuidados continuados e paliativos;

Em que os dois partidos com mais deputados na assembleia da República (PS e PSD têm 187 deputados em 230) não fizeram qualquer menção à eutanásia nos seus programas ou nas campanhas para as recentes eleições legislativas de Outubro de 2019;

Quando o parlamento inicia a legalização da eutanásia — basta eliminar meia dúzia de palavras no Código Penal, daí o eufemismo "despenalização da morte medicamente assistida" — sem inquirir a opinião dos eleitores em referendo,

pergunto:

Ao doente que está em sofrimento físico ou psicológico, perguntamos se deseja uma injecção letal?
Ao alentejano que vive sozinho num ermo e decide enforcar-se numa árvore, devemos oferecer uma corda?
À jovem citadina que se sentou no parapeito da varanda, virada para a rua, podemos dar um empurrão?

Hoje os senhores deputados portugueses já responderam afirmativamente à primeira pergunta. Os cinco projectos apresentados no parlamento foram todos aprovados com a seguinte votação:

O do PS recebeu 127 votos a favor, 86 votos contra e 10 abstenções.
O do BE recolheu 124 votos a favor, 85 votos contra e 14 abstenções.
O do PAN recebeu 121 votos a favor, 86 votos contra e 16 abstenções.
O do PEV recebeu 114 votos a favor, 86 votos contra e 23 abstenções.
O da IL recolheu 114 votos favoráveis, 85 contra e 24 abstenções.

Com o decorrer do tempo também haverão de responder afirmativamente às outras duas questões. Basta recordar os maus exemplos dos Países Baixos e da Bélgica, pioneiros na legalização da eutanásia, cujas leis têm evoluído no sentido de permitirem, entre outras disposições, a autorização de familiares ou a eutanásia de menores de idade.

Nas próximas ressonâncias magnéticas, o frio provocado pela injecção automática do contraste vai ser mais arrepiante para os doentes que se relembrarem desta aprovação.

O período terminal das doenças ontológicas dura, em média, 90 dias, o tratamento dos doentes custa cerca de 200 euros por dia em salários de médicos, enfermeiros, cozinheiros, lavandaria (os analgésicos têm um custo insignificante) e ocorrem cerca de 30.000 mortes de doentes oncológicos por ano.
Portanto os políticos socialistas acabam de ganhar muito acima de 500 milhões de euros por ano — que vão dissipar por incompetência e corrupção — e, subsequentemente, a sociedade Portuguesa vai prosseguir na rota da desumanização.

Não há aqui qualquer inovação. O projecto eutanásia foi iniciado por Adolf Hitler em Setembro de 1939 e terminou em Agosto de 1941, porém continuou encapotadamente até ao fim do regime do Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães), mais conhecido por Partido Nazi, em 1945.

O projecto começou quando Hitler instruiu o seu médico pessoal, Karl Brandt, para avaliar uma petição enviada por um casal pedindo o "assassinato por misericórdia" de seu filho cego e com deficiências físicas e de desenvolvimento. A criança chamava-se Gerhard Kretschmar e foi morta em Julho de 1939. Hitler instruiu Brandt para proceder da mesma maneira em todos os casos semelhantes. Os casos eram avaliados por um painel de médicos, sendo necessário que três dessem a sua aprovação antes que uma criança pudesse ser morta.
As autoridades enganavam os pais ou responsáveis, principalmente em áreas católicas onde os pais geralmente não cooperavam, dizendo-lhes que os filhos iam ser enviados para centros onde receberiam tratamento melhorado. As crianças eram aí mantidas para "avaliação" durante algumas semanas e depois mortas por injecção letal.

Posteriormente o projecto foi estendido a adultos mas usando o método de envenenamento por monóxido de carbono.
Estima-se em 275.000 o número de pessoas que foram mortas em hospitais psiquiátricos na Alemanha, na Áustria e em outros países europeus. Cerca da metade das pessoas mortas foram retiradas de asilos administrados por igrejas, geralmente com a aprovação das autoridades protestantes ou católicas dessas instituições. Entre as razões sugeridas para os assassinatos estão incluídas a eugenia, a higiene racial e a economia de dinheiro.

No Verão de 1941, surgiram protestos contra estes assassinatos que foram liderados pelo bispo de Münster, Clemens von Galen, cuja intervenção levou ao "movimento de protesto mais forte, mais explícito e generalizado contra qualquer política desde o início do Terceiro Reich".


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A história deste ex-médico é paradigmática, mas há sempre quem diga não:

Ricardo Oliveira
O facto de os médicos (que não deviam poder estar envolvidos) desenvolverem uma tolerância à morte provocada está a ser totalmente descurado. A primeira morte custa, a segunda custa menos, a terceira volta a custar pela contínua luta moral interna de cada pessoa. A quarta volta a custar menos, a quinta já não custa muito. A sexta foi um pouco indiferente e a sétima... a sétima não deixou qualquer sentimento. "Estranho", terá pensado o médico, “não senti nada”.
No dia a seguir, a oitava foi executada entre duas dentadas num croissant misto. "Isto não demora nada", terá pensado o médico.
No meio de este turbilhão de mortandade, onde encontrará o médico carrasco lugar e forças para motivar o doente a ficar, apesar da dor e sofrimento? O país das maravilhas existe na cabeça da esquerda... mesmo quando o primeiro ministro não se chama Alice.

fernando fernandes
Josef Mengele, o Anjo (como era apelidado, esqueçamos que era anjo da morte), também apoiava as pessoas.
Fugiu para o Brasil. Nunca foi julgado.
Este médico dedica-se a matar. Estranha forma de viver e se alimentar.
Os médicos deviam estar fora disto. Pagamos para se formarem, para nos ajudarem a viver.
Qualquer químico serve para cumprir estas leis que vão ser aprovadas.
Até mesmo um dos parlamentares/deputados o pode administrar.

Carlitos Sousa
Diferença entre Joseph Goebbels e Philip Nietschke?
Goebbels era menos dissimulado.

Com certeza que Philip Nietschke cobra para prestar os seus serviços mórbidos.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Crisântemos para Li Wenliang


Tinha 33 anos, era casado, com um filho de 5 anos, e estava à espera de outro. Trabalhava como médico oftalmologista no Hospital Central de Wuhan, na província de Hubei, China.

Em 30 de Dezembro de 2019, viu um relatório de um paciente com resultado positivo de alto nível de confiança para os testes de coronavírus SARS, um tipo de vírus agressivo.
À tarde, alertou o grupo privado do WeChat dos colegas da sua escola médica de que "havia 7 casos confirmados de SARS no mercado de Huanan", tendo compartilhado o relatório e o resultado da tomografia computadorizada do paciente. Passada uma hora, acrescentou: "Foi confirmado que são infecções por coronavírus, mas o vírus exacto está a ser subtipado".
Pediu aos colegas para prevenirem familiares e amigos. O alerta acabou por envolver um grupo de oito médicos e ganhou dimensão nas redes sociais. A sua identidade foi divulgada.

Imediatamente Li Wenliang foi admoestado pelo supervisor do hospital. Em 3 de Janeiro de 2020, as autoridades policiais de Wuhan interrogaram e censuraram o médico por "fazer comentários falsos na Internet", obrigaram-no a assinar uma carta de advertência prometendo não voltar a fazê-lo e avisaram-no que, se não cumprisse, seria processado. Na China, a divulgação de boatos é punida com pena de prisão de três anos.


李文亮的训诫书.png
Carta emitida por 武汉市公安局武昌分局中南路街派出所
Foto por 李文亮醫生 - 新冠肺炎“吹哨人”李文亮:真相最重要
(in zh-hans) 财新网. 财新传媒 (2020-02-07).
Recuperada em 2020-02-07. "李文亮的训诫书。第二个落款时间2019年应为2020年,李文亮称此系笔误。受访者提供", Domínio público, ver aqui.
A carta de advertência emitida pelo Departamento de Polícia de Wuhan ordenando-lhe que parasse de "espalhar boatos" sobre o SARS, assinada pelo médico e dois polícias. Em 31 de Janeiro, Li fez o upload para sua conta Sina Weibo que, na China, corresponde ao Twitter. A Wikipedia mostra a tradução em inglês que nos esclarece sobre a mentalidade da polícia chinesa.



Em 8 de Janeiro, teve de examinar um paciente que sofria de glaucoma agudo e desenvolveu febre no dia seguinte. Era um lojista do mercado de peixe e animais selvagens de Huanan que tinha uma alta carga de vírus. O médico começou com febre e tosse em 10 de Janeiro. No dia 12 foi internado nos cuidados intensivos, onde iniciou a quarentena, sendo realizados sucessivos testes para o coronavírus até que resultou positivo em 30 de Janeiro.

Em 31 de Janeiro, o médico publicou uma mensagem sobre a sua experiência com as autoridades que se tornou viral. Além de fazer o upload da carta de advertência, escreveu no Weibo: "Estava febril em 11 de Janeiro e fui hospitalizado no dia seguinte. Nessa altura, o governo ainda insistia que não havia transmissão humano para humano e disse que ninguém da equipe médica tinha sido infectado. Fiquei confuso.”
A China só tinha reconhecido a gravidade do surto epidémico em 20 de Janeiro e subsequentemente implementado o encerramento de Wuhan que tem 11 milhões de habitantes e é a capital da província de Hubei.
As pessoas começaram a questionar por que motivo todos os médicos que deram o primeiro alerta foram silenciados pelas autoridades.

No final da tarde de 6 de Fevereiro o médico teve uma paragem cardíaca. Vários jornais estatais chineses (Diário Popular, Global Times e Notícias de Pequim) noticiaram que os batimentos cardíacos de Li Wenliang tinham parado às 21:30.

"Lamentamos muito a perda de qualquer trabalhador da linha de frente comprometido em cuidar de doentes [...] devemos celebrar a sua vida e lamentar a morte com os seus colegas", disse (video 11:16-12:10) Michael Ryan, director do programa de emergências em saúde da Organização Mundial da Saúde (WHO), ainda no dia 6.


Nas duas horas posteriores ao anúncio da morte de Li Wenliang pelos jornais oficiais chineses, muitos posts relativos ao acontecimento foram eliminados na Internet.

Pelas 00:38 de 7 de Fevereiro, o Hospital Central Wuhan divulgou uma declaração na conta oficial no Weibo contradizendo os relatos da sua morte: "No processo de combate ao coronavírus, o oftalmologista do nosso hospital, Li Wenliang, infelizmente foi infectado. Actualmente está em estado crítico e estamos a fazer o possível para resgatá-lo."

A WHO reformulou o tweet:



Após o hospital divulgar que o médico estava a ser tratado com oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), as mensagens dos chineses revelavam esperança. "Esta noite não dormimos, mas Li tem de acordar", era a frase que dominava no Weibo, relata uma jornalista do South Morning Post, de Hong Kong:



No entanto, pelas 03:48, o hospital confirmava o falecimento: "O oftalmologista Li Wenliang do hospital, infelizmente infectado na luta contra a epidemia de pneumonia da nova infecção por coronavírus, faleceu depois de todos os nossos esforços pelas 2:58 de 7 de fevereiro de 2020. Lamentamos profundamente a sua morte.”.

Foi cremado antes que os pais o pudessem ver uma última vez.




A morte do médico desencadeou uma onda de sofrimento e revolta nas redes sociais, que rapidamente se converteu na exigência de liberdade de expressão, prontamente bloqueada pela censura.

Como as autoridades policiais acusaram o médico de ser um "whistleblower" o que, literalmente, significa "soprador de apito", então os cidadãos de Wuhan começaram espontaneamente a organizar actividades como "Eu apitei para Wuhan hoje à noite", em que todos mantiveram as luzes apagadas nas suas casas por cinco minutos e depois tocaram apitos e lançaram purpurinas pelas janelas por mais cinco minutos.




Mas a mais bela homenagem realizada pelos seus concidadãos foi a deposição de crisântemos e outras flores à porta do Hospital Central de Wuhan, onde Li Wenliang trabalhou e morreu:



O memorial à porta do Hospital Central de Wuhan, uma cidade onde a incompetência, a opacidade e o secretismo das autoridades deixaram alastrar o surto epidémico que obriga os 11 milhões de habitantes a andarem pelas ruas com máscara cirúrgica:



O surto epidémico do novo coronavírus já causou mais casos confirmados e mortes que o surto de Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS) ocorrido no Sul da China, entre Novembro de 2002 e Julho de 2003, que causou 8098 casos confirmados e 774 mortes em 17 países. Parece estar a transformar-se numa pandemia.


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"Aqueles que tornam impossível a revolução pacífica,
tornarão inevitável a revolução violenta
.
"

John F. Kennedy, Address on the First Anniversary of the Alliance for Progress,
proferido na Casa Branca, Washington D.C., 13 Março 1962.



JJG
Do you hear the people sing?
R.I.P Doctor Li Wenliang
  • 张佳乐
    永远记得李文亮医生 永远!

    (Zhang Jiale
    Lembre-se o Dr. Li Wenliang para sempre!)

  • 凌滄海
    相信這次疫情結束後
    中共政權會出問題
    讓更多中國人認識自己的國家(真夠諷刺)
    願李文亮醫生的血不要白

    (Ling Canghai
    Eu acredito que depois da epidemia acabar
    Problemas com o regime PCC
    Deixe mais chineses conhecerem o país deles (é irónico)
    Que o sangue do Dr. Li Wenliang não corra em vão)

Kon
When there was a million people on the streets of Hong Kong.
  • verri123
    I don't get it, what's happening in hong kong?

  • Casey Chiu
    verri123 long story short: Basically, under the One Country Two Systems, China is not allowed to f*ck with Hong Kong and must let HK be of high autonomy and democracy. But the government would like to pass an extradition bill, which means people in HK might be extradited to mainland China (which everyone knows, has less transparency and democracy). HK people thinks this violates the One Country Two Systems rule and thus 1.03 millions of citizens took the streets on 9/6. Yet, the government only suspends the bill, but not to revoke it permanently. Citizens especially students are of course furious and thus we protested. The police forces used weapons like tear gas, pepper sprays and bullets against the unarmed protestors (even if they are armed, they only have umbrellas...). This angers the people even more and so we took the streets again on 16/6. This of course is a very brief timeline of what happened. If you wanna know more, you can search related news on the Internet.

    (Casey Chiu
    verri123 resumo da longa história: Basicamente, sob Um País, Dois Sistemas, a China não tem permissão para brincar com Hong Kong e deve deixar HK com autonomia e democracia elevadas. Mas o governo gostaria de aprovar uma lei de extradição, o que significa que as pessoas em Hong Kong podem ser extraditadas para a China continental (que todos sabem, tem menos transparência e democracia). O povo de Hong Kong acha que isso viola a regra Um País, Dois Sistemas e, portanto, 1,03 milhões de cidadãos saíram às ruas em 9/6. No entanto, o governo apenas suspende a lei, mas não a revoga permanentemente. Os cidadãos, especialmente os estudantes, ficam furiosos e, portanto, protestámos. As forças policiais usavam armas como gás lacrimogéneo, spray de pimenta e balas contra os manifestantes desarmados (mesmo que estejam armados, só têm guarda-chuvas...). Isso irrita ainda mais o povo e, por isso, voltámos às ruas em 16/6. É claro que este é um cronograma muito breve do que aconteceu. Se quiser saber mais, pode pesquisar notícias relacionadas na Internet.)