Numa entrevista ao semanário Expresso publicada no sábado passado, José Sócrates recorda o período que culminou com o pedido de resgate em Abril de 2011, referindo-se ao então e ainda responsável pelas Finanças na Alemanha como "aquele estupor das Finanças, o Schäuble" e acusando-o de ter atentado contra os interesses de Portugal à revelia da própria chanceler Merkel:
"A Merkel está do outro lado com aquele estupor das Finanças, o Schäuble, que foi agora corrido. Todos os dias esse filho da mãe punha notícias contra nós. E ligávamos para o gabinete da Merkel e ela, com quem me dava bem, dizia que vinha do gabinete do ministro das Finanças. No jantar, ela pô-lo ao lado para o comprometer. Disse: 'Devo ser a única na Alemanha que acha que vocês não precisam de ajuda'."
Após um pedido de reacção da comunicação social portuguesa, a declaração da Embaixada da Alemanha em Lisboa surgiu clara e seca:
“A Alemanha sempre foi um parceiro fiável e tem apoiado Portugal na superação da crise financeira. Assegurar a estabilidade da moeda comum, bem como emergir desta crise de forma fortalecida, com maior crescimento e emprego, foram e continuam a formar o interesse comum de ambos países.
O Governo federal da Alemanha tem sempre apoiado o seu parceiro português nas necessárias e frequentemente difíceis medidas adoptadas. Para tal, a Alemanha deu desde o início — e de forma resoluta — o seu grande contributo aos fundos de resgate europeus e aos fundos estruturais da União Europeia.
Também no futuro Portugal poderá continuar a contar com a Alemanha.”
Recordemos alguns factos daquele período negro da nossa história recente:
O presidente executivo do BPI, Fernando Ulrich, já tinha avisado em Maio de 2010:
"O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI. Lamento mas o país tem que saber.
(...)
Tirem já o C do PEC, o c é para esquecer. O principal problema de Portugal não é apenas de tesouraria, mas sim o facto de não nos conseguirmos financiar.
Não se trata de um problema de preço, mas sim de acesso ao crédito. Um problema que não sabemos hoje quando se vai resolver. Por isso mesmo, sugiro ao Governo que não publique cenários macroeconómicos sem explicar como estes se vão financiar.
Portugal tem dificuldade em financiar-se e não sabemos quando vai deixar de ter, ou se vai deixar de ter, só saberemos se conseguirmos financiamento quando o BCE deixar de comprar."
Em Janeiro de 2011, a consagrada revista britânica The Economist noticiava sob o título This little piggy went to the market:
"PORTUGAL atingiu a meta de vender um total de 1,25 mil milhões de euros em obrigações com maturidade em 2014 e 2020, em 12 de Janeiro, e ambas as ofertas tiveram excesso de procura. Mas Portugal pagou um alto preço para torná-los tão atraentes, o rendimento dos títulos de Junho de 2020 foi um enorme 6,7%."
Nesse funesto dia 12 de Janeiro, Paul Krugman, prémio Nobel da Economia, comentou esta emissão de obrigações do tesouro (OT) no seu blogue sob o sugestivo título "Leilões de obrigações de Pirro".
Fundos internacionais, como o PIMCO, gabavam-se que lhes eram oferecidas OTs portuguesas, mas recusavam comprá-las.
Na viagem aos Emiratos Árabes Unidos, disfarçada de viagem à procura de investimento económico, Sócrates teve de pagar a estadia principesca mas não conseguiu vender nem uma única OT.
Técnicos de Bruxelas vieram a Portugal observar a contabilidade do Estado, em Fevereiro de 2011, e aperceberam-se que havia muita dívida escondida debaixo do tapete. Daí as alterações aos défices de anos anteriores que o governo de José Sócrates foi obrigado a fazer sob a capa de alteração de forma na contabilidade europeia para salvar a face.
No início de Abril de 2011, os banqueiros portugueses recusaram-se peremptoriamente e em bloco a comprar mais OT’s. Foi o fim.
Nem Merkel, nem nenhum chefe de governo dos países da União Europeia confiava em José Sócrates.
Foi o ministro das Finanças Teixeira dos Santos quem pôs fim à agonia ao declarar que Portugal tinha de pedir ajuda financeira ao FMI porque estava à beira da bancarrota. Sócrates vingou-se do ministro, que até então lhe havia feito todas as vontades prejudicando o País, dando ordem ao ministro da Economia Vieira da Silva, que se comportava como um mero comissário político, para o eliminar das listas de deputados para as eleições legislativas de Junho de 2011.
O PEC4 não ia adiantar nada. Apenas filões de ouro ou jazidas de petróleo teriam salvado o País do resgate. Sócrates só vai conseguir enganar os portugueses distraídos ou os analfabetos.
Sem este trapaceiro vingativo, os portugueses escusavam de ser lembrados pela Alemanha do “seu grande contributo aos fundos de resgate europeus e aos fundos estruturais”, ou seja, que grande parte do empréstimo a Portugal vem dos bolsos dos contribuintes alemães a uma taxa de juro média de 3,2%.
Sócrates arrecadou muito dinheiro através de familiares, mas ficou sem o poder. E indivíduos desta espécie precisam de poder, precisam de andar todos os dias na primeira página dos jornais.
Pôr um microfone à frente deste indivíduo só vai dar asneira. Mas parece que há jornais que andam a precisar de aumentar a tiragem, nem que para isso seja preciso descredibilizar o País.
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