sábado, 7 de setembro de 2013

O conflito sírio divide o G20



A cimeira de 2013 do G20 decorreu no salão de mármore do palácio Constantino (Strelna), S. Petersburgo.


Nas cimeiras do G20 discute-se habitualmente assuntos no domínio da economia e das finanças. Mas o uso de gás sarin no conflito militar desencadeado por vários grupos islâmicos sírios, apoiados por mercenários, contra o governo do presidente Bashar al-Assad, veio dar a primazia a este conflito na reunião do G20 em São Petersburgo, na Rússia.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tinha fixado o uso de amas químicas na Síria como a linha vermelha que, a ser ultrapassada, levaria os EUA a desencadear uma intervenção militar contra aquele país.
Obama tem dito possuir provas que, no dia 21 de Agosto, foram mortos mais de 1400 civis com gás sarin nos arredores de Damasco e atribui a responsabilidade do ataque ao governo de Assad.
Também a União Europeia tem informações da ocorrência de um ataque com armas químicas, contabilizando cerca de 300 mortos, mas tem dúvidas sobre a autoria do ataque. Em conjunto com a Rússia e a China, está a fazer pressão para que os EUA não lancem ataques militares contra a Síria e seja alcançada uma solução política para a guerra civil neste país.
O papa Francisco escreveu a Vladimir Putin, Presidente russo e anfitrião da cimeira do G20, para pedir aos líderes mundiais que desistam da “fútil perseguição de uma solução militar” para a guerra na Síria e espera que o horror de 21 de Agosto incentive os líderes reunidos na cimeira do G20 a “procurar, com coragem e determinação, uma solução pacífica através do diálogo”.

Qualquer decisão do G20 sobre a Síria não tem carácter vinculativo. Mas se Putin obtivesse um consenso dos líderes presentes na cimeira de São Petersburgo no sentido de evitar uma acção militar, isso seria um triunfo político significativo. Daí ter iniciado a cimeira com estas palavras:

September 5, 2013 (01:24)

"Alguns participantes pediram-me para lhes dar tempo e a possibilidade de discutir outras questões de política externa que não estavam anteriormente na agenda, mas que são muito importantes e urgentes, sobretudo a situação na Síria. Proponho que o façamos durante o jantar, por isso não vamos colocar tudo em monte e assim, na primeira parte do nosso encontro, podemos discutir os problemas que inicialmente nos reuniram aqui, os problemas que são fundamentais para os países do G20."

Portanto o jantar de quinta-feira, servido na sala do trono do palácio de Verão do czar Pedro, o Grande, teve com prato principal a guerra na Síria e, a acreditar no jornal russo Izvestia, foi bastante movimentado e prolongou-se pela noite dentro: o Governo mudou a disposição dos lugares à mesa várias vezes, primeiro, Putin estava separado de Barack Obama por um único líder; depois, chegaram a ter cinco lugares entre os dois; finalmente, os líderes russo e norte-americano sentaram-se à distância de apenas dois lugares.

Os líderes do G-20 durante o jantar no palácio Peterhof.

O palácio Peterhof é a Versailles russa.


Mas Obama manteve-se firme na defesa dos interesses americanos e no final da cimeira anunciou que mantém os planos de guerra:

September 6, 2013 (1:42)

Fui eleito para acabar com as guerras, não para iniciá-las. Tenho passado os últimos quatro anos e meio, a fazer tudo o que posso para reduzir a nossa dependência do poder militar, mas o que também sei é que há momentos em que temos que fazer escolhas difíceis, se formos defender as coisas que nos preocupam e acredito que este é um desses momentos."





A fotografia de família da cimeira de 2013 do G20 no palácio Constantino.


E à margem da reunião do G20, Obama conseguiu que nove líderes de países do G20 — Arábia Saudita, Austrália, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido, República da Coreia e Turquia — assinassem, em conjunto com os Estados Unidos, uma declaração em que condenam “de forma veemente o horrível ataque com armas químicas nos subúrbios de Damasco em 21 de Agosto” e assumem como provada a responsabilidade do regime de Assad nos ataques químicos aos arredores de Damasco.
O representante da Espanha na cimeira do G20 também assinou.

Os líderes da África do Sul, Alemanha, Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Rússia, bem como a União Europeia não assinaram.
Portugal já anunciou anteriormente que defende uma posição conjunta sob os auspícios das Nações Unidas, não tendo assinado este documento.

As estimativas apontam para que as reservas mundiais de petróleo se encontrem esgotadas dentro de 50 anos. Ora mais de 50% das reservas mundiais de petróleo bruto pertencem a cinco países do Médio Oriente — Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Iraque, Kuwait, Irão —, CIA dixit, portanto os interesses dos Estados Unidos vão obrigar à desestabilização dos países cujos governos não consigam controlar para poderem enraizar-se na região.


(clicar para ampliar)


Actualização em 2013-09-10:
Segundo um comunicado da Casa Branca, são 33 os países que aceitaram assinar a declaração contra a Síria. Portugal também assinou e, como pequeno país que é, não constitui surpresa. A grande surpresa é a Alemanha, um país do G20 que, ao alinhar com a posição bélica de Obama e dos EUA, torna-a maioritária dentro do G20.
Claro que a proposta da Rússia de entregar a supervisão das armas químicas detidas pelo regime de Damasco a inspectores da ONU para posterior destruição, ontem feita após um deslize de John Kerry numa conferência de imprensa, e hoje aceite pela Síria, pode inviabilizar a intervenção militar planeada pelos EUA.


****
*

O G20 é o Grupo dos Vinte ministros das Finanças e governadores dos Bancos Centrais das maiores economias industrializadas — 19 países e a União Europeia — e foi criado em 1999 para discutir problemas da economia global.
Os chefes de governo, ou os chefes de Estado, passaram a participar nas cimeiras desde a crise financeira de 2008, sendo a União Europeia representada pelo Presidente do Conselho Europeu e pelo Banco Central Europeu.
As economias do G20 representam mais de 80% do PIB mundial, 80% do comércio mundial (incluindo o comércio dentro da UE) e dois terços da população mundial.



Europa: Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Rússia, União Europeia
América: Argentina, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, México
África: África do Sul
Ásia e Oceânia: Arábia Saudita, Austrália, China, Índia, Indonésia, Japão, República da Coreia, Turquia


Sem comentários:

Enviar um comentário