A Europa está a acompanhar atentamente a primeira eleição nacional na Alemanha desde a eclosão da crise da dívida da zona euro em 2009.
As últimas sondagens antes da votação davam 39% dos votos ao bloco que apoia Merkel — a União Democrata-Cristã (CDU) e a União Social-Cristã da Baviera (CSU) — cerca de 13 pontos à frente do Partido Social-democrata da Alemanha (SPD).
Portanto já se sabia que os eleitores alemães iam conceder um terceiro mandato de quatro anos a Merkel. Mas a chanceler poderia ser obrigada a fazer uma coligação com o SPD, de centro-esquerda, após uma onda de apoio a um novo partido anti-euro, e os seus parceiros de coligação, os liberais do FDP, ficarem aquém do limite de 5% necessário para entrar no parlamento.
Há quem espere que Merkel assuma uma posição mais suave em relação aos estados do euro com dificuldades financeiras, como a Grécia, se tiver de entrar numa grande coligação com os sociais-democratas, mas é pouco provável porque o SPD, cuja campanha estagnou depois do dedo em riste do principal candidato Peer Steinbrück, também defende a necessidade de consolidação orçamental e de reformas estruturais nos países da Zona Euro.
Sept. 22, 13:18
A chanceler alemã, Angela Merkel, votou na eleição federal, neste domingo, 22 de Setembro. Percorreu a curta distância entre a residência, no centro de Berlim, e o local de votação na Universidade Humboldt, acompanhada pelo marido Joachim Sauer, professor de Química Quântica dessa universidade.
O que não se esperava é que Angela Merkel obtivesse uma vitória esmagadora na eleição geral da Alemanha, com 42%, a pontuação mais alta do seu partido desde 1990, ano da reunificação alemã, demonstrando um apoio inquestionável à sua firme liderança durante a crise da zona do euro.
O resultado deixou a chanceler perto de uma maioria absoluta no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, uma proeza alcançada apenas uma vez, em 1957, por Konrad Adenauer, o pai da República Federal da Alemanha. E recebeu um aplauso estrondoso dos apoiantes presentes na sala que ficaram à beira do delírio.
Segundo a sondagem à boca das urnas, o FDP terá 4,7%, ficando fora do parlamento e não podendo participar numa coligação de Governo.
Os sociais-democratas terão obtido 26%, o partido de esquerda radical Die Linke 8,5%, os Verdes 8% — segundo aplauso da noite, porque tornava impossível a coligação SPD-Verdes — e o partido antieuro Alternativa para a Alemanha (AfD) apenas 4,9%.
Peer Steinbrück (SPD) e Angela Merkel (CDU) no momento em que votavam
O aplauso estrondoso dos apoiantes presentes na sala que ficaram à beira do delírio
O jornal The Guardian está a divulgar os resultados em directo:
Sunday 22 September 2013 23.18 BST
A coluna 'Sons' representa os outros partidos. Pode ver-se a percentagem de votos, o número de lugares, os ganhos/perdas em relação a 2009 e as coligações possíveis.
Angela Dorothea Merkel nasceu em 1954 em Hamburgo, na Alemanha Ocidental, mas cresceu desde os três anos numa cidade rural da Alemanha de Leste (sob o regime comunista), onde o pai, um pastor protestante, recebeu um pastorado. Estudou Física na Universidade de Leipzig, de 1973 a 1978, e doutorou-se em Química Quântica na Academia das Ciências em Berlim-Adlershof, onde estudou, trabalhou como investigadora e publicou vários trabalhos científicos, entre 1978 e 1990.
Entrou para a política a partir da queda do Muro de Berlim (Novembro de 1989) juntando-se ao recém-criado partido Despertar Democrático e, após a primeira (e única) eleição democrática no Estado da Alemanha de Leste, tornou-se porta-voz adjunta do governo de pré-reunificação liderado por Lothar de Maizière.
O partido acabou por fundir-se com a ocidental CDU e, na primeira eleição federal pós-reunificação, em Dezembro de 1990, Merkel foi eleita para o Bundestag. O chanceler Helmut Kohl tornou-a ministra no início de 1991.
Depois de Kohl ser derrotado na eleição federal de Setembro de 1998 por Gerhard Schröder do SPD, Merkel foi nomeada secretária-geral da CDU. Estalou, então, um escândalo de financiamento da CDU que envolveu o próprio Kohl, quando se recusou a revelar o doador de 2 milhões de marcos. Merkel criticou Kohl e defendeu um novo começo para o partido sem ele. Foi eleita, tornando-se a primeira mulher presidente do seu partido, em Abril de 2000.
Apesar da popularidade de Merkel entre os alemães, a CDU preferiu escolher um advogado católico para concorrer à eleição federal de 2002, que perdeu para o SPD. Depois do chanceler Gerhard Schröder ter perdido uma moção de confiança no parlamento, Merkel foi escolhida para concorrer contra Schröder na eleição federal antecipada de Setembro de 2005, que ganhou à tangente, tornando-se chanceler de um governo de coligação entre a CDU e o SPD.
Hoje tornou-se no terceiro chanceler do pós-guerra a vencer três eleições, depois de Konrad Adenauer e do seu mentor Helmut Kohl.
Agora vai ter de negociar uma coligação num parlamento dominado por partidos de esquerda.
As negociações com o SPD podem durar meses e Merkel pode ter que ceder pastas importantes, como sucedeu em 2005-2009 com o Ministério das Finanças entregue a Peer Steinbrück, e aceitar políticas do SPD, como o salário mínimo e impostos mais elevados para os escalões de rendimentos de topo.
Se os sociais-democratas se recusarem a fazer uma nova coligação, Merkel poderá procurar aliar-se aos Verdes, embora seja uma aliança ainda mais difícil de concretizar.
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