segunda-feira, 25 de junho de 2012

Não há margem para mais austeridade


A moção de censura ao Governo apresentada pelo PCP foi hoje reprovada pela Assembleia da República com os votos contra do PSD e do CSD, a abstenção do PS e os votos a favor do PCP, BE e Verdes.

Foram 124 deputados que votaram contra a moção de censura — 105 do PSD e 19 do CDS. Os 68 deputados do PS que estiveram hoje presentes optaram pela abstenção, seguindo a orientação da direcção do grupo parlamentar.
O PCP, Bloco de Esquerda e Verdes votaram a favor da moção de censura, num total de 23 deputados — 13 comunistas, 2 ecologistas e 8 bloquistas.



O debate da moção de censura no parlamento, levou o primeiro-ministro a afirmar:
"Os protestos do PCP não trazem novidades. No fundo, correspondem à tentativa de afirmar um projecto político radical não sintonizado com a realidade mais elementar das coisas e que, além disso, nunca foi vindicado nas urnas pelo povo soberano.
Estes são factos que é conveniente não esquecer numa sociedade democrática como a nossa. Trata-se, portanto, mais do que uma moção de censura ao Governo, de uma moção de censura ao mundo, de uma moção de censura à realidade
".

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que antes havia feito o discurso de abertura deste debate, reagiu com protestos a estas palavras de Passos Coelho, levando o primeiro-ministro a dirigir-se à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves:
"A senhora presidente da Assembleia talvez queira conceder um pouco mais de tempo ao senhor deputado Jerónimo de Sousa para que ele possa prolongar a sua intervenção de moção de censura ao Governo. Cederei com gosto a minha posição aqui para que o senhor deputado possa prolongar a sua intervenção".

Depois de Assunção Esteves lhe pedir que fizesse o favor de prosseguir, o primeiro-ministro reiterou que o PCP apresentou "uma moção de censura ao mundo, uma moção de censura à realidade", acusando os comunistas de se limitarem a protestar "contra os sintomas da crise sem querer atacar a sua raiz".


Pelo PS, Silva Pereira limitou-se a um ajuste de contas com o PCP por causa de terem votado contra o PEC IV, deixando sem dinheiro o segundo governo Sócrates o que provocou a sua demissão:
"Há pouco mais de um ano, o PCP, este mesmo Partido Comunista, optou por aliar-se à direita para derrubar um governo do PS. Aceitou prestar esse serviço no dia e na hora que a direita escolheu. Colaborou na abertura de uma crise política, no momento mais conveniente para os interesses da direita e mais inconveniente para os interesses de Portugal."
Conseguiu desencadear a hilaridade nas bancadas dos outros partidos quando um deputado do PSD ironizou "deve ter sido uma encomenda feita nalgum daqueles cafés famosos de Paris", a que se seguiu uma forte pateada da bancada socialista numa prova de 'boa' educação.


Coube a Paulo Portas encerrar o debate, o que fez pondo questões ao PCP:
"Há uma pergunta que se deve fazer: como ficar no euro e ao mesmo tempo não cumprir as regras do euro?
(...)
Estando condenada numericamente
[a moção de censura], coloca o esforço de mostrar qual a alternativa. Mas a nenhum título o PCP mostrou ter hoje grande vontade em demonstrar que há uma alternativa. Qual é a alternativa do PCP? É rasgar o memorando, ou nas palavras do senhor deputado, com uma evocação de memória que não deixa de ser curiosa, meter o memorando na gaveta?
Onde ia o PCP buscar dinheiro para pagar salários e pensões daqui a algumas semanas?
".

Relativamente à renegociação da dívida, defendida pelo PCP, Portas recordou o exemplo grego:
"Temos de nos entender quanto a esta palavra. Há poucos meses houve um país do euro que reestruturou a dívida, a Grécia". Na altura o Partido Comunista fez "um silêncio de sepulcro", por isso questionou: "A vida dos gregos está melhor por terem reestruturado a dívida?"

E concluiu que "não há mesmo alternativa à substância da política a que o Estado português está obrigado neste momento".



Depois Passos Coelho foi reiteradamente fustigado com perguntas das bancadas comunista e bloquista sobre novas medidas de austeridade que, para já, não vê necessidade de aplicar. Mas não recusa vir a aplicá-las no futuro, se for preciso.



No entanto, João Salgueiro avisa que não há margem para mais austeridade a não ser que o Governo queira pôr os portugueses a passar fome. Para o ex-ministro das Finanças falta uma estratégia clara ao Governo para atrair investimento.


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