segunda-feira, 18 de junho de 2012

Europeus não precisam de lições de democracia ou economia


Na conferência de imprensa conjunta dada por Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, e José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, antes da Cimeira do G20 em Los Cabos, no México, em 18 de Junho, um jornalista canadiano do Sun Media pôs uma questão que mereceu de Durão Barroso uma resposta memorável:


David Akin: Como sabem, o primeiro-ministro [canadiano] Stephen Harper declarou que a Europa não deve procurar dinheiro fora da Europa. Ele acredita que a Europa tem bastante poder de fogo financeiro — a zona euro é uma área de enorme riqueza — e que os fundos do FMI teriam melhor utilidade nos países em desenvolvimento, que não têm os recursos que a Europa tem. Penso que o presidente Obama concorda. Agora os senhores estão na América do Norte. Expliquem, por favor, porquê os norte-americanos devem arriscar os seus bens pela Europa que muitos norte-americanos acreditam ser suficientemente rica para resolver os próprios problemas.
Sr. Rompuy, o senhor fala sobre a credibilidade do G20 e faz observações. Posso afirmar que muitos norte-americanos dizem que não há muita credibilidade entre os líderes europeus que andam a corrigir isso [a crise do euro] há quatro anos. Agora têm mais planos e estão à procura de mais dinheiro. Por favor, informem-nos sobre a vossa credibilidade e porquê os norte-americanos devem arriscar os seus activos para vos ajudar.

Durão Barroso: O FMI é uma instituição financeira internacional e deve trabalhar para o bem comum. Se há um problema que é reconhecido como importante para o bem comum, como a estabilidade financeira, incluindo nalguns países europeus, não vejo nenhuma razão por que esta instituição não devia contribuir. Deixe-me dizer-lhe que os Estados membros europeus são — de longe — os maiores contribuintes para o FMI. Mesmo os estados membros da zona euro são os maiores contribuintes, maiores do que os Estados Unidos e, certamente, muito, muito, muito maiores que o Canadá. Assim, a maior contribuição para o FMI durante todos estes anos tem sido dos estados membros da União Europeia. E é muito interessante notar que mesmo agora, em tempos de crise, quando decidimos aumentar o financiamento para o FMI, mais uma vez, são os países da União Europeia que têm dado a maior parte, a maior fatia. E estamos a tempo de fazê-lo. Outros, infelizmente, não estão.

Então, vamos colocar as coisas na perspectiva correcta. A União Europeia é a maior economia do mundo, sim, nós sabemos disso. Os 27 estados membros, em conjunto, são a maior economia e o maior parceiro comercial. Já que vem ao caso, estamos a tentar concluir um acordo importante sobre o comércio com o Canadá. Porquê? Porque todas as outras partes do mundo olham para a Europa como uma possível fonte de crescimento para eles. E, de facto, eles também têm interesse. Quanto mais cedo a situação for estabilizada na Europa, melhor para eles. É por isso que a minha posição, e a posição da União Europeia, tem sido a de dizer, vamos trabalhar cooperativamente. Vamos trabalhar juntos. Esta crise não teve a sua origem na Europa. Uma vez que mencionou a América do Norte, esta crise foi originada na América do Norte. E muitos dos nossos sectores financeiros foram contaminados por práticas nada ortodoxas de alguns sectores dos mercados financeiros, mas não estamos a culpar os nossos parceiros. O que estamos é a dizer, vamos trabalhar em conjunto quando temos um problema global como este.

É por isso que estou à espera que os líderes do G20 falem hoje muito claramente a favor da abordagem que a União Europeia está a seguir, entendendo uma coisa que é muito importante, é que na Europa somos democracias abertas. Nem todos os membros do G20 são democracias. Mas nós somos democracias, tomamos decisões democraticamente. Por vezes isso significa levar mais tempo, porque somos uma união de 27 democracias e temos de encontrar o consenso necessário. Mas, francamente, não viemos aqui para receber lições em termos de democracia ou como gerir uma economia, porque a União Europeia tem um modelo de que podemos estar muito orgulhosos. Não somos complacentes com as dificuldades. Desejo que todos os nossos parceiros sejam tão abertos sobre as próprias dificuldades como nós somos. Estamos extremamente abertos e procuramos envolver os nossos parceiros, mas certamente não viemos aqui para receber lições de ninguém!


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