domingo, 5 de julho de 2015

O resultado do referendo grego

05 Jul, 2015, 20:58

Três sondagens realizadas pela GPO, Metron Analysis e MRB já mostravam que o 'Não' ia à frente por três pontos. Uma sondagem da Marc estimava que 49,5 a 54,5 por cento dos gregos tinham votado ‘não’.

Mas a vantagem do 'não' é muito mais significativa e observa-se em todos os distritos eleitorais. Os resultados do referendo no sítio da Internet do Ministério do Interior grego:

██ Não 61,31 %
██ Sim 38,69 %




Reuters/Yves Herman

Com a vantagem do ‘não’, o futuro da Grécia está descrito numa entrevista do presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, um político pertencente ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), e será fora da Zona Euro.
"A Grécia continua no euro após este referendo? Certamente, mas se disserem ‘não’, vão ter que introduzir outra moeda depois do referendo porque o euro já não estará disponível como forma de pagamento", afirmou Schulz em entrevista à rádio alemã Deutschlandfunk.
"Como vão conseguir pagar salários? Como vão pagar pensões? Assim que introduzirem uma nova moeda vão sair da Zona Euro. Esses são os elementos que me dão alguma esperança de que as pessoas não vão votar ‘não’ hoje".

No sábado, o presidente do Parlamento Europeu tinha avançado que estava a ser avaliada a possibilidade de serem concedidos créditos de emergência à Grécia para evitar uma crise humanitária.
"Vamos ver-nos obrigados a conceder créditos de emergência à Grécia como medida de transição, para que os serviços públicos possam continuar a funcionar e as pessoas necessitadas recebam dinheiro. Para isso haveria dinheiro a curto prazo em Bruxelas", disse Schulz, numa entrevista ao jornal Welt am Sonntag.

Mas hoje os gregos festejam, indiferentes a estes alertas:


REUTERS/Christian Hartmann



AFP/Aris Messinis


*


Os gregos queriam permanecer na Zona Euro, mas votaram para regressar ao dracma. Se não houver um acordo entre a Grécia e os credores sobre um terceiro resgate, o país vai falhar o pagamento de 3,5 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu, no dia 20 de Julho, e este banco terá de encerrar a assistência de liquidez de emergência (ELA). Os bancos gregos ficarão insolventes e, em consequência, o governo grego terá de criar moeda.

O caminho de transição do euro para a nova moeda grega está apinhado de dificuldades, como se explica neste artigo que fala da experiência da Alemanha, quando estendeu o marco ao leste alemão, do divórcio checo e eslovaco de 1993 e da criação de uma moeda na Croácia, face à implosão da Jugoslávia.


Notas e moedas do antigo dracma grego
Bloomberg/Kostas Tsironis

No entanto, ao obrigar os gregos a viverem com aquilo que produzem, a saída da Zona Euro vai desencadear as profundas reformas de que a Grécia necessita e que passam pela reestruturação da administração pública grega, bem como da economia e das finanças do País.

Mas nada disto será feito pelo governo liderado por Alexis Tsipras, um demagogo sem estatura política que, em 5 meses, ainda não tomou uma única medida para revitalizar a economia ou para combater a corrupção.

Os tempos mais próximos serão de grande instabilidade. Só depois da maioria dos gregos entender que o dinheiro externo acabou e que foram enganados por extremistas irresponsáveis que prometeram conseguir um acordo com perdão de dívida, se o 'não' vencesse, pode haver espaço para surgir um governo grego com conhecimento e capacidade para implementar as reformas de que a Grécia carece.

O problema grego é que políticos corruptos do PASOK (centro-esquerda) e da Nova Democracia (centro-direita) criaram na população grega, desde 1981, data da adesão do país à então comunidade económica europeia (CEE), uma dependência de dinheiro externo.
Na primeira década, dissiparam as verbas para o desenvolvimento económico vindas da CEE. Depois falsificaram a contabilidade para entrarem na Zona Euro e passarem a receber fundos estruturais que também não usaram para criar riqueza, foram distribuídos.
E como as clientelas, criadas de alto a baixo na sociedade grega, votavam sempre naqueles que prometiam mais, drogaram-se com empréstimos.

A dívida pública cresceu desmesuradamente. Um governo do partido socialista grego liderado por George Papandreou descobriu que o país estava fora dos mercados financeiros e começou a aceitar taxas de juros agiotas até que teve de pedir ajuda financeira ao FMI/CE/BCE, em 2010.

Começava o longo calvário da austeridade que se vai prolongar por muitas décadas. Hoje os gregos escolheram trilhar esse caminho da forma mais dolorosa — sozinhos e pela mão de aventureiros.

O alargamento do leque salarial, colossal, injusto e mundial, que adveio da implosão dos regimes socialistas dos países da Europa de Leste, com favorecimento dos gestores empresariais que se aproveitaram do triunfo das economias de mercado, é um problema que temos de exigir que os líderes europeus também resolvam. Mas não tem nada a ver com a questão grega — aqui é um país que se habituou, e quer continuar, a viver à custa dos outros 18 países da Zona Euro.


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