terça-feira, 14 de julho de 2015

Entrevista de Passos Coelho à SIC


Em entrevista à SIC, conduzida pela jornalista Clara de Sousa, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho salientou que é preciso uma maioria estável e inequívoca na próxima legislatura, mas não quer uma vitória nas eleições legislativas "custe o que custar".

22:36 14.07.2015


Sobre a Grécia:
Passos Coelho voltou a dizer que não defendeu, nem defende a saída da Grécia do euro. Acrescentou que até foi uma sua sugestão que conseguiu desbloquear o impasse sobre o fundo de privatizações e permitiu chegar a um acordo de princípios na Cimeira do Euro de 12 de Julho.
Quanto à ligação entre o Syriza e o Partido Socialista diz que não cola nenhum rótulo, mas constata que este partido não tem tido uma posição linear na análise ao comportamento do Syriza.

Sobre a política económica:
Já sobre o programa eleitoral de António Costa, diz que, em matéria de política económica, não é realista porque propõe alicerçar o crescimento económico no consumo interno, exactamente o que conduziu Portugal à situação de dependência externa e a um desequilíbrio macroeconómico que nos custou muito a corrigir.

Dizer aos trabalhadores que vão descontar menos para a Segurança Social, por contrapartida de pensões mais baixas no futuro, para terem mais dinheiro para gastar hoje, porque o que é importante para criar emprego e fazer a economia crescer é pôr as pessoas a gastar mais dinheiro, é uma estratégia que eu considero arriscada.
E, sobretudo, já provou no passado que conduz o País a desequilíbrio externo e à não criação de condições para um crescimento sustentado. Aconteceu em 2009, embora com fins eleitoralistas, aumentaram-se os salários dos funcionários públicos, baixaram-se os impostos, portanto deu-se mais dinheiro às pessoas para gastar. Foi Sol de pouca dura. A seguir teve de fazer-se tudo ao contrário: cortar tudo — contrair a economia, no fundo — porque se tinha sido imprudente.


Pelo contrário, a coligação pretende uma recuperação económica liderada pelas exportações e pelo aumento do investimento.

Sobre a política financeira:
Passos Coelho pretende que a sobretaxa no IRS seja removida gradualmente nos próximos quatro anos, se as condições económicas e financeiras o permitirem, até mais depressa.
Outro objectivo é remover totalmente os cortes de salários na administração pública e reduzir a carga fiscal dos portugueses.

Sobre a política social:
Dado que os sistemas previdenciais públicos são deficitários, voltou a desafiar o líder do Partido Socialista para uma reforma da Segurança Social.

Sobre a percepção de que mentiu nas legislativas de 2011:
Passos Coelho recorda que, no memorando assinado pelo anterior governo, previa-se, em 2010, um défice de 7 ou 8% e fixava-se para 2011 um défice de 5,9%.
Na verdade, encontrou um défice de 10%. Portanto "pedia-se a Portugal que passasse de um défice, não de 7 ou 8%, mas de 10%, para um défice de 5,9%". Passos Coelho conclui: “Tivemos de fazer uma correcção do défice de 4 pontos percentuais do PIB. Sabe quanto a Irlanda tinha de alcançar no mesmo ano? 0,1%.”
Para evitar que Portugal caísse numa situação como aquela em que se encontra hoje a Grécia, “tomámos a decisão de transformar um programa que não era cumprível, num programa que fechasse e de que nos pudéssemos ver livres”.

Sobre as presidenciais de 2016:
O primeiro-ministro não fala sobre as eleições presidenciais de Janeiro de 2016 antes de ocorrerem as legislativas do próximo mês de Outubro.


*


Passos Coelho contornou a questão difícil da reforma das pensões — António Costa já revelou que vai diminuir as pensões, embora adoçando a medida com uma diminuição das contribuições durante um par de anos, e afundou-se nas sondagens — desafiando o líder dos socialistas para uma decisão conjunta.

E disse a verdade sobre o memorando do resgate — o governo de Sócrates aldrabou os défices através das desorçamentações, por isso Bruxelas teve de mudar as regras contabilísticas — mas não contou que conhecia as aldrabices socialistas.

Enfim, uma entrevista lúcida e a apontar para a maioria absoluta.


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