terça-feira, 2 de julho de 2013

Ambição desmedida - I


"Todos sabemos que Portugal ainda está sob protectorado, ou seja, a nossa dívida e o nosso défice entregaram uma parcela da nossa soberania. Disse-o na a campanha eleitoral e não abandonei em nenhum momento esse critério. O meu principal objectivo é contribuir para que essa circunstância vexatória — o protectorado — seja apenas uma circunstância transitória.
Estou convencido que é do interesse de Portugal ter um só resgate, um só calendário para a saída da troika e um só pacote de ajuda financeira. Não vejo vantagem em voltarmos a estender a mão como pedintes, nem tão pouco em prolongar a permanência desses senhores entre nós.
"
Paulo Portas, declaração de 5 de Maio de 2013



Maria Luís Albuquerque não tem experiência profissional interna e muito menos traquejo a nível europeu para ser ministra das Finanças de um País que, por ter duplicado a dívida pública em meia dúzia de anos, se viu obrigado a pedir assistência financeira externa. Não serve, ponto final.

Esclarecido isto, passemos ao pedido de demissão do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Paulo Portas sabe muitíssimo bem que uma crise política quando o País estava a menos de um ano de regressar aos mercados e de recuperar a sua soberania é deitar para o caixote do lixo todos os sacrifícios que os portugueses têm feito ao longo dos dois últimos anos.

Paulo Portas sabe muitíssimo bem que está a condenar o País a ter de pedir empréstimos com taxas de juros mais elevadas o que nos vai conduzir a um segundo resgate com as penosas medidas de austeridade que sempre estão associadas.

Mas ter sido convidado para a 61ª conferência Bilderberg, que decorreu entre 6 e 9 de Junho passado no Hertfordshire, Inglaterra, em conjunto com António José Seguro — o que perspectiva o apoio político e financeiro internacional a um governo de coligação entre o PS e o CDS —, toldou-lhe a visão.

Desde há alguns meses que Portas tem assumido um comportamento peculiar — um pé no governo, o outro pé fora — alimentando as ilusões de quem sonha com um fim rápido da austeridade, o que lhe tem granjeado simpatia popular e permitido ao CDS manter uma posição confortável nas sondagens. Ao contrário do partido de Passos Coelho sobre o qual tem caído o ónus do ferrão da austeridade.

Agora, num golpe de teatro decidiu encabeçar o natural descontentamento popular com a austeridade, numa tentativa aventureira de conquistar o voto do centro-direita. Há que conduzir o CDS ao segundo lugar e tornar-se o chefe da direita portuguesa. Que a situação económico-financeira do País se deteriore ainda mais, no momento em que vai decorrer a oitava avaliação do cumprimento do plano de assistência externa, é algo que não o preocupa. A sua carreira política está primeiro.


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