O presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI), José Maria Ricciardi, já admitiu ter sido o interlocutor de Passos Coelho na conversa escutada no processo Monte Branco.
Ricciardi terá telefonado a "vários membros do Governo" para manifestar a sua discordância pelo facto de o Estado ter decidido entregar à norte-americana Perella Weinberg, por ajuste directo, a consultoria financeira das privatizações da EDP e da REN.
Aliás o banqueiro já tinha admitido ao PÚBLICO que havia telefonado ao ministro Miguel Relvas para falar sobre o assunto. E procura justificar os telefonemas numa carta à directora do jornal:
"Não traduz ilicitude, irregularidade ou sequer censura que se questione eventualmente um membro do Governo sobre se há intenção de ceder a pressões políticas promovidas pelas lideranças europeias, amplamente divulgadas na imprensa de então, sendo que tal questão só podia ter como pressuposto a vontade clara de fazer cumprir as regras do concurso, ou seja, a da adjudicação à proposta com melhor preço e condições mais favoráveis para o Estado Português."
Consta que Passos não terá "dado troco", afirmando que não tencionava interferir no processo das privatizações. Daí o seu prazer em que as escutas sejam tornadas públicas.
O telefonema a Passos Coelho foi escutado durante a recolha de informações (e não recolha de provas) no caso Monte Branco, que envolve a maior rede de sempre de fuga ao fisco e branqueamento de capitais a operar em Portugal.
A investigação está a ser conduzida pelo procurador Rosário Teixeira, que entendeu a conversa como uma forma de pressão sobre o primeiro-ministro. Como Passos Coelho tinha sido envolvido "fortuitamente" na escuta, a sua transcrição teria que ser validada pelo Supremo Tribunal de Justiça.
Assim, o então Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, remeteu o pedido de validação ao presidente do Supremo, Noronha Nascimento, em 8 de Outubro.
Contudo Ricciardi sublinha: "Não mantenho nem nunca mantive qualquer ligação com pessoas envolvidas no processo Monte Branco, que nem sequer conheço, ou que alguma vez haja prometido favores ou pedido vantagens a quem quer que fosse, ou participado directa ou indirectamente em actos que configurem abuso de informação ou manipulação de preços."
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Ainda bem que Ricciardi não está envolvido com a rede de fuga ao fisco e branqueamento de capitais revelada por Duarte Lima em troca da prisão domiciliária.
Só há uma questão que não se consegue perceber. As privatizações foram conduzidas pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e pela secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque. Por que razão o banqueiro não expôs os seus argumentos a estes membros do governo, em vez de telefonar a Relvas e depois a Passos?
Que saudade daquele tempo em que nenhum banqueiro ou empresário se atrevia a telefonar ao chefe do Governo...
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