quinta-feira, 18 de outubro de 2012

"Onde andam as elites?"


"17 Outubro 2012 | 23:30
Helena Garrido - helenagarrido@negocios.pt

Onde andam as nossas elites? Por onde andam os nossos líderes? É enorme a tentação de dizer que não temos, nunca tivemos, por tudo aquilo que estamos a ver, a ouvir e a ler no espaço público.

Já só se pedia algum bom senso e contenção nas declarações públicas pelo respeito que devem merecer as dificuldades que muitos portugueses enfrentam. E que cada um pense menos no seu porta-moedas ou em votos e um pouco mais no País. Sim, o dia 7 de Setembro foi maldito. Mas por muito má que tenha sido a ideia da TSU e a comunicação ao País do primeiro-ministro, os ministros que não fizeram o seu trabalho de corte na despesa durante o último ano tinham a obrigação de saber que chegaríamos a esta situação em Outubro deste ano.

É lamentável que se chegue a esta altura para concluir que, afinal, o único ministro que fez, de facto, intervenções estruturais de corte na despesa pública foi Paulo Macedo, na Saúde. É na saúde que efectivamente já vemos os efeitos de existirem menos rendas, sem que se possa acusar uma degradação nos serviços. Tal como podemos dizer que o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, se preocupou desde a primeira hora em reduzir a dimensão do seu ministério, ganhando com a integração dos ministérios da Economia e das Obras Públicas.

Chegou a hora de perguntar o que fez a ministra da Agricultura Assunção Cristas que pertence a um partido que hoje se revolta contra o aumento de impostos? Não integrou este ministério também outros, como o do Ambiente? Não poderia ter cortado mais gastos, se é que se preocupa genuinamente com isso, como diz o seu partido? Lamentavelmente, o CDS diz que a sua prioridade é reduzir a despesa e, na prática, não corta na despesa que tutela.

E o que fez o ministro dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas com as autarquias? Um ano depois ainda estamos a ver se afinal se extinguem umas freguesias já em vésperas de eleições autárquicas? Porque, obviamente, nos municípios faltou a coragem e nem duas autarquias se conseguiram fundir.

Por onde anda o Programa de Reestruturação e Melhoria da Administração Central (Premac)? Cada ministro devia estar neste momento a verificar se levou à prática o seu discurso de corte de despesa pública. Ou teremos de dizer que pensavam que reduzir os gastos públicos eram umas corridinhas para cortar gordurinhas, desvalorizando mais de uma década de tentativas de outros governos.

Lamentavelmente, somos obrigados a concluir que houve durante este ano ministros que foram irresponsáveis, que foram "cigarras", sim, como disse Miguel Macedo. Agora não se podem queixar de ter chegado a conta da sua displicência, sob a forma de mais impostos.

Infelizmente para todos nós, ao lado de alguns ministros, que não tinham ainda percebido a dimensão da crise, surgem no espaço público líderes de opinião, ex-líderes, ex-ministros, personalidades que em geral consideramos serem as nossas elites que parecem ter perdido a cabeça. Que parecem estar mais preocupados com os cortes que pela primeira vez vão sentir nos seus rendimentos do que com o país. Às elites pede-se que pensem antes de falarem, que contribuam para solucionar os problemas em vez de os agravarem. Em vez disso assistimos a declarações inflamadas contra um Orçamento que sabem ser inevitável neste momento. Sim, inevitável, porque todas as outras soluções, no momento que vivemos na Zona Euro, seriam piores para Portugal.

É na violência das tempestades que os líderes e as elites se elevam de quem não tem força nem carácter. Este é o tempo em que os partidos e as elites vão mostrar (ou não) se são capazes de recuperar Portugal para os portugueses. Se as elites não se acalmarem, se não ganharem algum bom senso, o que nos espera não é bom."


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