Cinco painéis de grande dimensão pintados por Columbano em 1891 para o antigo Palácio do Conde Valenças vão ser leiloados.
Um conjunto de cinco painéis que Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) pintou por encomenda do Conde de Valenças para o salão de baile do seu palácio, o actual Hotel Olissipo, em Lisboa, vai a leilão pela Veritas no próximo dia 25 de Junho, ficando em exposição a partir de dia 19.
Inicialmente o conjunto era composto por sete painéis com 250 centímetros de altura e uma pintura de tecto, encontrando-se hoje dois dos painéis (um deles assinado) numa colecção particular e a pintura de tecto conservada no antigo Palácio Valenças.
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Uma quadrilha |
O conjunto de painéis é descrito pormenorizadamente na obra Os Gatos de Fialho de Almeida (p.162-172):
20 de Janeiro de 1891
Columbano Bordallo acaba de mostrar a meia dúzia dintimos, no seu atelier no pateo Martel, trabalhos de decoração executados por encomenda do conde de Valenças, para a sala de baile do mesmo senhor.
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A pintura é a óleo, e consta dum tecto que não podemos vêr, e foi pintado in situ, e de sete panneaux de cerca de tres metros dalto e de largura diferente, que serão aplicados ás molduras destuque do salão de baile a que se destinam. ( ) O primeiro panno é consagrado á dança de hoje: um par adolescente avança com dengosidade fin-de-siècle ( )
O retábulo segundo é a dança no Imperio. Ha um rapaz de perfil, expressão flagrante dos estoiradinhos desse tempo, calça colante, meia de seda, casaca de gola altíssima, bicorne, e bofes de renda em grandes folhos. A figurinha da mulher é deliciosa, com o vestido de corpinho curto, os braços descobertos, e o decote quasi horizontal, descobrindo peito e hombros sem provocação. ( )
Terceiro panno, em pleno Luiz XV. É um momento de gavota, surprehendido: o par avança num torneio de corpos gracil... ( )
Quarto retábulo, Luiz XIV. O costume de homem, severo, casaca azul e cabelleira danneis, canhões e bofes de renda, tricorne na mão esquerda, e o collete de grandes abas, cahindo, vermelho, té lhe encobrir as coxas de paralta. A figureta da mulher poisa a tres quartos, voltando de leve as costas a quem olha, e é a mesma anemia morena, o mesmo typo afusado e decadente das outras, com frescuras que lhe vem dos poucos anos, e nunca do circular sadio do bom sangue.
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Finalmente o último trabalho da decoração é uma grande tela onde está pintada uma quadrilha, de que o espectador apercebe oito ou nove figuras. ( )
Igor Olho-Azul, leiloeiro da Veritas que vai levar estes cinco painéis à praça num só lote, estima um valor entre os 500 mil a 800 mil euros, o que é alto para o mercado nacional.
O preço mais alto que uma obra de Columbano atingiu em leilão foi em 2001 com os 310 mil euros de O Serão, um óleo sobre madeira de 1880.
“Estas pinturas têm um sentido declaradamente decorativo e este foi um trabalho que ocupou bastante o Columbano, que deixou uma ampla obra nesta área”, explica Pedro Lapa, actual director do Museu Colecção Berardo, em Lisboa. No entanto, considera que a obra decorativa de Columbano “não é tão consistente quanto a sua obra de pintor retratista” mas “estamos sempre a falar de um dos nomes maiores do século XIX português”.
“O Columbano é um pintor com uma estrutura e uma personalidade própria, inimitável, profundamente idiossincrático, e isso é sempre de valorizar. É sempre um trabalho curioso e isto é importante”, prossegue Lapa, que gostava de ver estas obras “no espaço arquitectónico para o qual foram pensados”. “Idealmente eram boas até para um museu, o Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC) devia ter meios para chegar à praça e fazer uma aquisição, era o que aconteceria com o Museu d’Orsay, em Paris, ou a Tate, em Londres”.
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