Um militante do PS pagou 1172 quotas em atraso a militantes do concelho de Matosinhos, no valor de 11.066 euros.
O “generoso” militante reside num bairro social de Perafita, trabalha numa empresa de segurança e o seu cheque foi entregue na federação do PS do Porto por um pequeno empresário que presta serviços à empresa municipal MatosinhosHabit.
Conhecedor deste facto, o presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Matosinhos, Ernesto Páscoa, exigiu, em carta enviada ao líder distrital do partido, José Luís Carneiro, que anule este pagamento de quotas.
Argumenta que, na lista de militantes que ficaram com as quotas pagas, há pessoas que já morreram e o "militante emissor do cheque não é secretário coordenador nem faz parte de qualquer estrutura do partido", portanto "foram violados os estatutos e o regulamento, não sendo válido este pagamento de quotas, quando muito poderá ser considerado um donativo para o Partido Socialista".
O dirigente concelhio divulgou o caso ao PÚBLICO justificando-se que "não podia cruzar os braços" porque se trata de um "militante que não tem cargo nenhum e que não tem posses para pagar aquele valor. É preciso esclarecer quem é que está por detrás disto. (...) Espero que os órgãos do partido funcionem, senão tenho de apelar ao secretário-geral do PS".
Desaprova também a forma como a distrital socialista tratou este caso, acusando-a de ter uma "actuação eticamente reprovável, nada digna de um órgão de um partido" que defende na Assembleia da República "princípios de legalidade, transparência, princípios e valores de justiça e equidade de procedimentos". "A distrital deveria ter questionado a qualidade do militante que emitiu o cheque na estrutura partidária, a sua situação profissional e a justificação de um gesto tão altruísta".
Ernesto Páscoa vai recandidatar-se, em Dezembro, ao cargo de presidente da Comissão Política Concelhia.
Actualização: casos similares divulgados aqui.
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Alguns comentários à notícia no Público ajudam a esclarecer o gesto "altruísta" de um e a exigência de "transparência" do outro:
Sousa da Ponte
13/11/2013 08:57
Líder da concelhia vai virar ex-líder de concelhia. Esta é uma prática corrente nos vários partidos da partidocracia e o único que vi tentar alguma coisa contra isso foi o Rui Rio. Esta prática permite a algumas estruturas partidárias terem mais delegados nos vários acontecimentos da vida de um partido e permite justificar maiores entradas de dinheiros. Eu próprio já fui há anos militante de um partido do qual me afastei mas durante anos as minhas cotas foram pagas por terceiros (e talvez ainda sejam).
Ernesto Páscoa, se quiser ser sério, só tem de levar o caso para o lugar próprio (Polícia Judiciária?), caso contrário podemos pensar que só está a querer fazer chicana política.
vinha2100
13/11/2013 09:24
O problema é que, manipulando os votos de alguns milhares de militantes, consegue-se influenciar decisões que afectam milhões de portugueses. Os Partidos deixaram de ser um espaço democrático.
Quem controla os votos dos militantes do PS e do PSD — isto é, algumas dezenas de dirigentes —, controla o País e pode fazer todo o tipo de poucas-vergonhas e irresponsabilidades (e seguramente haverá muitos casos de ilegalidades) em total impunidade. É por isso que os grupos económicos têm dezenas destes políticos nos seus órgãos sociais. Os Portugueses deixaram de ser donos do País.
Miguel S.
13/11/2013 09:34
Este é apenas um episódio que ilustra o porquê do desprestigio crescente da classe política. Talvez seja altura de se realizar uma profunda alteração dos regimes eleitorais de forma a acabar com a exclusividade de acesso de partidos políticos ao centro do poder. Isto não é sequer algo semelhante a democracia, isto é máfia.
- MA
13/11/2013 10:49
Miguel S., está convencido que por detrás dos "independentes", pelo menos dos actuais, estão isentos da "máfia"?
- Miguel S.
13/11/2013 11:09
Estou convencido que o sistema actual está podre e levou aos belos resultados que se observam. Estou também convencido que os intervenientes (partidos) que levaram a esta situação (por três vezes) são o problema e não a solução.
Apesar de não ter qualquer formação em ciências sociais, acho que a mudança para uma sociedade efectivamente livre, transparente e justa se iniciará a partir da sociedade civil e exige uma profunda alteração de posturas e mentalidades por parte de todos. Demorará certamente anos, mas acredito que os Portugueses serão capazes.
- MA
13/11/2013 11:48
Miguel S., sem querer colidir com a sua opinião que respeito, sinto, no entanto, que há um pouco de lirismo nela.
O que escreveu nunca será possível em Portugal. À nossa sociedade sempre faltou o bom senso e a organização; o chico-espertismo do sucesso imediato é uma característica; a capacidade crítica e o interesse em participar em sociedade (só na caridadezinha) não existe. Diariamente somos confrontados com situações que deveriam estar a ser julgadas nos tribunais e, no entanto, vejo uma maioria a continuar a bajular e vergar o joelho. Como quer que algum dia a postura e a mentalidade mude?
Infelizmente para haver democracia tem de haver partidos políticos e o que deveríamos todos esperar é que, pelo menos, neles houvesse gente honesta.
Manuel Amaro
13/11/2013 10:14
Se fazem isto no partido, o que farão no governo e nas câmaras onde governam. É o socialismo no seu melhor...
- ppombal
13/11/2013 11:10
Já se esqueceu, com certeza, dos cheques depositados pelo CDS em nome de Jacinto Leite Capelo Rego. Isto é assim em todo o lado, não só no PS.
Ernesto Páscoa pôs a boca no trombone porque esta regularização de quotas em atraso de tantos militantes deve estragar-lhe a vida nos próximos tempos, nada mais. Antes que comece a atacar, declaro que não sou simpatizante, militante ou conivente com qualquer partido.
MA
13/11/2013 10:29
É para isto que se quer a Regionalização/separatismo em Portugal? Seria muito mais fácil abafar estas situações se ela existisse, não? Isto não é caso para chegar ao líder do partido, isto é um caso para chegar à Justiça, mas noutro local do país! A Justiça, os Valores e a falta de capacidade crítica, neste país, permitiu e está a permitir que o dinheiro continue a circular, sem sequer se saber qual a origem. Continua a traficar-se influências, a apoiar negociatas, partidarites sob capa de independentismos.... e todos nós, continuamos, diariamente a ser espoliados pelos impostos, enquanto aumenta o número de desempregados e a miséria. Os que à nossa conta se tornaram ricos e poderosos não querem perder as suas posições e tudo vale. Portugal afunda-se e nem nada para se salvar.
- Sousa da Ponte
13/11/2013 11:13
Não mesmo. A regionalização só ia agravar estes casos (os que fazem isto ficariam com mais poder). Isto é um caso de justiça e só não está na justiça porque ninguém está interessado nisso.
Ernesto Páscoa simplesmente sabe como as coisas se fazem, já deve ter feito iguais ou parecidas, e quer dar a volta a umas eleições, talvez a sua reeleição, que ameaçam correr de forma desfavorável para ele.
Aliocha
13/11/2013 11:25
Louvável a atitude de Ernesto Páscoa! Este caso prova que todos os partidos têm telhados de vidro... Evidentemente os que estão no poder, ou são candidatos a estar, têm maior visibilidade e responsabilidade. Contudo, se estas situações forem desmascaradas, como foi feito desta vez, o povo português poderá ter alguma esperança de ver eliminada, aos poucos, a corrupção que grassa no reino dos políticos, quer sejam de alto ou baixo coturno.
- Sousa da Ponte
13/11/2013 12:36
Louvável porquê? Não foi, nem vai ser, nada desmascarado. Louvável era se tem levado o caso para a justiça, judiciária por exemplo. Não tem nada de louvável a posição dele. Que sabe que estas são práticas comuns nos partidos da partidocracia. O que ele está só a fazer é só tentar segurar o lugar.
J Rosário Dias
13/11/2013 12:29
Não percebo este preciosismo do líder da concelhia do PS de Matosinhos. Isto sempre se fez e faz no PS e em todos os outros partidos, principalmente quando se aproximam as eleições para os órgãos dirigentes concelhios e interessa concentrar votos numa das candidaturas. Não entendo como é que este assunto da vida interna de um partido chega à opinião pública através das páginas de um jornal.
Não sei quem é este indivíduo, o que sei é que não tem condições para ser dirigente político. Deve ser um destes indivíduos que entraram para o PS recentemente e que, sem provas dadas, chegam a dirigentes partidários mesmo não demonstrando competência. Por isso o PS perdeu a câmara de Matosinhos e outras no país, por isso cada vez mais portugueses não acreditam nos partidos.
- Sousa da Ponte
13/11/2013 12:39
Rosário Dias deve ser um dos militantes do PS a quem pagaram as cotas. Isto mostra a estirpe de quem nos governa, e para isto PS ou PSD é a mesma coisa, e nos trouxe a troika.
- João Clemente
13/11/2013 12:46
Caro Rosário Dias: «vida interna de um partido»? Essa é mais uma das observações que bem demonstram o estado da nossa partidocracia. Tenha presente uma coisa: a democracia não é dos partidos; é do povo e o povo exige transparência. Vá-se habituando à ideia.
- 93*******
13/11/2013 15:11
Diz o Sr. Rosário Dias que é por causa da denuncia do líder da concelhia que os "portugueses não acreditam nos partidos". É espantoso o desplante desta afirmação. Pelos vistos defende a mentira, como princípio base, para os portugueses acreditarem nos partidos.
Pedro Costa
13/11/2013 14:03
Isto é extremamente comum, tal como as moradias do tipo T1 cuja morada consta da ficha de inscrição de 30 militantes com quotas em dia (na altura das eleições).
- afigpereira
Rio Tinto
13/11/2013 17:10
Estou enganado ou foi Rui Rio que "limpou" os ficheiros do seu partido, por motivos parecidos com este — as ditas chapeladas? José Luís Carneiro deveria aproveitar a ocasião e fazer o mesmo na sua Distrital e estender esse movimento a todas as outras do seu partido. Como outros comentadores, estou curioso de ver se esta desavença interna dá em alguma coisa séria.
Mário Da Costa Neves
13/11/2013 19:52
Nas últimas eleições locais aconteceu o mesmo em Gaia, nomeadamente em Canelas. Havia sujeitos com 10 anos de quotas em atraso e apareceram com elas pagas. Na altura cheirou-me a pagamento efectuado a mando de um deputado controleiro com medo de perder o tacho. É por isso que a política está de rastos. Estes 11 mil euros para alguns são trocos. Vejam quanto eles ganham controlando!
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