sábado, 2 de março de 2013

Manifestações não impressionam


As manifestações convocadas para hoje, para 40 cidades portuguesas e algumas estrangeiras, por múltiplos movimentos de cidadãos ligados ao PCP, ao Bloco de Esquerda e também ao PS, através de redes sociais como o Facebook e o Twitter, tinham o apoio da CGTP que é a maior central sindical portuguesa.


02 Mar, 2013, 20:50
Vê-se Ana Gomes, eurodeputada socialista, a exigir a demissão do actual Governo e, de relance, consegue ver-se Francisco Louçã. O secretário-geral da CGTP Arménio Carlos faz uma curta declaração, assim como João Semedo, um dos coordenadores bloquistas, Álvaro Beleza, coordenador da área da Saúde do PS que pretende extinguir a ADSE, e João Ferreira, eurodeputado do PCP.


Com o lema “Que se lixe a troika, o povo é quem mais ordena”, estas manifestações pretendiam impressionar a delegação da troika — Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional — que veio fazer a sétima avaliação do memorando de entendimento assinado pelo governo socialista de José Sócrates.
No entanto, as notícias e os vídeos feitos com meios aéreos, já divulgados pela comunicação social, revelam que o objectivo ficou longe de ser atingido:


02 Mar, 2013, 20:26


02.03.2013 20:16


Vejamos o que diz o jornal Público sobre a manifestação de Lisboa:
O Terreiro do Paço, incluindo a zona de estrada por onde os carros circulam, e a zona do Cais das Colunas, em frente, por onde os manifestantes também se dispersaram, ronda os 44.000 metros quadrados, de acordo com medições feitas no programa Google Earth (o valor integra espaços como o ocupado pela estátua de D. José I, no centro, e o do palco montado pela organização que não podem ser ocupados por pessoas).

Com uma multidão de densidade média — cerca de duas pessoas por metro quadrado —, o espaço fica cheio com 88 mil pessoas. Se a multidão for densa — três pessoas por metro quadrado —, cabem cerca de 132 mil pessoas. Caso toda a gente em toda a área do Terreiro do Paço e do Cais das Colunas estivesse próxima ao ponto de ter dificuldades em movimentar-se — umas quatro pessoas por metro quadrado, o que não foi o caso —, seria possível ter naquela área 176 mil pessoas.

As ruas que desembocam no Terreiro do Paço ainda tinham gente quando se cantou a Grândola, um pouco antes das 18h30. Mas estas acrescentam pouco à área total. A Rua Augusta, por exemplo, a principal da baixa lisboeta, tem aproximadamente 6500 metros quadrados, o que significa que consegue acomodar cerca de 20 mil pessoas se a densidade for superior a três pessoas por metro quadrado.

Já a faixa central da Avenida da Liberdade, por onde as imagens mostram que a manifestação circulou, tem 27 mil metros quadrados. A Praça dos Restauradores ronda os 15 mil metros quadrados e o Rossio ultrapassa os 17 mil metros quadrados. Estas três áreas integralmente preenchidas com uma multidão densa, de três pessoas por metro quadrado, rondariam as 177 mil pessoas.
Sobre a manifestação na cidade do Porto:
No Porto, o protesto terminou na zona da Avenida dos Aliados. Esta avenida e a Praça da Liberdade, que lhe é contígua no extremo sul, totalizam aproximadamente 25 mil metros quadrados, incluindo espaços como árvores e canteiros. Aqui, caberiam, com uma densidade de três pessoas por metro quadrado, 75 mil pessoas.

Depois dos tremendos sacrifícios financeiros impostos à população portuguesa nos últimos dois anos, qualquer resultado que ficar abaixo das 300 mil pessoas que, em 12 de Março de 2011, se manifestaram por todo o País, terá de ser considerado um fracasso.


Passemos agora às intenções dos manifestantes.

Quando, há dois anos, o governo socialista assinou um memorando de entendimento com a troika aceitando um conjunto de medidas, que iam da liberalização dos despedimentos e diminuição das respectivas indemnizações à privatização das empresas públicas, em troca de um empréstimo de 78 mil milhões de euros, conhecia as consequências gravosas para os orçamentos das famílias.
Ver agora eurodeputados e outros destacados elementos do partido socialista participarem numa manifestação contra a troika, sem receio de receberem um murro de algum manifestante mais informado, é elucidativo da inconsciência e da sordidez moral desta gentinha.

Contudo não se pense que os políticos dos partidos anti-troika — PCP e Bloco de Esquerda — são movidos por sentimentos de solidariedade para com os seus semelhantes.
Tentar obter uma taxa de juro mais baixa para o empréstimo, é legítimo e benéfico, significa encargos menos pesados.
Deixar de receber as tranches do empréstimo, não é. Significa que o País deixava de poder financiar o défice público, o que obrigaria a uma diminuição brutal da despesa pública — redução ainda mais rápida e drástica dos salários dos funcionários públicos, das pensões dos reformados e dos cuidados de saúde — com consequências ainda mais graves nos orçamentos familiares e no bem-estar das pessoas. Dizer aos portugueses que deviam correr com a troika é uma desonestidade intelectual com o objectivo de provocar o caos, única via que permitiria àqueles partidos conquistar o poder.

Quanto às pessoas que se manifestaram ordeiramente, essas pretendem apenas dissipar as tensões acumuladas devido aos sacrifícios financeiros a que estão a ser submetidas e desejam apenas que o pesadelo acabe depressa.


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