A japonesa Talaris tenciona fechar até Junho a fábrica de Torres Vedras, única na Europa a produzir máquinas multibanco (ATM).
Adquirida em 2012 pela multinacional japonesa Glory, teve em 2011 um volume de negócios de 26 milhões de euros e resultados líquidos de 429 mil euros (1,4 milhões de euros em 2010).
Dos 834 ATM fabricados, 700 foram exportados. Recentemente ganhou o concurso para assegurar o serviço de manutenção para a Caixa Geral de Depósitos durante três a cinco anos.
A empresa, que tem 200 trabalhadores espalhados pelo país — a maioria a fazer manutenção dos ATM —, pretende encerrar as instalações em Sintra e transferir para a fábrica de Torres Vedras a logística e a manutenção.
Nesta reestruturação tenciona encerrar a linha de produção que emprega 20 trabalhadores, e transferi-la para a China onde a mão-de-obra é mais barata, e passar o departamento de recursos humanos e o departamento financeiro para Espanha. O resultado, em termos de emprego, é um despedimento colectivo de 37 trabalhadores.
A Talaris alega que dentro de alguns anos a crise vai ter reflexos na produção de máquinas multibanco para o mercado nacional. Contrapõe o Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas (SIESI) que "a empresa está a usar a facilidade que existe em Portugal para fazer despedimentos colectivos para se deslocalizar".
*
A questão é que o partido comunista que governa a China paga, em 2013, o salário mínimo de 180 euros em Shenzhen (noutros municípios ou províncias o salário mínimo ainda é mais baixo) para atrair investimentos estrangeiros e, obviamente, está a ser bem sucedido.
Se em Portugal se dificultar o despedimento colectivo, as empresas vão para a falência e saem igualmente de cá. Além de que o País não consegue captar investimento estrangeiro desde finais dos anos 90, com a consequente ausência de crescimento económico há uma década.
Pode concluir-se que o futuro dos trabalhadores portugueses vai ser auferir os salários de miséria dos chineses? Nas linhas de montagem de produtos, vai ser.
Mas se a geração que actualmente frequenta a escola trabalhar afincadamente e terminar a escolaridade obrigatória muito, mas mesmo muito mais qualificada que a geração dos seus pais, estes jovens podem tornar-se técnicos especializados, ou até projectistas, e aspirar a salários mais elevados.
Quem projecta produtos tecnologicamente avançados no mundo?
Nos Estados Unidos, e na indústria da informação, a Apple, a Hewlett-Packard, a Intel, a Microsoft, a Cisco, a Xerox, a Boston Dynamics, a aeroespacial Boeing, a produtora de maquinaria Caterpillar, na indústria automóvel, a General Motors e a Ford. O Canadá desenvolveu tecnologias extractivas e agora vem explorar concessões mineiras portuguesas.
Na Europa, temos a Finlândia com a Nokia, a Dinamarca com a Vestas — durante o governo Sócrates fomos o maior comprador das suas turbinas eólicas que vamos ter de pagar por meio de rendas elevadas aos produtores de energia eléctrica —, temos a França com as construtoras de automóveis, Renault, e de aviões, Airbus. Temos na Alemanha, e na indústria automóvel, a Volkswagen, a BMW, a Daimler, a Audi, na indústria eléctrica, a Siemens, a Bosch, a Miele, a gigante farmacêutica Bayer. No norte de Itália, a Fiat.
Na Ásia, o Japão com a indústria automóvel — Toyota, Nissan, Mitsubishi, Honda —, da informação — Fujitsu, Sony, Toshiba, Casio —, da fotografia e imagem — Canon, Nikon —. E a pequena Coreia do Sul, do tamanho de Portugal, tem um gigante na indústria automóvel, a Hyundai, e outro gigante na informação, a Samsung, que se bate no campo da inovação com a americana Apple.
Os portugueses especializaram-se em usar os produtos de alta tecnologia projectados nestes países e produzidos pelos trabalhadores chineses.
Acordar de um sonho é sempre doloroso. Mas se não quisermos continuar a empobrecer, é preciso acordar depressa e dar passos de gigante.
Sem comentários:
Enviar um comentário