terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Varas nunca mais... pois não?"


"Se Gil Vicente escrevesse hoje, levaria a barca cheia para o inferno. O diabo seria um banqueiro de investimento, teria advogados financeiros como servos e políticos como aspirantes. Mas a subtileza maior do Auto seria trocar tudo: dar governos a banqueiros e bancos a políticos. Nem um advogado branquearia tal vileza.

A imagem é obviamente abusiva. Há céus e infernos em todas as profissões, nós é que temos tido azar... Na política, clamamos todos os dias por grandes estadistas, quando temos um — mas faz 87 anos daqui a um mês. De resto, a credibilidade anda baixa e há boas razões para isso. Com a mesma certeza que aqui temos defendido que a banca deve usar o dinheiro do Estado, defendemos que o Estado não deve usar o dinheiro da banca.

Mensagens habituais desta coluna: os banqueiros não querem mas devem aumentar o capital, mesmo que isso signifique ter prejuízos e recorrer ao Estado; os políticos não querem mas devem proibir-se de entrar na gestão dos bancos; a gestão na Caixa, se politizada, é desastrosa.

Os políticos não devem entrar na gestão dos bancos pela mesma razão que não se confia uma mala de notas à porta de um casino a um jogador falido. A tentação é grande e a vocação é pequena. Como se viu nos idos de 2007, o ano de todas as loucuras, em que a Caixa Geral de Depósitos foi uma cama elástica para a irresponsabilidade. Nesse ano, os lucros chegaram aos 900 milhões de euros. A conta veio depois.

A Caixa sempre foi usada por políticos. Mas foi com o Governo PS que se perdeu a vergonha. Mais do que o braço financeiro do Estado, a Caixa tornou-se então o braço fiadeiro do Governo. Armando Vara e Joe Berardo tornaram-se as faces mais visíveis do desmando: um pela intervenção no banco, o outro por beneficiar dela. Mas eles são apenas mais "famosos" que outros. As críticas certas foram ditas então, quando questioná-los era questionar o poder. Agora é fácil.

Mas é preciso dizer que Vara não estava só. Havia uma administração que tolerou a política como se ela fosse um pelouro delegável. Houve um comité de crédito com mais de uma dezena de gestores que aprovou os vergonhosos financiamentos do assalto ao BCP. Houve comités de investimento que assinaram por baixo de investimentos em Bolsa como se essa fosse a vocação da Caixa. É para isso que existe um banco público? Não, nunca foi.

Os bancos portugueses têm todos os seus próprios problemas. O BPI teve uma política de investimento errada em dívida pública, o BCP teve uma política de crédito com risco, o BES financiou imobiliário de mais — e todos deram crédito à habitação demasiado barato. A Caixa não tem um destes problemas, tem todos. Foi o banco que desde o início da crise mais provisões teve de constituir, que mais aumentou o seu capital com o nosso dinheiro, que já assumiu perdas de mais de mil milhões só em acções, tem um malparado elevado, colecciona famosos falidos entre os credores, está agarrada a acções que não param de se desvalorizar. Mesmo hoje: porque não se fechou ainda o negócio do BPN três meses depois de se anunciar o comprador?

O Estado prepara-se para acudir aos bancos. Ao contrário do que estava previsto, não o fará através de acções preferenciais, mas de acções com direitos especiais. Entrará suspendendo bónus e devia também suspender dividendos, o que infelizmente não deixou escrito. Mas entra também para nomear administradores com direitos especiais, ficar com direito de veto e poder para condicionar a política de crédito, que é a chave do problema.

Os poderes de uma "golden share" sempre foram usados de forma abominável. Não basta dizer que "Vara não entra" para garantir que não há governamentalização dos bancos. Se o modelo o permitir, teremos na banca "boys" a partilhar "jobs" bem pagos, dando crédito e perdoando malparado aos amigos e financiadores do partido. Ponham trancas à porta e cera nos ouvidos para os novos gonçalvistas. No "Mercador de Veneza", que era um banqueiro, Shakespeare avisa: "O Diabo pode citar as escrituras em seu benefício". Não se engane: "o seu benefício" não é o seu, é o deles.

Pedro Santos Guerreiro"


pedro69 08 Novembro 2011 - 18:41
Bom artigo
Excepto no grande estadista:
Será que é demasiado novo para se lembrar do caso Mateus, o único que não conseguiram abafar na altura?
E as aquisições "executivas" aos amigos franceses?

E os fins-de-semana de deboche em hotéis de 5 estrelas em Paris, no uso e abuso dos bens do Estado para si, familiares e amigos?

Quem não se lembra de ter fretado um Boeing com o dinheiro do Estado, enchê-lo com 120 amigos e jornalistas "amigos" para uma visita de Estado ás Seychelles?

Este é que é o grande governante da constituição 76?

Toda a prepotência, corrupção e abuso do aparelho de Estado no PS mau, começaram com ele para ser depois reproduzido nos Jorge Coelhos, Varas e companhia.
Essa carga genética PS vem desse senhor e na forma como se relacionou com o Estado.

E como MNE... Da sua acção directa, responsabilidade, comando e controlo, que ao contrário dos malucos do PC fez de forma perfeitamente consciente das consequências dos seus actos, resultaram na morte de mais de 5 milhões de pessoas e mais do dobro de refugiados em guerras em 4 países durante as décadas seguintes. Será que não havia outra estratégia para a Descolonização ou o Marocas não se incomodava de amputar uns dedos para consensualizar-se mais depressa no poder?

E os desgraçados dos retornados? A expulsão arquitectada com o conhecimento, participação e ajuda do próprio MNE, de 1 milhão de portugueses num episódio de tragédia e proporção mundial.
Ou o Pedro acha que o que vai ficar na história de Portugal vão ser a luta com o PC e os mandatos como PR?


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