segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ou construímos os Estados Unidos da Europa, ou nada!


"Temos de construir agora a união política, que não conseguimos alcançar em 1990, e isso significa uma união orçamental", disse o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, na conferência anual do partido Democrático Cristão.


Schaeuble não concorda que o Banco Central Europeu (BCE) financie os países endividados, preconizando que os governos devem confiar no fundo de resgate europeu até que tenham os orçamentos dos seus países sob controlo, pois "demasiada liquidez global poderia conduzir a uma bolha".
"Se queremos ter uma moeda única, temos de defendê-la. É da nossa responsabilidade assegurar que a moeda única e a União Europeia continuam a ser estáveis."
Sobre a Grécia:
"O país tem de decidir se consegue suportar os encargos [de continuar com o seu programa de ajustamento económico, ou não]. E se a Grécia estiver pronta para fazê-lo, nós iremos ajudá-la a ganhar o tempo necessário."

Também hoje no congresso do partido Democrático Cristão, Angela Merkel disse que "era hora de formar uma união política na Europa para enviar uma mensagem aos detentores de obrigações europeias de que as intenções dos líderes da Zona Euro são sérias relativamente a quererem terminar a crise da dívida soberana".
Acrescentou que queria preservar o euro com todos os actuais estados membros, "mas isso requer uma mudança fundamental em toda a nossa política". O partido votou no sentido de permitir que um país possa sair da Zona Euro, defendendo um movimento que não é permitido pelas actuais regras do euro.

*

Cabe agora ao cidadão luso comparar os salários mínimos dos países da Europa ocidental com os do leste (de que fazia parte a antiga república democrática alemã, hoje com o nível de vida ocidental) e lembrar-se que estes países estão a trabalhar denodadamente para poderem entrar na Zona Euro.
Se Portugal funcionasse como os países do centro da Europa todos seríamos beneficiados: em 2011, o salário mínimo na Irlanda é 1461 euros (x12 meses), ou seja, a classe média portuguesa tem um rendimento análogo à classe baixa irlandesa.
Mas esses elevados rendimentos exigem a opção entre o 'dolce far niente' dos passeios aos centros comerciais e à praia ou o rigor da organização alemã do trabalho, entre o critério de avaliação do compadrio ou o do mérito.
A escolha é nossa.


██ países (4) com salário mínimo entre 123 - 278 euros
██ países (4) com salário mínimo entre 278 - 319 euros
██ países (4) com salário mínimo entre 319 - 566 euros
██ países (4) com salário mínimo entre 566 - 863 euros
██ países (6) com salário mínimo entre 863 - 1758 euros
██ países (11) que não forneceram dados ao Eurostat
Em 2011, o salário mínimo em Portugal é 485 x 14 / 12 = 565 euros. Noutros países europeus: Table

Países\tempo
________________
Bélgica
Bulgária
República Checa
Estónia
Espanha
França
Grécia
Croácia
Hungria
Irlanda
Lituânia
Luxemburgo
Letónia
Malta
Países Baixos
Polónia
Portugal
Roménia
Eslovénia
Eslováquia
Turquia
Reino Unido
EUA
________________

2000
_________
1095.89
34.26
110.79
89.48
495.60
1049.49
542.69
-
100.12
-
107.05
1191.13
85.02
505.05
1092.00
161.11
371.27
24.53
373.35
94.34
201.60
952.23
888.58
_________

2005
_________
1210.00
76.69
235.85
171.92
598.50
1286.09
667.68
-
231.74
1183.00
144.81
1466.77
114.63
555.06
1264.80
207.86
437.15
78.70
490.07
167.76
266.15
1134.67
655.36
_________

2010
_________
1387.50
122.71
302.19
278.02
738.85
1343.77
862.82
385.48
271.80
1461.85
231.70
1682.76
253.77
659.92
1407.60
320.87
554.17
141.63
597.43
307.70
338.33
1076.46
872.32
_________

2011
_________
1415.24
122.71
319.22
278.02
748.30
1365.00
862.82
381.15
280.63
1461.85
231.70
1757.56
281.93
664.95
1424.40
348.68
565.83
157.20
748.10
317.00
384.89
1138.54
940.48
_________

Nota: a lei do salário mínimo deixou de ser cumprida na Grécia.


2 comentários:

  1. Sinceramente receio que Portugal se transforme numa segunda Grécia: dinheiro a voar para offshores, uma tremenda economia paralela, a função pública a fazer manifestações na rua, o PCP actual a fazer lavagens ao cérebro dos trabalhadores pouco qualificados...
    E digo o PCP actual porque, quando estava preso em Peniche, Álvaro Cunhal dava lições de francês (era a língua internacional há cem anos) aos presos e incitava-os a estudar, a argumentar e a reduzir o número de filhos para poderem elevar o nível de vida e pagar a educação desses filhos.

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  2. Temos aqui um problema mundial — a desfaçatez dos gestores — e um gravíssimo problema nacional — as PPP. Um excerto elucidativo:

    ‘Enquanto a extinção do centro hospitalar não acontece, os dois administradores têm entretanto desempenhado as suas funções num "escritório", segundo explicou ao PÚBLICO o presidente do CA do centro hospitalar, Jorge Abreu Simões, que é economista e foi, durante anos, o encarregado da Unidade de Missão das Parcerias Público-Privadas. "Tratamos dos actos administrativos de gestão, mantemos o hospital em funcionamento enquanto tiver existência legal", diz.
    Mas o hospital não foi desactivado há quase dois anos? "Um hospital não se extingue por si. Estamos a extingui-lo. Houve que aguardar que fosse reafectado o património, é o normal funcionamento. [Além disso], houve eleições pelo meio", justifica. E são necessário dois administradores para desempenhar esta tarefa? "Um conselho de administração não pode ser constituído por um único elemento. É o que está no figurino, não tem nada de especial", responde.

    Abreu Simões esclarece ainda que, após o encerramento, foi necessário tratar do património imobiliário. O hospital ortopédico foi vendido à sociedade Estamo, em Dezembro de 2010, e o outro já tinha sido alienado, apesar de estar na "esfera de uma entidade pública" e à espera da definição da futura utilidade. "Agora, existem condições para a extinção [do centro hospitalar]", diz. O processo tem-se revelado atribulado. No Orçamento do Estado de 2011, decretava-se a extinção do antigo Hospital de Cascais e, simultaneamente, dotava-se o centro hospitalar com 7,9 milhões de euros para despesas a realizar durante este ano.’


    Mais de um ano e meio para vender um hospital e alienar o outro? E 7,9 milhões de euros no OE 2011 para despesas de um hospital vazio e alienado? Sem dúvida que é de ficar alienado.
    São situações como esta que me impeliram a andar por aqui a apoiar a entrada da troika e as auditorias que anda a fazer na Administração Pública e até na banca, apesar de serem dispendiosas.
    E a defender um governo da Zona Euro liderado pela Merkel e pelo Sarkozy que pusesse fim a esta corrupção legalizada que está a provocar desigualdades gritantes na sociedade e a asfixiar a economia portuguesa.

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