domingo, 28 de junho de 2015

A Grécia à beira da bancarrota - III e. O esclarecimento de Lagarde


A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, afirmou que o referendo na Grécia deixa de fazer sentido com o fim do resgate na terça-feira.

"Não posso falar pelo programa do FMI, porque o programa do FMI continua válido, mas o resgate financeiro europeu expira a 30 de Junho. Portanto, pelo menos do ponto de vista legal, o referendo terá a ver com propostas e acordos que já não são válidos. É uma questão legal", afirmou Lagarde hoje, em entrevista à BBC.

Christine Lagarde acrescentou que a Grécia deixará de ter acesso a qualquer financiamento dos países que constituem o FMI, se não reembolsar os 1,6 mil milhões de euros com vencimento em 30 de Junho até às 18:00 em Washington (23:00 em Lisboa), tendo explicado o motivo:
"É dinheiro que é devido à comunidade internacional, incluindo povos que têm um nível de vida inferior ao dos gregos, e espero que esse pagamento seja feito na terça-feira até às 18:00 (tempo de Washington). Se não for pago, isso significa que a Grécia continua a ser um membro do FMI, a ser representada na administração, a beneficiar de assistência técnica mas não posso continuar a emprestar mais dinheiro em benefício da Grécia."


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Alexis Tsipras chegou ao poder num País com uma enorme dívida mas com superavit primário, ou seja, as receitas já cobriam as despesas do Estado sem contabilizar os juros. Portanto se os credores perdessem o dinheiro emprestado, os gregos podiam criar nova dívida e regressar ao nível de vida que usufruíam antes do resgate e o Syriza eternizar-se-ia no poder.

Era uma táctica inteligente mas prejudicava gravemente as populações dos países pertencentes ao FMI que contribuíram com verbas para emprestar aos países europeus então sob resgate — Grécia, Irlanda e Portugal. O FMI, como lhe competia, defendeu os interesses dos credores, de modo que a artimanha grega não vai funcionar.

Em Fevereiro, o Governo liderado por Tsipras recebeu um prolongamento por quatro meses do programa de resgate, a terminar no último dia de Junho. Dia em que, recentemente, pediu para juntar os pagamentos ao FMI devidos em diferentes dias desse mês. Teve tempo de sobra para preparar o referendo onde seria perguntado aos gregos se aceitavam a última proposta do Eurogrupo. Esse referendo deveria estar a decorrer hoje. Mas não está.

Na verdade, Tsipras pretende conduzir a Grécia para fora do Euro mas, como a economia grega vive, em larga medida, dos turistas oriundos dos países da Zona Euro, precisava de tempo para conseguir que os gregos aceitem a ideia.
Um referendo sobre uma proposta dos credores que expira em 30 de Junho e, por isso, sem valor legal em 5 de Julho, permitir-lhe-ia esticar o prazo, além de lavar as mãos como Pôncio Pilatos. A maior parte dos eleitores gregos nem vai perceber que se está a pronunciar sobre uma proposta de acordo que já não existe.

É a grande vantagem da democracia: o povo fica com a responsabilidade, embora muitas vezes nem tenha a noção das consequências da escolha que faz com o seu voto, e os políticos livres como passarinhos.
Lembremos as palavras do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, no Contrato Social, sobre esta forma de governo: "Se houvesse um povo de deuses, esse povo se governaria democraticamente. Um governo tão aperfeiçoado não convém aos humanos."
Temos de procurar informação em fontes fidedignas antes de tomarmos decisões para não nos deixarmos manipular por políticos interessados unicamente em usufruir as regalias inerentes ao exercício do poder.

Se, no referendo, os gregos aceitassem o acordo, Tsipras diria que era preciso continuar as negociações porque o acordo já não era válido. Os gregos habituavam-se a não cumprir os prazos de pagamento dos empréstimos e os outros países adaptavam-se aos calotes gregos. Era uma ideia fantástica: com o decorrer do tempo adquiriam o direito de não pagar. Jogaram e perderam. É a vida.

Outras reacções à notícia no Negócios:

a
10:24
A união europeia com isto mostra que lhe falta muito para ser democrata. Só lhes ficava bem dar mais 5 dias pois assim estão a mostrar que isto não é uma negociação mas sim um ultimato encoberto.

Anónimo
11:02
Um referendo de boa fé, devia ter programado para hoje e não dia 5 de Julho. É mais uma manobra!

Anónimo
11:18
O Programa da UE terminava em Fevereiro, foi prolongado até 30 de Junho, exactamente para "dar tempo" aos Gregos e agora este "salto-mortal"? A esquerdalhada funciona assim, viram o texto-ao-contrário e andam permanentemnete em "manobras de esquivar-se" e no fim atacam pelas costas!

litos335
13:34
Com a recusa em aceitar condições, com o fim do actual resgate em 30 deste mês, com a falta de pagamento em Julho ao BCE e entrada em default, resta à Grécia começar desde já a imprimir novos Dracmas para poder pagar vencimentos e pensões.
Ninguém corre com a Grécia. A Grécia sai pelo seu pé, porque não tem condições de permanência e os 18 não estão dispostos a continuar a engordar a Dívida Grega sem esperança de voltar a ver os euros emprestados.


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