quarta-feira, 8 de abril de 2015

Miguel Seabra venceu Grande Prémio Bial de Medicina com trabalho sobre cegueira


Investigação nas últimas duas décadas sobre a coroideremia, responsável por 4% dos casos de cegueira no mundo, deu ao presidente demissionário da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e à sua equipa o Grande Prémio Bial de Medicina 2014.




A coroideremia é uma doença genética rara — surge 1 doente em cada 50.000 pessoas — que causa uma degeneração da retina, sobretudo nos homens, e os primeiros sintomas surgem logo na infância, com a perda da visão nocturna. Depois dos 50 anos, as pessoas estão praticamente cegas.

Miguel Seabra começou a investigar esta doença há quase 25 anos, primeiro nos Estados Unidos e depois no Imperial College de Londres, no Reino Unido. A longo das últimas duas décadas, o investigador e a sua equipa descobriram a causa, tendo ajudado a desenvolver uma terapia genética que está actualmente a ser testada, com bons resultados.
Agora foram distinguidos com o Grande Prémio Bial de Medicina 2014, no valor de 200.000 euros.

Além de Miguel Seabra, que chefia a unidade de Mecanismos Moleculares da Doença, no Centro de Investigação de Doenças Crónicas (CEDOC), da Nova Medical School (Faculdade de Ciências Médicas) da Universidade Nova de Lisboa, a candidatura inclui as investigadoras Tatiana Tolmacheva, do Imperial College, Sara Maia e Cristiana Pires, ambas do CEDOC.

Considera o cientista que o Grande Prémio Bial de Medicina “representa o reconhecimento científico do trabalho efectuado ao mais alto nível, dado o prestígio” que tem.

Conheciam-se as manifestações clínicas, sabia-se que se tratava de uma doença genética, transmitida através do cromossoma sexual feminino X”, diz Miguel Seabra. Em 1992, deu-se o primeiro passo: “Descobrimos que os doentes não têm a proteína REP-1, produzida a partir do gene CHM, cujas mutações causam a coroideremia. A falta de REP-1 nas células da retina impede-as de transportar de um modo eficiente os nutrientes necessários e de excretar os produtos tóxicos. As células acabam por morrer, resultando em cegueira para o indivíduo.

Estes resultados permitiram desenvolver uma terapia genética que introduz o gene activo nas células da retina. Os resultados dos primeiros ensaios clínicos no Hospital Eye Oxford, da Oxford University Hospitals NHS Trust, em 2014, foram positivos. “Todos os olhos injectados tiveram melhorias ou a estabilização da visão”, explica o investigador, referindo que, se os ensaios clínicos futuros tiverem resultados semelhantes, “a terapia pode ser oferecida a todos os doentes”.

O artigo sobre o estudo foi publicado na revista médica THE LANCET.

Miguel Seabra licenciou-se em Medicina, em 1986, pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e, em 1992, concluiu o doutoramento em Bioquímica e Biologia Molecular na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
Foi professor associado de Genética Molecular na Divisão de Ciências Biomédicas do Imperial College de Londres, no Reino Unido, sendo promovido, dois anos mais tarde, a professor catedrático e Director da Secção de Medicina Celular e Molecular.
Foi investigador principal do Instituto Gulbenkian de Ciência e dirigiu o Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biomedicina.
Tem mais de cem artigos científicos publicados em revistas científicas internacionais e é um dos cientistas portugueses mais citados na sua área. Actualmente, além de investigador no Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC), é professor catedrático da Nova Medical School (Faculdade de Ciências Médicas) da Universidade Nova de Lisboa.

Pediu ontem a demissão da presidência da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.


Esta é a 16ª edição do prémio bienal do grupo farmacêutico português Bial atribuído pela Fundação Bial para “incentivar a investigação médica e promover a divulgação”.

Além deste prémio, foi atribuído o Prémio Bial de Medicina Clínica 2014, de um montante de 100.000 euros, a uma equipa liderada por Jorge Polónia, médico e investigador da Universidade do Porto, que candidatou uma investigação sobre o impacto do sal na saúde dos portugueses.

Houve ainda duas menções honrosas, no valor de 10.000 euros cada. Uma atribuída à equipa de Tiago Bilhim, da Universidade Nova de Lisboa, por uma técnica pouco invasiva para tratar a hiperplasia benigna da próstata, o tumor benigno mais frequente nos homens com mais de 60 anos. A outra foi dada à equipa de José Castillo, da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), pelo desenvolvimento de uma terapêutica que permite minimizar as lesões provocadas pela morte de células do cérebro em caso de AVC ou de doenças neurodegenerativas.


*


Ao contrário do que é insinuado em comentários à notícia do Público, a Fundação Bial não recebe subsídios do Estado, como foi amplamente divulgado pela comunicação social quando o governo de Passos Coelho mandou investigar as fundações portuguesas e cortou os apoios financeiros a muitas das 190 fundações não IPSS.

Quanto à atribuição de financiamento a projectos pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, é feita por comissões independentes e não pelo respectivo presidente. Os projectos do grupo de investigação da equipa de Miguel Seabra terão sido aprovados por uma dessas comissões, não por ele.

Embora reconheça que no regulamento do prémio Bial nada há que impeça a candidatura de quem ocupe um cargo de gestão da política científica do país, a editora de ciência do Público opina que "há um certo paradoxo ético".

A difamação é uma arma manejada com perícia pelos invejosos e pelos medíocres.
Lamentavelmente este artigo de opinião da editora de ciência do Público foi escrito num momento infeliz.
Lamentavelmente a inveja tornou-se um cancro que mina parte significativa da sociedade portuguesa e obstaculiza o seu desenvolvimento.


Sem comentários:

Enviar um comentário