terça-feira, 21 de agosto de 2012

"O delírio do capitalismo sindical"


"20 Agosto 2012 | 23:30
João Cândido da Silva - joaosilva@negocios.pt


O percurso até à privatização da TAP promete ser interessante e cheio de surpresas. Os sindicatos que têm expressão na empresa são mais do que as mães e é por este lado que poderão surgir as principais curiosidades. Talvez, até, tenha chegado a hora de o Governo amarrotar a lista de potenciais interessados na compra da companhia e de a depositar no cesto dos papéis.

No longínquo ano de 1999, os pilotos fizeram uma greve que provocou muito ruído e muitos prejuízos. Entre as reivindicações estavam, como é óbvio, actualizações substanciais nos salários. Um dos argumentos era o de que os colegas da Swiss Air ganhavam muito mais dinheiro pelo mesmo trabalho e pelas mesmas responsabilidades. Não interessavam as diferenças entre as duas economias. E também não despertou qualquer interesse entre os pilotos da TAP o facto de a empresa helvética ter estourado algum tempo depois, esmagada pela circunstância incontornável de ter muitos custos e receitas insuficientes para os cobrir.

A guerra foi feia. A empresa, com o aval do Governo, até colocou anúncios na televisão para zurzir os pilotos e colocar a opinião pública do seu lado. Nem teria sido necessário fazer o investimento. Num país de ordenados baixos, um conflito laboral em que os grevistas desfrutam de salários estratosféricos em relação à média nacional não é uma luta com grandes possibilidades de se tornar popular. Capaz de provocar menos simpatia, talvez só uma paralisação de banqueiros em luta por melhores remunerações.

No fim, os gestores da transportadora, com o natural aval do Governo, conseguiram que os pilotos regressassem aos "cockpits" sob a promessa de que, quando a companhia fosse privatizada, teriam direito a um significativo pacote de acções. A garantia não suscitou muita crítica. Os aviões voltaram a voar, o processo de venda da empresa continuou a arrastar-se e, com alguns anos de excepção pelo meio, os prejuízos nunca deixaram de rondar a TAP, como um urso atraído por mel.

Agora que os tempos da prosperidade ficcionada terminaram e os apertos financeiros obrigam a transformar as tartarugas em lebres, a privatização da TAP vai avançar e colocar um ponto final em duas décadas de avanços, recuos, hesitações e contra-hesitações. Foi a oportunidade para o sindicato dos pilotos retirar da gaveta uma antiga promessa, de lhe soprar o pó e limpar as teias de aranha. Querem ressuscitar o capitalismo sindical tal como dizem que lhes foi prometido. E não estão sozinhos. O sindicato dos trabalhadores da manutenção também alega que lhe foram oferecidas acções da empresa e pretende que o prometido seja cumprido.

O primeiro aspecto curioso neste episódio está no facto de um dos horrores do capitalismo, tal como ele é visto habitualmente pelos sindicatos, ter sido, afinal, uma arma eficaz para os calar. Segue-se a circunstância absurda de alguém ter prometido a terceiros uma fatia da propriedade pública, dos contribuintes, portanto, sem ter mandato, nem legitimidade para o fazer. Se o hábito pega, ainda se poderá assistir à gestão da CP a oferecer locomotivas para tentar parar as greves. Quanto a acções, talvez nem os trabalhadores as queiram se já tiverem as paredes de casa forradas com outro material mais adequado.

As reivindicações que surgiram na TAP revelam que há quem não se tenha apercebido que a era dos delírios passou e espera-se que não regresse. A TAP precisa de investidores sólidos, sentido das responsabilidades e paz social. A alternativa é a que os sindicatos que operam na empresa parecem preferir. Isto é, boas condições remuneratórias e participações no capital de uma empresa que, com prejuízos de 112 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, caminha para a insustentabilidade e arrisca-se a ficar sozinha no altar, sem noivo que lhe queira pegar."


Zé Provinciano 21 Agosto 2012 - 00:50
O salário dos pilotos da TAP e o salário médio dos portugueses
As reivindicações salariais dos pilotos da TAP são escandalosas. É que os pilotos, se tivessem algum decoro, a fazer comparações deviam fazê-las tendo em conta o salário médio dos portugueses. Através de uma regra de três simples. Supondo que queriam ter um salário igual aos pilotos da Air France. O valor do seu salário calculava-se pela relação entre o salário dos pilotos da Air France e o salário médio dos franceses e tendo em conta o salário médio dos portugueses.


albucas 21 Agosto 2012 - 08:09
Salário dos pilotos
É uma ideia correcta mas que não corresponde à realidade.
É óbvio que os pilotos deveriam olhar para o País que temos e atento isso lutarem pelo que consideram justo.
O leitor fala em médias mas esquece-se de uma coisa. O tal trabalhador médio pelo qual se fariam as contas se pretender ir para outro País, no exemplo que deu, França, eles não precisam dele e não o querem e portanto não vale nada.
No entanto se for piloto, provavelmente já o querem e pagam-lhe como se fosse francês.
Percebeu onde está o erro do seu raciocínio?


rato 21 Agosto 2012 - 16:52
Oh albuco
O albucas tem muita retórica mas pouca lógica e nenhuma razão.

O albucas escreve "O tal trabalhador médio pelo qual se fariam as contas se pretender ir para outro País no exemplo que deu, França eles não precisam dele e não o querem e portanto não vale nada.
No entanto se for piloto provavelmente já o querem e pagam-lhe como se fosse francês.
"

Coitado de si e do seu raciocínio já que a realidade e os factos logo o desmentem. Teve azar com o exemplo. Então é tão ignorante que não sabe que precisamente na França há milhões de portugueses a trabalhar e, tanto quanto é público, não consta que a Air France se ponha de joelhos a implorar e oferecer emprego aos ilustríssimos pilotos da TAP...


Zolkron 21 Agosto 2012 - 17:21
O cerne da questão
Nesta longa história já de si trágico-cómica, que é a TAP, está o espelho de Portugal em vários detalhes.
  1. Um ministro que prometeu algo para o qual não tinha mandato. Alguém vai falar com este senhor quando chegar a hora da verdade?

  2. Um accionista que é o Estado, detém 100% da companhia e gere-a pessimamente. Alguém vai pedir justificação de anos de passivo e a operar no vermelho a quem foi ministro da tutela?

  3. Um gang profissional que há vários anos chula a empresa e o país. O sindicato dos pilotos vai ser chamado à pedra por causa dos milhões perdidos em greves ao longo dos anos?
Em resumo, só uma saída para a TAP é aceitável para o país: a venda total da empresa e quanto mais depressa melhor.

O contribuinte agradece.


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