José Hermano Saraiva
(Leiria, 3 de Outubro de 1919 - Palmela, 20 de Julho de 2012)
Nascido em Leiria, aí fez o ensino liceal e, mais tarde, ingressou na Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas, em 1941, e em Ciências Jurídicas, em 1942.
Foi professor do ensino secundário, advogado e historiador.
Durante o Estado Novo (ditadura) esteve ligado à política, tendo sido deputado à Assembleia Nacional, em 1957, e ministro da Educação, entre 1968 e 1970, aí enfrentando a crise académica de 1969, em Coimbra, na qual estiveram envolvidos os estudantes que se tornaram nos políticos socialistas a quem os eleitores entregaram a governação do País a partir de 1976.
A colaboração com a RTP começou em 1971 como autor e apresentador d’ "O Tempo e a Alma", programa televisivo onde se começa a descobrir a sua extraordinária capacidade de comunicação.
No ano seguinte foi nomeado para o cargo de embaixador de Portugal no Brasil que desempenhou até à revolta dos capitães milicianos de 25 de Abril de 1974.
Em 1978 é editado um dos seus livros mais conhecidos, a "História concisa de Portugal", que vendeu cerca de 180 mil exemplares. O livro foi escrito durante o auto-exílio que cumpriu na Nazaré, a praia da sua infância, durante o PREC (Período Revolucionário em Curso), em 1974-75, a convite do editor livreiro Lyon de Castro.
Dirigiu também uma outra História de Portugal, em seis volumes, publicada em 1981 pelas Edições Alfa, que serviu de suporte à obra multimédia História Essencial de Portugal, ímpar no panorama audiovisual português e que fez despertar o gosto pela História de Portugal em milhares dos nossos compatriotas.
Regressou à RTP em 1978, como autor e apresentador de "Gente de Paz". Seguiram-se os programas televisivos "Histórias que o Tempo Apagou" (1994), Lendas e Narrativas (1995), "Horizontes da Memória" (1996) e "A Alma e a Gente" (2011).
Nas suas últimas entrevistas, uma à SIC e outra à RTP, revela um enorme amor à família e recorda os episódios mais marcantes da sua vida.
Os comentários que seguem, de reconhecimento do mérito científico-pedagógico deste Professor, fazem-nos acreditar que o nosso País tem futuro:
Rogério Mendonça 20 Julho 2012 - 14:24
Estoriador
Paz à sua Alma.
Em conversa com alguns historiadores de renome, muitos deles até amigos do Prof Hermano Saraiva, diziam que ele efabulava imenso. Recriava muito situações que estariam longe de ter ocorrido, tal como eles as descrevia.
Por brincadeira, até diziam que estava ali um grande...estoriador, tal a facilidade com que contava e recriava estórias.
De qualquer modo, fica na memória a sua imensa capacidade de comunicação, que tinha o dom de tornar interessantes matéria algo complexas e até maçadoras.
Anónimo 20 Julho 2012 - 14:50
Pobre povo
Paz à sua alma. Condolências aos seus familiares. Portugal e os Portugueses ficam mais pobres com a sua partida. Com a mediocridade que abunda no nosso Pais é triste ver partir um homem desta envergadura, contudo, era bom que os nossos políticos copiassem as suas qualidades.
j.cm 20 Julho 2012 - 15:02
Grande Homem
Descanse em paz, Professor. Foi a única pessoa que me fez interessar por História e era com imenso prazer que via as suas narrativas na TV, ele até parecia ter vivido pessoalmente todos aqueles acontecimentos.
Luis Manuel 20 Julho 2012 - 15:31
Já tenho saudades
Um homem que não estudou nas novas oportunidades, nem ao abrigo do protocolo de Bolonha, nem teve passagens administrativas na faculdade. Um advogado que se interessou pela história e pela filosofia, um homem de grande valor e um comunicador nato, consistente e volitivo. Viveu uma longa vida e marcou muitas gerações, fez do que melhor se pode fazer em televisão, e usou-a na sua função mais nobre — veículo de cultura e informação. Num tempo em que a mediocridade impera e prospera, fica o seu exemplo de sede de conhecimento e a habilidade única de conseguir fazer-se ouvir — e de que maneira — sem luxos, ostentações ou megalomanias cénicas tão em voga na nossa televisão. À sua família uma palavra de consolação e também de entusiasmo pelo legado que deixa.
Anónimo 20 Julho 2012 - 15:46
Chaka
Paz a sua alma! Morreu um grande Português e um grande patriota que tinha orgulho na sua Pátria, na sua história e nas suas gentes.
Um exemplo para todos.
Ana Isidro 20 Julho 2012 - 15:59
Portugal ficou mais pobre
Grande Senhor, única pessoa que me fez ter interesse pela História do país que me viu nascer, através das suas narrativas da TV.
Descanse em Paz, Professor.
RQ 20 Julho 2012 - 16:19
As histórias da minha infância
Pouco posso opinar sobre o Sr. como historiador, jurista, ministro ou até personalidade, nem me atrevo numa situação destas, pois não seria nada agradável. No entanto vos garanto, como contador de histórias fez-me ficar agarrado à televisão durante muito tempo, marcou a minha infância e sempre o recordarei. Ainda hoje, se estivesse a fazer zapping e lá estivesse o Sr., eu parava e ouvia como se fosse um menino. Paz à sua alma.
ra0026523 20 Julho 2012 - 17:02
Grande patriota
Enorme figura das letras, grande português, desligou-se da política e destes reles políticos, soube gerir a sua vida com dignidade. Habituei-me a vê-lo na RTP durante 41 anos. Figura e personagem inigualável, ponham os olhos neste grande Homem. Paz à sua alma, sentimentos a toda a família e amigos. Obrigado, Professor.
José Domingos 20 Julho 2012 - 17:09
O Prof. José Hermano Saraiva é um exemplo do grande erro das actuais sociedades em menosprezar o saber dos mais velhos, quer ele seja erudito, como é o caso, quer produto sofrido do acumular dos anos
Acabei de tomar conhecimento, há momentos, do falecimento do Prof. José Hermano Saraiva.
Sou um português comum, porém, isso não obsta a que sinta, no mais profundo de mim, uma grande perda e uma grande tristeza pelo seu passamento.
De facto, é com imenso pesar que vejo desaparecer um gigante da nossa cultura, que poderemos apelidar, sem receio de estar a ser excessivo, de um dos maiores “abencerragens” de um tempo que vai morrendo aos poucos, de um dos últimos paradigmas do saber culto em Portugal, a par, por exemplo, do Prof. Adriano Moreira, que Deus nos conserve por muito tempo ainda, para que possa continuar a compartilhar connosco, presencialmente, a sua também ímpar e imensa sapiência.
A perda do Prof. José Hermano Saraiva é tanto mais sentida, quanto vivemos um tempo quase de anti-cultura ou, no mínimo, em que a cultura é encarada como algo displicente e dispensável e até, por vezes, ignorantemente risível.
Embora se tenha perdido irremediavelmente e para sempre o seu imenso cabedal de saber, fica-nos, ao menos, o legado que nos deixou, consubstanciado nos maravilhosos e apelativos programas que fez para a televisão, em que brilha a sua figura de Professor e comunicador, e ao longo dos quais deixou patente uma erudição portentosa, que vai muito além do seu vasto e didáctico ensino da História, para invadir, com a segurança de quem sabe, domínios como a Arquitectura, o Latim, a Arqueologia e tantos outros.
Os tempos vão cada vez mais sáfaros para o aparecimento de pessoas com a craveira cultural do Prof. José Hermano Saraiva, pessoa em quem, por manifesta felicidade, se conjugaram o saber, o dom de comunicador, o brilhantismo da exposição dos temas e o apelo, um apelo quase mágico, que, de um modo transversal, deixava e deixará — esperamos que o seu legado não seja encaixotado mas divulgado — pegados ao ecrã, de um modo transversal, os espectadores, independentemente da sua classe social ou etária.
Obrigado, Prof. José Hermano Saraiva, pelo muito que aprendi consigo e que aprenderei, visto que há bastos programas que perdi de ver.
Obrigado pelo seu vasto saber, que não foi, decerto, conseguido colocando os livros sob o travesseiro ou nalgum ilusório programa de Novas Oportunidades, mas estudando afincadamente, numa palavra, trabalhando, trabalhando arduamente e muito, que é aquilo a que, nos dias de hoje, é costume fugir e até é incentivado pela redução néscia dos programas.
Daí, a cada vez maior iliteracia — para ser eufemístico e não lhe chamar ignorância — que hoje campeia na sociedade portuguesa, filha do facilitismo mórbido que rege o nosso Ensino.
Uma vez que não tenho outro modo de o fazer, aproveito este meu comentário para apresentar à família enlutada as minhas sentidas condolências.
Prestarei o meu preito de homenagem ao Prof. José Hermano Saraiva, pela sua obra e pela sua pessoa, estando presente nas suas exéquias fúnebres.
O legado que "me" deixou, foi ensinar-me que muitas as vezes as coisas não são como nos contam!
ResponderEliminarSabem que mais, ele tinha razão! Basta ver as notícias da atualidade, e realço o fato de hoje haver inúmeras formas de receber informação, ao contrário de outros tempos, para se perceber as formas capciosas e manipuladoras de fazer história. Muitos não gostaram de ele dizer que a nossa história não foi só maravilhas, pois não foram cometidos horrores de toda a espécie, e a verdade incomoda, tal como reescrever o 25 de Abril, afinal o que aconteceu? Eu acredito na versão dele, embora perceba que o "meu" Major Salgueiro Maia(), tenha sido enganado e ele sim levado as coisas a sério. Grandes homens à sua maneira! Sérios.