quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Facturas eleitoralistas


Facturas eleitoralistas é, simplesmente, um dos mais desassombrados artigos publicados nos últimos tempos no JN:

"A falta de transparência nas contas do sector público que todos os meses o Ministério das Finanças publica é uma das mais importantes lições do que se passou de Agosto até 29 de Setembro, o dia em que soubemos que faltavam 2.600 milhões de euros nas contas para respeitar o défice de 7,3% do PIB prometido em Bruxelas e acordado com o PSD e mais de cinco mil milhões para se chegar aos 4,6% em 2011.

O Governo não enganou apenas o PSD e o Parlamento. Enganou-nos a todos fazendo-nos crer que o problema estava controlado e desacreditando todos quantos, à medida que iam saindo os números, se iam mostrando preocupados.

A mentira ou omissão, como lhe queiram chamar, sobre a necessidade de novas e mais duras medidas de austeridade não é inconsequente. Muitos dos portugueses que acreditaram que tudo estava bem, como lhes dizia o Governo, tomaram decisões de gastos com o subsídio de férias. Em vez disso poderiam ter poupado para enfrentarem com menos sacrifícios o difícil ano que se aproxima.
(...)
Quando José Sócrates disse em Maio que o mundo tinha mudado, tinha razão. Depois do que se passou na Grécia, Angela Merkel obrigou todos os países do euro a abandonarem as políticas expansionistas que tinha também subscrito no Grupo dos 20.

Nessa altura, o Governo apresentou o conhecido PEC 2 e obteve do PSD o acordo para adoptar uma das mais importantes medidas, o aumento do IVA, obrigando o maior partido da oposição a aceitar uma subida de impostos com o famoso pedido de desculpas.
Um papel muito bem feitinho tinha as contas feitas e tudo parecia estar programado até 2011. Mais eis que depois do Verão tudo muda.

Em duas semanas passámos do "está tudo bem" para o segundo aumento de impostos num ano e um corte de salários. Os submarinos, as receitas não fiscais e os mercados financeiros são os argumentos que ouvimos do governo para o plano de austeridade apresentado. Mas a soma destas parcelas estão muito longe dos perto de oito mil milhões de euros que vão ser arrecadados este ano e no próximo para se respeitar os compromissos assumidos em Bruxelas.
(...)
A solução para o problema financeiro do país foi desenhada por José Sócrates definindo como prioridade a manutenção do PS no Governo. Em segundo plano ficou a minimização dos custos do ajustamento a um mais baixo nível de vida dos portugueses. Resolver o problema em Maio teria corroído menos os nossos bolsos, mas dava ao PS e a José Sócrates menos garantias de se manter no Governo.

Temos de reconhecer que toda a estratégia política é brilhante. O PSD vai viabilizar um Orçamento e engolir as ameaças que fez e as condições que colocou. Se a economia internacional evoluir como se espera em finais de 2011, quando estivermos a falar do Orçamento de 2012, poderá já haver dinheiro para o habitual bodo aos pobres em caso de eleições.

As medidas eram necessárias mas poderiam ter sido menos duras se adoptadas mais cedo. A factura de governar para eleições quem a paga somos nós.
"


E mais uma vez HG desencadeou uma torrente de comentários dignos de arquivo:


vl1950 04 Outubro 2010
Bem vinda à realidade ...
... da mentira que tem sido a política no nosso País. É um passo importante na nossa imprensa.
A sua raiva é justa e tanto maior quanto num passado recente a própria HG deu o benefício da dúvida a este Governo e a este Primeiro Ministro desonesto.

Estou, porém, em desacordo consigo num ponto. O malabarismo, por vezes brilhante, de José Sócrates não vai funcionar sempre. O PPC é ingénuo, inexperiente e incompetente para liderar o País, mas isso já não é suficiente para constituir uma garantia de vida política a José Sócrates como o foi Manuela Ferreira Leite.
Os ditadores e aldrabões têm um limite que não lhes é tolerado ultrapassar quando a população fica farta.

A HG está è espera de uma recuperação económica em finais de 2011? Mas a HG não é economista?
Em que bases assenta essa retoma?
Não vê que depois desta manobra feita aos portugueses, com a manutenção de preços altos no petróleo, a incontornável subida nas taxas de juro, o aumento do desemprego que é mais do que certo, implicando tudo isso uma redução do consumo, caminhamos alegremente para uma recessão económica interna e um abrandamento ao nível da Europa?
Como sabe, a Grécia não conseguiu aumentar este ano as receitas como tinha dito a Bruxelas, devido à recessão! Por isso, novos cortes estão a caminho para 2011.

No nosso caso, só com mais fundos de pensões se poderá esconder o défice e enganar Bruxelas, mas não os investidores. Como consequência, os investidores manterão os juros altos para Portugal, suficientemente insustentáveis para acabar de secar de vez o sistema bancário nacional, que já só funciona com dinheiro do BCE e a taxas baixíssimas e insustentáveis. Aliás, dificilmente o nosso sistema bancário sobreviverá na sua configuração actual, porque se é certo que não foi tão atingido pelo subprime como outros na Europa, nem por isso tem estado a ajudar a economia (Dinheiro? Só para grandes projectos e para amigos!)
Espere uns meses e verá que a próxima crise será mais perto do default, se não for já mesmo para o País recorrer ao mecanismo especial de financiamento para economias incapazes de se financiar no mercado, ou seja, falidas!
Acha que depois das eleições presidenciais Cavaco Silva vai permitir que uma cena como a que se verificou nas últimas semanas se repita ainda com o actual governo? Acha que nessa altura ele se vai preocupar com a crise política quando a manutenção do actual quadro parlamentar é ele próprio fonte de crise e incapaz de gerar qualquer solução para o País?

Em suma, acha mesmo que José Sócrates nos vai continuar a enganar muito mais tempo?
A história diz-me que não!


AtomSmith 04 Outubro 2010
O problema da mentira em Portugal
Vamos só comparar Portugal com os EUA em questão de mentira:
Bush sénior disse que não aumentava impostos, foi o célebre "Read my lips", e aumentou. Os próprios republicanos não lhe perdoaram.
Bill Clinton ia sendo impugnado por enganar a mulher e mentir na investigação do caso Lewinsky.
G.W.Bush perdeu a credibilidade total quando se descobriu que não havia armas de destruição massiva no Iraque.
Hillary Clinton disse que aterrou na Bósnia debaixo de fogo, foi desmascarada, destruiu a credibilidade e perdeu contra o Obama.
Faço a pergunta: e nós, quantas mentiras muito mais sérias já ouvimos? Será que já não era altura de mudar a nossa complacência cultural diante da mentira? Se não por uma questão moral, por uma questão de pragmatismo e higiene política.
Sem dúvida que já toda a gente mentiu e por vezes requer coragem dizer a verdade. Mas em situações destas não deve haver complacência pois são mentiras premeditadas que afectam a vida das pessoas e a confiança na democracia.


Vic_Lion 04 Outubro 2010
Consequências criminais
Sra. Helena Garrido: perante aquilo que descreve e que, julgo, poucos portugueses duvidam, o governo actuou de forma negligente e irresponsável, ou seja fez gestão danosa da coisa pública.
Não é motivo suficiente para instaurar procedimento criminal pelo menos ao primeiro-ministro e ao ministro das finanças?
Veja o bom exemplo da Islândia em que está a ser movido um procedimento judicial ao primeiro-ministro pelo motivo acima referido.


zap 04 Outubro 2010
HG faz muito bem em puxar as orelhas a Wall Street e Bruxelas
É o que gente inteligente depreende do seu inteligente artigo. Primeiro, nos anos 2008 e 2009, para corrigirem as trafulhices financeiras americanas esses iluminados europeus dão ordens aos governos para injectarem dinheiro à tripa-forra na banca e na economia, elevando assim os défices públicos para números astronómicos. Agora, obrigam todos os Sócrates da UE a apertarem os cintos e os calos a toda a banca, a toda a economia e a todas as populações europeias. E obrigam os políticos a fazerem figura de parvos diante dos seus povos. HG tem razão, essa malta está mesmo a precisar de quem lhes puxe as orelhas bem puxadas.


jtpacheco 04 Outubro 2010
A irresponsabilidade não pode render
Concordo com quase tudo o que disse, excepto com a qualificação que faz desta estratégia politica: brilhante, diz você, eu diria irresponsável e criminosa.

Quando o PSD pediu a clarificação do orçamento até 9 de Setembro, caiu o Carmo e a Trindade: que se estava a radicalizar o discurso, que era uma irresponsabilidade, etc.

Afinal, como agora vemos, havia toda a razão para as questões levantadas: a execução orçamental era a desgraça de que se suspeitava, o novo orçamento tinha que conter correcções dramáticas mas o Governo esperou até ter a certeza de que já não poderia ser demitido e, a seguir, partiu a loiça.

E é preciso que se diga que o governo não tem estado sozinho neste embuste: o PS tem cerrado fileiras em torno do seu líder, o que o co-responsabiliza por esta gestão.

Resta-me a esperança de que esta irresponsabilidade criminosa não saia impune e que, a seguir às presidenciais, o Governo seja prontamente demitido e o PS pague nas urnas a factura desta liderança.

Por uma ínfima parte desta sucessão de escândalos, aldrabices, irresponsabilidades e arrogância, Sampaio não teve dúvidas em demitir Santana.
Nessa altura achou-se que havia tantas dúvidas sobre a transparência das contas públicas que se clamou por uma auditoria do BP para apurar a verdadeira dimensão do défice.

E agora? Não há dúvidas sobre a transparência das contas apresentadas pelo Governo? Alguém está tranquilo de que não vão aparecer novas surpresas?

Já houve tempo em que achei que o governo se devia manter em funções, em nome da estabilidade política que seria um factor importantíssimo para ultrapassar esta crise. Nesta altura julgo que o risco deste governo se manter em funções, mantendo esta opacidade e falta de respeito por todos nós, ultrapassa qualquer benefício que a sua permanência possa ter.


zap 05 Outubro 2010
Facturas do canibalismo liberal
Toda a gente informada e que não sofre da mioleira sabe que esta crise que afecta dezenas de países do mundo, incluindo o nosso, teve origem nos sermões fundamentalistas do clero liberal do "quanto menos Estado melhor", e do "quanto mais desregulação financeira melhor".
Este clero tem muitos crentes e por cá eles fazem gala disso, pavoneiam-se pelas universidades e pelos media, engordam à custa do contrário do que rezam, fazem colóquios e conferências onde se convidam e elogiam uns aos outros, muitos envolvem-se na jogatina de casino, outros, ao mesmo tempo que jogam, ensinam essa jogatina a iniciados da confraria para lhes impingirem na hora certa e com bom lucro o que compraram a outros, sem saberem ao certo o que compraram e o que venderam.
Enfim, masturbam-se com as cartilhas liberais que lhes meteram nas cabeças ao ponto de acreditarem que existe mercado num pequeno país onde nunca existiu nem existe mercado nenhum. Mais, se os monopólios e oligopólios onde trabalham lhes pagam bem e lhes dão prémios chorudos ou se a jogatina de casino os favorece com dinheiro fácil sem produzirem um feijão ou um canivete, têm sempre uma justificação do seu portfolio patrimonial para os outros, que é a de que o mercado, que eles fantasiam nos seus rituais religiosos mas que não existe fora dessas fantasias, tem sempre razão e por isso premeia o mérito (que eles nos seus rituais fingem que é deles).
Claro que se o canibalismo financeiro ou económico a que dedicam os afundar a culpa é sempre dos políticos e dos inocentes ateus da teologia do mercado. Só é pena que esta associação de pavões não saiba nem se preocupe em cultivar e exportar fruta e legumes ou em fabricar e exportar parafusos e alicates. E que passe o tempo a criticar os outros e a dar-lhes lições de contos de fadas. Pobre do país que frequenta ou leva a sério tais oráculos.


jovemvidente 06 Outubro 2010
Os zap's deste país ...
... são os lambe-botas do Sócrates, os que tudo fazem para varrer o lixo para debaixo do tapete.
Nos últimos 15 anos de governo, 13 são do PS! E falam com uma sobranceria como se ontem tivessem começado a governar.
O que nos aflige não é tanto a crise mundial, mas a crise nacional: de vergonha, de responsabilidade, de competência e, sobretudo, de honestidade, lato senso, intelectual, política e criminal.

Em treze anos, estes governos PS conduziram o País à 6ª posição na lista dos 10 mais próximos da bancarrota, só à frente da Venezuela, da Grécia, da Argentina, da Irlanda e do Paquistão.
Nos primeiros quatro meses deste ano, depois de todos os dados mais que conhecidos de todos nós, endividaram o País a uma média de 63 milhões de euros/dia; nos quatro meses seguintes, o endividamento diário passou a 104,5 milhões; as perspectivas actuais, para mim que só sei o que o governo deixa, mesmo com os cortes já conhecidos, julgo não exagerar que, no final do ano, se registará um endividamento diário médio, estimado por baixo, de 80 milhões. É fácil fazer as contas: 30 mil milhões só este ano!
Mesmo que algum endividamento seja de médio e longo prazo, não há capacidade de amortização e pagamento dos juros.

E esta situação tem que ter um fim. Quando? Quando o FMI der entrada, estes trafulhas todos se safem de mãos nos bolsos a assobiar para o lado e os labregos cá fiquem para, em 15 ou 20 anos, pagarem as dívidas.
São estas as incompetências — para ser leve — que nos governam e são os zap´s lambe-botas que lhes dão cobertura.
E assim vamos, cantando e rindo a fazer de lorpas e a perder o nosso tempo a dar guita a esta gente!


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