terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Resultados da componente comum da PACC 2015


O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) divulgou ontem em comunicado de imprensa os resultados da componente comum da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) realizada no dia 19 de Dezembro de 2014.

A componente comum da PACC tem 32 perguntas de resposta múltipla e pede a construção de um texto sobre um tema dado — este ano foi a qualidade e utilidade da informação que circula na Internet e nas redes sociais que aí cresceram. O leitor interessado pode ler um enunciado da prova (o outro altera apenas a ordem das respostas) e consultar as respostas correctas e os critérios de classificação.

A lista de candidatos aprovados pode ser consultada aqui. O resultado individual de cada candidato só pode ser consultado pelo próprio.

A nota introdutória do comunicado do IAVE esclarece de imediato o objectivo desta prova e o modelo onde se inspira (o negrito é meu):
Reitera-se a informação veiculada aquando da publicação de resultados da aplicação do ano escolar transato, realçando que a PACC não visa substituir o valor probatório da formação inicial dos candidatos, não pretende avaliar conhecimentos específicos no domínio pedagógico, nem compete, do ponto de vista dos resultados que apresenta, com quaisquer outros mecanismos de formação e avaliação dos candidatos eventualmente desenvolvidos ou a desenvolver em contexto profissional.

Como se encontra expresso na legislação que enquadra a PACC, a componente comum visa avaliar a capacidade para mobilizar o raciocínio lógico e crítico, bem como a preparação para resolver problemas em domínios não disciplinares. Neste contexto, está implícita a capacidade para consultar e interpretar informação disponibilizada em diferentes suportes, textos, tabelas, gráficos ou outros. Considera-se ainda essencial avaliar a capacidade de comunicar corretamente em língua portuguesa, que é transversal a todos os grupos de docência.

A componente comum da PACC replica um modelo validado internacionalmente e está ancorado em provas similares, desenvolvidas pelo Australian Council for Educational Research (ACER), organização com larga experiência no desenvolvimento de provas para fins de certificação profissional, e parceira da OCDE no estudo PISA, durante mais de uma década.

A componente comum da PACC visa avaliar conhecimentos e capacidades transversais a diversas dimensões profissionais, também relevantes para a docência, e que se consideram essenciais para o exercício da profissão. Com a aplicação desta prova, o Ministério da Educação e Ciência pretende valorizar a profissão docente e, do mesmo modo, a escola pública, que passa a dispor de critérios de seleção que valorizam os docentes que evidenciam os conhecimentos e as capacidades que agora se avaliam.

A tabela seguinte contém as estatísticas da realização da prova:



Resultados globais

A prova foi classificada na escala de 0 a 100 pontos, sendo aprovados os candidatos que obtiveram uma classificação igual ou superior a 50 pontos.
A cotação atribuída aos 32 itens de escolha múltipla corresponde a 80% da cotação total, sendo os restantes 20% atribuídos ao item de produção de um texto com um número de palavras entre 250 e 350.

No conjunto das 2490 provas classificadas foram aprovados 1636 candidatos (65,7% do total). Portanto ficaram reprovados os restantes 854 candidatos (34,3%), ou seja, mais de um terço dos candidatos avaliados reprovou na PACC.

A média das classificações foi 56,2 pontos e a mediana da distribuição dos resultados foi 56,5 pontos, o que significa que metade dos candidatos obteve uma classificação superior a este valor.


A distribuição dos resultados por classes de pontuação mostra que os resultados negativos concentram-se no intervalo 30-9,9 pontos (10,9%) e no seguinte, 40-49,9 pontos (18,6%).
Os resultados iguais ou superiores a 50 pontos evidenciam uma concentração na classe 50-59,9 pontos (classe com maior número de candidatos: 23,1% do total) e na classe seguinte, 60-69,9 (com 21,9%). A percentagem de candidatos na classe 80-89,9 pontos é inexpressiva (5,9%) e raros (0,8%) são os candidatos que alcançam ou ultrapassam os 90 pontos.

Resultados por item

No que se refere à classificação do item de produção de um texto, cuja cotação é 20 pontos, a pontuação média obtida pelos candidatos foi 10,2 pontos.


Verificou-se que 22,4% dos candidatos, quase um quarto, não ultrapassaram os 5 pontos, dos quais 21,9% foram classificados com zero pontos. A principal razão para a atribuição da pontuação nula foi o não cumprimento do limite mínimo de 150 palavras (77%), a segunda razão foram respostas em branco (18%).
Com uma classificação entre 10 e 14,9 pontos registaram-se 40,4% dos textos e com uma classificação igual ou superior a 15 pontos ficaram 24,8%.

Finalmente consideramos os parâmetros «ortografia», «pontuação» e «sintaxe». No que se refere à ortografia, apenas em 34,7% das respostas não se registaram erros; na «pontuação», a percentagem de respostas sem erros sobe para 36,4%. O parâmetro «sintaxe», à semelhança de aplicações anteriores da PACC, é o que evidencia melhor desempenho, sendo 49,1% a percentagem de respostas sem erros.


*

O IAVE identificou dois subgrupos de candidatos que conseguiram resultados substancialmente diferentes: os 1946 candidatos que realizaram a prova pela primeira vez (78,2% do total) e os 544 que já tinham realizado uma das duas aplicações anteriores (21,8% do total).

No subconjunto de candidatos que fizeram a prova pela segunda vez, os resultados são piores, por exemplo, a taxa de reprovação foi 53,1%. Apesar de constituírem um pequeno grupo, são os responsáveis pelo empobrecimento dos resultados globais, como pode observar-se nesta tabela do IAVE:

Resultados globais e por tipologia de candidato


Donde se conclui que a sua reprovação no ano passado não terá sido causada pelo ambiente de contestação criado em 18 de Dezembro de 2013, e repetido em 22 de Julho de 2014, pelo sindicato afecto ao PCP — a Fenprof —, mas por uma deficiente formação académica.

A componente comum da PACC é uma prova de cultura geral, portanto igual para todos os candidatos. Em Fevereiro será realizada a componente específica da PACC que difere consoante a disciplina que o candidato a professor pretende leccionar e o respectivo grupo de docência.

Agora já são pais de alunos e cidadãos descomprometidos que vêm defender a PACC para as caixas de comentários dos jornais on-line, como sucedeu no Público:

Bruno
26/01/2015 21:37
É triste de pensar que estes profissionais poderiam um dia vir a ser professores dos meus filhos. Que o desemprego os mantenha bem longe do ensino. Se tivessem vergonha na cara (que não têm) nem falariam mais da palavra greve. Agora entende-se porque não queriam ser avaliados...

JP
27/01/2015 11:46
É de uma tremenda hipocrisia que, perante estes números (e os do ano passado), as organizações sindicais e o tal Conselho Científico do IAVE (que mais parece um Conselho Acrítico) continuem a afirmar que a prova não tem qualquer utilidade prática. Uma prova elementar, em que são necessárias apenas algumas capacidades de interpretação/compreensão, análise e cálculo simples (somar, subtrair, multiplicar e dividir) para passar, ter esta taxa de reprovação, é um indicador claro de que muitos candidatos a professores não têm competência para estar à frente de uma sala de aula.
É preciso actuar ao nível da formação, sim. Mas negar que é preciso actuar ao nível em que esta prova actua, é completamente desonesto.

jorge
Groningen 27/01/2015 12:24
Avante com esta avaliação! Quem não tem competência: Requalificação ou rua. Abaixo os sindicatos, acredito que quem tem dois dedos de testa percebe as suas reais motivações.
NB: Eu sou professor.
  • JJ
    27/01/2015 13:10
    E com certeza estará no top 10 dos melhores professores da atualidade!!!
  • jorge
    Groningen 27/01/2015 14:07
    Caro JJ: Pelo menos não tenho receio de ser posto à prova. Mais: Exigo ser posto à prova. Aqui onde lecciono sou regularmente posto à prova, tanto em termos de actividades lectivas como em termos de investigação. E é assim que deve ser. Para quem se queixa desta prova em particular: A prova por si não justifica o nível de iliteracia gritante do nosso corpo docente.

Jan Wolf
27/01/2015 14:45
A questão de fundo: a qualificação dos professores deveria ser garantida através da certificação dos cursos na A3ES. Uma avaliação rigorosa dos cursos que dão acesso à carreira docente levaria, seguramente, ao encerramento da sua maioria, em particular no ensino privado e politécnico.
Como isto é, na prática, impossível de fazer, resta criar avaliações adicionais que permitam perceber a qualificação dos professores para exercer o cargo. O que fica claro desta avaliação é que, ao contrário da ideia que querem fazer passar os professores e as suas associações e sindicatos, esta qualificação não está a ser garantida e os filtros são necessários.


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