domingo, 25 de janeiro de 2015

O drama grego novamente em cena - II


Sunday, January 25, 2015 - 02:08


Dois anos e meio depois, a Grécia voltou a ter eleições legislativas antecipadas. Comecemos pelos resultados nacionais divulgados no sítio na Internet do Ministério do Interior:


Partidos políticos
__________________________
Syriza
Nova Democracia
Aurora Dourada
To Potami
KKE
Gregos Independentes
PASOK
partidos fora do parlamento
__________________________
votantes em partidos
nulos/brancos
__________________________
votantes
abstenção
__________________________
9.909.528 eleitores inscritos


_________











_________
63,87 %
36,13 %
_________
100,00 %

Totais
_________
35,48 %







_________
97,64 %
2,36 %
_________
100,00 %





_________
36,34 %
27,81 %
6,28 %
6,05 %
5,47 %
4,75 %
4,68 %
8,62 %
_________
100,00%







deputados
_________
149
76
17
17
15
13
13

_________
300








Comparando o mapa interactivo destas eleições com o das eleições de 17 de Junho de 2012, vê-se que o partido de esquerda radical Syriza e o partido de centro direita Nova Democracia trocaram de posição: agora o Syriza é o mais votado em quase todos os distritos e o Nova Democracia apenas ganhou em quinze distritos.





██ Syriza
██ Nova Democracia
██ Aurora Dourada
██ To Potami
██ KKE
██ Gregos Independentes
██ PASOK






Vejamos a transformação do parlamento entre as eleições legislativas de Junho de 2012 e as deste domingo:

Parlamento
__________________________________
Syriza (esquerda radical)
Nova Democracia (centro direita)
Aurora Dourada (neonazi)
To Potami (centro)
KKE (comunistas)
Gregos Independentes (direita)
PASOK (socialistas)
__________________________________
total

2012
_________
26,89 %
29,66 %
6,92 %

4,50 %
7,51 %
12,28 %
_________
87,76 %

deputados
_________
71
129
18

12
20
33
_________
283

2015
_________
36,34 %
27,81 %
6,28 %
6,05 %
5,47 %
4,75 %
4,68 %
_________
91,38 %

deputados
_________
149
76
17
17
15
13
13
_________
300

variação
_________
+78
-53
-1
+17
+3
-7
-20
_________



Os dois partidos mais votados, o Nova Democracia e o Syriza, trocam de posição. O Aurora Dourada, partido que professa a ideologia neonazi, sobe para terceiro lugar, embora não aumente a votação, e os comunistas do KKE obtêm mais três deputados. O PASOK, que estava no Governo em coligação com o Nova Democracia, esvazia-se.
O Syriza, um partido da extrema-esquerda, é o grande vencedor destas eleições, tendo ficado a dois lugares da maioria absoluta e, como o partido mais votado tem um bónus de 50 deputados, o grande derrotado é o socialista PASOK. O eleitorado grego radicalizou-se.


*


Milhares de pessoas celebraram esta noite, em Atenas, a vitória do Syriza nas eleições antecipadas. O líder Alexis Tsipras chega ao poder com a promessa de renegociar a enorme dívida do país com a União Europeia, promessa que sabe ser impossível cumprir porque os outros países já disseram que não aceitam novo perdão da dívida, mas calou fundo no espírito dos eleitores gregos cansados dos cortes orçamentais, do aumento de impostos e desemprego elevado.

Sunday, January 25, 2015 - 01:48


"A nossa vitória é também uma vitória para todos os povos da Europa que estão a lutar contra a austeridade que está a destruir o nosso futuro europeu comum.
A Grécia está a virar uma página, a Grécia está a deixar para trás a austeridade catastrófica, está a deixar para trás o medo e a autocracia, está a deixar para trás cinco anos de humilhação e dor
," afirmou Tsipras no discurso de vitória.

O primeiro-ministro grego cessante Antonis Samaras reconheceu a derrota, mas pediu ao Syriza para não comprometer a frágil recuperação do país que, em 2014, finalmente saiu de uma recessão que durou seis anos:
"Entrego um país que é membro da União Europeia e do euro. Para o bem do país, desejo que o próximo governo continue a manter o que conseguimos alcançar."

Nos últimos dois anos os bancos franceses e alemães diminuíram a exposição à dívida grega e, na passada quinta-feira, o Banco Central Europeu anunciou um programa de compra de dívida soberana para incentivar o crescimento da economia da zona Euro que, na prática, não autoriza os bancos europeus a comprar novas obrigações do tesouro da Grécia enquanto as actuais não forem amortizadas.

A União Europeia fez o trabalho de casa. A classe alta grega há muito que transferiu as fortunas para offshores.
"O povo grego vai recuperar a coesão social e a dignidade. E a mensagem é que o nosso futuro comum na Europa não é o futuro de austeridade. É o futuro da democracia, solidariedade e cooperação", disse Tsipras depois de votar.
O problema é que não se põem economias a crescer com frases bombásticas. Quando os eflúvios da vitória do Syriza se desvanecerem e forem confrontados com a realidade económica da Grécia no contexto europeu e mundial, os gregos vão ter uma ressaca dolorosa.



Cartoon publicado no jornal "Ekathimerini"



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