Na primeira reunião do Conselho de Ministros francês, o novo primeiro-ministro definiu os seis princípios que deverão orientar o Governo.
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Clareza, Colegialidade, Eficácia
Mostrando claramente que considera ser necessário uma liderança forte, Manuel Valls definiu como primeiro pilar a "clareza" da cadeia de decisão, tendo lido o artigo 21 da Constituição francesa: “O primeiro-ministro dirige a acção do Governo”. Destina-se a evitar a falta de liderança do anterior primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault.
O segundo princípio é o critério "colegial" de tomada de decisões para comprometer todo o Executivo num projecto comum. Qualquer projecto de lei ou qualquer decisão que envolva o governo deve doravante "ser precedida por uma reunião atempada de natureza política, reunindo, sob a presidência, os principais ministros em causa". Além disso, Valls pretende reunir o conjunto dos ministros e secretários de Estado de duas em duas semanas.
O terceiro princípio é a "eficácia" de todas as acções governativas. Para Manuel Valls, "1500 reuniões interdepartamentais cada ano, é demasiado". Repetindo uma crítica de longa data de especialistas em engenharia governamental, o primeiro-ministro deseja fazer das reuniões no palácio do Matignon uma "excepção", a regra deverá ser "o trabalho cooperativo interministerial que conduza a acordos" entre os ministros.
O risco de inconstitucionalidade deve ser antecipado
O quarto princípio passa pela “solidez jurídica” porque o ex-ministro do Interior considera que só medidas juridicamente sustentadas e válidas podem legitimar as políticas do seu Executivo.
O quinto princípio passa por “ultrapassar os constrangimentos relacionados com a comunicação” que considera fundamental para o sucesso governativo. Conhecido pelas suas capacidades de comunicação — foi porta-voz de Lionel Jospin (ex-primeiro-ministro) e director de comunicação da campanha presidencial de François Hollande — Valls dará grande importância à forma como o Governo comunica entre si e à forma como expõe publicamente a informação.
O sexto e último princípio orientador diz respeito às relações com o Parlamento e à necessidade de “legislar melhor”: "Governaremos melhor, legislando menos". Além do melhoramento das leis produzidas, Valls identificou ainda o problema da “inflação legislativa”. Um excesso de legislação acaba por ser contraproducente: "A busca de um acordo com a maioria deve ser sempre a regra, esta é a base do contrato de legislatura fundado nos compromissos do presidente da República".
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Tem a França um governo compacto e um primeiro-ministro com capacidade de liderança, governante activo e com ideias claras. Não está, porém, o seu Governo imune a riscos, como sejam as utopias que povoam a cabeça de alguns ministros e os efeitos das relações sentimentais do presidente Hollande. Vamos aguardar.
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