quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"Temos de deixar de brincar e começar a trabalhar"


"Em Portugal estamos muito mal habituados e não conseguimos entender essa realidade. Na verdade não somos só nós. Existem mais países que também são assim. É incrível como é que perdemos tempo a discutir palavras em vez de estarmos preocupados com o país.

É insultuoso que os políticos percam dias a falar da palavra "piegas" proferida pelo primeiro-ministro. Mas o problema é esta palavra ou o estado em que o país se encontra? Às vezes parece que estamos a falar com crianças, que são muito sensíveis ao que se lhes diz, em vez de serem sensíveis ao que realmente é importante.

Quanto custa ao país ter todos os partidos políticos a discutir a palavra "piegas", em vez de discutirem as soluções para o país? Sinceramente, isto é uma brincadeira e uma falta de respeito para com os contribuintes.

O país precisa de oposição séria e construtiva e não de uma oposição destrutiva e sensível a comentários, palavras, etc. Isto tem sido recorrente no nosso país. Não é a primeira vez que acontece e já aconteceu também com o governo de Sócrates.

Como empreendedor fico preocupado como é que o país pode evoluir com uma classe política que aparentemente só critica e só dá importância aquilo que não é importante, mas que aparentemente os torna importantes.

Como empreendedor estou preocupado com a evolução do país e apelo a que a classe política também se preocupe. Como é que podemos evoluir, se quando se está a tentar recuperar o país, o único que se houve são reclamações? Estou certo que podemos fazer melhor e a crítica é sempre boa, mas a crítica construtiva, não a sem significado e com o único intuito de bloquear qualquer avanço.

Não nos podemos esquecer que o problema de Portugal não tem apenas 1 ou 2 anos, tem décadas de má gestão. Temos de entender que alguém, este ou outro governo, tem a obrigação de pôr o país no carril e isso vai doer, mas é necessário. A culpa não está em quem quer endireitar o país mas, sim, em quem o destruiu. Concordo que os Portugueses se sintam revoltados com os sacrifícios, mas não se esqueçam que a evolução do país depende de nós, pelo que temos de aproveitar os que têm e querem tentar voltar a pôr Portugal na rota do crescimento.

Dou-vos um pequeno exemplo da minha experiência enquanto emigrante. Quando vivia e trabalhava fora de Portugal notava claramente a diferença entre o nosso país e outros. Via, e continuo a ver, um país lindíssimo e cheio de pessoas capazes e até mais capacitadas que muitos lá fora. Mas a falta de ânimo, motivação e exigência mata o nosso país. Ninguém quer assumir responsabilidades, antes preferem dizer ao chefe que estão disponíveis no escritório todos os dias até às 20h, em vez de terem objectivos a cumprir.

Actualmente, num dos países onde tenho estado a trabalhar é a Polónia, encontro uma realidade que me chega a espantar. No outro dia visitei um escritório que tinha cerca de 80 postos de trabalho e nem metade estavam ocupados. Perguntei onde estavam as pessoas e a resposta foi: não sei. A política não é que as pessoas cumpram horários e presença, mas sim que cumpram objectivos. Não interessa à administração por onde andam as pessoas, mas sim quem está a cumprir com os seus objectivos. Quem não cumpre é chamado a justificar-se.

A realidade em Portugal é tão diferente neste aspecto. Fala-se muito em teletrabalho, mas na verdade esse conceito não está bem visto pela sociedade. Aquele que não aparece no escritório e que não fica até às tantas da noite é o mandrião. Temos de começar a trabalhar com objectivos e deixar de estarmos preocupados com o cumprimento de um horário de escritório. É esta a responsabilidade que muitos não querem assumir.

A motivação também é chave, para podermos trabalhar mais e com mais prazer. Quando vivia fora e vinha a Portugal para algumas reuniões, ficava desmotivado em menos de 2 dias. A falta de motivação sentia-se nos escritórios e nas pessoas. Enquanto andarmos a fazer de conta que trabalhamos, não vamos sair do mesmo, e isto não é o governo que vai resolver.

Por outro lado, não vejo os políticos a tratarem de encontrar soluções para o país. Vejo-os antes preocupados com as palavras, as lindas frases e como insultar o partido que está no governo. Isto é um péssimo hábito, que não é de agora e que não ajuda os Portugueses, nem Portugal.
Já viu alguma vez o governo e a oposição reunidos para encontrar uma solução para o país e a discutir políticas em que todos dessem o seu contributo? Eu nunca vi. Temos de trabalhar com essa união. Se achamos que algo não está bem, ou que a decisão não é a melhor, então sentemo-nos e discutamos a solução que agrade a todos, porque certamente é a melhor para o país, em vez de andarmos uns a criticar os outros, sem qualquer preocupação por encontrar uma solução viável e construtiva.

Que este artigo sirva de reflexão. Portugal precisa de crescer em vários aspectos. Temos de começar a preocupar-nos com o importante, em vez de gastar dinheiro e tempo com a palavra do dia. Temos de ter mais responsabilidade e trabalhar sobre objectivos. Temos de estar mais motivados e motivar quem não está. Temos de nos unir por um Portugal melhor.


Nuno Carvalho*

*Fundador e líder executivo da Zonadvanced - Grupo First"


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