terça-feira, 10 de março de 2020

O que é a COVID-19 (Coronavirus Disease 2019)?


O que já se sabe sobre a doença causada pelo novo coronavírus que surgiu na China e se está a disseminar por todo o mundo?


Plataforma informática dos casos de COVID-19 do Center for Systems Science and Engineering (CSSE) da Johns Hopkins University aqui.


Vamos apoiarmo-nos na informação do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o principal instituto nacional de saúde pública dos Estados Unidos.
O CDC é uma agência federal dos Estados Unidos, sob tutela do Departamento de Saúde, focada no controle e prevenção de doenças, especialmente doenças infecciosas. A partir de 2013, os laboratórios de biossegurança de nível 4 do CDC contam-se entre os poucos que existem no mundo, sendo um dos dois únicos repositórios oficiais (o outro situa-se na Rússia) de varíola, uma doença erradicada em 1980 graças a uma campanha mundial de vacinação.



Esta é uma imagem do Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2) que causa uma doença chamada Coronavirus Disease 2019 (COVID-19).


Origem e disseminação do vírus

Os coronavírus são uma grande família de vírus comuns em pessoas e em muitas espécies diferentes de animais, incluindo camelos, gado, felinos e morcegos. Os coronavírus dos animais podem, raramente, infectar pessoas e depois disseminar-se entre pessoas como aconteceu com o SARS-CoV na China, em 2003, o MERS-CoV na Arábia Saudita, em 2012, e agora com este novo vírus chamado SARS-CoV-2.

Tal como o SARS-CoV e o MERS-CoV, o vírus SARS-CoV-2 também é um betacoronavírus, um tipo de vírus proveniente de morcegos. As sequências de ARN de pacientes dos EUA são semelhantes às publicadas inicialmente pela China, sugerindo uma provável emersão recente e única deste vírus a partir de um reservatório animal.

O surto iniciou-se em Wuhan, província de Hubei, na China, com o epicentro num grande mercado de marisco e animais vivos, sugerindo a disseminação de animal para pessoa. Em seguida, o número crescente de pacientes sem exposição a mercados de animais pôs em evidência a disseminação de pessoa para pessoa. Esta disseminação de pessoa para pessoa transbordou para fora de Hubei e, posteriormente, para fora da China.
Actualmente, em alguns destinos internacionais, parece ocorrer uma disseminação comunitária, ou seja, não se sabe como, ou onde, algumas pessoas infectadas tiveram contacto com o novo coronavírus.

Gravidade da doença

O quadro clínico completo da COVID-19 não é totalmente conhecido. As doenças relatadas variaram de muito leves (incluindo algumas sem sintomas relatados) a graves, incluindo casos fatais.
Um relatório elaborado na China sugere que as doenças graves ocorrem em 16% dos casos. Pessoas idosas e pessoas de todas as idades com graves problemas de saúde subjacentes — como seja doenças cardíacas, pulmonares e diabetes, por exemplo — parecem estar em maior risco de desenvolver uma COVID-19 grave.

Avaliação de risco

Surtos de novas infecções por vírus entre as pessoas são sempre uma preocupação de saúde pública. O risco destes surtos, para a generalidade das pessoas, depende das seguintes características do vírus:
  • a velocidade de disseminação entre as pessoas;
  • a gravidade da doença resultante e
  • as iniciativas clínicas, ou outras, disponíveis para controlar o impacto do vírus (por exemplo, vacinas ou medicamentos para tratar a doença).
O facto desta doença ter causado enfermidades graves, incluindo enfermidades que resultam em morte, é preocupante, especialmente porque também mostrou uma disseminação sustentada de pessoa para pessoa. São dois dos critérios de uma pandemia. À medida que a disseminação comunitária é detectada em cada vez mais países, aproximamo-nos do cumprimento do terceiro critério de pandemia — disseminação mundial do novo vírus.

Avaliação de risco em 9 de Março de 2020:

  • Para a maioria das pessoas, o risco imediato de ser exposto ao vírus que causa a COVID-19 é baixo. Não há ampla circulação do vírus na maioria das comunidades nos Estados Unidos.
    [Na maioria das comunidades, em Portugal, também não]
  • As pessoas em locais onde foi relatada disseminação comunitária contínua do vírus causador da COVID-19 têm um risco elevado de exposição.
    [Em Portugal, isto sucede nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança e no concelho de Lisboa]
  • Os profissionais de saúde que cuidam de pacientes com a COVID-19 têm um risco elevado de exposição.
  • Contactos próximos com pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 também têm um risco elevado de exposição.
  • Os viajantes que regressam de locais internacionais onde a disseminação comunitária está a ocorrer também têm um risco elevado de exposição, com o aumento do risco dependente do país/região.

Orientações de viagem

Os destinos internacionais dividem-se por três níveis de risco:
Aviso - Nível 3, Evite viagens não essenciais
Ampla transmissão comunitária
  • China
  • Irão
  • Itália
  • Coreia do Sul
Alerta - Nível 2, Precauções aprimoradas
Transmissão comunitária sustentada — precauções especiais para viajantes de alto risco
  • Japão
Atenção - Nível 1, Precauções habituais
  • Hong Kong

Viajantes provenientes de países com ampla transmissão comunitária que regressam aos Estados Unidos [Apelamos aos viajantes que regressam a Portugal para que implementem uma quarentena similar]
Fique em casa durante 14 dias a partir do momento em que deixou uma área com ampla disseminação comunitária contínua (Aviso - Nível 3) e pratique o distanciamento social.

Siga estas etapas para monitorizar a saúde e praticar o distanciamento social:
  1. Meça a temperatura com um termómetro duas vezes por dia e monitorize a febre. Observe também tosse ou dificuldade em respirar.
  2. Fique em casa e evite o contacto com outras pessoas. Não vá trabalhar ou à escola durante esse período de 14 dias [período de incubação médio]. Discuta a situação profissional com o seu empregador antes de retornar ao trabalho.
  3. Não use transporte público, táxi ou carro compartilhado durante o tempo em que pratica o distanciamento social.
  4. Evite lugares superlotados (tais como centros comerciais e cinemas) e limite as actividades em público.
  5. Mantenha distância de outras pessoas (cerca de 2 metros).

Destaques da resposta do CDC

Uma parte importante da função do CDC durante uma emergência de saúde pública é desenvolver um teste para o patógeno e equipar os laboratórios de saúde pública estaduais e locais com capacidade de teste.
  • O CDC desenvolveu um teste rRT-PCR para diagnosticar a COVID-19. O teste consiste numa Reacção em Cadeia da Polimerase com transcrição reversa (RT-PCR), em tempo real, que permite detectar pequenas quantidades do ARN viral.
    • Trata-se de uma técnica de laboratório em que ARN é convertido em ADN pela enzima Transcriptase Reversa (RT), e depois o ADN é amplificado por Reacção em Cadeia (desencadeada pela enzima) Polimerase (PCR). A reacção de amplificação é monitorizada por fluorescência durante a PCR (isto é, em tempo real), não no final como na PCR convencional. Daí chamar-se rRT-PCR.
    • Na noite de 8 de Março, 78 laboratórios de saúde pública estaduais e locais nos 50 Estados e no Distrito de Columbia foram verificados com sucesso e estão a usar os testes de diagnóstico da COVID-19.
    • Combinado com outros reagentes que o CDC adquiriu, existem kits de teste suficientes para testar mais de 75.000 pessoas.
    • Além disso, dois laboratórios do CDC estão a realizar testes para o SARS-CoV-2, podendo testar aproximadamente 350 amostras por dia.
  • O CDC também está a desenvolver um teste serológico para a COVID-19. Estes testes medem a concentração de anticorpos no sangue que são proteínas específicas produzidas em resposta às infecções. Esta resposta imunológica vai permitir detectar infectados que tiveram poucos sintomas ou foram assintomáticos.


Esta é uma foto do kit de teste laboratorial do CDC para o SARS-CoV-2. Os testes do CDC são fornecidos aos laboratórios estaduais e locais de saúde pública dos EUA, ao Departamento de Defesa e a laboratórios internacionais seleccionados.

O leitor interessado poderá encontrar informação actualizada no website da agência federal CDC.

Agora vamos ver um vídeo produzido pela empresa privada que Ryan Haynes e Shiv Gaglani começaram a construir quando eram estudantes de Medicina na Johns Hopkins University.
Fora da sala de aula, eles descobriram que as visualizações eram uma maneira mais eficaz de aprender Medicina. O que começou por ser uma ferramenta para ajudar Shiv, Ryan e os colegas transformou-se na actual Osmosis, uma plataforma abrangente que ajuda pessoas de todo o mundo a entenderem a saúde mais profundamente.

Centenas de milhares de médicos e estudantes de Medicina aprendem por vídeos de animação produzidos por esta empresa. Este narra a história da COVID-19 — causas, sintomas, diagnóstico, tratamento, patologia (seleccione as legendas em português):



  • Em 6:36 mostra-se que a perigosidade do SARS-CoV-2 é uma consequência da sua velocidade de disseminação R₀.
  • 7:40 O teste de diagnóstico consiste numa Reacção em Cadeia da Polimerase com transcrição reversa (RT-PCR), em tempo real, que permite detectar pequenas quantidades do ARN viral.
  • 7:55 O tratamento está focado em cuidados de suporte — fornecimento de líquidos, oxigénio e suporte ventilatório.
    Mas há três medicamentos eficazes em laboratório: cloroquina, um anti-malárico, ritonavir, um anti-viral usado contra o HIV, e remdesivir, um antiviral previamente usado contra o ébola.
    Este último foi administrado ao primeiro doente com COVID-19 nos Estados Unidos no 11º dia da doença, porque o seu estado clínico estava a piorar, e o doente começou a melhorar no dia seguinte. Estão a ser efectuados ensaios clínicos em larga escala na China.
  • 8:37 Como não é possível produzir uma vacina nos próximos meses, a prevenção consiste em evitar a transmissão entre pessoas ou isolar os doentes.
  • 10:37 Breve resumo
  • 11:37 Dedicatória ao Dr. Li Wenliang

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Para os negacionistas fica aqui uma imagem arrepiante dos cuidados intensivos do hospital de Cremona, na Itália, o segundo país com mais mortes por COVID-19, onde os médicos trabalham entre 12 e 14 horas por dia e dizem estar a viver num cenário de guerra:



As imagens foram captadas com câmara oculta pelo programa televisivo Piazzapulita.


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