sexta-feira, 20 de março de 2020

Mensagem de Angela Merkel sobre a COVID-19


Angela Merkel dirigiu-se aos cidadãos alemães para explicar as restrições e apelar a que cada um se isole e distancie como meio de travar a pandemia do novo coronavírus:




“Caros cidadãos,

O coronavírus está a mudar dramaticamente as nossas vidas, a nossa compreensão da normalidade, da vida pública, da união social — tudo está a ser testado como nunca antes. Milhões de vós não podem ir trabalhar, os vossos filhos não podem ir à escola, ao jardim de infância. Teatros, cinemas e lojas estão fechados e o que é talvez mais difícil: todos sentimos falta dos encontros sociais que, noutras circunstâncias, tomávamos como reconhecidos.

Claro que, cada um de nós tem muitas perguntas e preocupações em tal situação sobre os próximos dias. Dirijo-me hoje a si desta maneira invulgar, porque quero dizer-lhe o que me guia — como chanceler — e a todos os meus colegas do governo federal nesta situação.

Isto faz parte do que é uma democracia aberta: que tomamos decisões políticas transparentes e as explicamos, que nos justificamos e comunicamos as nossas acções da melhor maneira possível para que as pessoas sejam capazes de compreendê-las. Acredito firmemente que passaremos este teste, se realmente todos os cidadãos o virem como tarefa deles.

Deixem-me dizer: Isto é sério, por favor leve a sério também. Desde a reunificação alemã, não, desde a Segunda Guerra Mundial, não houve outro desafio ao nosso país em que a nossa acção solidária seja tão importante. Quero explicar a nossa posição actual na epidemia, o que o governo federal e os governos estaduais estão a fazer para proteger todos na nossa comunidade e para limitar os danos económicos, sociais e culturais. Mas também quero dizer-lhe por que a sua actuação é necessária e o que cada um e todos podem fazer para ajudar.

No que diz respeito à epidemia, as informações baseiam-se em consultas constantes do governo federal ao Instituto Robert Kock e a outros cientistas e virologistas: estão a decorrer pesquisas intensas em todo o mundo mas ainda não há tratamento, nem vacina contra o coronavírus.

Enquanto for este o caso — e esta é a diretriz de toda a nossa actuação — só há uma coisa a fazer: retardar a propagação do vírus, aplanar a curva durante vários meses e ganhar tempo. Tempo para a ciência desenvolver medicamentos e vacinas. Mas, acima de tudo, tempo para que aqueles que adoecerem possam ser tratados da melhor maneira possível.

A Alemanha possui um excelente Sistema Nacional de Saúde, talvez um dos melhores do mundo. Podemos sentir confiança. Mas até os nossos hospitais ficariam completamente sobrecarregados se, em pouco tempo, demasiados pacientes fossem admitidos sofrendo sintomas graves de uma infecção pelo vírus.
Estes não são números abstractos em estatística, mas um pai ou avô, uma mãe ou avó, um parceiro — são pessoas. E nós somos uma comunidade em que toda a vida e todo o ser humano conta.

Nesta oportunidade, quero abordar primeiro aqueles que são médicos, trabalham em enfermagem ou nos hospitais ou em trabalho geral na saúde pública. Nesta batalha vós estais na linha da frente, sois os primeiros a ver os doentes e quão severas são algumas infecções. E todos os dias ides trabalhar de novo e estais lá para as pessoas. O que vos realizais é tremendo e agradeço-vos do fundo do meu coração por isso.

Então o objectivo é diminuir a velocidade do vírus na Alemanha. E com isto — isto é existencial — devemos definir uma coisa: reduzir ao máximo a vida pública. Claro que dentro da razão e com a perspectiva — o país continuará a funcionar — naturalmente os fornecimentos serão garantidos continuamente. E queremos preservar o máximo de actividade económica possível. Mas qualquer coisa que possa ameaçar pessoas, qualquer coisa que possa ameaçar o indivíduo ou a comunidade, isso temos de reduzir agora. Temos que limitar o risco de que uns possam afectar os outros, tanto quanto possível.

Sei quão dramáticas as restrições já são, nenhum evento, nenhuma feira, nenhum espectáculo e, por enquanto, nem escola, nem universidade, nem jardim de infância, nem brincar em recreios.

Sei quanto os encerramentos — com os quais os governos federal e estaduais concordaram — interferem na nossa vida e também na nossa auto-imagem democrática. São restrições como nunca existiram nesta república. Deixe-me garantir-lhe — por alguém para quem a liberdade de viajar e de movimento foram direitos tediosamente lutados —
essas restrições são justificáveis apenas em situação excepcional. Numa democracia nunca deveriam ser descuidados e apenas ser adoptados temporariamente.

Mas agora são indispensáveis para salvar vidas por isso, desde início da semana, verificações nas fronteiras e limitações de entrada estão em vigor. Para a economia, para as grandes empresas e as pequenas empresas, para lojas, restaurantes, freelancers já é muito difícil e as próximas semanas serão ainda mais difíceis.

Asseguro-vos que o governo federal faz tudo ao seu alcance para aliviar as consequências económicas e especialmente preservar empregos. Podemos e vamos utilizar tudo que for preciso para ajudar as nossas empresas e trabalhadores neste teste difícil. E todos podem confiar no fornecimento de alimentos a qualquer momento. Se as prateleiras forem esvaziadas num dia, serão reabastecidas. Para todos os que fazem compras nos supermercados, quero dizer: o armazenamento é sensato — aliás, sempre foi — mas em grau mensurável. Acumular como se nunca mais houvesse de novo, é inútil e completa ausência de solidariedade.

E, neste momento, deixem-me agradecer a pessoas que raramente recebem agradecimentos. Quem hoje em dia está sentado num terminal de caixa ou reabastece as prateleiras, presta um dos trabalhos mais difíceis agora. Obrigada por estarem aí para os vossos concidadãos e literalmente manterem a loja (o espectáculo) a funcionar.

Agora, para o assunto que é mais urgente para mim: todas as medidas governamentais seriam desprovidos de propósito, se não utilizássemos os meios mais eficazes contra a propagação demasiado rápida do vírus. E isso é: nós próprios. Tão indiscriminadamente como cada um de nós pode ser afectado pelo vírus, assim cada um deve ajudar.

Primeiro levando o assunto de hoje sério. Não entre em pânico, mas nem por um momento pense que eles não desempenham um papel. Ninguém é dispensável.

Todos contam. Requer esforço de todos nós. É isso que uma epidemia nos mostra quão vulneráveis todos somos, quão dependente do comportamento atencioso dos outros, mas também como através de acções comuns podemos protegermo-nos e fortalecemo-nos uns aos outros.

Todos contam. Não somos condenados a levar a propagação do vírus passivamente. Temos um remédio contra ele. Temos que — por consideração — manter as distâncias uns dos outros. O conselho dos virologistas não é ambíguo. Nenhum aperto de mão, lavagem cuidadosa e frequente das mãos, pelo menos 1,5 m de distância uns dos outros e contacto idealmente escasso com os mais velhos porque eles estão especialmente em risco.

Sei quantos estes pedidos são difíceis para nós. Especialmente em tempos de angústia queremos estar perto dos outros, sabemos cuidar com proximidade corporal ou toque mas, de momento, infelizmente o oposto é que está certo.
Todos precisamos de entender realmente isto: de momento apenas a distância é expressão de cuidado. A visita bem intencionada, a viagem que não era necessária, tudo iso pode significar infecção e realmente agora não deve ocorrer. Existe uma razão pela qual os especialistas dizem: avós e netos não devem encontrar-se. Aqueles que evitam encontros desnecessários ajudam todos os que, em hospitais, têm de cuidar diariamente mais casos. É assim que salvamos vidas.

Vai ser difícil para muitos e nisso dependerá — para não deixar ninguém sozinho — cuidar daqueles que precisam de conforto e confiança. Como famílias e sociedade encontraremos outras formas de apoiarmo-nos uns aos outros.

Já existem muitas formas criativas que enfrentam o vírus. Já existem netos que gravam um podcast para os avós para que não estejam sozinhos. Todos temos que encontrar maneiras de mostrar carinho e amizade — Skype, telefonemas, e-mails — e talvez escrevendo cartas novamente, o correio está a ser entregue apesar de tudo.
Ouve-se exemplos maravilhosos de ajuda de vizinhos aos idosos que não podem fazer compras por eles próprios. Tenho a certeza de que é possível mais. Vamos mostrar como sociedade que não abandonamos os outros.

Apelo a si: respeite as regras que se aplicam nos tempos mais próximos. Nós, como governo, examinaremos constantemente o que pode ser corrigido mas também o que pode ser necessário em adição. Esta é uma situação dinâmica e continuaremos aptos a aprender, ser capaz de repensar e responder com outras ferramentas a qualquer momento.

Também vamos explicar isso. Por isso, peço-lhe: não acredite em boatos! Mas apenas em mensagens oficiais que também traduzimos em várias línguas. Nós somos uma democracia, não vivemos a ser forçados mas compartilhando conhecimento e colaboração. Esta é uma tarefa histórica que pode ser superada se a enfrentarmos juntos.

Tenho a certeza absoluta que vamos superar esta crise. Mas quantas vítimas exigirá? Quantos entes queridos vamos perder? A resposta, em grande parte, está nas nossas próprias mãos. Agora podemos tomar acções decisivas todos juntos. Podemos aceitar as restrições actuais e apoiarmo-nos uns aos outros.

A situação é grave e o resultado incerto. O nosso sucesso depende também, em larga medida, de quão disciplinados cada um de nós for no cumprimento das regras. Mesmo que isto seja algo quem nunca experimentámos antes, devemos mostrar que podemos actuar calorosa e racionalmente — e assim salvar vidas.

Depende de cada um e de todos nós fazer isto, sem qualquer excepção. Cuide de si e dos seus entes queridos. Obrigada."


****
*


No momento em que se vive a maior crise do século XXI no mundo ocidental, esta mensagem de Angela Merkel aos alemães projecta-a para o topo dos estadistas mundiais. É a líder perfeita não só para a Alemanha, como também a escolha certa para um governo da União Europeia.

Se já existisse um governo Europeu chefiado por esta Política (com letra maiúscula), dezenas de milhares de vidas seriam poupadas pela COVID-19 entre a população europeia. Nas próximas eleições legislativas para um governo europeu, exijo poder votar em Angela Merkel.


Ver outros comentários aqui:

DERRIC News
"at the moment, only distance is expression of care" what a historic sentence.

Steve Penney
I envy Germany, for having this level of compassionate leadership.

Richard Wells
How good it must be to have an intelligent, compassionate leader.

Damiano Benzoni
As a foreigner living in Germany and learning German, thanks a lot. This was a great service for us.

Leonardo Diehl
How about we forget our country's boundaries for a moment, and start looking for ourselves as a whole planet through this fight?
Merkel already has my vote as our leader.

Tradução:

DERRIC News
"no momento, apenas a distância é expressão de cuidado carinhoso", que frase histórica.

Steve Penney
Invejo a Alemanha por ter este nível de liderança compassiva.

Richard Wells
Quão bom deve ser ter um líder inteligente e compassivo.

Damiano Benzoni
Como estrangeiro vivendo na Alemanha e aprendendo alemão, muito obrigado. Este foi um óptimo serviço para nós.

Leonardo Diehl
Que tal esquecermos as fronteiras do nosso país por um momento e começarmos a olhar para nós como um planeta inteiro por via desta luta?
Merkel já tem o meu voto para nossa líder.


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