quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A irrelevância da conversa fiada


A propósito deste artigo de uma doutoranda da FDUNL, uma história sobre os dois modos de olhar para a área de um triângulo:

1º Imagino uma tarefa, por exemplo, digo ao aluno para desenhar um paralelogramo numa folha de papel quadriculado e traçar uma altura do vértice para a base.
Mando recortar o triângulo que aparece e transladá-lo de forma a construir um rectângulo.
Paralelogramo inicial e rectângulo final têm a mesma área, portanto a área do paralelogramo obtém-se multiplicando a base pela altura.

Na aula seguinte mando-o desenhar outro paralelogramo e cortá-lo por uma diagonal. Ficam dois triângulos iguais e ele aprende que a área do triângulo se obtém multiplicando a base pela altura e dividindo por dois.

2º Estratégia do “eduquês”: Faço um plano com várias folhas onde enumero todas as competências que o aluno deve ter para aprender o assunto e todas as competências com que deve ficar no fim, não esquecendo de mencionar os factores humanos envolvidos nesta aprendizagem. E finalizo o trabalho explicitando as metas que se pretende que o aluno atinja e o espírito das ditas.
Na aula digo ao aluno para abrir o manual adoptado nas páginas onde se fala da área do paralelogramo e ler o que lá estiver escrito e esforço-me para que não se perca no meio da leitura.

Para a aula seguinte, idêntica trapalhada.
Passados uns dias o aluno já não se lembra de nada.


Por favor, o país está à beira da insolvência. Acabem com a conversa fiada, os planos e demais tretas e construam qualquer coisita.
Acrescente-se que o Projecto Farol não é um movimento de cidadania, é um projecto político desenvolvido por políticos de uma facção do PSD, com o apoio da Deloitte.
O artigo desencadeou uma discussão acalorada a merecer um breve arquivo:


jrcoelho 16 Novembro 2010
Apoiado
Penso que só falta realçar a importância do cidadão, como indivíduo, ser o alfa e o ómega de todas as estratégias governativas.


LuisR 16 Novembro 2010
Cara Teresa
O "cherne" da questão é que a sociedade ainda não percebeu que a Economia é uma Ciência(?) Social, como tal, toda a sua tese tem um cunho eminentemente estatístico. Ora todos nós (alguns) sabemos que a estatística é, como a Constituição, "tendencialmente" manipulável. Junte-se ao facto anterior a pobreza intelectual dos modelos matemáticos económicos assentes numa relação causa-efeito, no mínimo, sujeita a especulação, a ausência total de conhecimentos de física, química, matemática, termodinâmica, neurologia, para referir as mais importantes, e temos como resultado uns "chamados economistas". E o mais grave de tudo é o seu (deles) alheamento quase total do modelo científico. Resumindo: existem muitos teóricos (vulgo-treinadores de bancada) e muito poucos a querem meter a mão na massa. As suas palavras são uma "leve brisa", não dão para fazer vela, mas sente-se o fresquinho na cara.


migluso 16 Novembro 2010
Título perigoso
Uma nota para o título: este é o sentimento que desperta o aparecimento de regimes totalitários. A exigência, por parte do povo, de "alguém" que endireite isto.

Haverá alguma área da vida pública onde a banalização da pessoa, do indivíduo, seja tão evidente como na Justiça? Ainda ontem o debate dos candidatos à OA demonstrou isto, que o cerne da questão não é o cidadão mas o interesse corporativo. Uma vergonha.

O desígnio nacional que eu proporia: cortar metade dos tentáculos do Estado português, esse monstro que asfixia o indivíduo e a sociedade.

LuisR, nem todos os economistas partem desses modelos. Há uma escola de economia onde os mais radicais até defendem o fim dos institutos de estatística. Essa escola de economia diz que o melhor que um governante tem a fazer é não fazer nada, pois ao fazer a probabilidade de agravar o problema em vez de o resolver é muito elevada.

Infelizmente, não se estuda essa escola de economia nas nossas universidades. Conheço alguns professores que são "austríacos", e que sabem que o pressuposto em que assenta toda a teoria económica, isto é, "que toda a informação está dada", é um pressuposto errado e que, logo, todos os modelos e teorias que assentam neste pressuposto terão obrigatoriamente que estar erradas.


gfalmeida 16 Novembro 2010
É mesmo um anjinho
A autora não deve ter que fazer ao dinheiro para usar palavras caras, jesus é preciso usar um dicionário para ler um artigo destes, e para chegar ao fim e ...? E nada.

Vejamos: "As reformas das estruturas valem sobretudo pelo espírito que as anima. Toda actuação e toda a reforma deve, assim, resultar de um sistema integrado de esforços, devidamente planeados e reconhecidos (…)"

Ui... Mas alguma vez alguma reforma foi planeada? Surgem sempre de forma espontânea e quando menos se espera, “sôtôra”. Deixe lá os livros de filosofia e pegue nos de história.


Lerinho 16 Novembro 2010
Enquanto ...
... cada cidadão não for capaz de enxergar, assumir, pensar e levar à prática a necessidade de relativizar em absoluto a sua própria existência, com o fim único de ser autónomo e emancipado nas suas ideias e acções, convicto de que, com políticos ou sem eles, levará em frente e até ao fim a sua realização pessoal, nada feito!
Ninguém pode salvar ninguém, excepto cada um começar por salvar-se a si próprio. Este esforço é solitário e não tem nada a ver com o "salve-se quem puder". Tem a ver com um tipo de sociedade que muitos nem sequer sabem que podem almejar construir e viver, mesmo que lhes fosse dada uma segunda oportunidade de voltarem ao planeta. Tenho dito.


Joaoratao 16 Novembro 2010
O título prometia...
De onde aparece esta encomenda? É que o artigo não é fraco, é mesmo fraquíssimo!
Será que esta Senhora pertence ao partido e tirou o curso ao domingo?
Parece uma intelectual vinda das berças a armar ao pingarelho.
Como leitor assíduo do JN estou desiludido... Como é possível publicarem esta treta, poupem-nos e mandem a "autora" de volta às berças.


migluso 17 Novembro 2010 - 00:26
Sejam cavalheiros...
Pode-se não perceber e pode-se discordar, mas pelo facto de ser uma senhora deveria haver mais respeito nos comentários.

Do meu ponto de vista, a autora pretendeu exprimir a necessidade de se criar um desígnio nacional, algo que unisse o povo em torno de um objectivo comum.

Infelizmente, discordo com a receita sugerida para atingir tal fim — a planificação.

A nossa sociedade precisa de cimentar princípios fundamentais. Temos muitas leis, mas de princípios somos pobres.
Não são necessárias mais leis nem planos. Antes pelo contrário, é necessário reduzir a quantidade de leis e torná-las transparentes e simples.

O contrato social que a autora refere não deve, assim, assentar em planos minuciosamente desenhados nos gabinetes que depois serão transformados em desígnios nacionais através da propaganda.
O contrato social deve passar por o Estado permitir que 10 milhões de planos individuais floresçam, em vez de ser entrave e impedimento.


pedrobelo1963 17 Novembro 2010 - 08:26
Recuperação difícil
Migluso, parabéns por tentar defender, em parte, o que é indefensável! Não se trata de ser cavalheiro, pois não é pelo facto de ser mulher que temos que dar desconto e aceitar o que é mau… Igualdade de direitos.
Leia com atenção todos os comentários.
Para mim passou-se o seguinte: a foto da Sra pode ser apelativa, por isso as pessoas leram o artigo. A maior parte das que exprimiram opinião foi por acharem o artigo péssimo, os outros são certamente amigos ou a própria (com outra identidade).
O país atravessa várias crises: políticas, valores, mérito, económicas
Esta Sra representa o pior do país, aqueles que falam, falam (teóricos) e não dizem nada e, pior, utilizam palavras caras para se promoverem à custa dos incautos, no fim de se ler não se retira nada (um vazio cósmico), um tipo de postura que está gasto, necessitamos de gente produtiva que crie valor.
Gostava de saber qual o seu mérito pessoal: carreira académica (algo de relevante para o país) e o que fez na vida (onde trabalhou, se é que tem experiência na economia real), se no mínimo plantou uma árvore (um projecto de vida). Gente que trabalhe, que o país agradece, e que não seja mais uma que nada faz e pensa que sabe de tudo, infelizmente no final cria ruído e lixo (poluição)…
Conselho à autora: mude de foto para não suscitar a curiosidade de lerem o que escreve, talvez consiga sobreviver desta forma. Senão, faça como as pessoas de valor: ajude Portugal trabalhando!


migluso 17 Novembro 2010 - 12:12
Para finalizar...
Acusam a autora de "falar caro", de apresentar apenas conversa fiada, de não ter CV.

Honestamente, acho todas estas críticas injustas.
O texto é de leitura acessível, com espaço limitado pelo Jornal e os CV constroem-se ao longo da vida.

Como disse, discordo da autora porque acredito que o desenvolvimento da nação surge espontaneamente da sociedade sem a necessidade de arquitectar desígnios nacionais. Basta que a sociedade se liberte dos tentáculos do Estado e dos parasitas que dele se alimentam.
O desígnio nacional deveria ser esse. Mas o povo não quer. Tem medo. O povo português vive na ilusão da protecção estatal, sem discernir que essa falsa protecção exige um Estado tentacular que aprisiona o indivíduo. A teia de leis é um bom exemplo disso.

Se lerem este documento, concordarão com algumas das ideias defendidas pelos autores do texto.
Eles, na minha opinião, identificam correctamente muitos problemas que afectam Portugal. No entanto, não são capazes de propor soluções de princípio e deixar o resto ao cuidado da sociedade civil, antes deixando brechas para intervenção estatal discricionária e à medida, o mesmo é dizer, deixar ao critério dos políticos o benefício de uns em prejuízo de outros.

São propostos passos no sentido certo, mas devemos ir mais longe, como por exemplo, exigir a criação de um mecanismo constitucional que garanta o cumprimento dos programas eleitorais.


Directo 17 Novembro 2010 - 12:54
Se a amostra (os comentários) é desta qualidade...
Se leitores de um jornal especializado e de formato electrónico, como este, produzem comentários com aqueles aqui em maioria deixados, poder-se-á facilmente perceber o grau de "compreensão" da maioria da população deste País quando confrontados com textos escritos!
Eles retratam fielmente um estrato da população que poderia ser considerada da mais letrada e evoluída do País! E se o resultado é o que se vê...
Afinal, e descontando os laivos de algum machismo alarve, o resto revela uma ignorância patética! Eles representam a explicação mais cabal da razão do nosso atraso como País. Simplesmente não são capazes de fazer por falta de perceber. E, ironicamente, frustram a afirmação da autora quando no artigo diz: "Toda a obra a executar exige a cooperação de todos os que dela vão beneficiar" Sim, em princípio devia ser assim. Mas, no fim, depende do que se quer fazer e da qualidade e capacidade daqueles chamados a cooperar. Pois, no fim, devemos talhar a "obra à medida do pano" e a julgar pela amostra do "material disponível" a "obra" não pode ser muito diferente daquela que no País temos à vista.
Afinal a intenção aparente da autora, pelo menos na parte inicial do artigo, era chamar a atenção para a necessidade de não ficarmos somente pelos planos ou pelas estruturas, por mais importantes ou vitais que eles sejam, mas também prestar atenção e incorporar a participação dos cidadãos. Intenção meritória, só que é exactamente aqui que a "porca torce o rabo". Estamos em Portugal e quando toca a tomar decisões todos sabemos como é. Não é por acaso que temos a quantidade de partidos políticos que temos ou mesmo o ditado "cada cabeça, a sua sentença" e, a julgar pelas amostras, nem com o FMI vamos lá.


pedrobelo1963 17 Novembro 2010 - 19:20
A matilha (directo/migluso)
O assunto não merece que se perca mais tempo, pela importância que tem, mas necessita de clarificação.
Como dito anteriormente, vêm por fim os amiguinhos "maçons" em defesa do Anjo que não "assentou os pés na terra, por viver no éter".
Abram alas para os "superiores" que estão acima de todos, são uns iluminados (por um fraco Farol) que entendem de tudo, tudo menos de trabalho, por dar muito trabalho. Gostava de saber qual a ocupação destes defensores, devem ser certamente "farinha do mesmo saco". Os mesmos acham que quem não concorda não tem nível para conversa tão elevada. Na verdade devem de estar esquecidos que vivemos em democracia.
E "gente" como esta é que contribuiu para a inevitável vinda do FMI, que felizmente irá acabar com o vosso tacho.
Deixem as trevas, deixem de ser guiados pela luz intermitente do Farol, trabalhem às claras e produzam riqueza, o mundo esta cheio de ideias para não fazer nada.


4 comentários:

  1. Ah, parabéns pelo exemplo criativo que ofereceste. Aplicar métodos que cativem os alunos e sejam eficazes na transmissão do conhecimento fazem falta no nosso ensino.

    Não sei se existe algo do género.
    Uma espécie de fórum ou outro espaço onde os professores partilham com os colegas os métodos, técnicas, exemplos concretos e específicos (como o teu) que utilizam nas suas aulas.

    Se não existe deveria existir, na minha opinião.

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  2. Eu já tinha feito um comentário, mas por qualquer motivo não aparece.

    Disse:
    Parabéns pelo blogue.
    Logo que possa enviarei um artigo para publicação, caso concordes obviamente.

    "A matilha..../migluso)"...LOL... Hauuuuuuuuuuuuuuu

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  3. Caro Migluso,

    Embora as escolas também sejam avaliadas pelos resultados dos seus alunos, é dada primazia à burocracia (planificações, relatórios de actividades e actas de reuniões) pois a classificação da escola depende dela.
    Ora desta classificação derivam as regalias de reduções de horários que são distribuídas pelo grupo de compadrio do órgão de gestão e as quotas de Muito bom e Excelente que permitem progredir mais rapidamente na carreira.

    Portanto, em muitas escolas, talvez na maioria, o que interessa é inflacionar as classificações de exame, passar o máximo de alunos e fazer a papelada que o ME exige.
    Disciplina dentro da escola, seja nos corredores ou na sala de aula, é algo que não preocupa ninguém. Rigor científico e sobriedade pedagógica ainda menos, basta que se finja um ar de modernidade usando o quadro interactivo ... como ecrã de projecção.

    Na escola onde trabalho — não, não é uma escola TEIP, serve as duas freguesias mais ricas do ponto de vista sociocultural e económico-financeiro do concelho — a docente mais antiga do departamento de Matemática e Ciências Experimentais já pediu a aposentação, agora espera-se que a próxima peça do dominó a cair ... seja eu.
    O que é preciso é eliminar os professores mais antigos, não é difundir os métodos e técnicas que desenvolveram ao longo da sua prática lectiva. Portugal é um pais rico, pode dar-se ao luxo de desperdiçar os seus recursos humanos.

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  4. Caro Migluso,

    Cidade Lusa foi um blogue que nasceu nas caixas de comentários do JN e quem lançou a ideia (também participaste no “crime”) descreveu-o como um movimento de cidadania.
    O meu papel seria dar apoio informático e lançar umas farpas ao ME. Cumpri.
    Estou à espera dos vossos artigos.

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