quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A greve geral - I


É preciso não ferir a susceptibilidade das pessoas que vêem nesta greve geral o único meio de corrigir os erros governativos acumulados nas últimas décadas e olham o salário hoje perdido como um investimento para melhorar o seu futuro e dos seus filhos.

É preciso explicar às pessoas que interessa obter conhecimentos e não coleccionar diplomas sem valor, a não ser na função pública, que a riqueza do país só aumenta com o crescimento da produtividade e esta depende do saber e da experiência.

É preciso acabar com nepotismos e compadrios e passar a valorizar o mérito.

É preciso criar movimentos cívicos que exijam aos políticos competência e respeito por um código de ética e provoquem uma revolução dentro dos partidos políticos, se necessário obrigando-os a uma travessia do deserto.

Só com a mudança da mentalidade dos políticos se poderá transformar a mentalidade da população.



Um artigo de opinião sobre a greve publicado no JN, Em que século vive Carvalho da Silva?, decidiu bulir com a sensibilidade das pessoas, provocando uma torrente de comentários onde se focam várias facetas da questão:


jbssm 24 Novembro 2010
Produtividade ... essa palavra mágica em Portugal para se lixar o povo
Olhe lá, Sr. jornalista. Quem é que acha que é mais produtivo, um empresário têxtil Alemão, com formação, que produz 1 produto de luxo, por hora, e ganha 2000 € por mês, ou um Português, sem formação porque ninguém achou que a tinha que dar, que produz 5 produtos a preço de competição com a China, por hora, a ganhar €450 por mês? E quem é que realmente trabalha mais?
Querem produtividade? Então deixem de pagar salários míseros e dêem formação aos funcionários em vez de comprar Ferraris.


jrcoelho 24 Novembro 2010
Preso por ter cão, e preso por não ter
Se fazemos greve, não adianta nada e só empobrecemos o país.
Se não fazemos greve, somos apáticos, não nos importa o futuro do país, estamos alheios às políticas praticadas ou, pior, estamos de pleno acordo com as atrocidades praticadas pelos últimos governos.


JCG 24 Novembro 2010
Conversa de papagaio
Pelo que me tem sido dado ler e ouvir, CL não tem os instrumentos analíticos nem a experiência de vida necessária para dizer outra coisa senão esse papagueio sobre a produtividade do trabalho em Portugal.
Ainda recentemente o jornal Expresso trazia a lista das medidas preconizadas por cerca de 30 VIP’s da gestão e da administração e, como seria de esperar, não vinha lá o essencial. Pressupor o contrário seria pedir a essa gente capacidade de auto-análise e de autocrítica que são capacidades que não têm. Para eles, os culpados do mau funcionamento da economia são sempre os outros.

E quais são os pontos negros para este camponês, migrado para a cidade, que conjuga a circunstância de trabalhar há mais de 47 anos, mandado por outros, com a de ter adquirido algumas capacidades de distanciação e de análise sobre as peças em que entra e os papéis que tem representado neste teatro?
Má ou deficiente organização e gestão do trabalho. Inexistência de conceitos e práticas de gestão nas organizações, ainda que toda a gente encha a boca com expressões modernaças sobre estas coisas.
Isto muito mais que aquilo que frequentemente também se invoca, que é a baixa escolaridade (e uso este termo de propósito) dos portugueses, pois o que mais encontro são situações de trabalhadores que, tendo escolaridade universitária, são tratados, laboralmente falando e a nível de processos de organização do trabalho, como se fossem analfabetos.

E qual a causa das deficiências apontadas? Elementar: basta atentar nos processos de selecção e reprodução dos dirigentes, desde os cargos de topo até aos mais baixos.

Os sindicatos poderiam fazer alguma coisa neste domínio? Podiam, mas os sindicatos padecem dos mesmos défices organizacionais que as restantes organizações, por isso como é que podem aconselhar alguém a fazer aquilo que eles próprios não fazem e deviam fazer? Eu, por exemplo, trabalho num sector em que os dirigentes dos sindicatos se comportam como autênticos patrões, um deles até quer (e já deve ter traficado alguma coisa para o conseguir) levar a coisa à letra, ou seja, ser mesmo patrão, criar uma empresa no sector em que é dirigente sindical.

É altura de começarmos a falar mas é da baixa escolaridade e deficiente preparação dos dirigentes para as funções que exercem. É preciso denunciar os inquinados, corruptos, inadequados processos de selecção e reprodução de dirigentes.

É claro que, quanto à greve de hoje, não lhe auguro qualquer impacto. A greve é uma manobra de estratégia e as estratégias servem para prosseguir objectivos. Mas quais são os objectivos estratégicos no caso presente? Uma enorme confusão!


MPombal 24 Novembro 2010
PC e Cª a controlar
Este Sr. Carvalho é um óptimo marcador de greves. Basta que não consiga o que quer e lá vai uma greve. Desta vez foi ajudado por todos os outros sindicatos porque, só desta vez, os seus associados se sentiram ameaçados com cortes salariais. Nunca ouvi os sindicatos reclamarem para que os aumentos salariais não fossem feitos em %, situação gravosa para os que ganham menos, já que o aumento é menor, cavando sempre mais o fosso entre as classes.
Como os políticos, também estes dirigentes sindicais estariam muito melhor nas estrelas...


jbssm24 Novembro2010
"Este Sr. Carvalho é um óptimo marcador de greves"
Estranho. Tendo em conta que Portugal teve apenas 6 greves gerais em 36 anos. Acho que o seu conceito de "óptimo marcador de greves" não é muito, digamos, produtivo. Há que aumentar os padrõezinhos.


Speeding 24 Novembro 2010 - 14:51
Sugestão
Fica aqui uma sugestão às Centrais Sindicais: criem uma empresa modelo.
Criem a empresa e mostrem ao País como as empresas devem funcionar aplicando as regras e princípios que defendem.
Como o resultado será com certeza surpreendente, não faltarão seguidores. Por outro lado, mais do que "conversa", podem pôr em prática os vastíssimos conhecimentos de gestão e economia.
Fica o desafio.


Jamnf 24 Novembro 2010
E que tal ver as coisas por outro prisma?
Seria interessante fazer-se uma análise séria e profunda sobre os impactos das acções dos sindicatos em prol da defesa dos trabalhadores...
Quantas empresas são levadas a fechar depois dos sindicatos exercerem as suas reinvidicações/pressões? Sempre em defesa dos postos de trabalho, claro...
E, claro, os sindicalistas tem sempre o seu posto laboral garantido no próprio sindicato, obviamente, ao contrário da grande maioria daqueles que dizem defender. Até ao dia em que acabarem todas as empresas (utopia, não é?) e aí acaba-se a razão da sua existência...
Sindicatos, sim! Mas modernos, leais, esclarecidos e com objectivos claros e inseridos na realidade que (n)os rodeia.


pimp10 24 Novembro 2010
Outro facho que tem a mania que é Deus
Speeding:
Não é preciso ir muito longe. Basta ver as notícias dos trabalhadores que tomam para si a gestão das empresas em que trabalham e que o patrão levou à falência. E são vários casos de sucesso!

Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada
.”

Eduardo Alves da Costa, No caminho com Maiakovski, 1968


Lerinho 24 Novembro 2010
Oh Camilo,
Cada um vende o peixe que lhe dá jeito!

Como aumentar a produtividade num pais de baixos salários onde o saldo da balança comercial é crónica e sucessivamente negativo há décadas?
Se houver produtividade há consumo e se houver consumo há produtividade.
Se o saldo é negativo, se os salários são baixos e insuficientes para estimular o crescimento pelo consumo, temos de recorrer ao endividamento e neste caso estamos a aumentar a nossa dívida externa, que por sua vez vai ser paga por mais impostos!

Diga-me como aumentar a produtividade, se o grosso da mais valia que se cria é para alimentar o monstro da despesa pública?

Se não os têm.... arranje-os e nessa altura, diga aos Srs. políticos que a culpa é deles e de quem lhes dá crédito. Quanto aos sindicalistas, por mais demagogos ou palermas que sejam, só se fazem notar quando os políticos já fizeram a m*rd* toda. O resto é conversa de café. Faça um país prosperar e os sindicatos viram dinossauros... Desaparecem.


Zap 24 Novembro 2010
Acerca de produtividade e de outras larachas camilianas
Muitos invejam o nível de vida sueco, um dos mais altos do mundo, conseguido com trabalho e com massa cinzenta.
Um país com pouca população, cerca de oito milhões, que tem várias multinacionais de prestígio embora agora, na UE, a propriedade dessas empresas já não seja exclusivamente sueca. Empresas como a Volvo, a Saab, a Scania, a Electrolux, a Ericsson, a Ikea, etc.

Claro que isto não caiu do céu, antes deriva de muita ciência teórica e prática. Desde o século XVII que a Suécia tem tido cientistas e pensadores de renome mundial. Nomes como: Emanuel Swedenborg (1688-1772), o Leonardo Da Vinci sueco; Torbern O. Bergman (1735-1784) que introduziu a nomenclatura binomial dos sais e a classificação dos minerais segundo a composição química, que hoje usamos, respectivamente, na Química e na Mineralogia; Carolus Linnaeus, conhecido por Lineu (1707-1778), o pai da taxonomia dos seres vivos, expressa em latim; Anders Celsius (1701-1744), que criou a escala de temperaturas Celsius, usada internacionalmente; Olof Rudbeck (1630-1702), anatomista que descobriu o sistema linfático humano; Pehr Kalm (1716-1779), botânico e explorador; S. August Arrhenius (1859-1927), o químico que introduziu os conceitos de ácidos, bases e sais. E muitos outros cientistas, alguns prémios Nobel nascidos no século XIX e XX, mas citei alguns famosos mais antigos, para se ver que o saber sueco não é de agora, nem de nenhuma escola económica ou política moderna, mas sim de séculos.
Durante os últimos quatro séculos o país conheceu várias guerras, vários reis e vários regimes, monarquias absolutas, democracias e ditaduras. Mas sempre com desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo Alfred Nobel (1833-1896) o engenheiro químico que dá o nome aos prémios, descendente de cientistas e de industriais célebres.

E Portugal, o que fez nesses séculos que tivesse deixado marca indelével no mundo da ciência? Nada.
Portanto, meus caros, a riqueza feita com trabalho exige muito conhecimento científico e tecnológico, não é com leis, com papelada e revoluções que lá iremos. Nem com tretas de retórica e jogatina de casino. Se querem ser mais ricos e ter bem estar à moda sueca, estudem, queimem as sobrancelhas, dêem trabalho ao cérebro, descubram, investiguem, inovem, inventem, passem menos fins de semana na borga e ponham o vosso saber a produzir tecnologia e a exportá-la.
E verão que a produtividade aumentará fortemente e com ela os salários e as prestações sociais. Uma máxima para os aprendizes de gestão: produtividade é directamente proporcional à quantidade e qualidade da ciência incorporada nos bens e serviços produzidos.


ljeronim 24 Novembro 2010 - 20:21
Será séc. XXI, Portugal?
Caro Camilo, Carvalho da Silva deverá viver no séc. XXI.
No mesmo século em que, em Portugal, se retiram subsídios de maternidade e apoios sociais a quem ganha pouco mais de 600€, se aumentam os impostos sobre os rendimento baixos e médios mas se criam alterações à lei para que os quadros de topo das empresas públicas continuem a ganhar balúrdios.
No século em que sacrifícios são pedidos, mas uma familiar do primeiro-ministro e a esposa do vice-presidente do PSD entram para os quadros superiores da EPAL sem concurso público, em que um funcionário do PS, despedido por mútuo acordo, recebeu umas dezenas de milhares de euros para criar o seu posto de trabalho e, apesar de nem ter o 12º ano, é contratado como assessor de uma vereadora do PS com um vencimento acima dos 3 mil euros e ainda leva um prémio de 40 mil.
No século em que não há dinheiro para os pobres mas há para o TGV, em que o governo hipoteca o nome do País para proteger os interesses de investidores privados da PT e esta faz um negócio chorudo sem pagar um cêntimo de impostos, em que uma médica do concelho de Braga pode pedir licença sem vencimento no hospital público onde trabalhava e ir exercer medicina noutro hospital público ganhando 100€ por hora e com o seu posto de trabalho reservado (que luxo); em que juízes ainda recebem 700€ para pagar a sua casa mas os jovens nem direitos têm a ajudas no arrendamento e estudantes são postos a dormir ao relento por a CML não ter uma habitação para lhes ceder.
No século em que vereadores de algumas das principais câmaras do País, que recebem salários superiores a 3 mil euros, têm para usufruto casas pagas pelas câmaras e por aí fora. Já para não falar nos prémios chorudos de empresas públicas que têm dívidas de milhões de euros ou de entidades privadas (bancos e seguros) que já não se consideraram assim tão privadas para receberem apoios financeiros do Estado em 2009.
E você, Camilo, em que século vive?


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