sexta-feira, 26 de julho de 2019

As golas anti-fumo inflamáveis e a irritação do ministro


Os incêndios rurais que ocorreram em Junho e Outubro de 2017 provocaram, pelo menos, 115 mortes.

O ministério da Administração Interna decidiu desenvolver o programa "Aldeia Segura, Pessoas Seguras" para prevenção dos incêndios rurais em que foram distribuídos kits de emergência às populações das aldeias envolvidas nesta actividade.

A contratação da "Foxtrot Aventura" para o fornecimento dos 15 mil kits de auto-protecção foi feita sob orientação do Governo, com o secretário de Estado da Protecção Civil, José Artur Neves, a liderar o processo. À Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) só coube pagar 328 mil euros pelos kits e distribuí-los por cerca de 1600 povoações.

Entretanto, o Jornal de Notícias descobriu que estes kits de auto-protecção das populações contêm golas anti-fumo fabricadas com material inflamável e sem tratamento anti-carbonização, não tendo a eficácia que deveriam ter — evitar inalações de fumos através de um efeito de filtro.
As 70 mil golas custaram 125 mil euros, mas outros equipamentos, como coletes reflectores, também são compostos por materiais combustíveis.

A Foxtrot, empresa de Fafe dedicada ao turismo de natureza, garantiu ter entendido que o objectivo da Protecção Civil era merchandising e que esta entidade não referiu que os equipamentos "seriam usados em cenários que envolvem fogo".
A própria Protecção Civil concorda que os equipamentos não passam de um "estímulo à implementação local dos programas" e que não são um "equipamento de protecção individual".

Em declarações à RTP, a segunda comandante nacional da Protecção Civil, Patrícia Gaspar, acrescentou que as golas anti-fumo destinam-se apenas a movimentos rápidos de retirada de pessoas em caso de incêndio e que a sua segurança não está em causa:
"Quero passar uma mensagem de tranquilidade junto das aldeias, é que estes equipamentos servem sobretudo para uma protecção temporária, num movimento que se espera que seja rápido e não, nunca, para enfrentar um incêndio florestal".

Quando confrontado com esta notícia, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, sublinhou a importância do programa que está em curso, mas assegurou que a distribuição das golas anti-fumo não põe em causa, nem o programa, nem a segurança das pessoas. O ministro classifica a notícia como "verdadeiramente irresponsável e alarmista", acrescentando que revela "desconhecimento de questões técnicas que a Autoridade Nacional de Protecção Civil já esclareceu".

Questionado, então, pelos jornalistas sobre o objectivo da distribuição destas golas anti-fumo com material inflamável, bem como o que as populações devem fazer com elas, Eduardo Cabrita recusou-se a responder e irritou-se:


26.07.2019 às 14h33


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O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, é um jurista competente mas a preocupação em defender a família socialista impede-o de perceber que o seu secretário de Estado da Protecção Civil, José Artur Neves, cometeu um erro com consequências graves para as pessoas que utilizassem os kits durante um incêndio. Como responsável máximo da Administração Interna, cabia ao ministro ter a humildade de pedir desculpa.

Depois deveria pedir a realização de um inquérito para apurar os responsáveis por este erro crasso de entregar às populações materiais inflamáveis e determinar um processo disciplinar porque no âmbito da Protecção Civil está em causa a segurança e a vida das populações e apenas pessoas muito competentes devem ser escolhidas.

Infelizmente o seu fanatismo ideológico não lhe permite discernir o erro cometido por funcionários do seu ministério e implementar as acções subsequentes que a correcção desse erro exigiria a um político com letra maiúscula.


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