quarta-feira, 11 de março de 2015

A entrevista de António Costa à RTP


A estação de televisão pública decidiu fazer uma série de entrevistas a todos os líderes partidários. O primeiro entrevistado foi António Costa, líder do PS, com a entrevista a ser conduzida por Fátima Campos Ferreira:

11 Mar, 2015, 22:33


António Costa começou por ser confrontado com a recente declaração polémica que fez perante investidores chineses – a quem agradeceu o contributo para que Portugal esteja agora melhor do que há quatro anos –, tendo dito que "não é por achar que este Governo é péssimo que deixo de achar que o meu país é fantástico".
"Não me expressei de forma correcta nessa intervenção que fiz, mas também ninguém tem dúvidas de que faço oposição ao Governo", esclareceu.

No programa de recuperação económica de António Costa, a primeira prioridade é a estabilização dos rendimentos para que “as pessoas saibam qual é o salário ou a pensão que vão receber no mês seguinte”. Promete, em consequência, a reposição integral dos salários da função pública e a reposição integral das pensões que serão pagos com a receita resultante do aumento da actividade económica que vai conseguir pelas vias enunciadas nas outras prioridades e também com um aumento do salário mínimo nacional.

A segunda prioridade é assegurar melhores condições de capitalização das empresas que diz ser possível conseguir “melhorando a procura interna, pois pensar que vamos crescer só com as exportações é uma ilusão”, criando um instrumento de capitalização — um banco de fomento —, mobilizando fundos comunitários e “reorientando o investimento que tem sido atraído pelos vistos Gold e tem sido alocado essencialmente à compra de casas para o investimento produtivo num fundo gerido pelo Estado”.

A terceira prioridade de Costa é o desemprego. Propõe um programa de integração dos jovens licenciados nas empresas com "recursos disponibilizados pela União Europeia ao nível da Garantia Jovem" e, para absorver a mão-de-obra pouco qualificada, propõe a redução da taxa do IVA na restauração para 13% e a reanimação do sector da construção civil através da reabilitação urbana que pensa financiar com “verbas de eficiência energética” e uma “pequena parte das reservas do fundo da estabilização financeira da Segurança Social“.

Sobre a questão da Grécia, António Costa considera que "a atitude do Governo é incompreensível (...) Em vez de, com inteligência, ter procurado beneficiar a economia portuguesa com uma maior flexibilização da austeridade, foi agravar e prosseguir a martirização dos gregos, agravando a austeridade dos outros".
"Precisamos de reforçar a política de coesão para que o euro gere prosperidade para todos. Sabemos hoje que uma crise no euro prejudica mais uns do que outros, temos de corrigir isso", afirmou.
"Não podemos olhar para a Europa e para realidade política como se fosse tudo finanças públicas. Estamos hoje rodeados de factores de instabilidade gravíssimos na Europa e é inaceitável e perigoso haver uma lógica como se houvesse bipolarização entre gregos de um lado e alemães do outro. Temos é de nos unir todos em defesa da Europa", defendeu o líder socialista.
"Esta radicalização austeritária tem vindo a promover os extremismos", referiu ainda, dando como exemplo o caso da esquerda na Grécia da direita em França.

No final, António Costa justificou a forma intempestiva como reagiu às perguntas de uma jornalista que o questionara no meio da rua, vinda “detrás de um carro”, sobre o caso da carreira contributiva do actual primeiro-ministro, Passos Coelho, dizendo que tem uma “reacção quase visceral à política de casos”.

Sobre o caso Sócrates, Costa reiterou que o PS respeita “a separação de poderes, o funcionamento do sistema de Justiça e a garantia de presunção de inocência”, acrescentando que, como “camarada e amigo”, deseja o melhor ao ex-primeiro-ministro.

O líder socialista disse que não está preocupado pelo facto do PS não ter subido nas sondagens acima do resultado obtido por António José Seguro porque considera que “está numa maratona e não numa corrida de 100 metros”. Negou estar parado, tendo dito que "no final deste mês temos economistas que nos apresentarão um estudo macroeconómico do país para os próximos quatro anos" e comprometeu-se a apresentar o programa de Governo no próximo dia 6 de Junho.


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Sobre a primeira prioridade de António Costa, registamos a sua promessa de reposição integral dos salários da função pública. Não esquecemos que foram os primeiros cortes salariais na função pública da história da democracia e começaram a ser aplicados em Janeiro de 2011 pelo governo do seu "camarada e amigo" José Sócrates.
Registamos também a promessa de reposição integral das pensões mais elevadas porque as pensões inferiores a 4611 euros por mês já estão a ser pagas integralmente pelo actual governo, desde Janeiro de 2015, em cumprimento de uma decisão do Tribunal Constitucional. Não esquecemos que o pedido de assistência financeira à troika BCE/CE/FMI, em Abril de 2011, derivou do facto das oposições terem reprovado o PEC 4 cuja medida de austeridade mais gravosa, a implementar em Janeiro de 2012, era justamente... o corte das pensões.

Quanto à segunda prioridade, a capitalização das empresas, tenciona ir buscar o financiamento aos vistos Gold — mais uma argolada de Costa pois está a reconhecer, implicitamente, mérito ao achado de Portas — “esquecendo” que já abrangem o investimento produtivo. O problema é que os chineses não estão interessados em criar empresas, querem é comprar casa em Portugal para poderem entrar e circular na União Europeia.

Finalmente a terceira prioridade, combater o desemprego, fez-me lembrar a promessa dos 150.000 empregos de José Sócrates, em 2005. A reabilitação urbana é uma boa ideia proposta por todos os políticos que tem um senão, o enorme financiamento que exige. Ir buscar uma “parte das reservas do fundo da estabilização financeira da Segurança Social”, ainda que pequena, vai pôr em risco o pagamento das actuais pensões e requer mais reduções nas futuras pensões...

Quanto à sua “reacção visceral à política de casos”, poder-se-á classificar como uma óptima reacção de autodefesa face aos inúmeros episódios em que está envolvido, alguns bem gravosos, — o caso mais famoso é "A cobertura descoberta", aprofundado aqui, e o último ocorreu na passada segunda-feira quando entregou no Tribunal Constitucional, com 46 dias de atraso em relação ao prazo legal, a sua declaração de rendimentos — que fazem do “distraído” Passos Coelho um menino de coro.

Enfim, um chorrilho de promessas para atrair os votos dos incautos. No entanto, António Costa só conseguirá enganar aquela parte da população que era analfabeta no domínio económico e financeiro e nada aprendeu com as medidas de austeridade que começaram a ser implementadas em Janeiro de 2011 pelo governo socialista de José Sócrates.


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