quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Quanto mais José Sócrates fala, mais se enreda


Na passada sexta-feira, o programa ‘Sexta às 9’, da RTP, divulgou nos vinte minutos iniciais uma investigação jornalística sobre os motivos da detenção de José Sócrates e de Carlos Santos Silva, seu amigo e presumível testa-de-ferro.

Há oito anos, o então primeiro-ministro justificou a compra de um par de apartamentos no luxuoso edifício Heron-Castilho com dinheiro oriundo da venda de outros apartamentos herdados pela mãe. Naturalmente, a reportagem começou pelos três apartamentos que Maria Adelaide de Carvalho Monteiro, mãe de José Sócrates, ainda detinha e que vendeu recentemente a Santos Silva:

28 Nov, 2014


Dois desses apartamentos estão situados no prédio número 27 da Rua Dr. António José de Almeida, na freguesia de Agualva, concelho de Sintra, um edifício construído há cerca de 50 anos. Cada um tem 80 m² de área e é composto por três assoalhadas, cozinha e uma casa de banho.
A escritura do primeiro andar esquerdo comprova que, no dia seguinte às eleições legislativas perdidas por José Sócrates, foi vendido por 100 mil euros.
Um mês depois, foi feita a escritura de venda do segundo andar esquerdo por 75 mil euros. Um apartamento idêntico ao anterior, mas menos degradado e ainda habitado por uma senhora idosa, diz o proprietário do terceiro andar esquerdo que mostrou a sua residência remodelada aos repórteres.

Como um apartamento com aquela área, situado num prédio construído há meio século, vale 40 mil euros, no máximo, no mercado imobiliário da zona, o valor real dos dois apartamentos não excede 80 mil euros. Tendo sido vendidos por 175 mil euros, mais do dobro do valor real, cria-se a suspeição que se tratou de uma forma de financiar a estadia de José Sócrates em Paris.

Em 2012, foi feita a escritura de venda de um terceiro apartamento, este com 155 m2 e situado no quarto andar do edifício Heron Castilho, em Lisboa, pelo preço de 600 mil euros, preço um pouco superior ao de outro apartamento com a mesma tipologia vendido no mesmo edifício, nesse ano. O DCIAP, que está a investigar os percursos sinuosos seguidos pelo dinheiro de uma conta do banco suíço UBS para chegar à conta da CGD do ex-primeiro-ministro, presume tratar-se de um negócio simulado.

José Sócrates tem afirmado que viveu em Paris graças ao empréstimo de 120 mil euros que pediu à CGD que, porém, foi quase completamente gasto na aquisição de um automóvel Mercedes no valor de 90 mil euros. Terão sido os 775 mil euros obtidos na venda destes apartamentos que lhe permitiram pagar parte do referido empréstimo e, sobretudo, financiar a vida faustosa que fazia em Paris.

O DCIAP suspeita também que os 25 milhões de euros depositados no banco suíço UBS em nome de Carlos Santos Silva provieram de "luvas" pagas a José Sócrates, relativas a obras públicas adjudicadas à empresa Lena Engenharia e Construções de que Santos Silva foi administrador até 2009.
No portal dos contratos públicos, criado em 2008, dos 196 milhões de euros ganhos desde então por esta empresa, 138 milhões derivaram de nove contratos celebrados com a empresa pública Parque Escolar. Cinco destes contratos foram assinados entre Maio e Julho de 2009, mas apenas foram publicados no portal pelo actual Governo, e contribuíram com a fatia do leão: 89 milhões de euros.








Em Paris, José Sócrates residiu sempre no 16º bairro, o mais luxuoso da capital francesa, tendo inicialmente alugado um apartamento. Mais tarde, fixou residência num apartamento situado no primeiro andar do número 15 da Avenue du Président Wilson, comprado por 2,8 milhões de euros e registado em nome de Carlos Santos Silva.



Avenue du Président Wilson, em Paris, que liga a Place de l'Alma à Place du Trocadéro. Ao fundo da fotografia, vê-se a Place d'Iéna que fica ao meio desta avenida.


Número 15 da Avenue du Président Wilson, em Paris


Número 15 da Avenue du Président Wilson, em Paris. O apartamento onde José Sócrates residia está situado no primeiro andar.


Entrada do número 15 da Avenue du Président Wilson, em Paris.


Este apartamento foi posto em venda por 3,95 milhões de euros, ou para arrendar por 7500 euros, há cerca de uma semana, na imobiliária Daniel Féau.







Depois de ver o programa ‘Sexta às 9’, o ex-primeiro-ministroe decidiu ditar uma carta ao seu advogado, por telefone, para enviar à RTP.

Sobre a residência em Paris, diz José Sócrates nessa carta:

"No primeiro ano vivi num apartamento arrendado; depois, de Setembro 2012 a Junho 2013 vivi no apartamento que me foi emprestado pelo meu amigo engenheiro Santos Silva, que o comprou para o restaurar, arrendar ou vender, que é a situação actual dele. Saí quando começaram as obras.
No princípio deste ano, depois de uns meses a viver com a família em hotéis, aluguei outro apartamento que mantenho actualmente como minha residência em Paris.
"

Quanto aos apartamentos vendidos pela mãe, o ex-primeiro-ministro refuta as acusações:

"A minha mãe vendeu, na altura com a ajuda do meu irmão, dois — não um, como afirma a peça — apartamentos por um preço total de 100 mil euros e não, como afirmam, um por aquele preço.
Em 2011, decidiu regressar a Cascais, de onde se mudara para Lisboa para ficar a viver perto de mim, porque, nesse ano, me desloquei para Paris e ela ficou sozinha em Lisboa. Daí o regresso a Cascais e a venda do apartamento em Lisboa. O preço por que vendeu foi o preço justo, que resultou de uma avaliação.
"

"É certo que é difícil eu falar. Estou preso. Mas não lhes faço o favor de ficar calado", termina a carta do ex-primeiro-ministro.

A estação televisiva respondeu-lhe imediatamente:

01 Dez, 2014, 20:16


"Ao longo de duas páginas, [José Sócrates] refuta vários factos. Logo a começar pela propriedade do apartamento de luxo em Paris, que a RTP mostrou por dentro pela primeira vez, explicando que está à venda há pouco mais de uma semana por cerca de 4 milhões de euros", noticia a estação.

O registo francês prova que está no nome de Carlos Santos Silva, também ele preso preventivamente por suspeita de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Em momento algum é dito que a casa pertence a José Sócrates.

Já sobre as casas vendidas pela mãe do ex-primeiro-ministro, a RTP reitera:

"Demonstrámos que dois dos três apartamentos que a mãe vendeu ao amigo Carlos Santos Silva foram escriturados por um preço duas vezes acima do preço do mercado. Ambos no Cacém, ambos com intermediação do advogado Gonçalo Trindade Ferreira, outro dos presos preventivos, que se assumiu como procurador de Maria Adelaide Monteiro, vendedora, e Carlos Santos Silva, comprador."

"O primeiro foi vendido no dia seguinte às eleições legislativas que ditaram a derrota de Sócrates. Custou 100 mil euros mas permanece vazio. O segundo foi escriturado um mês depois por 75 mil euros. Ainda é habitado pela mesma inquilina dos últimos 30 anos, apesar de não existir nenhum contrato de arrendamento registado nas finanças. Ao todo, os apartamentos foram vendidos por 175 mil euros", conclui a RTP.


*

José Sócrates gosta de falar, esquecendo-se de que há documentos escritos. Quanto mais fala, mais se enreda.
A estratégia é manter a dúvida sobre a sua culpa no espírito daqueles a quem distribuiu diplomas do 9º ou do 12º anos de escolaridade do 'Novas Oportunidades', que dificilmente conseguirão ler uma escritura de várias páginas e, muito menos, um registo predial em francês.
No entanto, ainda não é desta vez que José Sócrates consegue virar a opinião pública a seu favor, havendo até comentários à notícia a denotar que o português, mesmo quando assaltado, mantém o bom humor:


Jorge Artur Vieira@Facebook
01 Dezembro 2014 - 23:19
Estar preso afinal não deve ser assim tão mau. Visitas todos os dias, liberdade de comunicação para o exterior, e aquilo que não sabemos. Qualquer dia vai jantar com o director ao Fialho. Ai vai, vai.

Anónimo
01 Dezembro 2014 - 23:32
Amigo também lhe pagava os empréstimos e as despesas que ele tinha. Que sorte! É como o outro com o taxista que tinha a conta na Suíça. Mas os amigos que mais falta lhe fazem são os do DCIAP, da PGR e do STJ, com esses amigos é que não ia parar à cadeia, com os que ficaram, até eles vão para a cadeia.

Marlene Campos@Facebook
01 Dezembro 2014 - 23:34
O Sócrates não se cala porque gosta de se fazer de coitadinho. Já era assim há vários anos. Já não tenho paciência. Mas será que ainda alguém acredita nele? Existiram sempre grandes indícios da falta de honestidade deste homem. Por favor...

Anónimo
01 Dezembro 2014 - 23:41
Meses a viver em hotéis com a família?
E quanto custa viver assim?
De onde veio o dinheiro para pagar esse luxo pois de certeza que não seriam hotéis de 2 ou 3 estrelas.
Isto é que é roubar à grande e à francesa.

Anónimo
01 Dezembro 2014 - 23:52
Que se faça justiça, mas devia estar em liberdade a aguardar julgamento...

  • Anónimo
    02 Dezembro 2014 - 00:41
    Já devia estar, onde está agora, há muito tempo... Mas mais vale tarde do que nunca! E alguns como o Salgado e outros em breve estarão a fazer-lhe companhia! É a Campanha LIMPAR PORTUGAL em marcha.

wand
02 Dezembro 2014 - 08:15
A casa é do amigo, ele Pinto de Sousa (até o nome Sócrates é falso) vive em casa do amigo, muito amigo, e tem dinheiro para viver em Paris porque tem uma mãe que é muito rica e sustenta um homem de 57 anos que, por acaso, já foi primeiro-ministro de um País.
Surreal...

Lerinho
02 Dezembro 2014 - 09:24
Ora aí está!
Dêem-lhe corda que ele enforca-se sozinho... ou talvez não!
Cá para mim acho que vai arrastar uns quantos com ele. Vai uma aposta?

Joe Shit
02 Dezembro 2014 - 09:29
Li e ouvi as explicações do ex-primeiro ministro e fiquei sem perceber bem.
OK, a casa de Paris não é dele, é do amigo que lhe disse: oh pá vai lá viver, até eu fazer obras. Saiu da casa para um Hotel com a família (sic) até arrendar uma nova casa. Estudavam ele e o filho, tomava as refeições num restaurante de luxo.
Quando veio a Portugal almoçar com o Sr. Monteiro para falar de literatura (almoço que a sua secretária considerou urgente) foi ao Aviz.
Tinha um motorista, uma secretária e várias senhoras que lhe faziam as limpezas. Portanto tinha dinheiro!
Não ganhava do Estado como ex-ministro, era representante duma Farmacêutica. Portanto é só fazer contas segundo o método italiano, uma folha para as despesas e outra para os gastos e ver o saldo. Appassionata.

Sei do que falo
02 Dezembro 2014 - 09:58
A casa em Paris é do motorista que a comprou quando saiu do bairro da Boavista através do testa-de-ferro que é o amigo do prisioneiro 44.
Tanto o prisioneiro 44 como o amigo trabalhavam como testas-de-ferro para o motorista, esse sim, o grande corrupto da Administração Pública.
O prisioneiro 44 foi para Paris, não para estudar filosofia, mas para tratar dos negócios do motorista. O motorista como paga dos seus trabalhinhos, às vezes levava-lhe umas malitas com uns trocos lá dentro, assim para as necessidades mais básicas.
Alguém imagina aquela carinha de anjinho do 44 a fazer seja o que for em proveito próprio? Aquilo é a perfeição absoluta. Vai para o Céu.

Jaime
02 Dezembro 2014 - 10:13
Claro que era do amigo, que seguramente tinha muito interesse em investir em Paris.
Este gajo é um autêntico aldrabão. É como nos divórcios por arranjo, em que o marido que gere as empresas fica com as dívidas, e ela com tudo após o divórcio. E depois vivem juntos.
Este só se enterra. Pelo menos já se sabe que a casa não era alugada...

Não gosto do Sócrates, mas...
02 Dezembro 2014 - 13:41
Pergunto eu: era o Sócrates que estava na gestão, ou no departamento de contratação/concursos, da empresa pública Parque Escolar, quando esta fez os contratos de empreitada com o Grupo Lena? Era o amigo do Sócrates o único administrador do Grupo Lena, com poderes para dar milhões de euros em "luvas" pelos contratos feitos pelo grupo, quer em Portugal, quer na Venezuela? Há muita coisa para saber, ai há, há!

Preso 44 & Quadrilha do PS
02 Dezembro 2014 - 18:48
Só os anjinhos é que podem acreditar que as alegadas "luvas" das negociatas feitas durante o governo PS beneficiaram apenas o Preso 44! Mas alguém acredita que ele (se) governou sozinho? Quem aprovou os tão convenientes RERTs?
Fazer muita obra mantém o dinheiro a circular de forma a gerar "luvas". Eu sempre desconfiei dos políticos que fazem muita despesa, sobretudo em obras inúteis. Eis a razão do PS ser o campeão das PPPs, dos Swaps, da Parque Escolar, das Eólicas e dos ajustes directos. O preço de tudo isso foi a 3ª bancarrota.
Mas o PSD que não pense que aqui faz como Pilatos. Também tem muitos "telhados de vidro". E é por isso que este sistema político está PODRE e urge uma reforma do sistema eleitoral. A bem da democracia.

Anónimo
03 Dezembro 2014 - 02:39
Não há melhor forma dele compreender o que é a dívida, os juros e o seu pagamento, do que obrigá-lo a pagar aos portugueses tudo o que não era dele. Nós somos os credores da dívida dele, queremos o nosso dinheiro de volta e com juros!


  • 03 Dezembro 2014 - 12:26
    Também queremos o nosso dinheiro desviado por outros corruptos. Ou esqueceste que estamos a pagar o dinheiro que outros desviaram e estão longe, ou em casa, sem que nada lhes aconteça. A justiça tem que ser igual para todos, não só prender um para dizer que a justiça está a funcionar.
    Não foram os portugueses anónimos que viveram acima das possibilidades, foi esta gente que se dignou roubar aquilo que não era deles. A quem se provar o tal enriquecimento ilícito, que lhes seja retirado tudo o que levaram, e tenho quase a certeza que se pagava a dívida portuguesa.

Anónimo
03 Dezembro 2014 - 02:41
Título do jornal Libération, em França, diz tudo: "Sócrates, a queda de um oportunista sem ideologia". Nem mais.


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