segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Legislativas 2015: os discursos finais


Nesta noite eleitoral, a ronda dos dirigentes partidários começou pela porta-voz do BE. "O Bloco de Esquerda teve hoje o seu melhor resultado de sempre numas eleições. Temos mais votos, mais mandatos e mais força do que nunca, a concretizarem-se, como tudo indica, as projecções que estão já alicerçadas em votos contados", afirmou Catarina Martins.

Em seguida avisou que não permitirá um governo PSD-CDS sem maioria absoluta, ficando à espera da resposta dos outros partidos:
"A coligação de direita será certamente a candidatura que teve mais votos, mas perdeu votos e perdeu mandatos. Se a coligação de direita não tiver maioria, fique bem claro que não será pelo BE que conseguirá formar Governo. Uma coligação de direita minoritária não será governo em Portugal, se a democracia não lhe der maioria. Pelo BE não será certamente.
A confirmar-se que a direita não tem a maioria, se o Presidente da República, por filiação partidária ou pouca atenção aos votos, convidar a direita para um Governo, saiba que o Bloco de Esquerda, como é um partido de palavra, vai rejeitar no Parlamento essa possibilidade e o programa de um Governo de direita.
"



04 Out, 2015, 22:44

Catarina Martins prosseguiu a alocução, dizendo que o país precisa de investimento, mas exigindo a reestruturação da dívida pública.

Seguiu-se o discurso do secretário-geral do PCP que veio manifestar também a intenção de rejeitar no parlamento um governo PSD-CDS sem maioria absoluta:
Os resultados eleitorais confirmam uma grande derrota do PSD e do CDS que perdem a maioria e são fortemente castigados pelo povo português. Seria intolerável que o Presidente da República quisesse, contra a vontade do povo português, dar-lhes a possibilidade de continuar no Governo. O PCP e os Verdes rejeitarão na assembleia da República qualquer tentativa nesse sentido. Essa pretensão será derrotada, a menos que o PS a viabilize.



04 Out, 2015, 22:46

De seguida, Jerónimo de Sousa enunciou uma série de exigências, entre as quais o aumento do salário mínimo para 600 euros.

O secretário-geral do PS reconheceu a derrota nas eleições, mas não apresentou a sua demissão do cargo. Defendeu que compete à coligação PSD/CDS encontrar soluções de governabilidade:
Quero que fique muito claro: o PS não alcançou os objectivos eleitorais que se propôs e eu, como secretário-geral, assumo por inteiro a responsabilidade política e pessoal pelo resultado do Partido Socialista. A perda da maioria pela coligação constitui um novo quadro político fruto da expressiva vontade de mudança que constitui o PSD e o CDS no ónus de criarem condições de governabilidade no novo quadro parlamentar.



05 Out, 2015, 00:10

"Infelizmente, e temos de o lamentar, a maioria que expressou uma vontade de mudança ainda não se traduziu numa maioria de Governo, nem se satisfaz no mero exercício de uma maioria negativa apenas apostada em criar obstáculos sem assegurar uma alternativa real e credível de governo”, disse Costa no que será uma resposta ao repto do Bloco de Esquerda e da CDU para formar governo.

Já no período de perguntas dos jornalistas, questionado se tencionava apresentar a demissão, respondeu “Manifestamente não me vou demitir”, tendo acrescentado: "Nunca serei um problema para o PS. Nunca faltarei quando for preciso e nunca estarei, quando estiver a mais."

Quando questionado sobre um cenário de entendimento entre todas as forças da futura oposição, voltou a reconhecer a derrota do PS nestas eleições legislativas e reiterou que compete à coligação PSD/CDS-PP encontrar condições de governabilidade.

Recusou apoiar uma moção de rejeição do BE e do PCP, mas advertiu: "Ninguém conte connosco para viabilizar a prossecução pela coligação da sua política como se essa política fosse a nossa política e a que tivesse recebido a maioria dos portugueses.

Sobre a reprovação do orçamento de Estado, como ameaçou fazer durante a campanha eleitoral, contornou a questão dizendo que primeiro existiam outras etapas.


Finalmente chegou o momento da coligação vencedora discursar. "A coligação Portugal à Frente venceu as eleições com clareza e com significativa distância em relação ao segundo classificado", começou por afirmar Paulo Portas.

"A nossa área política, normalmente, é chamada a governar quando a casa está a arder. Agradecemos aos portugueses a oportunidade que nos dão de poder governar em tempo de crescimento", disse o líder do CDS.

"Os portugueses quiseram, com total clareza que PSD e CDS sejam governo por mais quatro anos, mas não nos deram uma maioria absoluta de mandatos. Saberemos ler e respeitar essa dupla circunstância. Isso implica da parte de todos um esforço enorme de política responsável, de abertura e de compromisso. O povo falou, saberemos certamente honrar aquilo que o povo disse.

Nos últimos dias da campanha eleitoral não foram poucas as vozes em sectores da oposição a tentar desenhar uma estratégia de obstrução sistemática. Parece-me que o País recusou essas vozes e recusou essa obstrução. Engana-se quem julga que o radicalismo serve para liderar um Estado, um Governo ou um País.

A diferença entre a coligação e o Partido Socialista andará pelos 7%. Nesse sentido, a derrota do PS é inapelável. O resultado socialista fica na casa do que obteve nas eleições europeias cujas consequências foram as que se conhecem. Mas isso não são contas do nosso rosário.
O resultado é o oposto das expectativas que se anunciavam há poucos meses e do pedido expresso de vitória por maioria absoluta do secretário-geral do PS. As coisas são o que são, não é possível tentar transformar uma derrota nas urnas numa espécie de vitória de secretaria ou tentar impor uma maioria negativa e de instabilidade a um País que está a viver um momento de recuperação e aspira por mais emprego e mais justiça social e não merece que o espírito de facção, seja de quem for, se sobreponha ao interesse nacional.




05 Out, 2015, 00:02

Por fim Portas assinalou a alteração de forças na extrema-esquerda, com o BE a ultrapassar a CDU, mas chamou a atenção para o facto de que a larga maioria do eleitorado votou no chamado arco da governação. Em particular, “o CDS estará em condições de, por si ou ex aequo, ser o terceiro grupo parlamentar, logo após o PSD e o PS”, sublinhou o líder do CDS.

É tempo de união e é tempo de construção. É tempo de compromisso e é tempo de equilíbrio”, rematou Paulo Portas.



05 Out, 2015, 00:36

Passos Coelho comprometeu-se a fazer tudo para evitar que Portugal fique refém "de crises políticas", prometendo pôr de lado as "bandeiras partidárias" para viabilizar o crescimento do país. "Tomarei a iniciativa de contactar o Partido Socialista."

"Temos condições para atingir um plano superior de ambição para o nosso país". "Tudo faremos para que os próximos anos não tenham sobressaltos."

O primeiro-ministro reconheceu que os eleitores recusaram dar uma maioria absoluta à coligação. "Interpretaremos com muita humildade o resultado que nos confiaram", acrescentou, prometendo "governar para todos procurando os compromissos indispensáveis para dar estabilidade às politicas que necessitamos para os próximos quatro anos".

Sobre o futuro governo, Passos Coelho revelou “já ter acertado com Paulo Portas um acordo de governo que sempre esteve subjacente ao acordo de coligação".

Nos primeiros dias da semana daremos o passo indispensável para comunicar ao Presidente da Repúblicas que a força mais votada nas eleições está disponível para formar governo."

Prometeu procurar entendimentos, interpretando "de forma correcta e humilde a vontade do eleitorado de não dar a maioria absoluta que a coligação havia pedido para governar”.

"Estamos a concluir um ciclo eleitoral difícil, mas que se conclui com esperança de recuperação. O Parlamento na sua nova configuração irá exigir mais de todos nós."

Os tempos que aí vêm serão "desafiantes", mas mais de 70% do parlamento está "dentro da perspectiva de filiação europeia e de moeda única, condições indispensáveis para continuar a fazer Portugal crescer”.

Depois enumerou as prioridades do novo Governo: "Dotar o país de um orçamento para 2016, manter Portugal com um défice abaixo dos 3% e diminuir a dívida Pública, mantendo a disciplina e o rigor das contas públicas".

Prometeu procurar a "recuperação do rendimento necessária para progressivamente ir deixando as medidas da austeridade".

Repetiu que pretende remover até 2016, "progressivamente, a sobretaxa do IRS dentro de um caminho seguro, manter, como tínhamos previsto, a recuperação dos salários da administração pública e dar um alívio fiscal às famílias numerosas".





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Depois de apurados os resultados destas eleições legislativas, a coligação PSD-CDS obteve 104 deputados em território nacional, a que deverá adicionar mais 3 deputados, um pelo círculo da Europa e dois pelo círculo Fora da Europa, como tem sido habitual. O PS recebeu 85 mandatos e costuma obter 1 mandato no círculo da Europa. Portanto a distribuição dos mandatos das várias forças partidárias deve ser a seguinte:


Catarina Martins entusiasmou-se com a subida sensacional do número de mandatos do Bloco e apressou-se a empurrar para o Governo um PS que pouco mais teve que um terço dos lugares do parlamento.
Sem mais delongas, impôs as suas condições, entre as quais sobressai a exigência de reestruturação da dívida pública. Não explicou, porém, onde vai buscar os empréstimos para o investimento de que o País carece, uma vez que nem os investidores de fora, nem os da casa vão emprestar um euro a quem não lhes tenciona pagar.

Além disso, esqueceu-se que, quando a função pública anda de candeias às avessas com o PS, transfere o voto para os bloquistas, mas costuma ser Sol de pouca dura. Recordemos o congelamento das carreiras que, nas legislativas de 2009, deu 16 deputados ao Bloco, número que, passado menos de dois anos, baixou para metade.

Jerónimo de Sousa quer que Portugal saia do euro, com o intuito de promover o crescimento das exportações ao abater drasticamente os salários, mas não é pobre a pedir o aumento do salário mínimo para 600 euros.

O primeiro lugar no concurso “Dar o passo maior que a perna” vai, porém, para Rui Tavares que, com a projecção de um único deputado para o Livre, já se propunha catalisar a produção de um governo de esquerda de largo espectro.

António Costa recusou alinhar nestes aventureirismos da extrema-esquerda. Hábil a executar golpes traiçoeiros, tenciona ir desgastando a coligação, bem como os partidos da esquerda radical que esvaziaram o PS, até conseguir bloquear o Governo PSD-CDS e provocar eleições antecipadas.
No entanto, vai ter de explicar aos socialistas por que é que classificou a vitória de António José Seguro nas eleições europeias de 2014, com quase mais 4% que a coligação PSD-CDS, como “poucochinho” e agora considera aceitável uma derrota por 6%. As vozes ensurdecedoras que já se ouvem dentro do PS prometem esclarecer este imbróglio.

Certos aspectos do carácter de Paulo Portas são irritantes, em especial a ambição desmedida manifestada no Verão de 2013, decorria o programa de ajustamento económico e financeiro, para alcançar o cargo de vice-primeiro-ministro.
Mas é de justiça reconhecer os seus dotes pedagógicos na transmissão de mensagens e realçar a concisão da linguagem e a elegância (e precisão) das farpas, virtudes bem visíveis durante a campanha eleitoral e no discurso desta noite eleitoral. Um comunicador nato que, indiscutivelmente, deu um contributo essencial para a vitória da coligação.


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