sábado, 9 de maio de 2015

Marcelo e Rui Rio revelam perfis para a presidência da República


Num debate em Santa Maria da Feira, Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio deixaram visões diferentes sobre o que deve ser a Presidência da República.


09/05/2015 - 20:07


Marcelo Rebelo de Sousa vê o próximo Chefe de Estado como um gestor de consensos:
Aquilo que se vai exigir do Presidente da República, nomeadamente nos próximos anos, é uma gestão prudente, sensata, de pontes, de equilíbrios, a pensar nos consensos de regime. Essa gestão tem de ser feita ao centro, não pode ser feita nem à direita, nem à esquerda.” Além disso defende uma magistratura de afectos: “A recuperação dos portugueses para a política passa pelo afecto.

Sobre uma possível candidatura às presidenciais de 2016, afirmou: “Vê-se que tenho ideias sobre qual deve ser o magistério e a actuação do Presidente da República. Acho que, neste momento, já não é mau. É como o código postal, é meio caminho andado. Há coisas que não convêm que sejam feitas depressa demais.” E foi deixando alguns avisos dirigidos a alvos: “Não se pode prometer o que não corresponde às funções do PR.

Marques Mendes apontou defeitos ao regime: “As promessas eleitorais são o maior vício do nosso Estado de Direito (...) não há partidos virgens, todos têm pecados e pecados sérios. (...) Não vejo um programa eleitoral a ser cumprido e é melhor que cada um [PS e PSD] não atire pedras ao vizinho. É uma autêntica vergonha o discurso muito bonito do ‘só prometo o que posso cumprir’.
Considera que o sistema eleitoral não favorece a escolha dos melhores, nem valoriza o mérito. Falou do modelo alemão, do sistema misto, dos círculos uninominais, defendendo a escolha de pessoas e não tanto dos partidos nas eleições autárquicas. E concluiu:
Este modelo está esgotado e [dizê-lo] só é polémico junto dos responsáveis políticos, os cidadãos compreendem isso. Não têm coragem e está tudo dito.
Mudar o sistema eleitoral não é a solução mágica, é um choque de dentro para fora, é um sobressalto cívico que vai permitir que os partidos se reformem um pouco. Precisamos de apostar no mérito, na competência, na qualidade.

Saíram Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes e entrou Rui Rio. O ex-presidente da câmara do Porto evitou o tema presidenciais no debate, mas sempre foi revelando qual o perfil que defende para o futuro ocupante do palácio de Belém: “O próximo Presidente da República tem de atender mais às questões de regime do que até agora atendeu”, disse, acrescentando que “tem de ter uma zona de acção interventiva em torno das grandes reformas do regime”.

Durante o debate, foi dizendo que não simpatiza com o voto obrigatório, concorda com listas independentes às juntas de freguesia e câmaras, mas não à Assembleia da República. Vê “cada vez mais gente fraca na política”, um poder político enfraquecido e desacreditado, mas não vê um regime melhor do que o actual.


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Qual será o consenso entre estes dois pré-candidatos às presidenciais 2016 em que pensou e falou, com ironia, Marques Mendes? Como Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio têm idades que diferem em cerca de 10 anos, pode avançar Marcelo primeiramente e, uma década depois, Rio.

Em relação a estes dois pré-candidatos às presidenciais 2016, temos um problema.

Ricardo Salgado estava a criar um império empresarial num triângulo com dois dos vértices em Angola e Brasil, apoiado em fundos portugueses. Financiou as campanhas de todos os presidentes da República deste canteiro à beira mar plantado, desde Soares e Sampaio até Cavaco. Marcelo tinha a companheira na administração do BES e contava, obviamente, receber idêntica regalia. Recompensaria os Espíritos Santos fazendo vista grossa sobre a actuação de Ricardo Salgado quando chegasse à presidência da República, como fizeram aqueles seus antecessores no cargo.
Mario Draghi, com a concordância de Carlos Costa e Passos Coelho, estragou-lhe o arranjinho. Passos preteriu Salgado em favor de José Maria Ricciardi para consultor financeiro e, posto ao corrente das manigâncias que se faziam no BES, está a impor um pouquinho mais de transparência e contenção aos políticos.
As disponibilidades financeiras de Ricardo Salgado já não são aquilo que eram. Ora uma campanha presidencial custa muito dinheiro. Agora, só com o apoio financeiro do PSD é que Marcelo poderá avançar. Para isso prestar-se-á a ser o encobridor de todas as trapaças da politicagem, exactamente como fez Cavaco Silva durante três décadas. Mas, ao contrário deste, e tal como vem fazendo aos domingos à noite, com inteligência, no programa de Judite de Sousa, na TVI, tenciona embalar e entreter os portugueses com "afecto".

Rui Rio encontrou delapidadas as finanças da câmara municipal do Porto e sanou o problema. Não podemos duvidar do seu equilíbrio e capacidade de gestão e era o nosso pré-candidato presidencial preferido.
Até que apareceu atrelado a António Costa que ainda não era o novo chefe da quadrilha socratista mas andava há meia dúzia de anos a fazer fretes ao Grupo Espírito Santo, e a outros grupos económicos, na câmara de Lisboa. Aliás, deixou aí uma dívida enorme apesar de Passos Coelho ter indemnizado a câmara pelos terrenos onde, há muitas décadas, foi construído o aeroporto de Lisboa.
Pouco depois, ouvimos Rio apoiar a regionalização que, num País tão pequeno, não faz sentido, serve apenas para criar uns milhares de empregos para a mais poderosa corporação portuguesa — a dos políticos.
Sem o apoio da gentinha da política à portuguesa, Rio não tem hipótese de ser primeiro-ministro ou presidente da República? Não tem.
Mas não apoiamos quem se apoie em políticos sem escrúpulos. Trabalhamos para informar com rigor quem nos lê, acreditamos na evolução da mentalidade do português comum. Temos esperança que o português venha a entender que só pensando, trabalhando, comportando-se e educando os filhos como o europeu dos países do Norte e Centro da Europa é que conseguirá ter um nível de vida próximo daquele que se desfruta na Alemanha, na Áustria, na Bélgica, na Dinamarca, na Suécia ou na Finlândia.


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