domingo, 30 de outubro de 2011

Não há fumo sem fogo


Na passada quinta-feira, num almoço em Paris entre José Sócrates e António José Seguro, o ex-primeiro-ministro terá procurado convencer o actual líder do PS que a única estratégia para convencer o eleitorado de que o PS não deixou nenhum buraco colossal de mais de 3 mil milhões de euros nas contas públicas é votar contra o OE 2012.

Seguro continua a insistir em negociações com o governo de Passos Coelho em que pretende alterar o regime previsto para o IVA, em especial na restauração, e também evitar o corte dos dois subsídios da função pública e dos pensionistas, votantes habituais do PS, alinhando na defesa do princípio da equidade fiscal recordado pelo Presidente da República.
E tenciona abster-se na votação do OE 2012.

A posição contrária é assumida por deputados próximos de Sócrates — José Lello, Isabel Santos, André Figueiredo, Sérgio Sousa Pinto e Basílio Horta.
Estando garantida a aprovação do OE 2012 pelos deputados dos partidos da coligação governamental e, portanto, salvaguardado o cumprimento do acordo com a troika FMI/BCE/UE que o anterior governo do PS também assinou, estes socialistas optam pelo voto contra para que o eleitorado não olhe o PS como o responsável pelas medidas de austeridade que vão ser impostas.

Que respondeu José Lello, ex-secretário nacional do PS para as Relações Internacionais, quando confrontado com esta notícia?
"É mentira e uma refinada intriga dizer-se que José Sócrates telefonou para deputados para votarem contra o Orçamento.
Jamais José Sócrates me sugeriu tal coisa e se pensam que, com a instrumentalização do nome do meu amigo, me condicionarão o meu voto livre, estão muito enganados.
"
André Figueiredo, ex-secretário nacional do PS para a Organização, corroborou:
"É lamentável que se utilize de forma indevida o nome de José Sócrates para condicionar a posição política dos deputados sobre o Orçamento do Estado.
Este Orçamento do Estado é mau demais para o país para que alguma vez necessitasse de especulações sobre o sentido de voto daqueles que sempre defenderam o Estado social, bem como medidas para impulsionar a economia.
"
Isabel Santos, ex-governadora civil do Porto:
"Considero lamentável esta tentativa de utilização do nome do antigo secretário-geral, José Sócrates.
Manterei inabalável a minha posição até ao fim e irei à comissão política do PS defender o meu ponto de vista, dizendo claramente que, no meu entendimento, o PS deve votar contra este orçamento.
"


O pronto desmentido destes deputados, e os termos em que o fizeram, mostra que o grupo de pressão existe e qual é a estratégia traçada por José Sócrates para o ilibar e ao PS da duplicação da dívida pública durante os seis anos do seu governo.

Depois, o ferrão da austeridade, por um lado, e as negociatas que os políticos do PSD hão-de fazer, por outro, vão lançar no espírito dos eleitores a dúvida de que as medidas de austeridade se destinam exclusivamente a pagar as dívidas na Madeira e as fraudes no BPN.

Como há um acordo de cavalheiros entre os políticos portugueses para se protegerem uns aos outros, lá estarão o Procurador-geral da República e o Conselho Superior da Magistratura a bloquear os juízes e ninguém será condenado pelas fraudes cometidas.
No ensino, lá estarão os directores das escolas a perpetuar a ideologia socialista, a impor a burocracia que afasta os professores da preparação das aulas e a atrofiar os alunos entretendo-os com as actividades (que grande negócio!) que o secretário de Estado Casanova de Almeida conseguiu manter no modelo de avaliação docente à revelia do ministro Nuno Crato que quer os professores centrados nas aprendizagens dos alunos.

Um eleitorado diplomado nas Novas Oportunidades de José Sócrates, mas maioritariamente pouco qualificado e informado, muito permeável a boatos e difamações, que preferia uma austeridade às pinguinhas do que um choque financeiro brutal, obviamente vai dar-lhe a vitória nas eleições do Outono de 2015.


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