sábado, 1 de outubro de 2011

Anatomia da manifestação da CGTP



"Programa de agressão, com a luta dizemos não."

Ao longo da avenida da Liberdade, milhares de pessoas gritaram hoje este slogan contra o memorando assinado entre a troika — Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI — e os três maiores partidos políticos, PSD, PS e CDS, na manifestação organizada pela CGTP.

As pessoas repetem automaticamente uma frase sobre um assunto que desconhecem e sobre o qual, apesar dos computadores com internet que o governo Sócrates despejou a torto e a direito sobre o País, não procuram informar-se.




Basta olhar para esta imagem (que peca por defeito porque, em 2011, o défice vai ser muito maior) para concluir que, mesmo que não houvesse amortizações da dívida pública nem pagamento de juros, as receitas não cobriam as despesas.
Como ninguém concedia um euro a Portugal, sem o empréstimo da troika seria preciso cortar ainda muito mais nas prestações sociais — abonos, subsídios de desemprego, pensões, ... — e nos salários da função pública.

É triste ver seres humanos a repetir patacoadas que até um computador consegue desmistificar. Passaram quase quatro décadas sobre o 25 de Abril e os portugueses repetem qualquer idiotice que lhes seja impingida. É o completo fracasso da política educativa da Democracia.


Continuemos a ler a reportagem do Público:

"A encabeçar o desfile estão seis Globetrotters da empresa de camionagem TNC. O buzinão dos camiões ressoa ao longo de todo percurso, do Saldanha aos Restauradores. É um sinal de protesto “em defesa dos postos de trabalho”, em nome da “viabilização” da empresa, dizem os representantes da empresa presentes.
São camiões com gente dentro, como Carlos Martins, que trabalha na companhia há 11 anos. “Só queria que me deixassem trabalhar para ganhar o pão de cada dia”, desabafa. Martins não recebe salário há dois meses, mas também não está despedido. E é este impasse que Paulo Guerreiro, trabalhador há nove anos na TNC, diz que não se pode perpetuar. Guerreiro acredita que a presença dos trabalhadores na manifestação sensibilize o Governo.
"

Que falta de pudor! Políticos que não têm qualquer solução para a crise, que nem sequer se dispuseram a falar com a troika enquanto andou a vasculhar as contas públicas para trazer ao de cima as inúmeras irregularidades, agora vêm aproveitar-se das angústias dos trabalhadores.
E se Louçã já fez o mea culpa por não ter ido defender a sua perspectiva sobre a crise financeira, Jerónimo de Sousa nem isso.


"À margem da manifestação, em frente a uma das portas de acesso ao Galerias Saldanha Residence, está Irene, 40 anos. Fez uma pausa no seu trabalho como lojista para fumar um cigarro, enquanto os Homens da Luta cantam, ao megafone, ‘Assim não dá’. Garante que se não estivesse a trabalhar, “provavelmente” estaria na manifestação e que entende o protesto como “uma forma de expressar um bocadinho a instabilidade que se vive neste momento”. Não é o facto de trabalhar ao sábado que a incomoda. O que preocupa Irene é a incerteza, “as coisas que ainda não temos a certeza que virão”. Considera que os salários, em Portugal, estão muito aquém dos restantes países da União Europeia e que, “diga-se o que se disser”, o sector público goza de uma maior protecção social do que o sector privado."

Irene, minha cara amiga, já reparou que os partidos políticos que apoiaram a manifestação são justamente os que defendem com unhas e dentes o sector público tal como está, apesar dos prejuízos que causa ao País?


"Em contraste com o tom amargo do homem que ergue a bandeira de Portugal, há quem rime esperança com mudança, e há ainda um cartaz escrito e colorido por Miguel, de sete anos. De um lado escreveu: “As gomas são um direito, sem gomas nada feito”. Do outro: “Quero que todos os meninos brinquem, estudem e sejam felizes”.

No estado catastrófico para que políticas educativas irresponsáveis atiraram o ensino público, um menino de sete anos não é capaz de escrever uma palavra, quanto mais uma frase. Foi, obviamente, a professora da criança que redigiu o cartaz. Com o brincar e estudar, a docente andou bem. Mas as gomas, tenha dó, não só está a incentivar a criança a comer porcarias como a esvaziar os bolsos dos pais.
Bem sei que as pedagogias românticas que lhe enfiaram na cabeça, na ESE onde obteve a sua licenciatura, recomendam que se deixe os alunos fazer todos os disparates. Mas olhe que o resultado é que a produtividade do trabalho desceu para níveis baixíssimos, logo o PIB não cresce e, consequentemente, a sua carreira, congelada sine die, anda pelas ruas da amargura.


"Pela Avenida da Liberdade há professores que se passeiam de preto, a declararem que "a educação está de luto". Ana Gabriela, 28 anos, professora de Educação Visual e Tecnológica, sindicalizada, dá aulas desde 2006 e fez o caminho Setúbal-Lisboa com a irmã, professora desempregada, para “lutar pelos direitos da profissão e para acompanhar a luta de todos os portugueses”. Neste ano Ana ficou colocada por “oferta de escola” em Oeiras e vive a incerteza de não saber se no final do mês continua a leccionar. Na Avenida da Liberdade, veio contestar a falta de “seriedade” nos concursos, recordando que trabalha na escola durante o dia e num call center à noite para “poder sustentar a família”. O aumento do IVA é uma das outras preocupações apontadas pela professora “precária” que “também influencia a [sua] vida”."

O vencimento bruto de um docente contratado no ensino público é 1200 euros. Tenha vergonha na cara, minha senhora, fique com a docência e dê o call center à sua irmã. A senhora é uma gananciosa, espero que o ministro Nuno Crato a ponha no olho da rua e dê o seu lugar de professora a alguém que esteja desempregado.


"Ao cair da tarde, perante uma Praça dos Restauradores repleta de manifestantes, em tom inflamado, Carvalho da Silva, o líder da central sindical que comemorou neste sábado 41 anos, faz a avaliação dos cem dias de Governo de Passos Coelho e recorda a mais recente entrevista de Cavaco Silva, para assinalar que “não pode haver complacência com políticas neoliberais ou neoconservadoras” perpetradas pelo actual executivo e defendidas pelo Presidente da República. No primeiro manifesto popular após a assinatura do acordo das troikas, o sindicalista pede “esperança no futuro”, apela que o caminho não deve ser o da recessão, mas o do crescimento económico e do combate à fraude e evasão fiscal, anunciando que “a luta vai prosseguir com maior amplitude”, em acções de luta entre 20 e 27 de Outubro por todo o país."

Combate à fraude e evasão fiscal: bem lembrado, senhor sindicalista.
Mas não se esqueça de admoestar os seus colegas da Fenprof que defenderam que os directores das escolas não deviam adicionar ao vencimento o suplemento remuneratório para determinar a taxa da redução salarial, em incumprimento do ponto 4 a) do nº 19 da lei do OE 2011.
Ou será que a sua braveza se vira apenas contra os empresários que deslocalizam as sedes das empresas? Olhe que estes patifes sempre vão criando os postos de trabalho de que a população activa precisa e com os impostos, que vão desembolsando, o Governo paga os vencimentos aos sindicalistas da função pública.

No que respeita a incitação à greve, quanto menor for a riqueza criada, menores serão os vencimentos e as prestações sociais que as pessoas receberão. Pense mais no interesse das pessoas e menos nos benefícios políticos que o seu partido vai perder se o Governo conseguir reduzir o número de dirigentes das autarquias para metade, diminuir os vereadores em um terço e os deputados da Assembleia da República de 230 para 180.


Sem comentários:

Enviar um comentário