"Portugal precisa de aumentar a produtividade e acumular capital humano. Graças à investigação de António Sérgio Azenha ficámos a saber como. Os nossos ilustres governantes que, em média, ganhavam 40 mil euros/ano no sector privado, antes de servir no Governo, passam a ganhar 400 mil euros/ano depois de uma temporada no Governo. A conclusão é óbvia: a passagem pelo Governo aumenta a produtividade individual, em média, por um factor dez. Uma acumulação de capital humano sem precedente.
Esta é a receita que Portugal precisa, a nossa arma secreta: se cada português passar uns meses no Governo, aumentamos a produtividade individual dez vezes. Não há reformas económicas ou políticas que possam produzir semelhantes e invejáveis resultados a tão curto prazo. O factor dez é simplesmente brutal.
Como sempre, perante o factor dez, temos vozes sérias e ponderadas que falam de demagogia, inveja, necessidade de remunerar o mérito e a qualidade (que coincidentemente foi descoberta com a passagem por um cargo político), etc. A conversa da treta de sempre.
Claro que um factor dez é um assunto sério e merece reflexão. Mais, não tenho dúvida que o valor criado pelos ex-governantes numa empresa privada justifica o factor dez. Mas esse valor criado não reflecte nenhum ganho de produtividade ou valor económico. Explica-se sinceramente pela peculiar economia de mercado que temos em Portugal. Tudo se faz à sombra dos favores do Estado e das influências políticas. É nesse tipo de mercado que os ex-governantes criam valor que evidentemente as empresas sabem pagar. Mas tratam-se de rendas e quasi-rendas. Por isso assistimos nos últimos 20 anos ao factor dez numa economia estagnada, agora tecnicamente falida, e sem nenhum potencial de crescimento.
As trocas de favores e procura de rendas existem em todas as economias de mercado onde os governos regulam e interferem com as actividades das empresas. Também é verdade que quer na Europa, quer nos Estados Unidos, os ex-governantes são remunerados pelo sector privado de forma generosa pelas razões óbvias. O que é surpreendente em Portugal (ou talvez não) é o factor dez. Um olhar rápido pelas administrações Clinton ou Bush filho e, em termos gerais, estamos a falar de um factor dois ou três. Tenho a mesma percepção em Espanha ou no Reino Unido. Um factor dez é simplesmente absurdo e dá uma boa medida da captura do Estado pelos interesses privados. Realmente assustador.
Nuno Garoupa"
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