sexta-feira, 21 de outubro de 2011

"Explicação, responsabilização, expiação"


"21 Outubro 2011 | 12:02
Fernando Braga de Matos - fbmatos1943@gmail.com


(Onde o autor, presumindo que o primeiro-ministro não é um discípulo do divino marquês e que o conselho de ministros não é um lugar de deboche onde se praticam exercícios retirados de ilustrações de Sacher-Masoch, com Gaspar ao chicote, conclui que o País tem mais buracos que um queijo suíço e que muitos o fabricaram e não apenas Sócrates, o não-filósofo, pelo que sugere que os responsáveis sejam investigados, expostos em pelourinho e vilipendiados pela sofrida populaça).

Antes de mais, nesta história do orçamento terrorista de 2012, confidencio aos meus estóicos leitores, as duas principais sensações imediatistas que me assaltaram: em primeiro lugar, se o primeiro-ministro sentiu um murro no estômago, eu senti um pontapé nas partes baixas; em segundo lugar, ocorreram-me enormes saudades do inesquecível Teixeira dos Santos a apresentar o Orçamento do Estado às tantas da noite, ainda estremunhado, com umas "pens" esquecidas no gabinete e uns gráficos perdidos no Mercedes de apoio, comparando-o com um insuportável Gaspar, a explicar tudo e a chegar a horas, quando umas boas aldrabices eram muito mais tranquilizadoras.

Mas o dito orçamento Boris Karloff realmente necessitava de uma explicação, pois a surpresa do desvio colossal já parecia digerida e até se dizia que o corte de meio subsídio de Natal já ia para as folgas, ou não fosse verdade que o anterior dono da loja roubava no peso. A explicação veio, e, realmente, chegar-se a seis meses com 70% da receita exaurida e ter que se descortinar 7.000 milhões em 2012 deixa aterrorizado o mais coriáceo dos pagadores de promessas, se é que o são realmente. Mas quais consumos intermédios ou quais gorduras?! O que se vê, e já me parecia a mim, um simples observador com acesso exclusivamente a informação e opinião pública disponíveis, é que o País já há muito seguia "socialisticamente" em roda livre e, nos últimos tempos, com um vendedor de banha da cobra a dirigir os destinos das gentes, enganando tudo e quase todos. Já o venho escrevendo há anos, iluminado embora pelo Espírito Santo. Agora, temos que suportar e confiar que realmente a economia dê o golpe de rins lá para 2013 e que, até às próximas eleições, que o PSD patrioticamente vai perder, se faça a reforma do modelo económico, do Estado e das contas públicas, para regenerar o País em 10 anos.

Entretanto, quando aparecem as pessoas muito justamente perplexas, indignadas e tolhidas, acorrem uns encantadores de serpentes, com soluções fantásticas como a do investimento sem dinheiro e a de renegociar, já, o acordo que Sócrates assinou, em nome do Estado, há seis meses, como se isso dependesse de nós. Entretanto, passa-se por alto que, se o dinheiro da "troika" não entrasse, era a economia que parava, desde o abastecimento de gasolina a alimentos nos supermercados, passando por pagamentos de salários e pensões. A venda da ilusão de caminho alternativo aos que perderam as alternativas é cruel e criminosa.

E volto a perguntar: não se via tudo há muito, mesmo sem as demonstrações gráficas de Medina Carreira, os avisos de Cavaco ou as denúncias do Tribunal de Contas? Não se achava estranho o milagre da Madeira, mesmo quando os fundos já escasseavam? Não se via que o dinheiro despejado a jorros tinha muitos bolsos ávidos, muitos "boys", muita auto-estrada para lado nenhum, muitos aeroportos de Beja, muitos Paulos Campos, muitos BPN vígaros e supervisores vesgos, muitos varas a receber robalos, muitas quimeras ferroviárias para transportar espanhóis a banhos, muitos cavernícolas de Foz Côa, muitas obras de arte tipo urinol nas rotundas, muitos direitos adquiridos, muitos ricos a ganhar salário mínimo, muitas Fundações sem fundo? Era necessário ser-se génio para, estando no Governo ou fora dele, saber que os défices se transformam em dívidas e estas, um dia, têm que se pagar com juros, até que os credores se cansem e mandem à m… um país onde, ainda há pouco tempo, havia tantos desempregados como "baixas" ao trabalho e que os trabalhadores alemães torçam o nariz quando se lhes exige (sim, exige!) solidariedade europeia?

Um hábito terrível que os portugueses têm, interiorizando a ideia, é o de falar de dinheiro do Estado, esse grande pai adorado que tantos querem omnipresente, sem pensarem que os fundos são deles próprios, enquanto contribuintes. Adoram ver os recursos nas mãos desse patrão, mesmo que os vejam delapidados, na esperança que alguma coisa lhes caia em sorte, na mesa do orçamento, e, na passada, desistem de os monitorizar, desculpando a ladroagem, a incompetência, o vil engano. Vozeiam, mas desculpam, quando não premeiam mesmo.
Agora chegamos aqui. Quem foi que nos trouxe a este lugar? E essa gente fica impune?"

*

Resposta:
Legislação já temos — Lei n.º 34/87. Agora, senhores magistrados do Ministério Público, façam o vosso trabalho. E se o senhor Procurador-geral da República ou o Conselho Superior do Ministério Público vos bloquear, denunciem as situações.


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