terça-feira, 20 de setembro de 2011

A sombra e a claridade




"Uma situação destas pode de facto afectar a credibilidade do nosso país na cena internacional."

Finalmente Cavaco Silva dignou-se pronunciar algumas palavras sobre o buraco financeiro de 1,113 mil milhões de euros descoberto na semana passada nas contas da região autónoma da Madeira, o qual se vai adicionar à derrapagem orçamental de 568 milhões de euros no 1º semestre deste ano, já confirmada pela troika em Agosto.
Como é habitual ficou-se pelos meios tons: "É necessário que se tomem medidas para que situações semelhantes não venham a repetir-se". E, num esforço em que arriscou estalar as costelas, murmurou que "talvez já devesse ter sido feito há mais tempo".

A seguir, esta figura, que aparece cada vez mais enleada nas traficâncias dos becos sombrios do PSD, refugiou-se em frases ocas, como promoções de coesões nacionais, de reforços de solidariedade entre os portugueses as quais, hoje sabemos, servem para esconder os benefícios pessoais adquiridos ao longo da carreira política.

Talvez a constituição não confira poderes ao Presidente da República para eliminar desbocados e aldrabões líderes de governos de regiões autónomas, pensará o leitor. Nada disso:

"Artigo 234.º
(Dissolução e demissão dos órgãos de governo próprio)
  1. As Assembleias Legislativas das regiões autónomas podem ser dissolvidas pelo Presidente da República, ouvidos o Conselho de Estado e os partidos nelas representados.
  2. A dissolução da Assembleia Legislativa da região autónoma acarreta a demissão do Governo Regional, que fica limitado à prática dos actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos, até à tomada de posse do novo governo após a realização de eleições."


Pelo contrário, Passos Coelho surpreendeu pela positiva ao dizer, sem evasivas, que não vai fazer campanha ao lado de Jardim porque "o primeiro-ministro não deve envolver-se nessa campanha, sobretudo nas actuais condições, em que foi conhecido pelo país uma situação que é grave e que é irregular, que tem custos de reputação para Portugal, não seria compreensível que o primeiro-ministro fizesse qualquer confusão de carácter partidário e se envolvesse na campanha eleitoral da Madeira."
E, quando interrogado sobre o que falhou para que Jardim pudesse esconder o buraco financeiro, respondeu que "não há dúvida nenhuma que falhou a obrigação de reporte [dos acordos de regularização de dívidas] do próprio governo regional".





Indubitavelmente este governo está a impor um corte com o passado no modo de fazer política em português.
Primeiro foi a entrega de quatro ministérios de primordial importância — Finanças, Economia, Saúde e Educação — a pessoas de reconhecida competência a nível externo e que não eram políticos. Agora é a decisão de ir levantando os tapetes e pôr à vista o lixo que for encontrado.

Soa a pouco, é certo, mas começamos a acalentar alguma esperança de que o nosso País não vá soçobrar como está a acontecer à Grécia socialista.
Nasce a expectativa de que os sacrifícios financeiros não vão cair nos sacos rotos da autonomia madeirense, das autarquias e das empresas públicas e de que os portugueses voltarão a ser considerados como gente trabalhadora e honrada na Zona Euro.


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