"O secretário-geral do PS acusou hoje Pedro Passos Coelho de estar a ser cúmplice da actuação do presidente do Governo Regional da Madeira e adiantou que espera uma posição do chefe de Estado sobre o défice encoberto."
A afirmação é tão descabida que todos os comentadores da notícia, excepto umas aves raras fãs de Sócrates e do PS, zurzem no homem. Registamos, pelo seu humor, este comentário:
"Legru 17 Setembro 2011
Conivência
Como se pode ser conivente com alguém que cometeu um acto antes de ter qualquer possibilidade de intervenção?
O deficit da Madeira foi gerado no reinado do partido deste aprendiz de feiticeiro quando o Passos ainda não passava de um cidadão como outro qualquer. O governador do BdP e toda a estrutura pretensamente fiscalizadora e controladora foi nomeado por idem aspas.
Ninguém se apercebeu de nada (tal o forrobodó que imperou na anterior dinastia) e vem agora este ET oriundo de galáxia desconhecida, travestido de virgem pura exigir tudo e a todos.
— Ó homem tenha calma! Um dia chegará a sua vez, mas terá de ter calma e começar por tranquilizar o seu partido que já começa a torcer-se na cadeira com evidentes sintomas de incómodo."
Vamos aos factos. O Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Banco de Portugal (BdP) divulgaram anteontem um comunicado sobre as contas da Administração Regional da Madeira, onde se lê (o negrito é nosso):
"Acordos de Regularização de Dívidas
- O Tribunal de Contas publicou em Abril passado um relatório sobre a “Auditoria orientada para os encargos assumidos e não pagos da Administração Regional Directa da Madeira – 2009”. Este relatório identifica Acordos de Regularização de Dívidas (ARD) celebrados entre o Governo Regional da Madeira e empresas de construção, num montante global de cerca de 184,5 milhões de euros (dos quais 141,3 milhões de euros referentes aos acordos de 2008 e o remanescente aos acordos de 2009).
Também de acordo com o relatório, estas dívidas não foram inscritas na lista de encargos assumidos e não pagos. Esta lista, de preenchimento obrigatório pelos organismos das Administrações Públicas, é uma importante fonte de informação estatística para apurar a despesa e a dívida dessas entidades na óptica das Contas Nacionais. - As diligências que as autoridades estatísticas desencadearam, ao tomarem conhecimento do relatório do Tribunal de Contas confirmaram que as dívidas contraídas desde 2004 e objecto de ARD em 2008 e em 2009 não foram registadas como encargos assumidos e não pagos, não tendo igualmente sido comunicadas às autoridades estatísticas.
Na sequência destas diligências, entre o final de Agosto e o início da presente semana, chegou às autoridades estatísticas um conjunto de informações que vão ter o seguinte impacto no défice das Administrações Públicas:
_________________ 2008 2009 2010 2011 - 1º semestre _________________ | milhões de € ___________ 139,7 58,3 915,3 568,0 ___________ 1681,3 | % do PIB __________ 0,08 0,03 0,53 ? __________ |
Qual foi o partido político que governou Portugal entre Março de 2005 e Junho de 2011?
António José Seguro, entre Março de 2005 e Junho de 2011, foi ininterruptamente deputado e alguma vez tivemos o prazer de ouvir a sua voz sobre a questão da Madeira, ou outras quaisquer questões?
Não adianta fingir que o problema da Madeira surgiu agora. Guterres perdoou as dívidas a Jardim e o governo Sócrates teve conhecimento do relatório do Tribunal de Contas.
E que dizia esse relatório de 3 de Fevereiro de 2011 da secção regional do Tribunal?
Enumerava facturas em dívida a fornecedores, no montante global de 184,5 milhões de euros, não inscritas na lista de encargos assumidos e não pagos, fazia recomendações e terminava mandando entregar um exemplar deste relatório ao Magistrado do Ministério Público junto daquela secção regional bem como divulgar o relatório no sítio do Tribunal de Contas na Internet, depois da notificação dos responsáveis.
184,5 milhões de euros não é um valor despiciendo.
Entre entidades extintas e criadas na Administração Central, há um saldo líquido de cerca de 137 entidades que serão extintas, o que terá como consequência a extinção de 1712 lugares dirigentes. Sabe qual é o impacto orçamental durante o ano de 2012 que esta medida trará? 100 milhões de euros, cerca de metade daquele valor.
Claro que Jardim perdeu completamente as estribeiras e havia mais dívidas escondidas que, globalmente e com juros de mora, ascendem a 1,1 mil milhões de euros.
E, no primeiro semestre de 2011, já há uma derrapagem orçamental de 568 milhões de euros que vai exigir uma sobretaxa sobre o subsídio de Natal — 840 milhões de euros, segundo o ministro das Finanças.
Mas não se confunda a árvore com a floresta.
Os défices escondidos de Jardim cobrem-se com o dobro da sobretaxa extraordinária — 840x2 = 1680 milhões de euros.
Os défices de Sócrates ascendem a 75 mil milhões de euros, ou seja, 75/172 = 44% do PIB. É a prostração de um País.
Quem devia ter tomado medidas? A oposição ou o governo PS?
Passos Coelho não era governo, nem deputado. Está a ser avaliado agora.
Seguro não pertencia ao governo, mas era deputado e os deputados conhecem, ou pelo menos devem procurar conhecer, os relatórios do Tribunal de Contas. Sobretudo quando têm a pretensão de vir a ser primeiro-ministro. Ficou silencioso à espera que Sócrates caísse para lhe ocupar o lugar, pôs os seus interesses pessoais à frente dos interesses nacionais. Já foi avaliado e reprovado.
Agora faça-nos um favor: Cale-se!
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